A leitura e a linguagem e seu uso contemporâneo como instrumentalização para o poder

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17/06/2017 às 10:29
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A linguagem surge na capacidade cognitiva do homem para atender suas necessidades básicas de comunicação e para desenvolvimento de atividades que possibilitassem sua subsistência na terra. Uma delas passou a ser sua sobreposição aos demais.

O homem é um ser complexo, no sentido de multifacetado, e adquiriu durante toda a vida características diversas dos demais animais existentes na terra. Dentre tantas distinções poder-se-ia dizer que o homem adquiriu o poder da linguagem. Ou seria a linguagem ter adquirido o poder? Atentaremos para isso um pouco mais adiante.

O ser humano construiu, e continua construindo, vários tipos de linguagem que lhe permitem pensar as inúmeras facetas da realidade e, também, se expressar e se comunicar com seus semelhantes. Temos a linguagem matemática, as de computador, as línguas diversas, as linguagens artísticas (arquitetônica, musical, pictórica, escultórica, teatral, cinematográfica) e as gestuais, da moda, espaciais e outras. Modernamente, poderíamos dizer que os avanços da tecnologia nos abrigam a adotar as linguagens já existentes e a criar outras, mais adequadas às necessidades da contemporaneidade.

Assim, para compreender qualquer tipo de linguagem temos, implicitamente, a necessidade de fazermos uma leitura. A leitura surge em nosso dia-a-dia como uma ação básica do homem no universo. De tudo que vislumbramos, que olhamos naturalmente e, às vezes, involuntariamente, fazemos uma leitura. Quando abrimos um jornal, quando vimos uma briga de rua, quando olhamos um desenho, uma obra de arte, ao ouvirmos uma música, de todos esses exemplos, cada ser humano, além de uma leitura metódica e didática, fazemos uma leitura – interpretação – crítica. Essa leitura é que nos caracteriza como ser pensante. Modificante e crítico da sociedade vigente.

No campo dessa leitura subjetiva – que cada ser humano emprega suas convicções, experiências e, em geral, visões de mundo é que se cria uma indiscutível e estreita relação entre linguagem e poder.

O poder aparece como uma ânsia do homem. O poder é justamente uma força exercida sobre os demais homens.

O que precisamos colocar aqui é a importância da leitura como instrumento primeiro para qualquer promoção intelectual e social. Para conseguirmos uma linguagem e com ela o poder, temos prementemente a ação da leitura.

A leitura, destarte, oferece ao homem a possibilidade de conhecer o que ficou registrado há milênios de anos, por exemplo, dá ao homem a possibilidade de olhar um desenho rupestre e, a partir dele, conhecer hábitos de seres que viviam em condições absolutamente diferentes das quais nos encontramos hoje.

O homem, no ambiente moderno em que se encontra, tem a urgente necessidade da leitura, esta surge, teleologicamente falando, como o objeto base para qualquer formação intelectual, profissional e até mesmo social.

O ser humano, sem que perceba, está rodeado pelo mundo da leitura. A criança, desde cedo, faz a leitura do mundo que a rodeia, sem ao menos conhecer palavras, frases ou expressões, pois é próprio do ser humano desejar o conhecer, decifrar a curiosidade, de modo a refletir novos conhecimentos. Assim, o processo de leitura e escrita inicia-se antes da escolarização. A criança o adquire no âmbito familiar e em seu convívio no meio social o interesse pelo ato de ler e de escrever.

A educação é um meio eficaz no desenvolvimento da cidadania, desperta o indivíduo para as reflexões sobre o seu meio, criando um sujeito ativo e participante dentre todas as relações por ele vivenciadas. A leitura, por sua vez, é o eixo central no desenvolvimento desse indivíduo, pois com sua prática adquirem-se novos conhecimentos e percebe-se o mundo ao seu redor.


O QUE É LEITURA?

Saber ler, lá nos tempos gregos e romanos, já era considerado como possuir as bases de uma adequação ao convívio social, as bases de uma educação, uma educação para a vida. Era tida não apenas como uma preparação intelectual, mas como desenvolvimento físico, permitindo ao cidadão integrar-se na sociedade, no caso dos homens livres. Vale uma ressalva fazermos uma relação de liberdade e leitura. É comum nas famílias em que o saber dos pais é ou foi restrito, ouvirmos a seguinte afirmação para com os filhos, que de “é preciso estudar para ser alguém na vida”, “O homem é o que sabe”, “conhecimento é a única coisa que levamos para o túmulo”, dentre outros clichês frasais costumeiros.

Nessas perspectivas simplória, temos o respaldo da eminente professora Maria Helena Martins, que faz suas considerações, ainda que breves no nosso trabalho, eis o excerto:

Se o conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da escrita, sua aprendizagem, no entanto, liga-se por tradição ao processo de formação global do indivíduo, à sua capacitação para o convívio e atuações social, política, econômica e cultural.[...] (2007, p. 22)

Em termos etimológicos, leitura significa a ação de ler algo. É o hábito de ler. A palavra deriva do Latim "lectura", originalmente com o significado de "eleição, escolha, leitura". Também se designa por leitura a obra ou o texto que se lê.A leitura é a forma como se interpreta um conjunto de informações (presentes em um livro, uma notícia de jornal, etc.) ou um determinado acontecimento. É uma interpretação pessoal.

Maria Helena Martins coloca, que das inúmeras concepções vigentes sobre leitura, grosso modo, podem ser sintetizadas, ainda segundo a autora, em duas características:

  1. Como decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva bahaviorista-skinneriana);
  2. Como processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicas, neurológicas, tanto quanto culturais, econômicos e políticos (perpectiva cognitivo-sociológica). (2007, p. 31)

Diante de tantos conceitos, pareceres, propostas das mais diversas, sucintas e exploratórias que existam sobre “o que é leitura?”, todos nós chegaremos a uma resposta diferente e, nessa resposta, já estão nossas interpretações, nossa pessoalidade de leitura e nossa subjetividade sobre o tema. Isso porque estamos tratando de uma experiência individual, cujos limites não estão demarcados por qualquer barreira que seja, seja ela temporal, cultural, racial ou até mesmo intelectual.


COMUNICAÇÃO SOCIAL E A LEITURA

A leitura assume, no âmbito da comunicação social, uma dimensão bem mais ampla que a decifração da escrita. Não obstante, esta constitua uma das suas modalidades fundamentais, determinando, inclusive, o comportamento linguístico do público receptor dos veículos eletrônicos em sociedades letradas altamente desenvolvidas, a verdade é que a riqueza dos processos de comunicação humana pressupõe o uso de um simbolismo vasto e diferenciado que ultrapassa o universo alfabético do texto escrito.

Toda experiência comunicacional, por mais elementar que seja, estriba-se no binômio emissão-recepção da mensagem. O cerne desse processo está na configuração daquele “campo de experiência comum” que torna factível a interação social possibilitando o diálogo entre pessoas ou viabilizando a aquisição de informações por grupos ou coletividades.

Logo, a preocupação com a leitura, principalmente nos processos de comunicação de massa, origina-se na emissão. Só poderá ser lido o que for legível. Ou melhor, somente se completará a experiência comunicativa se a mensagem a ser emitida contiver ingredientes simbólicos e culturais capazes de suscitar a atenção do receptor potencial e conduzi-lo à sua leitura ( apresentação e compreensão). Nesse sentido, a elaboração da mensagem não pode prescindir do conhecimento antecipado dos elementos que determinam ou potencializam a leitura. Do contrário, a atividade codificadora corre o risco de não encontrar a correspondência pretendida e esperada junto ao receptor.

É indiscutível a importância de programas para capacitar leitores críticos da comunicação, sobretudo em sociedades como a nossa, onde o exercício da cidadania é incipiente e onde a formação escolar não privilegia o pluralismo das ideias, forjando indivíduos que nem sempre demonstraram apetência e competência para protagonizar a vida democrática. Contudo, algumas iniciativas correm o risco de se tornar inócuas ou contraproducentes, quando não se estribam em postulados pedagógicos centrados na questão da leitura e se alicerçam em preconceitos sobre a indústria cultural, agravados por matrizes políticos-idealistas, que acabam por transformar em ficcionismo a ação educativa que se propunha criticizante.

Nesse sentido, a leitura crítica da comunicação adquire a dimensão da inovatividade, da criatividade, servindo de ancoragem para uma ação político-cultural de vanguarda por parte do público leitor.


A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM

Sabemos que a linguagem é um produto bastante sofisticado que só a razão humana pode criar. Por isso, sua aquisição é um marco referencial da humanidade. A linguagem é simbólica, estruturada, adequada à cultura dentro do qual se desenvolve, apropriada ao tipo de pensamento que vai comunicar ou expressar. Ela permite que o ser humano vá além do mundo vivido, do presente, para o mundo das ideias, da reflexão: permite que ele ultrapasse sua realidade de vida e entre no mundo das possibilidades. Que exerça, enfim, a atividade produtiva de criar sentidos para o mundo e para sua vida.

E para que servem as linguagens?

O linguista contemporâneo Ramon Jakobson propôs uma abordagem das fenações comunicativas da língua verbal bastante ampla que também pode ser usada para as demais linguagens. Na década de 1950, após ter conhecido os trabalhos de Charles Pierce, percebeu a necessidade de uma semiótica que firmasse a linguagem como elemento de comunicação humana por excelência.

Como o ser humano é o único capaz de criar signos arbitrários, podemos dizer que a palavra é a senha de entrada no mundo humano. Por isso, examinaremos a linguagem verbal com maior afinco.

A linguagem é um sistema simbólico. O ser humano cria símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto que representam, e que são convencionais: para serem usados precisam ser aceitos por todos os membros da sociedade. Tomemos a palavra “casa”. Não há nada no som nem na forma escrita dessa palavra que nos remeta ao objeto por ela representado (cada casa que, concretamente, existe em nossas ruas). Designar esse objeto pela palavra “casa”, então, é um ato arbitrário. Como não há relação alguma entre o signo “casa” e o objeto por ele representado, necessitamos de uma convenção, aceita pela sociedade, de que aquele signo representa aquele objeto. Só a partir dessa aceitação podemos nos comunicar, sabendo que, ao usarmos a palavra “casa”, nosso interlocutor entenderá o que queremos dizer. A linguagem, portanto, é um sistema de representações aceito por um grupo social que possibilita a comunicação entre os integrantes do grupo.

A linguagem é um dos principais instrumentos na formação do mundo cultural porque nos permite transcender nossa experiência. No momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individuamos, o diferenciamos do resto que o cerca; ele passa a existir para a nossa consciência. Com esse simples ato de nomear, distanciamo-nos da inteligência concreta animal, limitada ao aqui e agora, e entramos no mundo do simbólico. O nome é símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas, que só têm existência no nosso pensamento (por exemplo, ações, estados ou qualidades, como tristeza, beleza, liberdade).

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O nome tem a capacidade de tornar presente para nossa consciência o objeto que está longe de nós.

O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto ideia, aquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do jasmim numa noite de verão, o toque da mão da pessoa amada, o som da voz do pai, o rosto de um amigo querido. O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à nossa consciência o objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência física das coisas: criamos, por meio da linguagem, um mundo estável de ideias que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Dessa forma, é instaurada a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o ser humano deixa de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir o seu projeto de vida.

Por transcender ou ir além da situação concreta, o fluir continuo da vida, o mundo criado pela linguagem se apresenta mais estável e sofre mudanças mais lentas do que o mundo natural. Pelas palavras, podemos transmitir o conhecimento acumulado por uma pessoa ou sociedade, podemos passar adiante esse construção da razão que se chama cultura.


PODER PARA QUÊ?

Inicialmente, talvez recheados de muita, poderíamos nos perguntar para que a criação do elemento poder? Para que exercê-lo? Para onde se situar? Pois bem, estas questões não são pensadas por muitos: na extrema – ainda que dura e infeliz – verdade nossa sociedade, em pleno gozo do século XXI, não conhece, não tem afinidade intelectual com o verdadeiro sentido de poder.

O poder implicitamente é superioridade, é opulência, é intelectualidade, enfim, é uma autoridade – para usar palavras simplórias – que um determinado sujeito tem sobre alguns demais.

Não foi à toa que se criou, na nossa sociedade, a máxima de “quer conhecer um homem? dê-lhe poder e dinheiro”. O poder é o estágio de maior risco que um homem pode chegar. Não afirmamos isto, para dizer ser um risco para o possuído do poder, pelo contrário, esta espada de dais gumes – como diz o “livro sagrado” dos cristãos – oferece perigo para oexecutador do poder, como para os que estão sob a autoridade do poder.

Entretanto, nessa ânsia assoberbada pelo poder nos deparamos com outra questão, que foi objeto de estudo de Michel Foucault, no seu compêndio de artigos, conferencias, debates etc., lançado na década de70. O questionamento é o que seria de fato o poder e quem o detém? Os caminhos percorridos e seu organismo absolutamente complexo e exógeno.

Questionou-se Foucault:

Esta dificuldade – nosso embaraço em encontrar as formas de luta adequadas - não virá de que ainda ignoramos o que é o poder? Afinal de contas, foi preciso esperar o século XIX para saber o que era a exploração; mas talvez ainda não se saiba o que é o poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, presente e oculta, investida em toda parte, que se chama poder. A teoria do Estado, a análise tradicional dos aparelhos de Estado sem dúvida não esgotam o campo de exercício e de funcionamento do poder. Existe atualmente um grande desconhecido: quem exerce o poder? Onde o exerce? Atualmente se sabe, mais ou menos, quem explora, para onde vai o lucro, por que mãos ele passa e onde ele se reinveste, mas o poder... Sabe-se muito bem que não são os governantes que o detêm. Mas a noção de “classe dirigente” nem é muito clara nem muito elaborada. “Dominar”, “dirigir”, “governar”, “grupo no poder”, ‘aparelho de Estado”, etc...é todo um conjunto de noções que exige o poder, através de que revezamentos e até que instâncias, frequentemente ínfimas, de controle, de vigilância, de proibições, de coerções. Onde há poder, ele se exerce. Ninguém é, propriamente falando, seu titular; e, no entanto, ele sempre se exerce em determinada direção, com uns de um lado e outros  do outro; não se sabe ao certo quem o detém; mas se sabe quem não o possui. [...] (1972. P. 75)

 Mas, estas considerações deste eminente estudioso francês terminaram com um grande pensamento: é fácil reconhecer quem não detém o poder. Mas, o que podemos, com efeito, analisar é que o poder surge apenas e majoritariamente como instrumento de dominação.

E instrumentos de dominação, como já o dissemos, são sempre perigosos, o possa que nega um principio natural do ser humano que é a liberdade. Liberdade física, material e até intelectual.

O homem, inenarravelmente, desprovido de conhecimentos sobre o seu eu discutindo aqui uma vereda filosófica – entende o poder como uma prerrogativa natural. Na maioria das vezes o poder e o dinheiro são a mesma coisa. É o uso do poder para “mandar”, para “ter”, para “crescer” sobre os outros.

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Sobre o autor
Joilson Barbosa Vitorio

Acadêmico do 10º período do curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário AGES - UniAGES em Paripiranga - BA

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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