A contemporaneidade do mal-estar

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21/04/2015 às 14:26
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[1] A expressão "capitalismo tardio" é conceito usado pelos neomarxistas para se referir ao capitalismo posterior ao ano de 1945, estágio que se refere a também chamada "era áurea do capitalismo (1945-1970). Apesar de existir certa controvérsia quanto à adequação da expressão. O crítico e teórico da cultura norte-americano Frédéric Jameson, considera mais prudente a expressão "desenvolvimento recente do capitalismo" ou "capitalismo recente" ou jüngste usada por Hiferding por soar menos profética do que capitalismo tardio. Derrida prefere usar o termo "neocapitalismo" ao invés de pós-capitalismo. A expressão "capitalismo tardio" (Spätkapitalismus) foi usada pela primeira vez por Werner Sombart na sua obra de 1902 Der Moderne Kapitalismus, na qual distinguia três fases do capitalismo: o capitalismo primitivo, o auge do capitalismo e o capitalismo tardio. A expressão ressurgiu após a crise de 1929 e passou a ser usada pelos socialistas europeus entre o final dos anos 1930 e os anos 1940, quando muitos acreditavam que o capitalismo estava condenado. No final da Segunda Guerra Mundial, economistas importantes, como Joseph Schumpeter e Paul Samuelson, acreditavam mesmo que o fim do capitalismo estaria próximo, em razão de problemas econômicos insuperáveis.

[2]O capitalismo tardio, que teria como elementos distintivos a expansão das grandes corporações multinacionais, a globalização dos mercados e do trabalho, o consumo de massa e a intensificação dos fluxos internacionais do capital. Seria mais propriamente uma crise de reprodução do capital do que um estágio de desenvolvimento, uma vez que o crescimento do consumo (e, portanto, da produção) tornar-se-ia insustentável pela exaustão dos recursos naturais.

[3] A "onda" neoliberal se inicia coma vitória de Margareth Thatcher nas eleições de 1979, quando foram derrotados os trabalhistas, até então no governo. Naquele processo eleitoral, os conservadores ingleses não atacaram de frente o sistema de assistência social montado pelo Estado britânico. Entretanto, no poder, iniciaram o ataque à estrutura econômica pública montada no pós-guerra. A globalização neoliberal é uma das transformações históricas de ordem econômica internacional que se expressam sucessivamente no regime colonial, o padrão ouro, o acordo de Bretton Woods e a supressão atual das fronteiras comerciais. Em todos esses esquemas distintos existem, evidentemente, relações de dominação entre os países centrais e a periferia, mas também há acordos indispensáveis para a convivência pacífica e a ordem das transações econômicas entre nações.

[4] A reação neoliberal à crise do capitalismo é apresentada como produto de tendências inelutáveis e não como resultado de políticas deliberadas.   Uma primeira vertente desse pensamento, baseada em uma concepção a-histórica do capitalismo contemporâneo e, em conceitos tais como globalização e privatização, descreve o fenômeno como algo novo, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, anuncia o "fim da história" - ou perpetuação do status quo. Uma segunda vertente desqualifica o Estado como provedor de infraestrutura física e como instância capaz de responder às necessidades coletivas.  Legitimam-se assim as mais variadas formas de organização da sociedade, favorecendo o desmonte do Estado do bem-estar e o aumento da concentração do capital e da renda, paralelamente à expansão insustentável do crédito ao consumo bem como à exploração não sustentável das matérias-primas.

[5] O despertencimento alia-se também ao conceito de alienação e, mais particularmente, a noção de trabalho alienado, considerando o seu valor heurístico para compreender, mais profundamente, as interconexões entre os fundamentos do trabalho e atuais desafios da crise social e ambiental. O despertencimento relaciona-se a alienação e, a noção de papel social, histórico, a perda de direitos, os danos à saúde física e mental, e a não-identificação com os ciclos da natureza e os limites biopsicossociais dos indivíduos.

[6] O neoliberalismo propugna a redução do intervencionismo estatal e do raio de ação da política, ao criar interferências contrárias à liberdade individual e ser uma fonte de corrupção.  Na ordem nacional, o desideratum se finca em conseguir o funcionamento automático da economia e dos mercados, livres de toda distorção governamental ou de cidadãos organizados coletivamente. E, na ordem internacional, concebe-se a globalização como o processo capaz de instaurar a ordem cosmopolita (economicamente eficiente), além da política, como se isso fosse possível.

[7] Exército industrial de reserva é um conceito desenvolvido por Karl Marx em sua crítica da economia política, e refere-se ao desemprego estrutural das economias capitalista. O exército de reserva corresponde à força de trabalho que excede as necessidades da produção. Para o bom funcionamento do sistema de produção capitalista e garantir o processo de acumulação, é necessário que parte da população ativa esteja permanentemente desempregada. Esse contingente de desempregados atua, segundo a teoria marxista, como um inibidor das reivindicações dos trabalhadores e contribui para o rebaixamento dos salários.

Conforme enunciou Marx, na busca de inovações tecnológicas que lhes propiciem vantagem temporária sobre seus concorrentes, os capitalistas tender a elevar a composição orgânica do capital substituindo gradativamente a força de trabalho por máquinas que são parte do capital constante e que resultaria num aumento de desemprego e do exército de reserva.

[8] Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil, comumente chamado de Leviatã, é um livro escrito por Thomas Hobbes e publicado em 1651. Ele é intitulado em referência ao Leviatã bíblico. O livro diz respeito à estrutura da sociedade e do governo legítimo, e é considerado como um dos exemplos mais antigos e mais influentes da teoria do contrato social.1 O editor foi Andrew Crooke, parceiro da Andrew Crooke e William Cooke. Muitas vezes, é considerada uma das obras mais influentes já escritas do pensamento político.

[9] O termo "Estado-nação" implica em uma situação onde os dois são coincidentes.  O Estado-nação afirma-se por meio de uma ideologia, uma estrutura jurídica, a capacidade de impor uma soberania, sobre um povo, num dado território com fronteiras, com uma moeda própria e forças armadas próprias também. O conceito de um estado-nação pode ser comparado e contrastado com o de um estado multinacional, cidades-estados, impérios, confederações, e outras formações de estados dos quais podem sobrepor-se. Ao longo da história, existiram estados-nações em diferentes épocas e lugares do mundo, e atualmente representam a forma dominante de organização geopolítica mundial.

[10] O Leviatã é uma criatura mitológica, geralmente de grandes proporções, bastante comum no imaginário dos navegantes europeus da Idade Média.  Há referências, contudo, ao longo de toda a história, sendo um caso recente o do Monstro de Lago Ness. No Antigo Testamento, a imagem do 'Leviatã é retratada pela primeira vez no Livro de Jó, capítulo 41. Sua descrição na referida passagem é breve.  Foi considerada pela Igreja Católica durante a Idade Média, como o demônio representante do quinto pecado, a Inveja, também sendo tratado com um dos sete príncipes infernais.  Uma nota explicativa revela uma primeira definição: "monstro que se representa sob a forma de crocodilo, segundo a mitologia fenícia" (Velho Testamento, 1957: 614). Não se deve perder de vista que nas diversas descrições no Antigo Testamento ele é caracterizado sob as diferentes formas, uma vez que se funde com outros animais. Formas como a de dragão marinho, serpente e polvo (semelhante ao Kraken) também são bastante comuns.

Leviatã também diz respeito a obra do cientista político e jusnaturalista Thomas Hobbes (1588 -1679).

Em sua obra, Hobbes afirmava que a "guerra de todos contra todos" (Bellum omnium contra omnes) que caracteriza o então "estado de natureza" só poderia ser superada por um governo central e autoritário. O governo central seria uma espécie de monstro - o Leviatã - que concentraria todo o poder em torno de si, e ordenando todas as decisões da sociedade.

[11] Existem poucos livros de teoria política que receberam uma publicidade tão grande quanto Império, por Michael Hardt e Antonio Negri (Hardt & Negri). Ele foi descrito como “neomarxista” ou mesmo como o “novo Manifesto Comunista”. Ed Vuilliamy escreveu no The Observer (15 de julho de 2001): “Um livro improvável escrito por um acadêmico de esquerda e um prisioneiro italiano está fascinando a América”. “O livro reabilita a palavra ‘comunismo’”. Este livro de 500 páginas, porém, não é um Manifesto Comunista para o século 21 e nem um belo trabalho que analisa seriamente o capitalismo global e suas contradições. Os autores prometem muito mais do que realmente oferecem e, enquanto algumas vezes clamam seguir os passos de Karl Marx, eles terminam por perder o contato com a realidade. Um Império sem um centro? O ponto de partida é que "O império está se materializando diante de nossos olhos”.

Nas últimas décadas, a começar pelo período em que regimes coloniais eram derrubados, e depois em ritmo mais veloz quando as barreiras soviéticas ao mercado do capitalismo mundial finalmente caíram, vimos testemunhando uma globalização irresistível e irreversível de trocas econômicas e culturais” (Prefácio, p. 11). Isto, por sua vez, significa que "a soberania tomou nova forma, composta de uma série de organismos nacionais e supranacionais, unidos por uma lógica ou regra única. Esta nova forma global de economia é o que chamamos de “Império” (Prefácio, p. 12). Duas páginas depois eles concluem que “o imperialismo acabou” (Prefácio, p. 14). E que nenhum Estado-nação, nem mesmo os Estados Unidos, “ocupará a posição de liderança mundial que as avançadas nações europeias um dia ocuparam (Prefácio, p. 14). Um comentário notável dado que os EUA são a única superpotência restante e sua posição com relação aos seus dois principais rivais capitalistas (os estados da União Europeia e o Japão) fortaleceu-se no curso dos últimos dez anos. De fato, nunca na história uma força ocupou tal posição dominante nos âmbitos militar, diplomático e econômico. O imperialismo dos EUA controla aproximadamente um terço da produção mundial, enquanto no fim dos anos 80 controlava 22%.

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[12] As Organizações não governamentais (ONG) atualmente significam um grupo social organizado, sem fins lucrativos, constituído formalmente e autonomamente, caracterizado por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das condições da cidadania. Porém, seu conceito não é pacífico na doutrina e gera muitas divergências. Também fazem parte do chamado Terceiro Setor. Tais organizações podem complementar o trabalho do Estado, podendo receber financiamentos e doações dele, assim como de entidades privadas, para tal fim. Atualmente estudiosos têm defendido o uso da terminologia organizações da sociedade civil.  Não tem valor jurídico. E, segundo o C.C. de 2002 prevê três figuras jurídicas do terceiro setor: as associações, fundações e organizações religiosas (que foram recentemente consideradas como uma terceira categoria).

[13] Para Foucault, o poder não existe, o que existe são as relações de poder. No entender de Foucault, o poder é uma realidade dinâmica que ajuda o ser humano a manifestar sua liberdade com responsabilidade. A ideia tradicional de um poder estático, que habita em um lugar determinado, de um poder piramidal, exercido de cima para baixo, em Foucault é transformada. Ele acredita no poder como um instrumento de diálogo entre os indivíduos de uma sociedade. A noção de poder onisciente, onipotente e onipresente não tem sentido na nova versão, pois tal visão somente servia para alimentar uma concepção negativa do poder.

[14] Antonio Negri é filósofo político marxista italiano. Foi preso sob a acusação de ser líder de um grupo chamado Brigadas Vermelhas. Tradutor de escritos de Filosofia do Direito de Hegel, especialista em Descartes, Kant, Espinosa, Leopardi, Marx e Dilthey. Ganhou notoriedade internacional nos primeiros anos do século XXI após o livro "Império" que se tornou um manifesto do movimento antiglobalização e de sua sequência, "Multidão" ambos escritos em coautoria com seu ex-aluno Michael Hardt.

[15] Antístenes (440-335 a.C.) foi discípulo de Sócrates e fundador da Escola Cínica que valorizava o trabalho ao extremo chegando a considerá-lo como símbolo único de sabedoria e da moralidade, por se opor aos prazeres e às ilusões míticas, além de levar o homem a bastar-se a si mesmo, sem depender do que possa vir de outras pessoas. A autossuficiência socrática radicalmente considerada por Antístenes encontra um melhor acabamento que é o personagem de Zuckerberg descrito como tendo uma subjetividade isolada, alheia à amizade, à solidariedade ou quaisquer outros princípios morais.

[16] Os doze trabalhos de Hércules (ou Trabalhos de Héracles) são uma série de episódios arcaicos ligados entre si por uma narrativa contínua, relativa a uma penitência que teria sido cumprida por um dos maiores heróis gregos, Héracles, mais conhecido em português pela romanização Hércules. Os antigos gregos atribuíam o estabelecimento de um ciclo fixo de doze trabalhos a um poema épico, a Heracleia, já perdido, escrito por Peisândro de Rodes, e que dataria de 600 a.C. 

Da maneira em que são conhecidos atualmente, os trabalhos de Hércules não são contados num único lugar; foram reunidos a partir de fontes diferentes. De acordo com os mitólogos Carl A. P. Ruck e Blaise Daniel Staples, não há uma maneira específica de interpretar os trabalhos; pode-se inferir apenas que seis deles se passam no Peloponeso, e culminaram com a dedicação de Olímpia. Outras seis levaram o herói até terras mais distantes, quase sempre lugares relacionados à deusa Hera, além de entradas para o Hades, o mundo inferior, habitado pelos mortos.  Todos os trabalhos seguiam o mesmo modelo: Hércules era enviado para matar, subjugar ou buscar uma planta ou animal mágico para Euristeu, representante de Hera.

Uma célebre descrição dos trabalhos na arte grega se encontra nas portas do Templo de Zeus em Olímpia, que data do século V a.C; A ordem tradicionalmente aceita, encontrada em Pseudo-Apolodoro é:

1. No Peloponeso, estrangulou o Leão da Nemeia - filho dos monstros Ortros e Equidna - que devastava a região e que os habitantes do local não conseguiam matar. Na segunda tentativa de matá-lo, tendo a primeira sido infrutífera, estrangulou-o, após com ele lutar. Acabada a luta arrancou a pele do animal com as suas próprias mãos e passou a utilizá-la como peça do vestuário. A criatura converteu-se na constelação de leão.

2. Matou a Hidra de Lerna, filha monstruosa de duas criaturas grotescas, a Equidna e Tifão. Era uma serpente com corpo de dragão, que possuía nove cabeças (uma delas parcialmente de ouro e imortal, que se regeneravam), mal eram cortadas, e exalavam um vapor que matava quem estivesse por perto. Hércules matou-a cortando suas cabeças enquanto seu sobrinho Iolau impedia sua reprodução queimando suas feridas com tições em brasa. A deusa Hera enviou ajuda à serpente – um enorme caranguejo, mas Hércules pisou-o e o animal converteu-se na constelação de Câncer (do latim câncer, "caranguejo"). Por fim, o herói banhou suas flechas com o sangue da serpente para que ficassem envenenadas.

3. Alcançou correndo a Corça de Cerineia, um animal lendário, com chifres de ouro e pés de bronze. A corça, que corria com assombrosa rapidez e nunca se cansava, era Taígete, ninfa que, para fugir da perseguição de Zeus foi transformada por Ártemis no animal.  Como ela tinha uma velocidade insuperável, Hércules a perseguiu incansavelmente durante um ano até que, exausta, foi atingida por uma flecha disparada pelo herói.  Ferida levemente foi levada nos ombros do herói até o reino de Euristeu. Em outra versão do mito, Héracles tinha de capturar a corça, mas sem machucá-la; ele a perseguiu durante um ano, até conseguir pegá-la com uma rede, porém ela acabou se ferindo. O herói pôs então a culpa em Euristeu, para que Ártemis se zangasse com ele. Em uma terceira versão, Hércules levou um ano para realizar o trabalho a seguir, que era capturar a corça que habitava o monte Cerineu. Este animal parecia ser mais tímido do que perigoso, e sagrado para Ártemis; Hércules finalmente aprisionou-a e estava levando-a para Euristeu quando se encontrou com Ártemis, que estava muito zangada e ameaçou matá-lo pelo atrevimento em capturar seu animal, mas quando ficou sabendo sobre os trabalhos, concordou em deixar Hércules levar o animal, com a condição que Euristeu o libertasse logo que o tivesse visto.

4. Capturou vivo o Javali de Erimanto, que devastava os arredores, ao fatigá-lo após persegui-lo durante horas.  Euristeu, ao ver o animal no ombro do herói, teve tamanho medo que foi se esconder dentro de um caldeirão de bronze.  As presas do animal foram mostradas no templo de Apolo, em Cumas.

5. Limpou em um dia os currais do rei Aúgias, que continham três mil bois e que há trinta anos não eram limpos. Estavam tão fedorentos que exalavam um gás mortal. Para isso, Hércules desviou dois rios.

6. Matou no lago Estínfalo, com suas flechas envenenadas, monstros cujas asas, cabeça e bico eram de ferro, e que, pelo seu gigantesco tamanho, interceptavam no voo os raios do Sol.  Com seu arco, conseguiu matar alguns e os outros, expulsou a outros países.

7. A sétima tarefa de Hércules era levar o Touro de Creta vivo até Euristeu, que por sua vez o entregaria a Hera.

O touro era enraivecido e aterrorizava o povo da ilha grega de Creta, pois Poseidon, o deus dos mares, o havia oferecido a Minos, rei local, em sacrifício, e o rei não teve coragem de sacrificar um animal tão bonito e tão forte. Hércules não só capturou-o como, montado no animal, levou-o até Euristeu.

8. Castigou Diómedes (rei da Trácia), filho de Ares, possuidor de cavalos que vomitavam fumo e fogo, e a que ele dava a comer os estrangeiros que as tempestades arrolavam à sua costa.  O herói entregou-o à voracidade de seus próprios animais.

9. Venceu as amazonas, tirou-lhes a rainha Hipólita, apossando-se do cinturão mágico que ela vestia.

10. Matou o gigante Gerião, monstro de três corpos, seis braços e seis asas, e tomou-lhe os bois que se achavam guardados por um cão de duas cabeças, e um dragão de sete.

11. O seu décimo primeiro trabalho foi colher os pomos de ouro do Jardim das Hespérides, após matar o dragão de cem cabeças que os guardava.  O dragão foi morto por Atlas, a seu pedido, e durante o trabalho, ele sustentou o céu nos ombros no lugar do titã.

12. O último trabalho consistiu em trazer do mundo dos mortos o seu guardião, o cão Cérbero.

Hades autorizou-o a levar Cérbero para o cimo da Terra sob a condição de conseguir dominá-lo sem usar as suas armas.  Hércules lutou com ele só com a força dos seus braços, quase o sufocou, dominando-o. Depois o levou a Euristeu, que, com medo, ordenou-lhe que o devolvesse.

[17] O estudioso alemão Walter Burkert chamou os trabalhos, juntamente com os outros mitos sobre Hércules, de "um conglomerado de contos populares que foram explorados apenas de maneira secundária pela arte da poesia”. Os feitos sobrehumanos de Hércules, sempre a vencer a morte passaram a ter simbolismos filosóficos, morais e até alegóricos, por trás de seus significados literais. E a figura heroica passou a representar tradição interior, e os trabalhos foram interpretados como etapas de uma jornada espiritual. Os três derradeiros trabalhos, particularmente, seriam considerados grandes metáforas sobre a morte. E, Hércules representou o único entre os heróis gregos, na medida em que não se conhecia a localização de sua sepultura, e, portanto os sacrifícios e libações eram-lhe oferecidas em todos os lugares.

[18] Clemente de Alexandria ou Tito Flávio Clemente foi escritor, teólogo, apologista e mitógrafo cristão grego nascido em Atenas. Clemente foi um erudito numa época em que os cristãos eram geralmente pouco letrados e abertamente hostis a intelectuais. Não obstante, foi capaz de construir argumentos lógicos convincentes, baseados nas escrituras e na filosofia, a favor do cristianismo e contra os gnósticos de Valentim, que, baseados em Alexandria - o mais importante centro de atividade intelectual da época - estavam em plena expansão. Defendeu a fraternidade e a repartição das riquezas entre os homens, observado livre-arbítrio: “Deus criou o gênero humano para a comunicação e a comunhão de uns com os outros, como ele, que começou a repartir do seu e a todos os homens proveu seu Logos comum, e tudo fez por todos. Logo tudo é comum, e não pretendam os ricos ter mais que os outros”. Da homilia Quis dives salvetur? ("Que rico se salvará?"), baseada na história de Jesus e o jovem rico (Marcos 10:17-31). "De sorte que não é rico aquele que possui e guarda, mas aquele que dá; e este dar, não o possuir, faz o homem feliz. Portanto, o fruto da alma é essa prontidão em dar. Logo na alma está o ser rico." (Pedagogo 3, 6).

[19] O ensaio de Paulo Freire chamado " Educação como prática de liberdade" propôs a visão pedagógica e de seu método de ensino, onde soube reconhecer com clareza as prioridades nesta etapa de emergência política das classes populares ao lado da crise das elites dominantes. A primeira das exigências é exatamente o reconhecimento dos privilégios da prática, onde o educador é participante e pode diminuir as desigualdades através de propor a livre e crítica interação com os educandos tanto no círculo da cultura como na unidade de ensino como no exercício comezinho da cidadania.

[20] É na passagem da modernidade para a atualidade pós-moderna que Bauman afirmar ser perceptível todas as nuances e sutilizas produtoras de mal-estar a que estamos cotidianos submetidos. O mal-estar conceito freudiano quando o homem reconhece que ocupa um lugar de eterna incompatibilidade entre suas necessidades individuais em face das exigências sociais e culturais reinantes. São tempos em que o próprio tempo tornou-se frívolo, efêmero e impreciso em virtude da massacrante velocidade de acontecimentos e da multiplicidade de possibilidades a desfilar perante nossos olhos ainda incrédulos. Nossa liberdade se encontra carente de referenciais sólidos, se torna cada vez mais difícil a visualização de um norte que indique um sentimento de certeza para o sujeito em suas escolhas. É uma liberdade fluida.

[21] Antigo Regime ou em francês Ancien regime refere-se ao sistema social e político aristocrático estabelecido na França, calcado em regime centralizado e absolutista, onde o poder era concentrado nas mãos do rei. E, trouxe um modo de viver bem características das populações europeias durante os séculos XVI, XVII e XVIII, ou seja, desde as descobertas marítimas até as revoluções liberais.

[22] Afinal com o fim das utopias se obtém o máximo da incredulidade humana e o fim o de seu potencial criativo e transformador. Os ídolos foram nocauteados e os novos referenciais surgem e desaparecem antes mesmo de serem vivenciados de forma significativa. Então, a possibilidade de fazer e fazer-se sentido, produzindo significados genuínos, nos dias atuais torna-se obsoleta.

[23] A produção frenética dos bens de consumo convoca os indivíduos a ocupar um lugar que representa determinado status e que se concretiza na rápida aquisição e no subsequente abandono dos signos fálicos (objetos de desejo) na sociedade pós-moderna. A sucessiva substituição desses bens pouco duráveis é o que garante o “sucesso” dos sujeitos.

[24] A nova configuração de tempo e espaço, forjada nos dias de hoje, liquida a possibilidade de cristalizar-se um passado histórico, em virtude da efêmera instantaneidade dos acontecimentos, valorizando, desse modo, um presente contínuo e fugaz, em que não existem condições de perpetuar coisa alguma. Nenhuma obra de arte é capaz de eternizar-se no tempo como acontecia em outras épocas, nenhuma música permanecerá significativa e se tornará um clássico nos dias atuais, por exemplo.

[25] A cultura da atualidade é regida pela primazia da estetização do eu, o qual transparece e evidencia-se nas perfomances subjetivas de individualidades, é o produto e, por que não dizer, o sintoma da sociedade espetacular, uma vez que no espetáculo a imagem é tudo. Afinal a cultura da imagem significa o correlato essencial da estetização do eu, na medida em que a produção do brilho social se realiza fundamentalmente pelo esmero desmedido na constituição da imagem pela individualidade. É a hegemonia da aparência que define o critério fundamental do ser e da existência em sua evanescência brilhante.

[26] Alain Ehrenberg é um sociólogo francês e autor de tese de doutorado intitulada "Arcanjos, guerreiros e desportistas. Ensaio sobre a educação do homem forte" que posteriormente tornou-se interessado nas ansiedades dos indivíduos na sociedade moderna, confrontados com a necessidade de realização e autonomia e da perda de referenciais sociais e sistemas de apoio. É pesquisador do Centro Edgar Morin e dirigiu o grupo de pesquisa voltado para o tema "Psicotrópicos, política, sociedade".

[27] "A fama é a soma de equívocos criados em torno de uma pessoa" afirma Rilke. Mas para Voltaire "todas as glorias deste mundo não valem um amigo fiel". Nas últimas décadas, o mundo ocidental passou por transformações que resultaram em uma sociedade de desgarrados, fruto do aumento de divórcios e da fragmentação da relação familiar. As pessoas estão em busca de identidade e de sentido para viver, em razão da fragmentação excessiva da sociedade as deixou sem rumo.

[28] Em francês, o termo spleen representa o estado de tristeza pensativa ou melancolia associado ao poeta Charles Baudelaire. O spleen baudelairiano é um profundo sentimento de desânimo, isolamento, angústia e tédio existencial, que Baudelaire exprime em vários dos seus poemas reunidos em Les Fleurs du mal. Embora o termo tenha sido muito difundido pelo poeta francês durante o decadentismo, já fora utilizado anteriormente, em particular na literatura do romantismo.

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Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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