Em 05 de novembro de 2015 ocorreu o rompimento da barragem que represava os rejeitos tóxicos da Samarco em Minas Gerais causando morte, destruição e danos ecológicos que ainda não foram e não serão rapidamente superados. A lama tóxica não demorou para chegar ao oceano e se espalhar por uma imensa área da costa brasileira. A única coisa que demora no país é a responsabilização criminal dos poderosos. Assim como Eduardo Cunha, os donos e administradores da Samarco não irão rapidamente para a prisão. Duvido mesmo que isto venha a ocorrer.
No dia 11 de maio de 2016 foi destruído o dique que impedia os rejeitos tóxicos do Parlamento de invadirem o orçamento da União. A verdade precisa ser dita: Dilma Rousseff não caiu porque é desonesta e sim porque o STF permitiu que um gangster ficasse tempo demais na presidência da Câmara dos Deputados.
É impossível não notar o paralelo evidente entre as duas tragédias. A primeira ocorreu em no dia 05, a segunda no mês 05. A primeira ocorreu no mês 11, a segunda no dia 11. Entre ambas há exatamente 6 meses e 6 dias. Coincidências?
A lama que começa a se espalhar pelo Brasil também chegará rapidamente ao oceano, em cujo subsolo está o petróleo muito desejado pelas petrolíferas norte-americanas. Não chega a ser surpreendente o fato dos EUA ter reconhecido o golpe. Ao contrário de Lyndon Johson, o sorridente Barack Obama nem mesmo perguntou se o golpe é legal. A aparência de legalidade da violenta revogação da soberania popular brasileira foi garantida pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal e pelo STF.
Uma nova era de intensa repressão política e de lucrativa corrupção política está apenas começando. As ambições financeiras dos corruptos que assaltaram o poder com ajuda do Poder Judiciário serão doravante satisfeitas pelo orçamento da União, pelas petrolíferas norte-americanas e pela Embaixada dos EUA. A paz será garantida não pela distribuição de renda, mas pela distribuição do butim. A ética dos mafiosos voltará a ser um elemento fundamental na vida política brasileira.
Nos próximos dias, os membros da PF que fazem parte da quadrilha começarão a receber uma parte do butim para reprimir seus colegas que ousaram combater a corrupção do PMDB e do PSDB. A Marinha, a Aeronáutica e o Exército serão seduzidos e silenciados com uma generosa oferta de “ajuda militar” dos EUA, país que será autorizado a construir várias bases dentro do território nacional para garantir a prevalência dos interesses do mercado contra as ambições democráticas do povo brasileiro.
Nos próximos meses, em nome da salvação nacional e da superação da crise política e econômica provocada por Dilma Rousseff (o papel decisivo da oposição na produção e no aprofundamento da crise serão totalmente esquecidos), a eleição presidencial em 2018 começará a ser criticada até que ela possa ser de alguma maneira suspensa. A prorrogação do mandato presidencial atribuído a Michel Temer será votada e aprovada no Parlamento e considerada legal pelo STF.
A eleição presidencial de 2018 somente ocorrerá se a quadrilha que assaltou o poder conseguir jogar o PT na ilegalidade revogando os direitos políticos das principais lideranças petistas. Quem chega ao poder pela força ou por um atalho não costuma realizar eleições para o comando aos adversários. O desejo de mandar é grande, o temor de sofrer represálias previsíveis é maior.
Ao contrário de alguns analistas não acredito que o golpe acarretará imediatamente uma guerra civil clássica. A presença das Forças Armadas em todo território nacional é uma garantia contra algo semelhante. Além disto, desde a Proclamação da República a principal missão dos militares brasileiros tem sido manter a integridade do território nacional para que o mesmo possa ser explorado à exaustão por latifundiários, empresários desonestos, políticos corruptos e seus amigos norte-americanos e europeus.
Nos próximos meses a extrema esquerda irá ganhar mais e mais adeptos entre os petistas que - perseguidos, desempregados e frustrados - serão obrigados a radicalizar. O renascimento do terrorismo com ambições revolucionárias fornecerá a justificação indispensável para:
a) a prorrogação parlamentar e judicial do mandato de Michel Temer;
b) a suspensão da eleição presidencial de 2018;
c) o aumento da vigilância e da repressão estatal;
d) a ampliação da “ajuda militar” dos EUA ao Brasil;
e) construção de bases militares dos EUA em nosso território.
Nos próximos anos Drones norte-americanos equipados com mísseis Hellfire começarão a sobrevoar o Brasil. Confortavelmente instalados nos EUA os pilotos de Drones receberão informações coletadas por militares e policiais brasileiros e analisadas nas bases do US Army dentro do Brasil. O pesadelo da morte imprevista e instantânea atingirá alguns e aterrorizará muitos outros como ocorre onde quer que os Drones norte-americanos são utilizados.
Este, penso, será o verdadeiro início do fim da unidade territorial brasileira. No momento em que os mísseis Hellfire começarem a estraçalhar brasileiros e a produzir “danos colaterais” (eufemismo para o assassinato de pessoas inocentes que estavam no lugar errado na hora errada) vários militares perceberão a merda que fizeram. Eles rejeitarão a “ajuda militar” norte-americana e começarão a lutar contra a presença dos EUA no Brasil.
Num primeiro momento, os principais inimigos dos “novos voluntários da pátria” não serão os soldados dos EUA no Brasil e sim os brasileiros que a instrumentalizaram a tirania de Michel Temer e permitiram a construção de bases militares norte-americanas no país. A guerra civil clássica será longa e irá se esparramar por todo o território nacional e se tornará ainda mais intensa e violenta quando os militares norte-americanos escolherem um lado. O tecido social será então inevitavelmente rasgado e a nação brasileira deixará de existir. Em algum momento, novos Estados começarão a surgir e a se consolidar no norte, nordeste, centro-oeste, sul e sudeste do que um dia foi o Brasil. Alguns deles se tornarão protetorados dos EUA, outros não.
Não, meus caros. Não estamos vendo o fim da democracia, nem o início de uma nova tirania. O que nós estamos vendo é o começo do fim do Brasil. O rompimento da barragem da Samarco e a destruição do dique que impedia a lama política de se esparramar pelo país tem a mesma origem ( a nossa incapacidade de construir uma nação em que os direitos de todos os brasileiros são respeitados, em que os poderosos são rapidamente responsabilizados pelos crimes que cometem) e a consequencia só pode ser uma: a invasão do país por estrangeiros, a reação violenta aos mesmos e a fragmentação territorial no momento em que começar a guerra civil.