Sociedade, História e educação

23/08/2014 às 09:21
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A educação faz parte do processo do nosso desenvolvimento histórico, enquanto processo civilizatório.

Parece-nos necessário expressarmos que compreendemos a existência de um vínculo indissolúvel entre o ser humano e a educação, ou seja, a educação existe a partir da existência humana. Ela só se consuma pelo que suscita em cada ser: conhecimento, prazer, desejo, emoção, medo, indignação, repulsa, liberdade.

A educação poderia ser visualizada como uma grande obra de arte, no seu sentido abrangente. Ela, tal qual a arte, existe para suscitar em cada um de nós o sentido da sua existência.

Deste modo torna-se necessário compreendermos a existência humana, sua contextualização histórica. A história é o fio condutor deste entendimento. É a própria história que nos oferece, segundo Le Goff, “a possibilidade de uma leitura racional a posteriori dela, o reconhecimento de certas regularidades no seu decurso (fundamento de um comparatismo da história das diversas sociedades e das diferentes estruturas), a elaboração de modelos que excluem a existência de um modelo único (o alargamento da história do mundo no seu conjunto, a sua influência da etnologia, a sensibilidade para as diferenças e em relação ao outro caminho neste sentido) permite excluir o retorno da história a um mero relato”.[1]

O ser humano é em essência um ser social, um ser racional, já assim compreendido pelos filósofos gregos diante do reconhecimento de sua inteligência. Como nos afirma Elias “a psicogênese do que constitui o adulto na sociedade não pode ser compreendida se estudada independentemente da sociogênese de nossa civilização.”[2]

Cada indivíduo, ainda que através de uma educação assistemática, se pensarmos nos tempos “primitivos”, manteve-se inserido em um processo educacional. Por vezes suas descobertas, seus anseios resultaram em processos evolutivos, em outro momentos percebe-se um distanciamento de certas conquistas dos valores essenciais a cada ser.

Se voltarmos o nosso olhar ao curso de nosso processo civilizatório poderemos constatar que foi justamente em meio ao desequilíbrio entre a ação e a elaboração desta, bem como de sua repercussão, que emergiram os primeiros atos de violência física e a necessidade de uma formação específica para guerra.

Os atos inconscientes e inconsequentes praticados ao longo da histórica, também no âmbito educacional, ensejaram na reprodução de práticas de violência. Esta se instalou e se desenvolveu acompanhando, infelizmente, o processo sócio-educacional. A proporção que o medo se instala, reprime-se o desejo de muitos e se alastra o poder de uma minoria. É este o princípio da violência, que não rara vezes,  e  até de modo inconsciente acalentamos, permitindo a sua continuidade e/ou mesmo a sua perpetuação. É este o contraste evidenciado nitidamente em todas as etapas da história da nossa civilização ou mesmo nos dias atuais. Recordemos a morte do terrorista Bin Laden, não foram poucos os que festejaram o seu assassinato, sob a justificativa de que afinal o que estava sendo eliminado – e não importando a forma como o foi – não era um ser digno de existência.

Enquanto educadores não podemos nos contentar em simplesmente contextualizar fatos históricos. Observá-los e criticá-los constitui somente um primeiro passo da nossa caminhada. A tarefa por excelência do educador consiste em provocar, em suscitar em cada um a sua capacidade de sentir e refletir acerca do seu papel enquanto sujeito, o que sito sisgnifica, suas implicações, responsabilidades, consequências.

Referências:

ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1996.

VERONESE, Josiane Rose Petry. Entre violentados e violentadores? São Paulo: Ed. Cidade Nova, 1998.


[1] LE GOFF, J. História e memória, p.11.

[2] ELIAS, N. O processo civilizador. Vol. I,, p.15.

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Sobre a autora
Josiane Rose Petry Veronese

Professora Titular da disciplina Direito da Criança e do Adolescente, da Universidade Federal de Santa Catarina, na graduação e nos Programas de Mestrado e Doutorado em Direito. Doutora em Direito. Pós-doutorado na Faculdade de Serviço Social da PUC/RS. Coordenadora do Curso de Direito da UFSC. Coordenadora do NEJUSCA – Núcleo de Estudos Jurídicos e Sociais da Criança e do Adolescente e sub-coordenadora do Núcleo de Pesquisa Direito e Fraternidade CCJ/UFSC. Autora de vários livros e artigos na área do Direito da Criança e do Adolescente.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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