Parece-nos necessário expressarmos que compreendemos a existência de um vínculo indissolúvel entre o ser humano e a educação, ou seja, a educação existe a partir da existência humana. Ela só se consuma pelo que suscita em cada ser: conhecimento, prazer, desejo, emoção, medo, indignação, repulsa, liberdade.
A educação poderia ser visualizada como uma grande obra de arte, no seu sentido abrangente. Ela, tal qual a arte, existe para suscitar em cada um de nós o sentido da sua existência.
Deste modo torna-se necessário compreendermos a existência humana, sua contextualização histórica. A história é o fio condutor deste entendimento. É a própria história que nos oferece, segundo Le Goff, “a possibilidade de uma leitura racional a posteriori dela, o reconhecimento de certas regularidades no seu decurso (fundamento de um comparatismo da história das diversas sociedades e das diferentes estruturas), a elaboração de modelos que excluem a existência de um modelo único (o alargamento da história do mundo no seu conjunto, a sua influência da etnologia, a sensibilidade para as diferenças e em relação ao outro caminho neste sentido) permite excluir o retorno da história a um mero relato”.[1]
O ser humano é em essência um ser social, um ser racional, já assim compreendido pelos filósofos gregos diante do reconhecimento de sua inteligência. Como nos afirma Elias “a psicogênese do que constitui o adulto na sociedade não pode ser compreendida se estudada independentemente da sociogênese de nossa civilização.”[2]
Cada indivíduo, ainda que através de uma educação assistemática, se pensarmos nos tempos “primitivos”, manteve-se inserido em um processo educacional. Por vezes suas descobertas, seus anseios resultaram em processos evolutivos, em outro momentos percebe-se um distanciamento de certas conquistas dos valores essenciais a cada ser.
Se voltarmos o nosso olhar ao curso de nosso processo civilizatório poderemos constatar que foi justamente em meio ao desequilíbrio entre a ação e a elaboração desta, bem como de sua repercussão, que emergiram os primeiros atos de violência física e a necessidade de uma formação específica para guerra.
Os atos inconscientes e inconsequentes praticados ao longo da histórica, também no âmbito educacional, ensejaram na reprodução de práticas de violência. Esta se instalou e se desenvolveu acompanhando, infelizmente, o processo sócio-educacional. A proporção que o medo se instala, reprime-se o desejo de muitos e se alastra o poder de uma minoria. É este o princípio da violência, que não rara vezes, e até de modo inconsciente acalentamos, permitindo a sua continuidade e/ou mesmo a sua perpetuação. É este o contraste evidenciado nitidamente em todas as etapas da história da nossa civilização ou mesmo nos dias atuais. Recordemos a morte do terrorista Bin Laden, não foram poucos os que festejaram o seu assassinato, sob a justificativa de que afinal o que estava sendo eliminado – e não importando a forma como o foi – não era um ser digno de existência.
Enquanto educadores não podemos nos contentar em simplesmente contextualizar fatos históricos. Observá-los e criticá-los constitui somente um primeiro passo da nossa caminhada. A tarefa por excelência do educador consiste em provocar, em suscitar em cada um a sua capacidade de sentir e refletir acerca do seu papel enquanto sujeito, o que sito sisgnifica, suas implicações, responsabilidades, consequências.
Referências:
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1996.
VERONESE, Josiane Rose Petry. Entre violentados e violentadores? São Paulo: Ed. Cidade Nova, 1998.
[1] LE GOFF, J. História e memória, p.11.
[2] ELIAS, N. O processo civilizador. Vol. I,, p.15.