CEM ANOS QUE VIVEM EM NÓS

O DIREITO À MEMÓRIA COLETIVA

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22/10/2017 às 09:00

Resumo:


  • A revolução russa de 1917 marcou profundamente o século XX, mas seu legado foi reinterpretado e transformado ao longo dos anos, levando a uma diversidade de desdobramentos políticos e sociais.

  • As revoluções chinesas, tanto a de 1949 quanto as reformas de Deng Xiaoping, assumiram um caminho distinto, resultando em uma China que hoje é o maior beneficiário da globalização, apesar de manter um sistema de governo centralizado e controlador.

  • O conceito de revolução evoluiu e hoje abrange mudanças tecnológicas, científicas, conceituais e normativas, sempre implicando em rupturas e novos começos, mas o processo de globalização atual desafia as teorias revolucionárias clássicas, demandando novas interpretações e análises.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

7. Em 1911 Lenin visitou com Krupskaia em Paris o casal Paul Lafargue e Laura, ela filha de Karl Marx. O líder russo não estava empolgado com uma revolução iminente. Deixou registro de que ela não ocorreria em seus dias de vida, mas num futuro incerto. Escrevia na época o livro - talvez o único com densidade filosófica - “Materialismo e Empiriocriticismo”.

Embora Krupskaia estivesse entusiasmada, o encontro foi desanimador. A conversa morria; nenhuma perspectiva favorável se desenhava. Pouco depois, o casal Lafargue praticou o suicídio sinalizando que a velhice se apresentava difícil demais diante de um sonho irrealizado. O ato comoveu Lenin e ele, estoicamente, aceitou que a impossibilidade da luta política levava a “encarar a verdade frontalmente”.

Sem ter relação com o fato, mas digno de registro, a filha caçula de Marx, Eleanor, também se havia suicidado em 1898, em Londres, na meia idade e diante de uma vida pessoal particularmente difícil. Seu ex-marido lhe extorquia dinheiro alegando manter o irmão dela, filho adulterino de Marx com a empregada, mas que Eleanor considerava ser filho de Engels.

Paul Lafargue era o que hoje se chama um ativista. Produziu uma vasta obra de cunho político, mas a mais conhecida é um panfleto, surpreendentemente intitulado “O Direito à Preguiça”, antecedendo em muito a Domenico Di Masi... Naquele texto defende um recuo para o valor mítico do trabalho, que atribuía ao capitalismo:

“Uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade . Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho (...)”.


8. O ocaso do Lenin histórico começou menos de um ano após empolgar o poder, em seguida ao atentado em agosto de 1918. Seguiu-se uma guerra civil devastadora que durou três anos. Antes que ela terminasse (outubro de 1922) Lenin sofreu o primeiro derrame (abril de 1922, poucos dias depois de submeter-se a uma cirurgia para retirada de uma das balas do atentado), do qual só se recuperou parcialmente.

No início do mesmo mês de abril de 1922 Stalin havia sido eleito (foi candidato único) secretário-geral do partido, pois Lenin propôs que alguém coordenasse as ações, que estavam dispersas e sobrecarregavam os líderes. As funções eram mais burocráticas, visavam a dar cumprimento às decisões partidárias. Com o tempo, o cargo de secretário-geral só serviu para acumulação de poder.

Há relatos que falam em enfartes sofridos por Lenin no lugar de AVCs, de qualquer maneira parece haver uma relação, ao menos temporal, com a hipótese de formação de coágulos na cirurgia. Outra versão consta no último texto que Trotski escreveu, com o sentido lógico excepcional, que era sua característica de estilo, onze dias antes de ser assassinado em 1940, em que sustenta o provável envenenamento, já que o próprio Stalin havia admitido essa possibilidade, alegando que Lenin lhe havia pedido veneno (artigo na internet: “Stalin matou Lenin ?”, por Leon Trotski). Em reforço a esta última versão, consta o registro no relatório médico de Lenin que ele sofreu convulsões próximo à morte, o que seria incompatível com um quadro de derrame.

Essa crônica política serve, quando menos, para demonstrar o caráter conspiratório que se havia formado na cúpula dirigente soviética, de tal modo que o espírito do coletivo havia “desmanchado no ar”, para usar uma expressão de Marx e Engels que está no “Manifesto”. Doravante, sob Stalin, os soviets seriam órgão de homologação e legitimação de uma política autocrática. Os debates intensos que eles haviam suscitado outrora virariam unanimidade na submissão e no incontido aplauso ao novo líder. Dissentir era trair. Começava a ser escrita a novilíngua, como George Orwell nomeou a semântica de então.

Escrevendo um famoso texto no fragor da invasão da Hungria, em 1956 (“O Fantasma de Stalin”), Jean-Paul Sartre disse que a justificação da doutrina soviética o fez “desesperar do marxismo oficial”. Acrescentou: “Marx teria desprezado esses burros pomposos que fazem da luta de classes uma ideia platônica ou que a fazem interferir como um Deus ex machina”.           

A doutrinação apresentada (para justificar a invasão da Hungria) nada tinha a ver com os fatos, não examinava processos, apenas impunha a supremacia da URSS aos países satélites na Europa Oriental, que não a compunham. Após o Exército Vermelho esmagar a insurreição contra o governo despótico local (ditadura de Rákosi), deixando vinte e cinco mil cadáveres (segundo a versão do primeiro-ministro da Índia, Nehru, que a colheu junto a seu embaixador em Budapest), o político reformista húngaro de maior representação, Imre Nagy, foi preso e depois enforcado. Segundo gravações preservadas e hoje conhecidas, não confessou erros nem pediu clemência. Janos Kadar, que o sucedeu por imposição do Kremlin, dissolveu oficialmente os soviets na Hungria, núcleos da rebelião. Enfim, a política da Rússia havia regredido ao marco zero.

Nessa época (1956) Stalin já havia morrido mas, escreve ainda Sartre, não havia como lhe dar ‘sucessão’:

“Stalin nada deixou atrás de si a não ser um mundo feito por ele, que o renega. A desestalinização, na origem, foi mais uma descoberta do que uma decisão: libertos da grande sombra staliniana, os dirigentes perderam ao mesmo tempo a onipotência e a servidão; ficariam, o que quer que fizessem, mergulhados na coletividade nacional e ninguém mais poderia elevar-se acima dela; a política ‘retrátil’ tornava-se impossível; era preciso preparar uma política de expansão: como restituir vida à burocracia, ao Partido, a esses dois órgãos sangrentos e encarquilhados da dominação staliniana (...)?”.

Sobre o poder stalinista há muitos livros, ensaios ... e fantasias, digressões de encanto, ódio, saudade, despertados naquele tipo humano que é saudoso do que não conhece...e imagina que aconteceu o que nunca houve, ou vice-versa. Porém dois filmes são excepcionalmente esclarecedores: “Círculo de Fogo” (Enemy at the Gates), do francês Jean-Jacques Annaud, uma das duas ou três melhores películas de guerra da história do cinema.

O filme de Annaud mostra detalhadamente todo o processo de vinculação da opinião pública a Stalin, seu compromisso, mitificação, sacrifício e entrega aos objetivos escolhidos pelo dirigente. O outro filme, que complementa o primeiro, é “Círculo do Poder” (The Inner Circle), do grande diretor russo Andrei Konchalovsky. Ele trata do circulo interno do poder stalinista, através da versão do projecionista de seu cinema particular no Kremlin. A nota importante está no fato de que o projecionista, que se manteve fiel à memória de Stalin até o fim, estava vivo quando o filme foi feito, falou com atores e diretor, deu detalhes, transmitiu impressões, já que a obra foi baseada em relato seu. Uma nota particularmente bizarra é a de que a estreia do filme deu-se no Natal de 1991. No dia seguinte a URSS foi dissolvida por Gorbachev.


9. Nenhum outro artista superou Constatin Stanislavski ao expor a representação da cena histórica da Rússia antes, durante e depois da revolução, enfrentando todos os seus percalços, sobrevivendo a situações extremamente desfavoráveis, aproveitando as oportunidades e deixando uma obra definitiva sobre o papel do ator, o ‘sistema’ para atuar, que é um método de interpretação e o tornou conhecido no mundo. A par disso, Stanislavski criou casas teatrais, o essencial Teatro de Arte de Moscou e o Teatro Estúdio, este dedicado a peças experimentais, além de haver desenvolvido a ópera naqueles anos difíceis e de ter representado as obras de Tchekhov (Documentário “O Século de Stanislavski”, de Peter Hercombe, disponível legendado na internet).

Stanislavski morreu em 1938 com suas atividades completamente cerceadas, chegando a dar aulas e a fazer ensaios em sua própria casa.

Seu sucessor no Teatro de Arte, Vsevolod Meyerhold, foi preso logo após a morte do seu mestre e executado sumariamente tempos depois.

Como a história guarda suas indevassáveis ironias, após Stanislavski ministrar um curso em Nova York sobre seu método, um grupo de artistas locais criou o famoso Actor’s Studio, para aplicá-lo. Entre eles estava o imigrado grego Elia Kazan, diretor de teatro e cinema, depois autor de filmes memoráveis como “Clamor do Sexo”, “Um Bonde Chamado Desejo”, “Vidas Amargas”, “Sindicato de Ladrões” e “Viva Zapata!”, tendo revelado James Dean, Warren Beatty e Marlon Brando. Pois enquanto Stalin colhia os louros de sua política e se tinha transformado em um tzar vermelho nos anos ‘50 (talvez mais pelo sangue que derramou do que por sustentar a bandeira que Marx coloriu, após a Comuna de Paris de 1871, para homenagear os comunardos mortos), Elia Kazan denunciava artistas de Hollywood como comunistas perante o senador Joe McCarthy...

Vladimir Maiakovski foi ‘o poeta da revolução’ e parece ter escolhido a morte porque a epopeia à qual deu seu entusiasmo chegou ao fim, em 1930, com o stalinismo consolidado a partir de 1928, por meio da perseguição aos opositores.

A presença ainda hoje de Maiakovski é tão grande que, nos anos do regime militar no Brasil, um poeta brasileiro pouco conhecido (Eduardo Alves da Costa) escreveu um longo poema (“No caminho de Maiakovski”) que, pelos seus versos mais felizes, incitando à irresignação, foi atribuído ao artista russo e ainda, seguidamente, o é. Na época eles estampavam com frequência as faixas nas passeatas de protesto.

Máximo Gorki, igualmente um escritor esplendoroso, parece ter feito o caminho inverso ao de Maiakovski: inicialmente, alinhava-se aos mencheviques e o curso dos acontecimentos, embora fosse amigo de Lenin, o levou ao exílio na Europa, descontente com a escalada da revolução. Retornou depois, na vigência do stalinismo, e foi transformado em uma ‘glória viva’, porém levado a um modo de vida semi-recluso e sua atuação pública consistia em participar das cerimônias de engrandecimento do regime. Morreu também na glória, que não era mais a glória da revolução, mas a do stalinismo, em plena farsa dos julgamentos de Moscou (1936). Há suspeitas inextrincáveis de que tenha sido assassinado.

Outro que saiu da Rússia para fazer carreira no Ocidente e retornou para um confinamento brando, mas opressivo, foi o compositor Sergei Prokofiev. Stalin não o apreciava e classificava a todos os que estavam na sua condição como formalistas. Ele havia escolhido Dimitri Shostakovich como músico oficial, aprisionando o talentoso desse artista como representante da classe. Prokofiev morreu no mesmo dia que Stalin e, como morava perto do Kremlin, não pôde ser enterrado, pois toda a movimentação ao redor da muralha foi proibida, diante do velório (em que morreram pisoteadas centenas de pessoas, dado o sentimento histérico de orfandade) do guia genial dos povos (era o título que havia adotado). O corpo de Prokofiev, na obscuridade que sua pátria lhe dedicou então, antes de vir a ser reverenciado post mortem, ficou fechado cinco dias no caixão, em casa.

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10. A revolução russa no período posterior a Lenin passou a ser reinterpretada. Não havia mais como ignorar que ela tinha muitas faces. Ainda no período leninista fora implantada a NEP, Nova Política Econômica, um plano que associava a coletivização estatal da atividade agrícola (kolkhoz) com a autonomia para os produtores rurais e também para pequenos negócios, restabelecendo em parte o sistema que permitia a volta dos antigos kulaks (proprietários de terras que dominavam a produção do campo antes da revolução).

Morto Lenin e caído em desgraça Bukharin, conceptor da NEP, a coletivização forçada voltou revigorada. Além disso, a concentração do poder nas mãos de Stalin fez com que os dirigentes não se identificassem uns com os outros. Primeiro, a oposição atribuída a Trotski foi atacada; depois, os que se uniram contra ele foram esmagados.

A revolução vinha mostrando um perfil desconhecido, fora do pregado internacionalismo, pois o governo dela resultante havia feito a invasão de países estrangeiros (pela guerra contra a pacífica Finlândia em 1939, por conquista de território, a Rússia chegou a ser expulsa da Liga das Nações). O Estado russo usava a força armada para impor reformas econômicas e políticas de expropriação, mas, principalmente, mergulhava em disputas pelo poder que, em tempos de monarquia, seriam classificadas como intrigas da corte. Este último aspecto transparecia quando eram classificadas tendências no comitê central e no próprio politburo de esquerda e direita.

Mas o PCUS não era então, todo ele, um partido de esquerda? Não era assim visto pelo mundo? Como poderia ser identificada uma direita dentro dele? Afinal, todos os que dirigiam o partido não eram adeptos da revolução?

O jogo inteiramente fisiológico estabelecido pela centralização do poder sob comando de Stalin deu vezo a denúncias sucessivas de traição, o que não obstava a aliança com ‘traidores’ de antes para eliminar outros ‘traidores’ depois. A propósito, criou-se extensa nomenclatura de imputações: desvio pequeno burguês, idealismo, formalismo, traição ao socialismo, aliança com o capitalismo...

Os anos de 1930 marcaram profundamente essa crise expressa na cizânia e nas perseguições. Elas já estavam instaladas quando ocorreu no fim de 1934 o assassinato de Serguei Kirov, líder muito popular de Petrogrado que havia sido o deputado mais votado para integrar o politburo,  no congresso do PCUS realizado no início do mesmo ano (Stalin havia sido o menos votado, embora já exercesse a secretaria-geral).

O crime não ficou esclarecido quanto à motivação, embora o qui prodest apontasse para a cúpula que estava no poder, pois foi ela que iniciou imediatamente os expurgos em massa. Stalin havia montado o que ficou conhecido como apparatchik,  praticava largamente o kompromat. A NKVD era uma polícia política que atuava internamente no país, como em qualquer outra ditadura no curso da história, tinha um prédio-quartel com a cadeia de Lubianca.

Instalou-se a razão equívoca, aquela em que os atos são justificados em nome de... Todo o comando revolucionário de 1917 foi eliminado através do que ficou conhecido como Processos de Moscou.  O último a cair foi Leon Trotski, em 1940, exilado no México. Ele primeiramente, em face do seu grande prestígio que não viabilizava a eliminação de imediato, foi confinado em Alma-Ata, no Kazaquistão. Ali escreveu uma obra preciosa, seminal (“Revolução e Contra-Revolução na Alemanha”), em que aponta o erro da política soviética ao apoiar o confronto com os sociais-democratas em terras alemãs, pois isso só beneficiaria – como aconteceu – a ascensão dos nazistas.

Entre aqueles executados por Stalin os mais destacados eram Lev Kamenev, Grigori Zinoviev, Alexei Rykov, Karl Radek, o jovem marechal Mikhail Tukhaichevsky, Ievgueni Preobrajenski (que havia sido o secretário-geral do partido antes de Stalin), Nikolai Bukharin e Vladimir Antonov-Ovseenk, comandante militar importante, tanto na tomada do poder em 1917 como, a seguir, ao reprimir as resistências à nova ordem. Contudo, é importante que se lembre do stalinismo como uma força dominante e totalitária porque também dizimou milhares de outros militantes anônimos, dirigentes partidários intermediários e integrantes do congresso do PCUS em 1934.

Stalin passou a governar com uma nova elite dirigente afeiçoada a ele, moldada na subserviência e disposta a executar como um diktat fielmente sua política, nela despontando Nikita Khruschev, Viatcheslav Molotov, Lavrentiy Beria, Anastas Mikoian, Andrei Gromiko, Nikolai Bulganin, Georgiy Malenkov, Andrei Jdanov e Leonid Brejnev. Nenhum deles tivera papel relevante na revolução. Igualmente, nenhum deles conhecia ou expressava o marxismo com alguma competência que pudesse ser notada. Stalin também valeu-se de alguns poucos velhos bolcheviques, desde que inteiramente submissos, como Mikhail Kalinin, que ao fim emprestou seu nome para a antiga cidade de Königsberg, em cujas ruas transitaram Immanuel Kant e Hannah Arendt. Hoje se chama Kaliningrado e é um enclave russo no Báltico. Em seu último livro, ”A Festa da Insignificância”, Milan Kundera aponta esse fato como o lado irrisório da vida; irrisório para todas as vidas, para a vida de todos.

Para que se tenha ideia mais precisa do grau de submissão, a mulher de Molotov foi presa ao fim do período stalinista, quando o líder articulava o que entendia ser a “conspiração dos médicos”. A esposa de Molotov era médica e judia. Mantinha correspondência com uma irmã que havia emigrado para Israel, logo ao fim da guerra, quando o Estado judeu foi criado. Levada a questão para o politburo, Molotov votou pela soltura de sua mulher e o restante do colegiado contra. Molotov então dirigiu uma carta a Stalin (que foi recuperada) pedindo para reconsiderar seu voto, um dia depois, pois havia posto seus interesses pessoais acima dos do partido...e votou então pela prisão da própria mulher.

Depois que Stalin morreu em 1953, reinstalou-se o comando por triunvirato, a troika, que imediata e sumariamente matou Lavrentiy Beria, temendo seu domínio sobre a KGB, mas logo o poder foi empolgado só pelo novo secretário-geral Nikita Khrushchev, que assim pôde promover a desestalinização, o então chamado degelo, fazer a denúncia dos crimes políticos e do culto à personalidade, em 1956, e reabilitar vítimas. Todavia, não desnudou os gulags e, afinal, foi derrubado por uma conspiração da nomenklatura.

Com Brejnev iniciou-se um longo período (1964/1982) que, ao fim, era comandado por uma gerontocracia. Morto Brejnev, as opções políticas eram deprimentes: foi convocado o chefe da KGB, Iuri Andropov, homem já doente e com pouca expressão popular e internacional. Morreu em dois anos de governo inexpressivo, conquanto ortodoxo, e foi sucedido por outro líder ainda mais velho, Konstantin Chernenko, o último antigo bolchevique que chegou a conhecer Lenin. Assumiu o poder com sinais visíveis de decrepitude e morreu em um ano. Foi quando Mikhail Gorbachev surgiu como opção para o partido renovar-se, mas a renovação - vinda através da glasnost  e da perestroika – foi o que levou desta vez a própria URSS à morte. Para entender melhor esse último período agônico, muito além do jardim das teorias escatológicas, há documentação, imagens e depoimentos preciosos que estão nos vídeos  “Entrevistas de Gorbachev”, na internet, bem como no documentário “Adeus, camaradas”, do diretor russo Andrei Nekrasov.

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Sobre o autor
Luiz Fernando Cabeda

Desembargador do TRT da 12ª Região, inativo. Fez estágio na Escola Nacional da Magistratura da França, Seção Internacional. Autor de "A Justiça Agoniza" e "A Resistência da Verdade Jurídica".

Informações sobre o texto

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O presente artigo examina criticamente os cem anos da revolução soviética

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