Aposentadoria aos 65 anos: para quem?

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Em tempos de reforma previdenciária, é fundamental nos questionarmos: para que serve o Estado?

O anúncio de que o Governo pretende mudar a lei para que as pessoas possam se aposentar somente aos 65 anos causa muita preocupação. Em algumas regiões do país, as pessoas vão viver pouco tempo entre a aposentadoria e a morte.

No Maranhão a expectativa de vida da pessoa ao nascer é de 70 anos. Já em Santa Catarina é de 78 anos. Se a aposentadoria for de 65 anos, um maranhense vai receber por apenas 5 anos, enquanto o catarinense vai receber por 13 anos.  Casualmente, o Maranhão tem o segundo menor rendimento médio do país de R$ 669,00, já em Santa Catarina, a renda média é de R$ 1.245,00. Isso significa que quem mais ganha vai usufruir da aposentadoria por mais tempo e quem ganha menos, vai ficar aposentado por tempo menor.

Conforme dados levantados em pesquisa das Universidade de Brasília e de Santa Catarina, o Maranhão também é o Estado que possui a infraestrutura escolar mais precária do País. Oito em cada dez dos mais de 13 mil colégios maranhenses (80,7%) oferecem apenas água, sanitários, cozinha, energia elétrica e esgoto aos funcionários e alunos que os frequentam. Não há salas para diretores, TV, DVD, computadores ou impressoras nessas unidades.

Com relação à saúde, conforme dados do IBGE, em todo o país, a cada mil bebês nascidos vivos, 15 morrem antes de completar 12 meses de vida. Se considerarmos a situação em cada estado, veremos que o Maranhão é o último do ranking, com 24,7 mortos para cada mil. Enquanto isso, o estado com a menor taxa é Santa Catarina com mortalidade infantil de 10,1 para cada mil. A mortalidade infantil é um importante dado para retratar as condições de saúde. De acordo com os Indicadores e Dados Básicos de Saúde (IDB-DATASUS), não é só ao nascer que as condições de saúde são distintas. Em Santa Catarina, há disponibilidade de 2,43 leitos por mil habitantes, enquanto no Maranhão, são 2,03. Este estado é o que menos gasta em saúde em Brasil.

Esses dados evidenciam claramente a influência da educação e da saúde na renda média dos cidadãos, bem como na expectativa de vida. A condição previdenciária é apenas uma consequência disso tudo. Quem tem menos qualificação geralmente começa a trabalhar mais cedo e tem remuneração menor. Queremos demonstrar, com isso, que a idade de 65 anos como regra é extremamente perversa.  

Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, o número de pessoas com mais de 50 anos não economicamente ativas foi de 10,3 milhões de indivíduos em janeiro de 2016 – índice 63% superior ao verificado há dez anos. Esse dado leva à conclusão de que esses trabalhadores são os que primeiro perdem o emprego em tempos de crise. Portanto, é importante questionar: o que os trabalhadores que perdem sua capacidade de trabalho (já que não tem qualificação, nem saúde, e começaram a trabalhar muito cedo) vão fazer a partir de 55 anos? Até os 65 anos?

O Estado serve para proteger o cidadão e não para tirar-lhe recursos com baixa perspectiva de retribuição. Pensamos que isso deve ser considerado na reforma previdenciária que está em discussão, sob pena de voltarmos ao tempo de o Rei apenas sugar o Povo. 

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Sobre os autores
Jane Lucia Wilhelm Berwanger

Advogada. Professora. Presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário

Chico Couto de Noronha Pessoa

Presidente da Comissão de Direito Previdenciário do Conselho Federal da OAB

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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