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Eleições de meio de mandato nos Estados Unidos em 2014: uma análise dos resultados

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Consequências da vitória republicana

Do ponto de vista analítico a derrota democrata nas eleições de novembro possui consequências sistêmicas para a administração de Barack Obama, e também para o sistema internacional, dentre as quais podemos destacar:

  • A lenta saída do país de uma recessão econômica iniciada nos últimos meses da administração republicana de George W. Bush, em 2008, ainda não é sentida pela “base”, pela maioria do eleitorado. A reativação da economia é facilmente comprovável a partir da divulgação, nos últimos meses, de dados e estatísticas econômicos favoráveis. A questão, contudo, é que a renda do cidadão parece não estar em expansão, o que tende a fortalecer a ideia de que o país ainda vai mal, ou, então, que se encontra na direção errada no presente. Em resumo: o cidadão americano encontra-se demasiadamente insatisfeito com sua condição de vida e com suas perspectivas econômicas. Nessa conjuntura o governo Obama, em grande medida, é percebido como culpado.
  • Do ponto de vista político as eleições de novembro último revelaram um claro enfraquecimento político dos democratas em geral e de Obama em particular. Também poderíamos assinalar que essa derrota significou uma fragilização, por associação, da senadora Hillary Clinton, até o momento a mais cotada para ser a futura candidata dos democratas em 2016. Essa deterioração da liderança do presidente já era percebida desde as midterm de 2012 quando Washington perdeu o controle da Câmara dos Representantes, porém manteve, por ligeira margem, o Senado. Agora, em 2016, o governo se tornou dividido de modo mais efetivo.
  • Saliente-se que essa derrota eleitoral dos democratas não significou, por outro lado, o fortalecimento automático de um nome republicano para a próxima corrida presidencial – as pesquisas mais recentes apontam que há vários nomes competitivos nas primárias, sendo os principais deles Chris Christie (Nova Jersey), Jeb Bush (Flórida), Mike Huckabee (Arkansas), Paul Ryan (Wisconsin) e Rand Paul (Kentucky).
  • Genericamente falando, em novembro um candidato do GOP venceria as eleições presidenciais, mas seu nome ainda é uma incógnita. Há, assim, um vácuo de liderança entre os republicanos. Aqui é preciso relembrar como foram conflituosas as primárias do partido que, ao final, decidiram pelo nome de Mitt Romney em 2012. Há uma tendência de que essa disputa ocorra novamente, uma vez que há, até o momento, a percepção de que Obama continuará sendo um presidente com baixa avaliação e que isso, por si só, poderia garantir uma vitória republicana. É preciso ter cautela nesse ponto porque uma reação de Obama, com uma maior associação entre os bons dados da economia e sua repercussão na vida do americano médio, ainda poderá ocorrer.
  • Os resultados eleitorais também mostram que o país está voltado para si mesmo, e particularmente para a questão econômica. As pesquisas mostram que resta presente entre a opinião pública um significativo temor de novos ataques terroristas dentro do país e também um apoio elevado em relação às iniciativas de Obama contra o grupo Estado Islâmico.  Essas questões de segurança, porém, têm pouco impactado para uma maior aprovação dos democratas. A pauta nos Estados Unidos, e que marcou as eleições de novembro, foi principalmente a economia, uma questão percebida como doméstica.
  • As questões internas, econômicas e também em relação a políticas públicas tendem a continuar polarizando o país. Não apenas prosseguirá a batalha legislativa e judiciária sobre o programa de reforma do setor de saúde, como outras questões serão pautadas. Uma delas, impulsionada recentemente pelo próprio Executivo, está relacionada à condição dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Obama promoveu uma mudança nas regras a partir de uma ordem executiva, o que irá legalizar um grande contingente de imigrantes ilegais no país, fornecendo-lhes uma espécie de anistia, especialmente a filhos de pais ilegais nascidos no país. Desde já os republicanos ameaçam o presidente com abertura de processo de impeachment e revogação, via Legislativo, da decisão do presidente. Sem base no Congresso capaz de refrear a oposição republicana, Obama poderá ver sua posição ainda mais fragilizada nos próximos dois anos. Do ponto de vista estratégico, seria preciso que ele incrementasse sua popularidade.
  • Por fim, sabe-se que presidentes impopulares têm maiores dificuldades em projetar o poder dos Estados Unidos no exterior. Momentos de dificuldade econômica infundem nos cidadãos preocupações essencialmente domésticas, tratadas como prioridades. Voltar-se para fora, portanto, acaba sendo uma alternativa muito custosa do ponto de vista político. Sem maioria no Congresso, Obama terá problemas em exercer uma liderança maior no sistema internacional e especialmente quando esse esforço demandar gasto público.

Referências

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KARPOWITZ, C. F., MONSON, J. Q., PATTERSON, K. D., & POPE, J. C. Tea time in America? The impact of the Tea Party movement on the 2010 midterm elections. PS: Political Science & Politics, 2011, v.44, n 02, 303-309.

LIPSET, Seymour M.; MARKS, Gary. Por que não vingou: História do socialismo nos Estados Unidos. Brasília: Instituto Teotônio Vilela, 2000.

MARYLAND VOTING. Maryland Voting History. 2014. Disponível em: http://www.270towin.com/states/Maryland. Acesso em: 04 de dezembro de 2014.

MASSACHUSSETTS VOTING. Massachusetts Voting History. 2014. Disponível em: http://www.270towin.com/states/Massachusetts. Acesso em: 04 de dezembro de 2014.

REAL CLEAR POLITICS. 2014 Election. Disponível em: http://www.realclearpolitics.com/. Acesso em: 04 de dezembro de 2014.

U.S. CONSTITUTION. Constitution of the United States. 1787.  Disponível em: http://www.senate.gov/civics/constitution_item/constitution.htm. Acesso em: 03 de dezembro de 2014.


Notas

[1] Grand Old Party.

[2] Internamente o Partido Republicano abriga o chamado Tea Party, a seção mais conservadora e mais contrária às políticas públicas da administração de Bracak Obama e que realiza oposição sedimentada conta o democrata elegendo, inclusive, representantes seus para o Senado e para a Câmara dos Representantes (KARPOWITZ, MONSON, PATTERSON AND POPE, 2011).

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Sobre os autores
Cláudio Júnior Damin

Doutor em Ciência Política pela UFRGS, professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Pampa.

Leonardo Teixeira Martins

Graduando em Ciências Sociais – Ciência Política pela Universidade Federal do Pampa. Bolsista do Programa de Bolsas de Desenvolvimento Acadêmico.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

DAMIN, Cláudio Júnior ; MARTINS, Leonardo Teixeira. Eleições de meio de mandato nos Estados Unidos em 2014: uma análise dos resultados. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4684, 28 abr. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/34721. Acesso em: 20 abr. 2024.

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