Ex-auxiliar de pedreiro sai do interior da Bahia e hoje é diplomata, e diz: "Cotas são o caminho..."

Jackson Oliveira tinha esse objetivo desde pequeno, mas só depois descobriu que era um sonho muito caro

01/12/2015 às 17:10
Leia nesta página:

Jackson Oliveira passou no concurso para diplomata em 2008. Como diplomata, ficou 3 anos trabalhando na África e hoje é assessor do diretor do Departamento de África. Para ele, a melhor forma de resolver o que chama de racismo velado é por meio das cotas.

Ex-auxiliar de pedreiro, Jackson Luiz Lima Oliveira passou no concurso para diplomata em 2008. Ainda não havia a Lei de Cotas, mas ele teve direito a uma ação afirmativa que o Itamaraty oferece há 13 anos: o Programa Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia. São R$ 25 mil anuais, em dez parcelas mensais, para o candidato negro ou pardo custear despesas com professores, livros e cursos preparatórios. O benefício pode ser renovado até quatro vezes — desde que o candidato passe na seleção da bolsa em cada uma das renovações. Como diplomata, Oliveira ficou três anos trabalhando na África e hoje é assessor do diretor do Departamento de África.

No Brasil, os negros são 54% da população, mas representam apenas 32% do total de servidores públicos federais.

Em carreiras prestigiadas, essa proporção não chega a 15%. A quantidade de brancos ocupando cargos públicos com nível superior é três vezes maior que a de pretos e pardos.

Para o diplomata Jackson Oliveira, essa diferença é bastante óbvia. Filho de um carteiro e de uma professora do interior da Bahia, ele conta que, mesmo na universidade federal em Salvador, não via professores negros.

“Estudei dez anos entre graduação, pós e mestrado e nunca tive um professor doutor negro. Em compensação, ia ao banheiro e a menina que estava limpando era negra”.

Para ele, a melhor forma de resolver a curto prazo o que chama de “construção desse imaginário que leva ao racismo velado no Brasil” é por meio das cotas raciais.

Desde 2014, o governo federal sancionou a Lei 12.990, que institui 20% de cotas para negros nos concursos públicos federais, quando há três cargos ou mais.

A legislação já garantiu vagas para 638 candidatos negros ou pardos no Poder Executivo em apenas um ano, segundo levantamento da Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, vinculada ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.

Para se tornar diplomata, o profissional deve ser aprovado no concurso do Instituto Rio Branco e passar por dois anos de formação.

O baiano de 45 anos conta que desde cedo tinha o objetivo de seguir essa carreira, mas só depois descobriu que era um sonho muito caro. "Além de ser historicamente uma casa para brancos que iam representar o País no exterior, a entrada é muito cara. Os alunos que ingressavam o Instituto Rio Branco eram de famílias renomadas, que falavam várias línguas, estudaram em escolas boas. E a gente sabe que isso não acontece com a maioria esmagadora da população negra no Brasil".

O desejo só se tornou realidade depois de Jackson conhecer o Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco, que concede Bolsas-Prêmio de Vocação para a Diplomacia. Desde 2003, o instituto concede bolsas no valor de R$ 25 mil para afrodescendentes com intuito de ajudar na preparação para o concurso durante o período de um ano.

Jackson conseguiu ingressar na terceira tentativa. Mesmo com o auxílio, em sua turma de 150 diplomatas apenas dois eram negros.

Com a Lei de Cotas para os concursos públicos, Jackson espera que esse número aumente. “Felizmente, o problema econômico para entrar no Itamaraty está diminuindo por causa das Bolsas-Prêmio. Só estou aqui hoje por causa dela. Mas quando você institui 20% das cotas, automaticamente você já coloca negros nesses cargos”, comenta.

Com mestrado sobre a presença dos negros na diplomacia brasileira em seu currículo, ele explica que nos últimos 12 anos a média de negros por turma do Instituto Rio Branco é de no máximo três.

"Cotas são o caminho para elevar a presença de negros no serviço público"

Neste ano, com a aplicação da Lei de Cotas para o concurso público, a próxima turma de 30 diplomatas terá necessariamente seis negros. “Em 12 anos, são 21 negros que entraram no Itamaraty por causa da Bolsa-Prêmio. Em dez anos de Lei, serão pelo menos 60. São três vezes mais, em menos tempo. O sistema de cotas vai ajudar consideravelmente a presença e a representatividade dos negros no serviço federal”, diz.

A história de Jackson é realmente incrível, quem conhece sabe que passar no Instituto Rio Branco é uma das tarefas mais difíceis que existe. No entanto, com dedicação, planejamento e muito estudo é plenamente possível.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Coruja Concurseira

Perfil que reúne as melhores dicas de estudo e estratégias para os concurseiros de plantão.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos