CPI Petrobras: partidos dizem que agora vão ao fundo do poço

19/11/2014 às 08:46
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Agora os parlamentares petistas e seus aliados querem convocar os tesoureiros de todos os partidos. Qual o fundamento? É que as principais agremiações receberam "verbas" das empreiteiras encrencadas na operação Lava-Jato.

1. O tranquilo ambiente político na CPI da Petrobras, que chegou a produzir (no dia 5/11/14) o famoso "acordão" entre o PT e o PSDB, para não convocar nenhum dos seus protegidos, foi para o espaço. Depois que a Comissão aprovou, por 12 votos contra 11, a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acusado de recolher propinas na Petrobras em nome do seu partido, foi decretado o "salve-se quem puder". Agora os parlamentares petistas e seus aliados querem convocar os tesoureiros de todos os partidos. Qual o fundamento? É que as principais agremiações receberam "verbas" das empreiteiras encrencadas na operação Lava-Jato. Nenhum partido grande está fora do crime organizado tramado pela troyka maligna composta pelos políticos, partidos e outros agentes públicos + agentes econômicos + agentes financeiros.

2. Para que servem as provas encontradas ou coletadas pela CPI? Servem para o Ministério Público processar os responsáveis pelas falcatruas descobertas. Logo, embora a CPI esteja com seus dias contados, tudo que apurar não será de todo inútil. A quebra dos sigilos de Vaccari fez o vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp, remexer-se na cadeira. Ele disse: "a política e os partidos foram criminalizados''. E que, ao mexer com o tesoureiro do PT, a CPI convulsiona ainda mais a cena. "A coisa vai ficar pior ainda"! Afinal, completou, "Qual é o papel do tesoureiro? Arrecadar fundos legais para campanhas!" A turma do "deixa disso" bem que tentou dissuadir a maioria da sua momentânea volúpia investigativa. Mas nada conseguiu. O clima é o de que agora a CPI vai ao fundo do poço. Será?

3. Os parlamentares fizeram bem em finalmente tomar medidas concretas que põem contribuir para apurar o escândalo da Petrobras, mas nunca deixam de praticar o jogo de sempre: impressionar a torcida. No princípio do século XIX, J. F. Lisboa (Jornal de Timon) já descrevia o funcionamento da política brasileira da seguinte forma: "mal ergue um deles a voz para exprobrar ao outro tal erro, tal falta e tal crime, para logo a exprobração contrária quase idêntica vem feri-lo no coração, fazendo-o emudecer completamente, posto que a falta de pudor é a qualidade dominante de todos eles: pudor, moral, respeito e decoro nada significam desde que triunfem nas urnas e levem a cabo seus mesquinhos desígnios".

4. Em seguida conclamava todos à ação: "se atarmos os braços a vãos receios e esperanças, deixando-nos atoar ao sabor dos acontecimentos, e aguardando que venha um novo Moisés com a mágica varinha abrandar o rochedo, e operar o milagre da regeneração, ficaremos para todo sempre transviados no deserto, sem jamais por os pés na cobiçada terra da promissão". Se não queremos desistir do Brasil, não podemos ficar de braços cruzados esperando que o poder político-empresarial promova as reformas e os controles de que tanto o país necessita. Como bem disse Martin Luther King Jr.: "Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito".

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Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

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