Capa da publicação The house is down: 240 políticos e 22 partidos receberam dinheiro da Odebrecht. Chegou a hora da faxina geral.
Capa: Rivaldo Gomes/Folhapress

The house is down: 240 políticos e 22 partidos receberam dinheiro da Odebrecht. Chegou a hora da faxina geral.

24/03/2016 às 09:43
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Somente numa apreensão da PF (que não tem nada a ver com o DPO: Departamento de Propinas da Odebrecht) já apareceram 240 políticos e 22 partidos beneficiados por dinheiro dessa empreiteira (nas eleições de 2012 e 2014).

A Lava Jato, em primeiro lugar, pegou os empreiteiros, os funcionários da Petrobras, financistas e alguns políticos ligados ao PT e aliados. Quem imaginou que ela ficaria por aí se enganou. The house is down! Ela está chegando a cada dia mais nos políticos em geral e em praticamente todos os partidos.

Somente numa apreensão da PF (que não tem nada a ver com o DPO: Departamento de Propinas da Odebrecht) já apareceram 240 políticos e 22 partidos beneficiados por dinheiro dessa empreiteira (nas eleições de 2012 e 2014). PT, PMDB, PSDB e DEM são os maiores beneficiários das “doações” (algumas podem ser legais, mas muitas são ou lavagem de propinas junto à Justiça Eleitoral ou caixa 2 e 3). Todos esses procedimentos estão devidamente descritos no livro O Nobre Deputado (de Márlon Reis).

O clima fúnebre em Brasília é de “terra arrasada”. Derrocada geral. Não se trata de uma maça podre. O saco está cheio de maças podres. O sistema político inteiro está completamente corrompido. Velhas lideranças devem ser aniquiladas (colocadas fora do jogo). Não estão à altura dos desafios de um Brasil novo (até aqui carcomido pelas elites que só pensam nelas).

São precisamente essas elites que nunca aceitaram um sistema de ensino de qualidade para todos (pelo menos até os 18 anos). Tem razão Darcy Ribeiro quando diz que “a crise na educação no Brasil não é crise, é um projeto” [nacional, eterno].

Necessitamos de uma faxina geral. A República Velhaca (1985-2016) morreu (mas falta sepultar). Os sobreviventes não contaminados e novas lideranças devem se encarregar da reconstrução do sistema político. O Judiciário está fazendo sua parte; a outra só pode ser feita pelos eleitores. Os políticos não são parte da solução, sim, do problema. Temos que nos desapegar dos políticos corruptos em quem confiávamos.

A operação Lava Jato, finalmente, está escancarando desde suas entranhas mais putrefatas o que todo mundo sabia, mas que ficava escondido nos escombros subterrâneos dos costumes incivilizados do sistema político-eleitoral, que não passa de um imenso crime organizado, protagonizado por uma casta de altíssima periculosidade (para o erário e o bem-estar da população), que configura uma espécie de clube mafioso integrado pelo lado podre das elites econômicas e financeiras (as que dominam os grandes rumos do país), de um lado, assim como pelas elites políticas e administrativas (as que reinam, as que governam), de outro.

A casa dos que não querem enxergar a realidade e ainda continuam defendendo seu “corrupto de estimação” está caindo. Vamos acordar (e lutar juntos pela limpeza contra todos). É hora de jogar as máscaras fora e encarar a realidade (a vida árdua como ela é). Não importa a cor ou o partido do corrupto: todos devem ser investigados e, havendo provas, punidos. Leia-se: eliminados do jogo político (depois de empobrecidos em razão das suas falcatruas).

As castas perigosas (que sempre agiram em torno dos seus interesses sem se preocupar com o país) atuam ora sob a forma de conexão, ora sob o império da subordinação, particularmente quando os poderosos econômicos pagam propinas para os governantes, “comprando” seus serviços públicos, destinados ao enriquecimento ilícito, decorrente da ganância exacerbada.

O sistema político brasileiro (das castas perigosas) tanto se enriquece nas ditaduras como nos regimes democráticos formais (como é o caso brasileiro), que mais revelam distância que proximidade entre os representantes e os representados, o que significa o absoluto sequestro da soberania popular, reduzindo a democracia a uma mera competição entre os vários segmentos dos empoderados, que fazem da política um joguete para gerir aquilo que é decidido no clube da cleptocracia nacional, instalada no âmago do Estado e do Mercado brasileiros.

As crises (econômicas, políticas, sociais) geradas pelo sistema de castas (que se julgam intocáveis) parecem passageiras, mas na verdade são permanentes (e tendem a se eternizar), porque as velhas elites oligarquizadas, ressalvados alguns momentos excepcionais, só produzem cinismo e desencanto para a população em geral.

Os desvios destemperados do Juiz Moro (tal como os censurados pelo ministro Teori, que retirou da sua jurisdição o ex-presidente Lula) não podem macular os dois anos da Lava Jato, que é a maior revolução desarmada que já se viu no Brasil.

Enquadrar as castas corruptas perigosas e encarcerá-las pelas suas estrepolias depois da devida condenação é um ato revolucionário de grandeza infinita. Poucos países do mundo estão conseguindo fazer isso. É uma revolução francesa invertida (porque cria uma nova ordem social, a partir do enquadramento das elites).

A relevantíssima questão de seguir a legalidade estrita nessa árdua jornada vai muito além da satisfação do prazer coletivo populista, porque tudo pode ser anulado (como a Satiagraha e Castelo de Areia), com o risco de uma convulsão social.

Janot advertiu o Ministério Público: “não se partidarize”. Teori puxou a orelha do Moro: “não se perca pelos holofotes”. A Lava Jato está comprovando propinas desde os anos 80. Isso significa que toda República Velhaca deve ser objeto de escrutínio (de exame), desde os tempos sombrios de Sarney, passando por Collor e FHC, até chegar a Lula e Dilma. Tudo merece atenção. Ninguém está acima da lei.

Mais: como descreveu um editorial da revista inglesa The Economist, se já não podemos mais suportar o governo lulopetista, tampouco podemos ter esperança em um governo do PMDB, que está profundamente mergulhado em toda a histórica corrupção do sistema político brasileiro.

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A melhor saída poderia ser a cassação da chapa Dilma/Temer pelo TSE, antes do final do ano, para que novas eleições fossem realizadas. Afinal, provas exuberantes sobre a ilicitude acachapante da campanha de 2014 não faltarão: prestem atenção e confiram (nos próximos dias) as delações bombásticas da Andrade Gutierrez, OAS e Odebrecht. Mas para que o TSE (que será presidido em breve por Gilmar Mendes) cumpra seu papel, temos que fazer muita pressão política. Do contrário, tudo vai mudar para que tudo fique como está. Isso é o que sugeria o príncipe de Falconeri (da obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa).

CAROS internautas que queiram nos honrar com a leitura deste artigo: sou do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e recrimino todos os políticos comprovadamente desonestos assim como sou radicalmente contra a corrupção cleptocrata de todos os agentes públicos (mancomunados com agentes privados) que já governaram ou que governam o País, roubando o dinheiro público. Todos os partidos e agentes inequivocamente envolvidos com a corrupção (PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, DEM, Solidariedade, PSB etc.), além de ladrões, foram ou são fisiológicos (toma lá dá cá) e ultraconservadores não do bem, sim, dos interesses das oligarquias bem posicionadas dentro da sociedade e do Estado. Mais: fraudam a confiança dos tolos que cegamente confiam em corruptos e ainda imoralmente os defende. 
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Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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