DOE EDUCAÇÃO

13/12/2014 às 12:03
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O que almejo para mim.

~~ O mais quero é crescer como pessoa. Para isso, dependo de saber doar talentos. Você não sabe como fazer e tem medo de ser manipulado, enganado. Mas, independentemente disso, seria fantástico amadurecer e verificar que fiquei um pouco menos ansioso ou tolo, às vezes, mais sábio nas ações, equilibrado em emoções e sereno na mente. Acho que muita gente quer isso. Como seria ótimo não precisar mais correr atrás de posses e de propriedades (nem materiais e muito menos humanas). A mesquinharia é abjeta, desumana – muito pior do que a corrupção. A mesquinharia é a corrupção da alma, do espírito, do corpo e das relações.
 Há muita gente que empresta seu tempo, atenção e gentileza em prestar serviços voluntários: alegrar doentes, ensinar crianças pobres ou servir sopa aos famélicos. Louvo tudo isso. O que não associo a nada disso é a doação de talentos. Tem doação de sobra em acordar sábado de manhã para servir aos outros, encher seus pratos e barrigas. Nem se discute isso. Porém, a vocação que se alimenta do talento – e vice-versa – exige bem mais. Talento é aquilo que se tem de melhor, não o que se faz para se sentir melhor. Ou aliviado. Talento é o que faz você ser diferente de todo mundo. Por isso, é difícil doar. Porque todos imaginam ganhar alguma coisa com seus talentos. No passado, um talento era uma moeda, gerava um dinar, ou seja, mais dinheiro.
 Em suma, quem se dispõe a doar talentos, dinheiros? Se alguém pensa que vai comprar um lote no céu, esqueça. É melhor guardar seus dinares e comprar um lugar ao sol. Quem doa talentos em benefício próprio – supostamente uma poupança com os anjos – engana a si mesmo. Logo vai se sentir ludibriado pelas próprias ações, simplesmente porque não teve retorno. Não ficou mais rico, nem mais inteligente ou mais popular. Aliás, é mais fácil ser julgado por hipócrita.
 O que traz a questão de volta. Não sei e me pergunto há tempos: como doar talentos? É uma resposta que quero para mim. A filiação a um partido, grupo ou seita indica apenas que você pertencerá a um grupo de interesses. Se doar algo, será em prol de uma retribuição em virtude dos interesses que já projetou. Este artigo que publico agora, como quase todos, irá me dar pontos. Algum tipo de bonificação. Portanto, não se aplica à doação de talentos. Seria mentiroso se dissesse o contrário.
 O que traz o problema de volta: a dificuldade em doar talentos sem esperar por compensações imediatas. Quem tem menos tempo, deve doar algumas horas ao coletivo. Quem admira sua inteligência, empreste seus neurônios para educar um desprovido. Quem tem dinheiro – além da sobra dos mortais – ensine outros a ganhar o mesmo que você. Quem tem livros demais, monte um grupo de estudos com superdotados da periferia. Quem é belíssimo(a), passe algumas horas com gente doente. Quem tem carro, um ou vários, leve uma família da pobre para passear. Quem tem ideologias, encontre uma para viver, mas sem menosprezar ou aniquilar os demais.
 Sabe o que é mais difícil? É fazer isso com regularidade, sem contar a ninguém. Sem esperar nem mesmo um obrigado. Se bem que, dizer obrigado, é obrigado pela educação. Então, doar talentos, o melhor dos seus talentos, é levar sua educação para quem precisa de um pouco mais e, assim, elevar a si mesmo. Sua educação é como um músculo, se você exercita - ela cresce, ganha elasticidade e força. Não há talento maior do que a educação. Seja educado, doe um pouco da sua, não importa para quem.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos


 

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Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

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