Importância da engenharia legal para o Judiciário no sentido de explicar causas de acidentes de trânsito

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9. Vestígios no local de acidente de trânsito

Os vestígios comumente encontrados em um local de acidente são os seguintes:

marcas pneumáticas de frenagem: produzidas pelos veículos que se encontram com os pneumáticos travados.

marcas pneumáticas de derrapagem: produzidas quando o veículo se desloca em processo de rodagem, mas em curva, com deslocamento transversal, normalmente são mais largas que os pneus e mais escuras.

marcas pneumáticas por rolamento: o veículo por movimentação de terra, por impressão em terra mole, por deposição de algum material define sua trajetória.

fragmentos: peças desprendidas dos veículos quando de uma colisão.

fricções: quando do contato de peças metálicas retira superficialmente pequena camada da superfície pavimentada.

sulcagens: quando do contato de peças metálicas retira profundamente camada da superfície pavimentada.

líquidos: derramamento de óleo, combustível e água na pista.

Material orgânico : pêlo, pele, sangue.

Destacamos: mais importante que catalogar os vestígios em um local de acidente de trânsito é fazer a correlação desses vestígios entre os veículos envolvidos, com as vítimas e com a via. Por exemplo, é fundamental definir no local a que veículo pertence determinada frenagem, a que veículo pertence um fragmento de farol, ou ainda, qual dos veículos envolvidos em um acidente teve contato com este ou aquele obstáculo da via. Por óbvio, tais definições só podem ser feitas no local do acidente. Não pode um perito a partir de fotografias ou a partir de lembranças do local fazer ilações quanto à dinâmica de um acidente se não tem elementos comprobatórios para tal. O princípio físico da ação e da reação pode ser aqui utilizado para lembrar que aquele toca também é tocado, e que a busca por vestígios em local de acidente de trânsito deve ser feita norteada por esse princípio.

Sítio de colisão: Dentro desse conjunto de vestígios que podemos encontrar em um local de acidente de trânsito necessariamente devemos destacar o sítio de colisão. Consiste o sítio de colisão em área na pista de rolamento, ou mesmo fora dela, onde ocorreu o contato ou impacto entre dois veículos ou entre um veículo e um ou mais pedestres. O sitio de colisão é um vestígio secundário, ou seja, a sua determinação é feita a partir de outros vestígios. A área onde se constata desvio abrupto de marcas de frenagem, áreas onde se observa superposição de marcas de frenagem, presença de marcas de fricção e sulcagens concentradas juntamente com marca de frenagem possuem elementos que auxiliam na determinação de um sítio de colisão. Desaconselhamos o uso do termo ponto de colisão, uma vez que entendemos ser impossível demarcar na pista o exato ponto onde houve uma colisão, sendo então a nomenclatura sítio de colisão como sendo a mais adequada, por tratar a região como sendo uma área onde houve a colisão. Podendo ainda ser demarcada na pista uma área de colisão com seu respectivo ponto central.


10. Exemplo de pericia utilizando a Engenharia legal

Dentre as várias tarefas executadas pelo perito engenheiro hoje, a análise de acidentes de trânsito é a que mais se destaca, por infelizmente ter-se tornado algo corriqueiro, além de envolver vários fenômenos físicos. Estes podem ser compreendidos como parte da dinâmica de corpos rígidos.

Além da utilização das Leis de Newton e da lei de Variação da energia Cinética, em acidentes de trânsito destaca-se o princípio da Conservação da Quantidade de Movimento, pelo qual é possível calcular com boa aproximação a velocidade de um carro na colisão.

A força resultante, em uma freada, é igual ao módulo do produto do coeficiente de atrito pelo peso do veículo F = ¼mg, ou seja, é a força exercida pela pista sobre o carro. Aplicando a segunda Lei de Newton (F = ma) chega-se a expressão da desaceleração de um veículo, a = ¼g. Percebe-se que não há dependência da massa do carro em questão. Este resultado nos diz que um fusca e um caminhão freiam em distâncias iguais se vierem com a mesma velocidade.

Um carro ao frear está sujeito a aplicação de uma força de atrito ao nível do centro de massa. Como resultado, a frente do carro tende a baixar, levantando a traseira, o que afeta a distribuição de peso entre os eixos. Portanto, o carro permanece deste modo até atingir o repouso, quando endireita-se do seu cabeceio, executando uma rotação em torno de seu centro de massa. Os sinais deixados por uma freada são de fundamental importância para a reconstituição do acidente. Por serem duráveis, essas marcas dão conta dos estados intermediários ocorridos nesse processo. Durante uma freada, o carro desenha na pista as marcas dos pneus através de um processo que utiliza muita energia. O conhecimento desse processo permite designar tempos a cada ponto da trajetória. Medindo a distância (L) dessas marcas e sabendo que a energia cinética do carro vai diminuindo ao longo da trajetória, sabe-se que ao percorrer a trajetória L, o carro atinge uma velocidade final VF.

Usando o teorema da energia na sua forma integral:

½m{(VI)²   (VF)²} = + F dx

onde F = ¼mg

Assim: ½m{(VI)²   (VF)²} = + ¼mg dx

½m{(VI)²   (VF)²}= ¼mgx onde x eqüivale a distancia L.

Logo: (VI)²   (VF)² = 2¼gL

Igualando a velocidade do carro a zero no momento da colisão ( VF = 0), encontra-se o valor aproximado da velocidade em que o carro estava antes de o motorista acionar os freios. Porém, na maioria dos acidentes, os carros não param logo ao colidirem. Por esta razão, o valor encontrado é uma aproximação do valor exato do carro.


11. Conclusão

O famoso físico Werner Heisenberg, quando jovem, escreveu em uma de suas cartas que as teorias físicas tinham que se limitar a descrever o que vemos. Como resposta, seu correspondente Albert Einstein escreveu que, pelo contrário, são as teorias que nos dizem o que podemos ver. Em resumo, esta resposta descreve a função básica de um perito engenheiro, pois para um pesquisador forense, uma análise minuciosa da cena do crime vale mais que várias testemunhas. Além disso, os mínimos detalhes, por mais que pareçam irrelevantes e grotescos, passando despercebidos para os leigos, são na maioria das vezes, o elo de ligação entre a teoria e o ocorrido, sendo de extrema importância na solução da maior parte dos casos.

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A Engenharia aplicada as pesquisas forenses é o segmento que tem como principal objetivo observar e analisar os fenômenos físicos naturais, cuja interpretação é de interesse do poder judiciário. É tarefa de um perito, não somente a análise de acidentes de trânsito, mas também determinação do tipo de veículo a que possam pertencer fragmentos como pedaços de lanternas e para-choques encontrados nos locais da colisão, determinar a trajetória de projéteis, a distância em que foi efetuado o disparo, os orifícios de entrada e saída desses projéteis, bem como materializar as possíveis posições da vítima no momento do crime.

Este artigo teve como objetivo mostrar a importância da engenharia legal para a eficácia das investigações em acidentes de trânsito com um exemplo de colisão e demostrar a sua importância perante a justiça.


12.Referências bibliográficas.

SOUZA, C. M. et al. Física Forense: A Física a serviço da Lei. XVIII Seminário de Pesquisa XIII Semana de Iniciação Cientifica e I Jornada Paranaense de Grupos Pet. Anais, CD-Room Guarapuava-Pr Outubro de 2006. ISSN 1807-3441

SOUZA, C. M. O uso das radiações em ciências forenses. 2007. 100 f. Monografia para o ensino de física Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2007.

HALLIDAY, R. & RESNICK, R. Fundamentos de Física. V.1. Rio de Janeiro, 1990.

KLEER, A.A. et al. A Física utilizada na investigação de acidentes de trânsito.

CAD.CAT.ENS.FIS. V.14, Nº 2: p.160-169, ago.1997.

http://www.webartigos.com/artigos/c-s-i-investigacao-criminal/6138/#ixzz3Oj2RopIs

http://www.ic.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=25http://www.engenharialegal.org.br/

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NETO, Osvaldo Negrini. Soluções Eletrônicas para Cálculos de Velocidade em Acidentes de Trânsito. Disponível em: <http://www.scielo.br/>. Acesso em 2014

VIANA, Rubens Moreira. Perícia Física em Acidentes de Trânsito. Disponível em: <http://www.fisicajp.net/tccs/2009/tccrubens.pdf> Acesso em 2014.

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Thalita Cristina de Oliveira Galon

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