A aplicabilidade da medida de segurança aos portadores de transtornos psicopatológicos antissociais (psicopatas)

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23/05/2015 às 15:27
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4. SERIAL KILLER – CARACTERÍSTICAS DOMINANTES

Dos tipos de psicopatas, indubitavelmente o malévolo é o mais interessante, isto porque externa suas fantasias mais sórdidas no plano real, chocando sociedades organizadas e civilizadas. Nem sempre a loucura leva ao crime, mas o crime pode levar a loucura, de Jack, o Estripador, em plena Inglaterra vitoriana, ao Unabomber contemporâneo. Há uma variedade imensa de casos e personagens. Como não existem monstros, é um desfile incessante de parte da raça humana – Percival de Souza.

Segundo Casoy (2010, p.13), os psicopatas são um capítulo a parte no estudo do crime, pois não se adequam a nenhuma linha de pensamento ou teoria específica. O termo serial killer é relativamente novo, foi usado pela primeira vez nos anos 70 por Robert Ressler, agente do FBI aposentado e grande estudioso do assunto.

Por definição serial killers são indivíduos que come­tem uma série de homicídios durante algum período de tempo, com pelo me­nos alguns dias de intervalo entre eles. O espaço de tempo entre um crime e outro os diferencia dos assassinos de massa, indivíduos que matam várias pessoas em questão de horas. O motivo do crime ou a falta deste é que hegemoniza um serial killer.

Segundo o Dr. Joel Norris (PhD em psicologia) apud Casoy (2010, p.16), existem seis fases do ciclo do serial killer:

1. Fase Áurea: onde o assassino começa a perder a compreensão da realidade;

2. Fase da Pesca: quando o assassino procura a sua vítima ideal;

3. Fase Galanteadora: quando o assassino seduz ou engana sua vítima;

4. Fase da Captura: quando a vítima cai na armadilha;

5. Fase do Assassinato ou Totem: auge da emoção para o assassino;

6. Fase da Depressão: que ocorre depois do assassinato.

Quando o assassino entra em depressão, engatilha novamente o início do processo, voltando para a Fase Áurea. Os serial killers convivem com a necessidade de dominar, controlar e possuir a pessoa-objeto que elegeu para vitimar, sentem-se bem ao vê-las mau.

Não existem apenas homens serial killers, afirmar isso seria equivocado e inconsistente, bem verdade é que são em menor número as mulheres serial killers, além do mais os crimes não são sensacionalistas e os motivos são diferentes, não matam completos desconhecidos, são verdadeiras viúvas – negras (assassinas de seus próprios cônjuges). Quando matam, fazem parecer mortes por causa naturais (infarto, acidentes, suicídios).

A assassina serial mais conhecida da atualidade é Aileen Wuornos, sentenciada à morte pelo homicídio de um homem e acusada de mais seis outros. Geralmente, as assassinas estão fora das estatísticas, pois alegam legítima defesa.

A pergunta que paira é serial killers são loucos? Para a resolução desta indagação que é motivo de intermináveis discussões acadêmicas, citaremos alguns pontos relevantes. Tradicionalmente, o comportamento psicopata é conseqüência de fatores familiares ou sociológicos, mas alguns pesquisadores encontraram dife­renças cerebrais entre psicopatas e pessoas normais que não podem ser des­cartadas.

Para Casoy (2010, p. 32):

insanidade, freqüentemente alegada em tribunais para a tentativa de ab­solvição do assassino, não é uma definição de saúde mental, como muitos acreditam. Seu conceito legal se refere à habilidade do indivíduo em saber se suas ações são certas ou erradas no momento em que elas estão ocorrendo. É uma surpresa saber que apenas 5% dos serial killers estavam mentalmente doentes no momento de seus crimes, apesar das alegações em contrário.

Neste aspecto, é difícil dizer se estes são loucos, mas sem dúvidas estão mentalmente doentes, mesmo que ao tempo do crime fosse consciente da ilicitude do fato, com certeza são de uma crueldade nauseante.

O serial killer, não possui empatia com as pessoas, mesmo assim seu verniz é tão convincente que passam despercebidos, pois conhecem o que é humilhante e degradante, e são capazes de ser dóceis e afáveis, são arrogantes e gostam de possuir troféus de suas vítimas, não conseguem dissociar suas fantasias na hora da execução de um crime. Em cada crime, a vítima é parte da fantasia do criminoso.

A repetição e reencenação servem para alimentar a fantasia, reforçando a escalada de comportamento violento, e dá prazer sexual ao serial killer. A grande maioria dos serial killers (cerca de 82%) sofreram abusos na infância. Esses abusos foram sexuais, físicos, emocionais ou relacionados à negligência e/ou abandono, portanto, justifica esse desejo constante de repetirem suas fantasias (CASOY, p. 25).

Por sua natureza psicopata, serial killers não sabem sentir compaixão por outras pessoas ou como se relacionar com elas. Eles aprendem a imitar as pessoas normais. Quando são capturados, rapidamente assumem uma máscara de insani­dade, alegando múltiplas personalidades, esquizofrenia, black-out constantes ou qualquer coisa que o exima de responsabilidades.

Outras estatísticas curiosas (CASOY, 2010, p. 38):

  • 84% dos serial killers são caucasianos.

  • 93% dos serial killers são homens.

  • 65% das vítimas são mulheres.

  • 89% das vítimas são caucasianas.

  • 90% dos serial killers têm idade entre 18 e 39 anos.

Para que um crime seja solucionado, tanto a medicina forense como a psicologia devem ser utilizadas. Quanto mais interação entre os profissionais destas duas áreas, mais chance tem a polícia de encontrar e prender os serial killers, sempre correlacionando seu modus operandi (maneira de execução do crime) e sua assinatura pessoal (marca “registrada”) em seus assassinatos.

O fato é que a nossa sociedade está alastrada de assassinos, ou potenciais e os países com o maior número de serial killers são os EUA, Grã-Bretanha, Alemanha e França, obviamente o Brasil não está isento, porém ainda não aparecemos de forma alarmante nas estatísticas (CASOY, 2010, p.37).


5. TED BUNDY – O INESCRUPULOSO

Ted Bundy: “a posse sobre a vítima é fundamental, como alguém possui uma planta em um vaso, uma pintura ou um Porsche.”

Um dos mais conhecidos serial killers de todos os tempos, dentre tantos, esta parece à escolha mais extasiante, não somente pelas atrocidades cometidas por este homem, porém por ele reunir todas as características acima elencadas.

Teodhore Bundy, nascido em 1946, filho de uma moça muito jovem que fica grávida e com o fito de evitar um escândalo, os pais da moça seus avós o registram como filho. Ted adorava o avô que segundo familiares era violento, chutava cachorros e agredia mulheres.

A mãe verdadeira muda-se de cidade quando ele tinha 4 anos, casa-se e Theodore recebe o sobrenome Bundy, seu padrasto um homem bom e até tentou alguma aproximação, em vão, pois Ted era uma criança tímida e introspectiva que sofria “bulling” na escola. Sua mãe teve quatro filhos dos quais, Ted ajudou a cuidar.

Mesmo com toda dificuldade na escola, Theodore possuía boas notas, porém seus professores relatavam que ele tinha um temperamento difícil e imprevisível. A adolescência foi um pouco mais sociável, e cultivava paixão por política e esqui.

Em 1967, aos 21 anos conhece seu primeiro amor, Leslie Holland, bonita e de boa família, com quem aparentemente teve sua primeira relação sexual, ele a amava mais, e ela o achava sem objetivos. Porém, ele bonito, sedutor e mentiroso o que ainda fez com que ela permanecesse com ele por 1 ano, quando findou a relação. Ted passou um bom tempo obcecado por essa mulher, e nessa época descobriu que sua irmã, na verdade era sua mãe.

Theodore estudou psicologia e era bom aluno e seus professores gostavam dele, um verdadeiro verniz que ele criou para ludibriar todos a sua volta. Conheceu Elizabeth Kendall, secretária com quem manteve um relacionamento duradouro, em uma viagem pelo Partido Republicano, ao qual era filiado reencontrou Leslie (seu primeiro amor), que se interessou por ele por está mudado e com quem mantinha encontros.

Na faculdade salvou um garoto de 3 anos de morrer afogado ganhou medalha por este ato nobre, e era voluntário em uma linha telefônica que ajudava pessoas emocionalmente deprimidas.

Linda Ann Healy era uma bela jovem, que trabalhava em uma rádio como comentarista do tempo. Tinha 21 anos e estudava Psicologia. Ted tinha 27. Na noite de 30 de janeiro de 1974, ela saiu para um pequeno bar próximo a sua casa, com amigas com as quais morava, para tomar uma cerveja, após, o jantar. Logo se despediu das amigas, disse que iria para casa ver televisão e ligar para o namorado. Nunca retornara. Encontraram seu crânio no ano seguinte, com sinais de espancamentos severos.

Nos meses seguintes, outros desaparecimentos aconteceram, e todas as garotas eram parecidas em alguns aspectos: brancas, jovens, com cabelos escuros, longos e, geralmente, repartidos ao meio. Algumas pessoas que as viram antes de sumir relataram tê-las visto conversando com um homem usando gesso no braço e pedindo ajuda para carregar alguns livros.

Em agosto de 74, a polícia encontrou, em um parque, os crânios de duas garotas, Janice Ott e Denise Laslund – ambas desaparecidas no dia 14 de julho, em horários diferentes. Uma testemunha deste caso ouviu o assassino dizer às garotas, quando as abordou, que se chamava Ted. Por causa de denúncias decorrentes e do divulgado retrato falado do suspeito, Ted Bundy passou a ser investigado.

Uma amiga de Elizabeth Kendall, a namorada de Ted, também viu o retrato falado e o achou parecido com Ted. Havia mais motivos para Elizabeth acreditar, por exemplo, havia a menção de um Fusca (Ted tinha um) e a atadura (ela viu uma nos pertences dele, mas nunca o havia visto usá-la) objetos usados pelo criminoso. Elizabeth entrou em contato com a polícia, que solicitou-lhe retratos de Ted – porém as testemunhas dos sequestros não o reconheceram nas fotos. A polícia deixou Ted de lado. Ele fora para outro Estado, logo se descobriria que ele assassinou, torturou e violentou mulheres em vários Estados.

Algumas das vítimas de Ted escaparam, Carol DaRonch e Joni Lenz, atacada em 1974 encontrada em seu quarto, tendo apanhado muito e com um apoio da cama enfiado em sua vagina. Ficou com seqüelas físicas e emocionais o resto da sua vida.

Entre 74 e 78, Ted fizera cerca de 36 vítimas. Bundy, nunca confirmou o número exato. Em uma ocasião, quando lhe mencionaram este número, ele deu um sorriso e disse aos detetives: “Acrescentem um dígito e terão o total.” A escritora Ann Rule pergunta: “Ele queria dizer 37? Ou 136? Ou 360?”. Ou quis apenas brincar?

A captura definitiva de Bundy foi trabalhosa, em agosto de 75, um policial achou suspeito um motorista que rondava um bairro. Quando tentou abordá-lo, ele fugiu, mas acabou batendo. O policial notou que faltava o banco de passageiros do carro. E foram encontrados uma barra, máscara de esqui, algemas, uma corda e um picador de gelo. Bundy foi preso. Em fevereiro de 76, Ted Bundy levado a julgamento pelo seqüestro de Carol. Ele estava tranquilo. E negou a acusação. Entretanto, foi condenado à prisão. Preso, foi avaliado por psicólogos que, entre várias hipóteses, lançaram uma interessante, sobre o seu funcionamento psíquico: Ted tinha medo de ser humilhado em suas relações com as mulheres.

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Enquanto isto, a investigação dos outros crimes continuava, e provas se avolumavam. Na preparação para o julgamento do caso Caryn, Ted ficou insatisfeito com seu advogado. Ele resolveu defender a si mesmo (atitude permitida nos EUA). Ele tinha autorização para ir à biblioteca da prisão, estudar para a sua defesa. Mas, Ted tinha outros planos… Em junho, ele pulou por uma janela aberta da biblioteca. Machucou-se, mas estava livre. Cerca de 150 homens saíram à sua caça, mas não conseguiram achá-lo. Nesta época, Ted Bundy sentia-se invencível. Fora pego tentando roubar um carro para fugir para outro Estado e quando ia à biblioteca, estava sempre algemado com ferro nos pés.

A última vítima de Ted foi Kimberly Leach, ela tinha 12 anos, e o caso aconteceu em fevereiro de 78. Seu corpo só foi achado semanas depois, esse homicídio aconteceu após o massacre promovido por ele, em um alojamento feminino de estudantes (o Chi Omega), aonde duas garotas morreram, outra fora estuprada com uma lata de spray e uma garota fora espancada tendo o seu cérebro exposto.

Os julgamentos foram feitos sob os holofotes da imprensa e seu sensacionalismo também, o que ajudou a torná-lo um monstro e um ídolo para algumas pessoas, por ser bonito e bem articulado.

O julgamento do caso Kimberly era o mais importante e desta vez, ele aceitou advogados, que resolveram tentar a alegação de insanidade mental. Ted estava aparentemente nervoso e discutiu com uma testemunha. A prova mais contundente foi o encontro de fibras da roupa da garota no veículo que Ted estaria usando na época. O julgamento durou um mês. Culpado, mais uma vez.

No dia da deliberação do veredicto, exatamente dois anos após a morte de Kimberly, ele e Carole Ann Boone, testemunha de defesa, trocaram votos de casamento e, segundo as leis do local, chocante e mórbido de fato, fora feito em ambiente legal e o casamento considerado válido. Isto pegou a todos de surpresa. Contudo, não mudou em nada a pena. Ted foi condenado à morte, mais uma vez.

Ted resolveu contar alguns detalhes de seus crimes. Disse que guardou a cabeça de algumas vítimas como troféu. Também falou em necrofilia. Este policial estima que Bundy possa ter feito mais de cem vítimas, algumas antes da primeira conhecida. Ted tentou, no fim, negociar um prazo de mais alguns anos de vida em troca de mais algumas confissões, sem sucesso. Após, o anúncio de sua morte, o público de fora da prisão ovacionou e foguetes estouraram no céu. Seu corpo foi cremado.

Algumas entrevistas cedidas antes de sua execução chamam atenção, porém a última cedida ao psicólogo James Dobson, indubitavelmente é a mais intrigante, Ted falou sobre o início de seus crimes, mais uma vez. “Por um par de anos, eu fiquei lutando com inibições muito fortes minhas contra comportamentos criminosos e violentos.” “Não há maneira de descrever a urgência brutal de fazer aquilo, e uma vez que era satisfeita, e o nível de energia declinava, eu me tornava eu mesmo de novo. Basicamente, eu era uma pessoa normal…” Falou ainda de como a pornografia ajudou a torná-lo o que era.

Bundy tinha consciência de que suas palavras poderiam ser vistas apenas como uma tentativa de benefício próprio, porém completou: “através da ajuda de Deus, eu pude chegar, muito tarde, ao ponto onde eu posso sentir a dor e o sofrimento pelos quais eu sou responsável. Sim. Totalmente! (…) É difícil falar sobre o que aconteceu, porque isto revive todos aqueles terríveis sentimentos. Eu sinto a dor e o horror daquilo. (…) Eu não espero que me perdoem. Eu não estou pedindo por isto.” Muitos acreditam que estas declarações são falsas. Primeiramente, porque ao emiti-las sua face não demonstrava sofrimento algum. Além disto, alega-se que, se houvesse mesmo este profundo arrependimento, ele teria colaborado mais adequadamente com a resolução definitiva da questão de quantas e quais foram suas vítimas.

Ao detetive Bill Hagmaier, Ted Bundy deu uma de suas mais famosas e fantásticas declarações: “Assassinato não é simplesmente um crime de luxúria ou violência. Torna-se possessão. Elas são parte de você… Você sente o último restinho de ar deixando seus corpos… Você está olhando nos olhos delas… Uma pessoa nesta situação é Deus.”

Esse foi Theodore Bundy, intrigante, fascinante, sedutor, inteligente, louco, cruel, dissimulado, sofredor, algoz e vítima, heróico e monstruoso, homem insano que deixou um legado de dor e sofrimento, criatura de uma sociedade falsa e cheia de tabus, criador de fetiches sexuais anômalos, arrogante ao ponto de guardar a cabeça de suas vítimas como troféu e retornar aos corpos para praticar atos de necrofilia, Theodore Bundy o inescrupuloso. (YOUTUBE, 2012).

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