A leitura e a linguagem e seu uso contemporâneo como instrumentalização para o poder

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17/06/2017 às 10:29
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LINGUAGEM E IDEOLOGIA (PODER)

Se repararmos na letra da canção “teologia”, de Cazuza e Roberto Frejat, veremos o retrato de uma vida sem sentido, um jovem assiste a “tudo em cima do muro” e sequer conhece bem a se mesmo. Lamenta ter perdido o sonho de mudar o mundo e por isso, no refrão brada por uma ideologia: “Eu quero uma pro vives”. O que transparece nesse apelo é o desejo de valorizar sua vida com significados outros que não dependam de modismos e concepções alheias. Para tanto, ele precisa pensar por si mesmo e adquirir autonomia de ação.

Esse exemplo nos dá o sentido mais geral e positivo do conceito de ideologia, como conjunto de ideias, crenças ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. Falamos então da ideologia de um pensador, do corpo sistemático de suas ideias, do seu posicionamento interpretativo diante de certos fatos. É assim que distinguimos ideologia liberal de ideologia socialista, as duas principais visões politicas, sociais e econômicas do nosso tempo.

Esse sentido de ideologia também serve para designar a teoria pedagógica que orienta a prática de uma escola ou a ideologia de uma religião que determina as regras de condutar dos fieis. Quando lemos um livro podemos perceber aspectos da ideologia nele subjacente e que denota a visão de mundo de seu autor. E assim por diante.

Como já expressamos nas entrelinhas, a leitura é bastante usada como ferramenta para propagação de ideologias.

Os quadrinhos são um fenômeno característico da cultura de massa. Como expressão da produção cultural contemporânea, além da função de entretenimento e lazer, exercem a função mítica e fabuladora típica das obras de ficção, além de preencher funções estéticas, representantes que são de uma nova linguagem artística.

Como toda produção cultural, os quadrinhos encerram ambiguidade: ao mesmo tempo em que servem à consciência, podem servir à alienação; tanto levam os conhecimentos como à escamoteação da realidade; tanto podem ser criativos como alienantes.

Já vimos no decorrer da história, o uso dessa ferramenta nessa função, quando a cultura norte-americana queria propagar o ideal de homem branco, tido como superior às outras roças. O tão conhecido Tarzan é exemplo disto.

Ideologia tem, em sua essência, o sentido pejorativo, como respondo histórico, vejamos:

O termo ideologia foi criado no século XIX por Destutt de Tracy, filosofo e politico francês, para designo uma “ciência das ideias”. Com ela o autor pretendia compreender a formação das ideias numa sociedade por meio de um método semelhante ao das ciências da natureza. Seus seguidores foram chamados ideólogos por Napoleão Bonaparte, dando ao termo uma conotação pejorativa, já que rejeitava as posições politicas daquele grupo. (ARANHA E MARTINS, 2009. P. 120).

Assim sendo, é necessário um posicionamento, diante de tudo que é lido ao redor, critico que possibilite maiores entendimentos, e partir daí, cumpra o papel, a postura de cidadão.


LEITURA COMO DISPOSITIVO BASE

Surge a leitura, então, como a única ferramenta que possibilita o acesso à informação, ou seja, de tantos e largos caminhos que existem para se chegar à informação, a leitura é definitivamente o objeto que maior e melhor possibilita o crescimento intelectual e cognitivo de qualquer sujeito.

De todos os mecanismos que existem para disseminar a informação – sim, a informação, pois teorias modernas, que não é nossa maior preocupação nesse trabalho, apontam que o conhecimento é processo de construção endógeno no homem – a leitura ainda é apontada como o caminho que melhor fixa as informações na mente do leitor, ou receptor, para usar um termo de maior amplitude.

A construção do sentido da língua escrita é um processo que se inicia com o trabalho de percorrer com os olhos cada linha do texto para percepção do material lingüístico. Porém, essa percepção é relativa, pois boa parte do material que lemos é adivinhado ou inferido, e não diretamente percebido. Esse processo cognitivo passa por três estágios: decodificação, compreensão e interpretação. Decodificação é a capacidade de reconhecer as palavras.

Quanto mais conhecimento lingüístico o leitor possui, maior capacidade terá para decodificar as palavras e reconhecer o tipo de texto pela forma como elas se organizam. Compreender é saber apreender o conteúdo do texto, percebendo suas nuances, detalhes. Quanto mais conhecimento sobre o mundo o leitor tem, sobre questões sociais, políticas, econômicas, culturais, ambientais, maior capacidade terá para compreender o texto e interpretá-lo pela facilidade de poder prever sobre o assunto e inferir sobre o sentido do texto. A interpretação consiste em saber comunicar o que foi lido, ela depende da construção do sentido.

O ato de ler é imprescindível ao indivíduo, pois proporciona a inserção do mesmo no meio social e o caracteriza como cidadão participante. A criança aprende a ler antes mesmo de entrar na escola, nas situações familiares. Nos primeiros anos de escolarização, o discente precisa ser incentivado e instigado a ler, de modo que se torne um leitor autônomo e criativo.

É lendo que nos tornamos leitores e não aprendendo primeiro para poder ler depois: não é legítima instaurar uma defasagem nem no tempo, nem na natureza da atividade entre “aprender a ler” e “ler”... não se ensina a ler com a nossa ajuda... a ajuda lhe vem do confronto com as proporções dos colegas com quem está trabalhando, porém é ela quem desempenha a parte inicial de seu aprendizado (Jolibert, 1994, p.14).

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É lendo que nos tornamos leitores, e não aprendendo primeiro, para poder ler depois: não é legítima instaurar uma defasagem nem no tempo, nem na natureza da atividade entre “aprender a ler” e “ler”... não se ensina a ler com a nossa ajuda... a ajuda lhe vem do confronto com as proporções dos colegas com quem está trabalhando, porém é ela quem desempenha a parte inicial de seu aprendizado (Jolibert,1994, p.14).

A leitura é um instrumento de poder, porque dá ao sujeito a capacidade de ampliar seus conhecimentos e as suas possibilidades comunicativas, propiciando-lhe acesso à cultura, enriquecendo-o e permitindo que exerça o papel de sujeito de sua própria história, ao buscar se transformar para transformar a realidade em que está inserido.


PARA NÃO CONCLUIR

De tudo que estudamos e vimos até aqui, podemos entender as facetas da linguagem e como esta pode acarretar, tendo em vista ser um excelente instrumento, na posse de poder. O Poder surge como instrumento de dominação em que é preciso, além das manobras de conquistá-lo, de muita perspicácia para também mantê-lo ao domínio do sujeito que o exerce.

A linguagem surge na capacidade cognitiva do homem para necessidades básicas como comunicação, para desenvolvimento de atividades que possibilitassem sua subsistência na terra. No entanto, no passar dos tempos o homem começou usar essa mesma para se sobrepor em relação aos demais.

O poder, no seu auge de ambição e de predominância, numa sociedade tão globalizada e capitalista – o uso do capitalismo aqui é pelo fato exclusivo do poder e do dinheiro estarem em estreita ligação – tem permitido passarmos por uma inversão de valores profunda que chega a colocar-nos em permanente  ideia de que “nesse mundo vale quem tem”. Uma forma preconceituosa e ignorante – no sentido de sem conhecimentos -  de demonstrar o quão grande é o valor do dinheiro/poder.

A leitura nesse campo, enfim, surge como o instrumento, o objeto básico para aquisição de qualquer informação, e desta, a endógena construção do conhecimento. A leitura é a responsável pelo ser que somos, pelas condutas estabelecidas, pelos pareceres críticos da sociedade civil, pelo apoio ao determinado partido político, pelo fato de uma mesma ideia filosófica e/ou ideológica. Não poderíamos, de forma alguma, extirparmos de nossas vidas o hábito da leitura – apesar de ser, ainda, uma prática efetuada por muitos poucos.

É imprescindível, para gerações futuras, a garantia de grandes, boas e muitas leituras, principalmente para esta geração que nos deparamos hoje: uma geração “informatizada”.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia. – 4. Ed. – São Paulo: Moderna, 2009.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Organização e tradução de Roberto Machado. – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

FREIRE, P. A importância do Ato de ler: em três artigos que se completam.São Paulo: Cortez, 1982. 96 p

JOLIBERT, J. Formando Crianças Leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas,1994. 219 p.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. – São Paulo: Brasiliense, 2007

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Sobre o autor
Joilson Barbosa Vitorio

Acadêmico do 10º período do curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário AGES - UniAGES em Paripiranga - BA

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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