“Laudato Si, mi Signore” (Louvado sejas, meu Senhor), cantava São Francisco de Assis. Assim, inspirada nesse santo, considerado padroeiro da ecologia e protetor dos animais, inicia-se o belíssimo documento do magistério da Igreja Católica de autoria do Papa Francisco, a Encíclica “Laudato Si” – Louvados Sejas, sobre o cuidado da casa comum. Apesar de ser direcionado primordialmente para o público cristão-católico, trata-se de um documento que trata com uma profundidade ímpar um dos principais temas que tanto aflige a humanidade na atualidade: a questão da preservação ecológica e do equilíbrio climático para as presentes e futuras gerações. Por isso, sua leitura é recomendada a todos os crentes, cristãos ou não, e mesmo aos ateus/agnósticos.
Segundo Francisco, a questão ecológica precisa ser enfocada sob múltiplas dimensões e ter no ser humano seu centro e razão de ser, pois “a degradação da natureza está estritamente ligada à cultura que molda a convivência humana”. A fé cega na ciência e de que os problemas climáticos resolver-se-ão apenas com o emprego da tecnologia, ignora a ideia de que tudo está interligado, de modo que a solução dos problemas climáticos que assolam o planeta não pode ignorar “a relação íntima entre as causas da pobreza e desigualdade e a fragilidade do planeta”. Ou seja, os problemas sociais e ecológicos estão interligados, de modo que a solução de um perpassa necessariamente pelo outro.
O Papa denuncia ainda a chamada “cultura do descarte” que afeta não apenas as coisas que vão rapidamente para o lixo, mas também o descarte de seres humanos pela exclusão, além de criticar o paradigma do progresso e desenvolvimento a todo custo, o qual impõe uma dinâmica de velocidade às ações humanas que contrasta com a lentidão natural da evolução biológica.
A questão da água, tão cara a nós nordestinos, também foi abordada na encíclica, a qual prega que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essência, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”. A água é colocada, portanto, como pressupostos fundamental da vida e sobrevivência no planeta.
A Encíclica aparece num momento bastante oportuno em que a comunidade internacional está discutindo alternativas e soluções para o clima e preservação do meio ambiente para este século próximas décadas. Com efeito, a 21ª Conferência do Clima (COP 21) será realizada em dezembro de 2015, em Paris, e terá como principal objetivo costurar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo o aquecimento global e em consequência limitar o aumento da temperatura global em 2ºC até 2100. O Brasil, conforme recente pronunciamento da Presidente Dilma na ONU, promete fazer sua parte nessa urgente e importante tarefa de cuidar da casa comum. Laudato Si!