1964-2015

07/03/2015 às 15:15
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Quais os nossos riscos?

A passeata de 15/03/2015 é equivalente às Marchas da Família com Deus pela Liberdade (e propriedade privada), de1964. Será que vamos copiar nossos próprios erros outra vez? Tem chance de fazermos alguma coisa boa, para variar?
Como todos se lembram, houve passeata pró-golpe de Estado em 2014. Estavam todos misturados, oposição do PSDB que havia perdido a eleição para o PT (reeleição de Dilma) e os adoradores do manu militari. Depois, porque pegou muito mal, o PSDB tirou suas linhas. Mas, continuou com o discurso pró-impeachment. Aqui não há simbologia, há a repetição de erros históricos. Passados 50 anos da ditadura militar e concluído o relatório da Comissão Nacional da Verdade, os recalcados do Golpe de 1964 ressurgiram.
Como não houve êxito em negar a prestação de contas da então reeleita Presidenta Dilma – e a posse se efetivou –, o tiro foi n’água. Mesmo com tiro chocho, não havia céu de brigadeiro. Com nuvens espessas em Brasília, voltaram os canhões a trovejar pelo impeachment. Esse barulho ainda ressoa, não se sabe quantos tiros foram certeiros; porém, com a divulgação da Lista da Lava Jato, misturaram-se PSDB e PT. O PMDB está baleado e em estado grave, ainda que o vice-presidente Michel Temer tenha saído do bombardeio do STF.
Contudo, a linha sucessória em caso de impeachment está rompida pelo inimigo de Estado: as presidências da Câmara e do Senado Federal são investigadas pela Polícia Federal. Os poderes estão encantoados e em lição básica de Ciência Política se sabe, há alguns milênios, que isso é péssimo. O bom senso dos nossos avós também ensinava a não cutucar a onça com vara curta. Há ainda o problema do “fogo amigo” (o PT quer a cabeça do Procurador da República ao molho de lama) e o telhado de vidro. Restou bem pouca oposição sadia.
Isto é, na passeata marcada para o dia 15/03, em desfavor da Presidenta Dilma, parte da munição está encharcada. Ocorre que, em assuntos de nebulosa política – aplicando-se a Teoria do Caos – não se sabe quanto restou de chumbo grosso ou se é só fogo de artifício. Temos de aguardar. Muitos incautos pagam para ver. Alguns de nós não!
É certo que não há vácuo de poder, porque alguém sempre toma o lugar do deposto. A melhor imagem para descrever o poder vem de empréstimo da brincadeira de criança chamada “o rei do morro”. Um está em cima e muitos outros tentam derrubá-lo de seu pedestal. Entretanto, podemos aplicar as leis do Buraco Negro. A lama é tanta, e de tantos lados, que seremos todos tragados para o desconhecido. Como se sabe, a força de atração é tamanha que pouca energia escapa do Buraco Negro. É assim que está a política brasileira e também assim será a munição trazida pelo 15/03.
Uma possível saída seria levar o PSDB para o governo do PT, seguindo-se a fusão planejada há mais de dez anos. Estrategicamente, Dilma (PT) e Aécio (PSDB) saíram da lista da Lava Jato. Será que a cola será suficiente para tapar o Buraco Negro, ou agora é só uma bandagem que não estancará a hemorragia? Na pior das hipóteses, o Golpe de Estado se avizinha, tenha ele o nome que tiver. Na melhor delas, precisamos urgentemente encontrar mecanismos de controle dos poderes do superpresidencialismo.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
Marcos Del Roio
Professor Titular de Ciências Políticas da UNESP/Marília

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Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

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