As chances eleitorais de Aécio Neves parecem estar definitivamente sepultadas. Sua incapacidade de crescer nas intenções de voto é um fato consumado. As pesquisas relevam isto. O tucano mineiro falhou como produto eleitoral. Por mais que os publicitários tucanos tenham se esforçado, por mais generosos que tenham sido os jornalistas e telejornalistas em relação à sua candidatura, Aécio Neves encalhou.
Pensando sobre isto, me ocorreu que o desempenho de Aécio Neves no mercado eleitoral foi semelhante ao do livro A Arte da Política de FHC no mercado editorial. Comprei a obra do príncipe da sociologia por apenas R$ 10,00 num supermercado pouco tempo depois de seu lançamento. A obra encalhou e não a tenho visto ser citada pelos ideólogos do PSDB ou pelos jornalistas que defendem o legado tucano. Para falar a verdade, duvido muito que o próprio Aécio Neves o tenha o volumoso volume.
O destino destes dois produtos marca PSDB (a candidatura de Aécio e livro de FHC) deram as mãos no fracasso. Isto é uma verdade factual. Um retórico maldoso diria que o destino cruel de Aécio Neves foi selado no momento que ele entrou de mãos dadas com FHC na convenção do PSDB que o elevou a condição de candidato presidencial daquele partido. Não farei isto, pois não sou petista e prefiro percorrer outros caminhos para chegar tentar chegar a algumas conclusões.
A vitalidade do PSDB não começou a se perder nesta eleição. De fato, o declínio daquele partido começou quando FHC não conseguiu fazer seu sucessor. Na última eleição parlamentar o fenômeno ficou bem claro, pois a bancada do PSDB encolheu a olhos vistos. A decadência do partido de Aécio Neves e de sua candidatura me fez lembrar a obra de Oswald Spengler:
“Não somente o artista luta contra a resistência da matéria e o aniquilamento da idéia. Todas as culturas encontram-se numa relação simbiótica, quase mística, à extensão, ao espaço, dentro do qual e por meio do qual tencionam realizar-se. Alcançando o destino, realizada a idéia, a totalidade das múltiplas possibilidades intrínsecas com a sua projeção para fora, fossiliza-se repentinamente a cultura. Definha-se. Seu sangue coagula. Seu vigor diminui. Ela se transforma em civilização.” (A DECADENCIA OCIDENTAL, Oswald Spengler, Zahar, Rio de Janeiro, 1964, p. 06/97)
Apesar de terem nascido na mesma época, PT e PSDB não dividem o mesmo destino. Por mais que Marina Silva aparente ser uma ameaça eleitoral, as pesquisas revelam grande vitalidade do PT e de sua candidata a presidência. Um segundo turno com Dilma Rousseff é inevitável. Não bastasse isto, hoje o Ibope divulgou uma pesquisa feita no RN cujo resultado, se for repetido nas urnas em todos os Estados, garante a reeleição de Dilma já no primeiro turno.
O que explica a vitalidade do PT? Os adversários do partido, que não são poucos nem ignorantes, apontam uma série de razões (populismo, bolsa família, mitomania popular, etc…). A ninguém ocorreu que o partido de Dilma Rousseff sobreviveu aos furacões do Mensalão e da Refinaria de Pasadena (para não citar escandalos menores) justamente porque não tem o apoio da imprensa como o PSDB. A vitalidade da cultura petista de resistência pode ser creditada, suponho, aos ataques constantes, sistemáticos e insistentes que são feitos ao PT e aos seus líderes pelos jornalistas (muitos dos quais ligados ao tucanato paulista, mineiro e carioca). Ao contrário do PSDB o PT não se transformou em civilização. A resistência dos Barões da Mídia à democratização da imprensa, caso minha hipótese seja verdadeira, estaria dando ao partido de Lula uma grande sobrevida.
Pode estar ocorrendo com o PT no Brasil o que ocorre com Cuba há décadas. Não são poucos os analistas políticos que creditam a longevidade do regime político cubano à resistência ao bloqueio imposto à ilha pelos EUA. Enquanto o bloqueio existir haverá motivo para resistir e apoio ao regime que lidera esta resistência ao abuso imperial e irracional dos EUA. Os norte-americanos não querem ou não podem, por razões políticas internas, desistir do bloqueio à Cuba. Isto preserva a vitalidade do regime cubano assim como a resistência à imprensa monopolizada e agressiva conserva a mobilização e a vitalidade política e eleitoral do PT.
O congelamento das posições (dos EUA no caso de Cuba e dos Barões da Mídia em relação ao PT) produz exatamente o oposto daquilo que se deseja. E não serei eu que direi a homens bem mais poderosos e arrogantes do que eu o que deve ser feito. Presumo que eles sabem cuidar de seus próprios interesses. O máximo que posso fazer é ver a realidade que eles sem querem criam e… rir.