A longa história de imperialismo norte-americano na América Central é bem documentada. As interferências da Casa Branca nos assuntos internos da Nicarágua foram muitas, variadas e violentas.
O regime sandinista chegou e se manteve no poder sob intensa pressão dos EUA nos anos 1980. O governo Ronald Reagan patrocinou sabotagens, guerrilhas e terrorismo em território nicaragüense. Por causa disto, Manágua processou Washington na Corte Internacional de Justiça da ONU e os EUA foi condenado a pagar indenização por destruições patrocinadas pela Casa Branca na Nicarágua: http://en.wikipedia.org/wiki/Nicaragua_v._United_States . Até a presente dada os EUA se recusa a cumprir a decisão internacional mencionada.
Um novo conflito está surgindo entre EUA e Nicarágua. Mas desta vez, China e Rússia podem se tornar partes interessadas. Uma empresa chinesa está construindo o Canal da Nicaráguahttp://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141120_canal_nicaragua_numeros_rs . A Rússia já demonstrou interesse na obra http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_09_09/Canal-nicaraguense-contribuir-para-constru-o-de-mundo-multipolar-0624/ .
Esta semana a “...embaixada dos Estados Unidos na Nicarágua disse na terça-feira que está preocupada com a falta de informações sobre a planejada construção liderada por chineses de um canal de 50 bilhões de dólares, que pode dividir o país da América Central.”http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN0KG0XI20150107?feedType=RSS&feedName=worldNews&utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter&dlvrit=1375018. A atitude imperial dos norte-americanos é evidente. A Nicarágua é um país soberano e membro da ONU. Não tem que dar explicações aos EUA sobre obras que são realizadas no seu território, segundo acordos internacionais que firmou e em conformidade com sua própria legislação. Manágua não tem que submeter sua política interna e externa à Washington.
Além do envolvimento indireto da China e da Rússia, o conflito diplomático iniciado pelos EUA por causa da construção do Canal da Nicarágua também envolverá o Brasil e a América do Sul. O controle do Canal do Panamá exclusivamente pelos EUA sempre foi um foco de tensão na região. Alguns países do nosso continente não tem saída para o Oceano Pacífico, outros não tem saída para o Atlântico. Dependendo da quantidade e do tipo de carga, o transporte marítimo é mais barato e viável do que transporte terrestre e aéreo.
As opções de navegação entre os dois lados a América do Sul são atravessar o Canal do Panamá pagando a taxa estipulada e se submetendo às restrições impostas pelos EUA, contornar perigoso o Cabo Horn ou atravessar o Atlântico e o Índico para chegar ao Oceano Pacífico. Um novo canal que não esteja sob controle norte-americano aumentará o fluxo de comércio na América do Sul e entre esta e a China, Japão e Rússia onde milhares de empresas norte-americanos estão instaladas. Todos ganham, os EUA não saem perdendo. Mesmo assim o Tio Sam tenta novamente meter o bico onde não foi chamado.
A paz é fruto do multilateralismo. A outra opção, a submissão de todos os países ao unilateralismo imperial dos EUA não é uma opção viável. Os EUA não tem condições de submeter militarmente o mundo inteiro. As potências rivais dos EUA seguirão perseguindo seus interesses com ou sem a aquiescência da Casa Branca. Nesta disputa o Brasil deve ficar ao lado da Nicarágua. O comércio internacional brasileiro será beneficiado pela construção do novo canal, que também se tornará numa nova rota para a Costa Oeste dos EUA. Antes de cumprir a decisão da Corte Internacional de Justiça que o condenou a indenizar a Nicarágua, Washington não tem qualquer legitimidade para questionar as soberanas decisões de Manágua.