Israel e Pernambuco: parceria start up

10/03/2015 às 12:06
Leia nesta página:

A formação do espírito empreendedor não pode ser considerada o principal alicerce para construção da “Nação Start-Up”, mas apenas seu mecanismo de ignição.

No final de abril deste ano, quando da comemoração dos 65 anos de Independência do Estado de Israel , esteve presente no Recife o Embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad. Além de participar dos eventos comemorativos destas datas, o embaixador foi recebido pelo prefeito do Recife Geraldo Júlio para uma visita protocolar a fim de fortalecer as relações entre o Estado de Pernambuco e Israel.

Os motivos do interesse no incremento das relações comerciais de Pernambuco com este pequeno país vem na esteira do Acordo de Livre Comércio assinado entre Israel e o Mercosul em 2010, que visa a eliminar as barreiras tarifárias aduaneiras ao comércio de bens e facilitar a circulação de mercadorias entre os territórios dos países signatários, buscando aumentar a oportunidade de investimento e aprofundar a cooperação bilateral e multilateral entre os países.

Formado por pouco mais de 7 milhões de pessoas que vivem em um território menor que a área do Estado de Sergipe, do qual mais de 50% deste é considerado desértica, Israel é o único país do  Oriente Médio que pode ser considerado desenvolvido, gozando de alto Indice de Desenvolvimento Humano (IDH)  e com uma renda per capita anual de mais de US$ 30,000.

O sucesso da economia israelense é baseado na produção e exportação de tecnologia “limpa e sustentável”, em especial nos setores de segurança, biotecnologia  e agricultura. Não é à toa que Israel é o terceiro país com mais empresas listadas na Nasdaq, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.

Qual seria a chave do sucesso da economia israelense? No best-seller “Start Up Nation”, Dan Senor e Saul Singer, que esteve no Brasil recentemente, tentam explicar a fórmula do êxito israelense, indicando diferente fatores, tais como o grande número de imigrantes altamente qualificados e a cultura de assumir riscos que é moldada pelo serviço militar obrigatório. De acordo com os autores, através do serviço militar obrigatório tanto para homens (duração de 3 anos) quanto para as mulheres (duração de 2 anos), o jovem israelense teria contato e aprenderia a utilizar tecnologias de ponta úteis também na vida civil, estimulando habilidades e conhecimentos propícios à inovação e alimentando o seu espírito empreendedor.

Não obstante, a formação do espírito empreendedor não pode ser considerada o principal alicerce para construcão da “Nação Start-Up”, mas apenas seu mecanismo de ignição. Destarte, sem medidas de fomento à inovação e ao desenvolvimento de tecnologia, mediante legislação e medidas governamentais, sobretudo através da criação de incubadoras privadas financiadas pelo Estado e investimentos inteligentes em educação em todos os níveis, a “Nação Start-Up” estaria fadada a ser uma nação “Start Down”.

Assim, através do Escritório do Cienista Chefe – “OCS” (Office Chief Scientis), órgão ligado ao Ministério do Comércio e Indústria de Israel (equivalente ao nosso BNDES), o Estado de Israel desde 1991 estabeleceu seu programa Nacional de Incubação Tecnológica, mediante o qual o OCS seleciona incubadoras nacionais privadas via licitacão, por um prazo determinado, para dar suporte aos empreendedores em seus primeiros passos, seja tanto na concepção da idéia e conceitualização do “business plan” como no apoio logístico e jurídico destas incubadoras por um período de até 2 anos. Existem atualmente 26 incubadoras desse tipo em Israel, grande parte delas situadas estrategicamente nas àreas menos desenlvidas do país justamente com o intuito de  promover o desenvolvimento dessas regiões.

O Brasil vem avançando bastante na implementação de políticas de fomento e financiamento da inovação e tecnologia. O principal carro-chefe desta revolução na gestão/investimento do dinheiro público é o Fundo Criatec em 2007, criado pelo BNDES, mediante o qual foram selecionados 36 empreendimentos inovadores em "estágio semente" em 7 cidades do Brasil, incluindo Recife, que receberam o aporte de capital inicial de até R$ 1,5 milhão através da BNDES Participações S.A. (BNDESPAR, empresa de participações subsidiária do BNDES) e o Banco do Nordeste do Brasil S.A.

Em agosto do ano passado, foi lançado o edital para o Criatec II, indicando que este tipo de política de incentivo à inovação veio para ficar. Apesar do Recife não estar entre as cidades selecionadas para o aporte de capital do Criatec II, nada impede que empreendedores pernambucanos sejam participantes de empreendimentos estabelecidos nas localidades selecionadas.

A inciativa do BNDES não é novidade para Pernambuco. Não é de hoje que o Estado de Pernambuco vem investindo em tecnologia e inovação. O Porto Digital, projeto que reúne mais de 200 empresas de tecnologia da informação (TI) transformou o Recife em um dos maiores polos de inovação e tecnologia do Brasil, gerando milhares empregos e receitas de mais de R$1 bilhão por ano. A criação da incubadora do Porto Digital em 2010 e do do recente lançamento do PortoMídia visando apoiar a estruturação de empreendimentos nascentes nas áreas de de entretenimento, além da consolidação dos programas de incubação da UFPE e do ITEP - Instituto de Tecnologia de Pernambuco, demonstram que Pernambuco está no caminho certo para virar um Estado “Start-Up”.

A cooperação intensa entre Israel e Brasil vem se intensificando desde a assinatura do Tratado de Livre Comércio entre os dois países. O BNDES  e o OCS vêm trabalhando em conjunto desde 2010, quando do lançamento do Primeiro Edital de Chamada para Apresentação de Propostas de Cooperação Tecnológica, que prevê o financiamento conjunto para projetos involvendo empresas brasileiras e israelenses,  que em parceria, desenvolvam novos produtos, processos ou serviços de aplicação industrial direcionados à comercialização no mercado doméstico e/ou global,  nos setores de Tecnologia da Informação e Comunicação, Saúde, Defesa e Energia Renovável.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

Em março deste ano foi aberto o Segundo Edital para a Apresentação de Propostas, nos moldes do seu antecessor. As empresas interessadas têm até a data de 14 de novembro deste ano para a submissão dos projetos, o que pode ser uma grande oportunidade para aproveitar a sinergia de interesses entre o estado de Pernambuco e Israel  para o desenvolvimento de  tecnologias que melhorem nossa vida, como por exemplo medidas efetivas de combate à seca.

O incremento e a intensificação das relações comerciais de Pernambuco com Israel tem tudo para  ajudar Pernambuco na consolidação de seu papel como centro de excelência da inovação e da tecnologia. As oportunidades de negócios gerados por esta parceria certamente gerarão frutos duradouros. Projetos conjuntos, intercâmbios para o fomento da cultura do empreendorismo e  trocas de experiências de práticas eficazes de gestão de projetos de tecnologia financiados por recursos públicos e privados certamente contribuirão para a o crescimento e modernizacão da economia pernambucana.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Eduardo Ludmer

Dual qualified lawyer in Brazil and Israel with extensive experience and expertise in handling local and cross-border legal matters primarily practicing in the areas of intellectual property, corporate and business law and international arbitration.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos