Hoje Dilma Rousseff disse claramente que não é a favor de um Banco Central independente, pois isto levaria a ajustes econômicos, aumento do superavit primário, elevação da taxa de juros e redução do nível de emprego e queda dos salários. A candidata do PT a reeleição confrontou, portanto, o principal item da agenda econômica representada por Marina Silva e Aécio Neves. Tanto a evangélica quanto o tucano tem insistido na necessidade da independência do BC sem explicar, porém, quais seriam as consequencias da medida para a população em geral.
Sou um homem feliz pois não domino a ciência Econômica. A única vez que discuti com alguém desta área foi durante um almoço casual no restaurante do MASP, pouco depois de ter visitado a exposição das obras de Salvador Dali. A necessidade me fez sentar à mesa de uma economista e logo estávamos conversando sobre arte, realidade brasileira e economia. Achei a conversa da economista mais surreal do que a obra do genial pintor e escultor espanhol. Ela só conseguia racionar de maneira abstrata, sempre fazendo referência a taxas de juros, variação cambial, percentual de crescimento da PIB, oscilação do mercado de ações, renda per capita, endividamento interno, spread bancário, etc…
Comecei a rir quando ela falou em renda per capita. Ela ficou ofendida e disse a ela que só conhecia um tipo de renda: aquelas que as rendeiras fazem e que na maioria das vezes não lhes garantia remuneração mensal igual à renda per capita brasileira. A moça ficou furiosa e tentou voltar para a segurança das altitudes abstratas enquanto eu fazia o que era necessário para fazer ela entender que as pessoas são concretas e tem necessidades concretas que são mais importantes do que as abstrações econômicas. Irritada ela me perguntou qual a minha profissão e ficou abismada com o fato de um advogado ser tão ignorante em ciência econômica.
Confessei minha ignorância dizendo a ela que só aprendera e aplicava uma única lei econômica. Ela me perguntou qual. Disse à economista que respeitava muito a lei da velocidade. Sorrindo, a moça me disse que era pós-graduada em economia pela FGV e que não conhecia nenhuma teoria econômica que fizesse referência à aludida “lei da velocidade”. Expliquei à moça a referida lei de maneira bem simples: “procuro não gastar meu dinheiro numa velocidade maior do que aquela que levo para ganhá-lo.” Isto não é uma lei, ela replicou. Para mim é disse à moça: não quero falir, não pretendo me endividar nem ficar passando necessidades por falta de dinheiro. Eventualmente ela concordou com o valor da regra de “senso comum” que eu aplicava e logo voltou às suas abstrações surrealistas. Com os pés fincados em terra fiquei. Fiquei e ficarei.
Não sei exatamente o que um Banco Central faz. Mas sei o que os Bancos Centrais independentes fizeram às economias dos EUA e da Europa. Desemprego, despejo, desespero e suicídios por falta de esperança é o que se tem visto largamente no primeiro mundo. Nada disto tem ocorrido no Brasil. Se o pleno emprego e o crescimento dos salários ocorreram em virtude do nosso BC depender do governo, isto para mim é bom.
Tenho grande respeito pelas necessidades das pessoas comuns que, como eu mesmo, não meditam sobre a taxa do crescimento do PIB ou sobre a dependência ou independência do Banco Central quando precisam fazer suas compras num Supermercado. Mas sei que elas precisam estar trabalhando e recebendo seus salários para fazer isto. Se elas gastarem o que ganham em velocidade menor do que ganham, tanto melhor. O excedente será poupado e a poupança faz bem tanto para o poupador quanto para o país.
Sou leigo em Economia, mas um retórico ousado. Portanto, me permitirei aqui discordar parcialmente de Dilma Rousseff. Não creio que possa existir um “Banco Central Independente”, a menos que ele seja uma fábrica de estofados ou um novo tipo de móvel de sala. Todo Banco Central é dependente: ou o BC é dependente do Estado (como no Brasil) ou é totalmente dependente do mercado (como no caso dos EUA e da Europa). A suposta independencia do BC defendida por Marina Silva e Aécio Neves é uma ilusão criada pelo surrealismo financeiro para causar fome e sofrimento às pessoas comuns sem que elas saibam como e porque alguém estará lucrando com isto.