Capa da publicação A dificuldade de avaliar os alunos na sala de aula
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Utopias e distopias da educação: a dificuldade do avaliar

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A avaliação é o calcanhar de Aquiles na educação. Mesmo com tantos avanços tecnológicos, a escola ainda utiliza métodos antiquados que não privilegiam as habilidades e competências dos alunos.

RESUMO: O objeto deste artigo consiste na discussão sobre os caminhos que a educação segue para cumprir seu papel, desde a produção do conhecimento até a sua parte mais indigesta, que é a avaliação. Ao avaliar encontramos na mesma proporção dificuldades no seu entendimento, tanto por professores como por alunos. E para tentar entender um pouco as razões desta dificuldade, trazemos o pensamento de educadores para a lide e aventamos a educação como uma utopia ou distopia tendo como eixo as avaliações. Através de uma metodologia narrativa, descritiva e bibliográfica, procuramos escrever sobre algo que vemos e que encontramos e nesta nossa atuação na educação verificamos que a escola nem sempre está nas mãos de educadores, mas nas mãos de professores que utilizam métodos antiquados e de empresários, que nem sempre compreendem a importância dos novos métodos e técnicas de ensino que devem privilegiar as habilidades e competências dos seus alunos. A educação tem seus princípios e institutos próprios, como a sua universalização, o acesso à escola, qualidade de ensino, liberdade acadêmica, direitos e deveres, progressividade, integração curricular e, não podemos esquecer, a avaliação. É imperativo superar a ideia a qual a educação está ligada a um certo autoritarismo, em que um detém o conhecimento e ao outro cabe apenas tentar recebê-lo.

Palavras-chaves: Educação; Aprendizagem, Avaliação


Introdução

A relação entre ensino e avaliação já produziu diversas reflexões na literatura educacional. Mesmo assim, encontramos na mesma proporção dificuldades no seu entendimento, tanto por professores como por alunos. E neste texto pretendemos apresentar nossa abordagem pessoal enquanto professores acerca dos processos avaliativos, pondo em xeque a educação tradicional, muitas vezes, castradora de sonhos e talentos. E a partir daí procuramos, além de trazer o pensamento de educadores para a lide, discutir a educação como uma utopia ou distopia tendo como eixo as avaliações.

Envolvemo-nos e fomos envolvidos, ao longo do nosso magistério, em diversas atribuições no sistema educacional, ora como professores, sendo esta realmente a que nos assoma, pesquisadores, coordenadores de curso ou como gestores de ações específicas, e em todas observamos a necessidade do diálogo e das decisões coletivas como ponto fundamental para a educação moderna. Nesta nossa atuação na educação descobrimos que a escola nem sempre está nas mãos de educadores, mas nas mãos de professores que utilizam métodos antiquados e de empresários, que nem sempre compreendem a importância dos novos métodos e técnicas de ensino que devem privilegiar as habilidades e competências dos seus alunos.

Nossa metodologia é narrativa, descritiva e bibliográfica, pois escrevemos sobre algo que vemos e encontramos, escrevemos sobre “nós” e sobre os “outros”, o que amamos e o que vivemos, ou seja, a educação, ou melhor, o compromisso com a educação, e é isso que nos norteia e se encaixa nos nossos objetivos. Procuramos inicialmente apresentar a educação enquanto processo formativo e para isso nos associamos a desmistificar a ideia da dicotomia entre utopia e distopia; posteriormente, discutirmos a “avaliação e seus percalços”, consubstanciados por Freire, Morin e Perrenoud, inclusive traçando um caminho, fruto das nossas experiências dos tipos de avaliação e de como avaliar; e daí concluímos o artigo levantando a teoria do “professor e o catador de lixo”.


Educação e formação

A escola não é o único local onde acontece a educação, ela não detém este monopólio, e talvez nem seja o principal local do aprender a depender dos objetivos propostos. O ensino escolar não é a única prática nem o professor é o seu único praticante. Seja na família ou na comunidade a educação existe e se difunde em todos os núcleos sociais, entre as incontáveis formas do mistério que é aprender, a primeira é sem classes, sem livros e sem professores especialistas. Só mais adiante surgem as escolas, salas de aula, professores especialistas e métodos pedagógicos.

A educação é um dos componentes, uma das frações do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam entre tantas outras invenções de sua cultura, e lembramos que nada é mais forte que a cultura. Ela existe no imaginário das pessoas e na ideologia da sociedade, sempre se esperando que, de dentro para fora, a educação cumpra a sua missão que é transformar sujeitos e mundos em algo melhor.

A escola não é mais a aldeia do conhecimento e caminha inclusive para perder o monopólio do ensino formal e ao que parece todas as utopias imaginadas até hoje acabaram em distopias, ou tinham em sua origem um defeito que as condenavam.

Platão (2010) imaginou uma república idílica em que os governantes seriam filósofos ou filósofos governantes, embora nem ele nem outros filósofos gregos se importassem em viver numa sociedade escravocrata.

Thomas Morus (2002) em 1516 descreveu sua sociedade ideal e dizem que ele teria se inspirado nas descobertas do novo mundo, especificamente no Brasil. Suas ideias significavam um renascimento para a humanidade livre dos vícios do mundo antigo. Na sua “Utopia”, educação e saúde seriam universais, a diversidade religiosa tolerada e a propriedade privada abolida. O governo seria exercido por um príncipe eleito e se este mostrasse alguma inclinação para a tirania seria substituído. E as leis? Estas seriam tão simples que dispensariam advogados. Mas, para que tudo isso funcionasse seria necessário que cada família possuísse dois escravos. Recomendamos parar de ler o livro...

Voltaire (2008), em “Cândido”, apresentou sua sociedade ideal como aquela onde haveriam muitas escolas, mas nenhuma prisão. Pensamos que é menos uma visão de mundo perfeito do que uma sátira da ingenuidade humana!

E Marx e Engels? Estes previam um futuro redentor em que a emancipação da classe trabalhadora traria igualdade e justiça para todos (2007). O sonho continua...

Até John Lennon, em sua canção “Imagine”, propôs uma utopia, na qual não haveria violência e religião. Ele mesmo foi vítima da violência, enquanto no mundo alguns em vez de se entregarem a religião se matam por ela, portanto, muitas utopias viraram distopias, e lhes convido a transformar a educação na utopia do possível.

As técnicas de ensino, os procedimentos pedagógicos e os caminhos e descaminhos de uma aula são assuntos amplamente debatidos na Pedagogia. Dificilmente quem for assistir a uma palestra sobre o tema não sairá do mesmo com uma bibliografia a comprar ou pelo menos com um livro que foi citado e que parece ser “aquele” que tem uma equação apropriada para resolver os “meus problemas da sala de aula”.

O próprio conceito de sala de aula e de aula hoje são bastante amplos, tratam-se de tempos e espaços múltiplos de conhecimentos. É um trabalho coletivo, paciente e deve ter o projeto pedagógico, as relações interpessoais e a correção de rotas como eixos fundamentais neste processo.

Afinal, para Durkheim (2007, p. 17):

A educação é uma coisa social, isto é, coloca em contacto a criança com uma sociedade determinada, e não com a sociedade in venere. Se esta proposição é verdadeira, não requer apenas a reflexão especulativa sobre a educação, deve fazer sentir a sua influência sobre a própria atividade educativa. De facto, esta influência é incontestável; em direito, é frequentemente contestada (...).

Para tanto, devemos associar as técnicas de ensino com as pedagógicas, e nunca esquecer que, quanto mais variadas forem, mais irão despertar nos alunos suas capacidades cognitivas e a compreensão dos conteúdos. Pois, modernamente, o ensino, além do acúmulo de conhecimento, deve buscar a capacidade de discernimento do alunado.

É claro que ministrar aulas gera ao longo do percurso falhas técnicas, de logística e de concepção. É um erro estratégico não ponderar que necessitamos criar um maior atrativo nas nossas aulas e o cerne da questão é responder: "Que atrativos seriam esses?". Existe uma fórmula para isso?

Se a resposta pudesse ser desenvolvida numa folha de papel seria de fácil solução. O caso é que a resposta está longe de ser equacionada dessa forma, pois só a prática cotidiana nos apresentará respostas a fim de despertar o interesse dos alunos.

Fica uma questão para ponderação: algum professor já se perguntou se quando tinha a idade de seus alunos apresentava a mesma responsabilidade que tem hoje? Possuía o mesmo interesse pelo entendimento dos conteúdos ministrados que tem hoje? Ou o mesmo comprometimento com a educação que tem hoje?

É Bourdieu (2007, p. 53) que nos chama atenção para não enxergamos a escola como um elemento neutro, sendo necessário que:

Com efeito, para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em outras palavras, tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura.

Precisamos nos “antenar com o mundo”, encarando a maratona curricular como um desafio e cobrindo os tópicos específicos da respectiva disciplina com mais profundidade.

Assim, devemos identificar as deficiências e potencialidades dos conteúdos a ministrar e da turma que vamos ensinar.

Convém lembrar, como assevera Carnelutti (2014, passim) que uma certa educação jurídica, caso estendida aos não juristas, é um meio para combater as duas pragas sociais que são a delinquência e a litigiosidade, e como enfatizou Pitágoras (2002, p. 108): “educando a criança não será preciso punir os adultos”. Pois, educar como na sociedade do “Admirável mundo novo” de Huxley, pelo medo ou pelo receio, não nos convém. Nela o Estado drogava os seus habitantes como meio de manipular as massas (2014, passim).

O conhecimento, para Piaget (2012), é uma interação do sujeito com o seu habitat. Destarte, ele defende que a aquisição do saber necessita tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com os objetos e com os seres. Portanto, não é apenas colocar as pessoas em um recinto escolar. Pois educação não é o isolamento em salas de aula ou somente em ambientes escolares, nela se ensina e se aprende vivendo.

Desse modo, podemos conviver com a educação tanto enquanto utopia, no sentido da busca pela otimização, como enquanto uma distopia, no sentido da desconstrução de argumentos contrários aos avanços e novos paradigmas de avaliação.


A avaliação e seus percalços

A partir daí a avaliação entra em cena neste artigo como um dos maiores problemas da educação ou, pelo menos, o mais visível. Avaliar, julgar, definir o valor de alguém, convenhamos, não é tarefa fácil. Normalmente, pelos mais diversos motivos, o professor só faz a avaliação de tipo somativa (grifos dos autores), que é a institucional, ou seja, aquela que os pontos valem pela somatória de trabalhos e provas; mas devemos também associar a este modelo as avaliações de tipo formativa e diagnóstica, com o propósito de acompanhar o aluno e corrigir possíveis rumos dentro do processo de ensino e aprendizagem e sabermos a situação real de cada aluno/turma. Portanto, antes da avaliação institucional devemos aplicar uma avaliação formativa para clarear as possíveis lacunas que estejam existindo.

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formativa não deve valer notas e a correção deve ser coletiva em sala a fim do aluno aprender a lógica das questões. Assim, quando formos fazer as demais avaliações, o mesmo já estará sabendo das exigências necessárias para uma resposta ser considerada correta e diminuirá consideravelmente reclamações como: “o professor não tem didática”, “que prova foi aquela? “, “ele ensinou uma coisa e pediu outra! “. E o professor, ao corrigir o rumo, não emitirá comentários do tipo “que turma fraca”, “dali não sai nada”, “vou reprovar a maioria”. Portanto, a ideia não é aprovar de qualquer jeito, nem reprovar simplesmente o aluno, mas fazermos uma educação inclusiva no mundo do conhecimento, das habilidades e competências, quer dizer, fazer o aluno aprender.

Posteriormente, devemos aplicar a avaliação somativa, para, em seguida, finalizarmos com a avaliação diagnóstica, que leva em conta diversas variáveis tais como: a frequência, a participação em sala, pontualidade, leituras, pesquisas, resenhas, relatórios, entrega dos trabalhos no prazo, visitas técnicas etc. Em seguida o curso, este seria o ideal, definiria como se chegar a uma média, tendo como norte os três processos avaliativos acima.

Avaliar o rendimento escolar é julgar se os objetivos da disciplina estão sendo atingidos, é observar se os aspectos de aprendizagem foram vencidos e quais os alunos que necessitam de uma maior atenção ou assistência.

Para tanto há necessidade de se utilizar métodos sistemáticos de medidas avaliadoras para dimensionar os progressos realizados. As avaliações como já elencado utilizam, em regra, apenas o concurso de testes ou provas, outros métodos de coletar dados e reunir informações que subsidiariam as notas e são deixadas de lado.

A avaliação externa deve converter-se em autoavaliação, quando o aluno deixa a sala de aula, ou melhor, quando deixa a vida da escola, ele ingressa na escola da vida, embora nem sempre perceba isso (da escola para o mundo).

Algumas instituições já utilizam o SGP – Sistema de Gestão de Provas, que elabora, aplica e corrige as provas de forma personalizada e segura. Agiliza e melhora a rotina de professores e alunos, cria banco de questões para elaboração de provas em larga escala, aponta gaps (distanciamento/afastamento) de conhecimento e direciona estudos.

Mesmo assim, o professor não será aposentado, do mesmo modo que escritores deixaram de utilizar a máquina de escrever e deram lugar aos computadores, os fotógrafos trocaram os filmes de película pelos cartões de memória, os repórteres passaram a tomar notas nos tablets em vez de usar os tradicionais blocos de papel, mas continuaram existindo enquanto atividade ou profissão.

Observem que, em alguns ambientes escolares, os velhos hábitos insistem em permanecer, os principais recursos utilizados ainda hoje são os mesmos dos primórdios da educação: verbo, lousa e carteira escolar. Se Galileu estivesse vivo e entrasse em algumas salas de aula brasileira, ele não estranharia quase nada.

Estamos vivendo na égide da transformação do professor do quadro e giz em professor multimídia ou hi-tech, e isso exige muito esforço e algumas quebras de paradigmas, como aprender a usar os instrumentos, rediscutir o histórico status da hierarquia e o fim de nós professores sermos detentores de conhecimentos ad aeternum.

Nossa civilização científico-industrial lançou mão da precisão utilizando-a em todos os seus ramos de ação. As estimativas imprecisas e relativas, porque subjetivas, foram substituídas por medidas mais objetivas e, tanto quanto possível, exatas.

O mesmo aconteceu no setor da educação. Nos dias que ocorrem os testes ou provas, nada mais há de misterioso. Podem ser facilmente comparados à régua do marceneiro, ao termômetro do médico ou ao relógio do ponto. Assim como a fita métrica, o teste e a prova têm sido apenas critérios rápidos de avaliação, que podem revelar a presença e a quantidade de determinado atributo pessoal.

O teste nos oportuniza decifrar as impressões, classificar o aluno no grupo, seus aspectos mais fortes e mais fracos, qual a contribuição da disciplina e como posso ajudá-lo para o futuro.

Para isso temos que definir os objetivos do processo educativo em termos das necessidades do aluno aos quais estão previamente definidas no Projeto Pedagógico do Curso e, por conseguinte, no plano de ensino da disciplina.

Precisamos inclusive da equipe interdisciplinar (orientador educacional, psicólogo, religiosos, assistente social) para conhecer as potencialidades, e selecionar métodos e materiais de ensino a fim de criar um ambiente agradável na sala de aula que propicie a aprendizagem. Testes e provas não são instrumentos de tortura ou castigo. O dia da prova não é o dia do ajuste de contas ou de exercer a vingança de Montezuma.

O ato de ensinar está intimamente vinculado ao ato de aprender. Pois na verdade experiências não se transplantam, não se reinventam.

Freire, indiscutivelmente um imperativo da educação no Brasil e no mundo, em sua “Pedagogia do oprimido”, apresenta a contradição opressores-oprimidos, a concepção bancária como instrumento da opressão e a dialogicidade (não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação, na reflexão) como superação disso.

"O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo"(FREIRE, 1987, p. 67).

Na obra “Cartas à Guiné-Bissau”, Freire, através de uma série de cartas-relatório, enviadas por ele ao então Comissário de Educação (Mário Cabral) de Bissau, convida-nos a repensar o ensino e as avaliações como processos, etapas e exercícios. Vejamos:

Deixarei de falar aqui nos aspectos mais metodológicos que tudo. Isto implica nos exercícios de fixação, de reconhecimento, de superação de algumas dificuldades encontradas durante o ato de conhecimento iniciado pelos alfabetizandos desde o seu encontro com a primeira palavra geradora. Exercícios que devem ir sendo realizados na medida em que os educandos, já agora lendo e escrevendo, começam a nova etapa de sua busca (1977, p. 85).

Morin, no “Os sete saberes necessários à educação do futuro” (2002), diz que as inspirações para o educador são os saberes necessários a uma boa prática educacional; enquanto, em “A cabeça bem-feita” (2010), somos chamados a reformar o pensamento para reformar o ensino e reformar o ensino para reformar o pensamento; tema recorrente em “Mi camino: la vida y la obra del padre del pensamiento complejo: Edgar Morin conversa con Dejénane Kareh Tager”.

A prática mental do autoexame permanente é necessária, já que a compreensão de nossas fraquezas ou faltas é a via para a compreensão das do outro. Se descobrirmos que somos todos seres falíveis, frágeis, insuficientes, carentes, então podemos descobrir que todos necessitamos de mútua compreensão (2002, p. 100).

Perrenoud (2009), em “A avaliação formativa num ensino diferenciado”, faz propostas norteadoras para a implementação do processo de ensino e aprendizagem por competências. São elas: reconstruir a transposição didática; atenuar as divisões entre as disciplinas; romper o círculo fechado do currículo, criar novas formas de avaliar, reconhecer o fracasso, diferenciar o ensino e transformar a formação docente.

Por outro lado, o Nóvoa (2011, passim) em “Vida dos professores”, prioriza a qualificação profissional e o aprender contínuo do professor como motores da melhoria do ensino.

Vislumbrando o pensamento destes educadores, listamos abaixo algumas etapas que devem ser observadas na construção de uma prova:

  1. Fixar-se nos objetivos do ensino. Para isso é preciso definir o que se pretende de forma clara em termos de produto de ensino (aprendizagem).
  2. Responder o problema capital: o que medir e como medir?

Medir – condutas específicas de aprendizagem.

Como medir – através de amostra representativa do conteúdo que inclua noções, habilidades e apreciações veiculadas no ensino da matéria. Podendo utilizar itens do tipo certo-errado, lacunas, múltipla escolha, dissertativo etc.

  1. Providenciar uma chave de correção para o agrupamento dos resultados (escores).
  2. Fazer um gráfico representando a distribuição dos escores e a posição da média.
  3. Definir o tempo de duração da prova que deve ser compatível aos quesitos.
  4. Ter habilidade na distribuição da valoração (pontuação).

Lembremo-nos que uma questão bem-feita deve agir como estimuladora da reflexão. Por isso sugerimos não colocar questões: a) cujas respostas não revelam necessariamente o conhecimento obtido através do ensino; b) com perguntas ambíguas; c) com perguntas que dão margem a mais de uma resposta; d) com perguntas tipo charada; e) que indicam resposta de outras questões já postas; e f) com dados desnecessários.

Evitar também enunciados do tipo: “escolha uma das questões que se seguem”. Pois as condições da prova não seriam as mesmas para todos os alunos, dificultando, sobretudo a comparação de resultados. Exija que todos os alunos façam a mesma prova; quando as questões estiverem prontas processe a seleção e à arrumação das mesmas.

No Brasil é difícil conseguir testes padronizados como o “provão”, a teoria das respostas por item - TRI ou o que denominamos arbitrariamente de “Modelo FGV” – Fundação Getúlio Vargas[1].

No dia da prova tudo que, muitas vezes, o aluno quer é confusão. É necessário fazer um trabalho prévio, pois a prova começa antes do dia da sua aplicação, sem terror, com regras, com suporte e profissionalismo.

Como resolver os descaminhos? Ministrando aula. Para não cairmos em professores danosos do tipo: marqueteiro; duas caras; "corre-frouxo", mecânico, senhor lição de moral; professor amargurado, sabe-tudo etc.

A massificação do ensino está se consolidando. Muitos dos discentes de hoje se formaram após a abertura de instituições e cursos que romperam os cartéis que existiam no Brasil. Isso gerou um par dialético: que alunos estamos recebendo? Como me confrontar diante deste aluno?

Sabemos das dificuldades do professor: muitas turmas, diversas disciplinas, turmas numerosas, entre outras, o que dificulta um trabalho minucioso. Mas devemos tentar começar com uma turma piloto, pois se faz necessário superarmos tudo isso!

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Sobre os autores
Erivaldo Cavalcanti

Avaliador ad hoc do Ministério da Educação/INEP, Doutor em Desenvolvimento Sustentável (Ciência socioambiental) pela Universidade Federal do Pará, possui Mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco e Pós-graduação lato sensu em Ensino de História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Atualmente é pesquisador líder do Diretório de Grupos de Pesquisas do CNPq em Direito de águas, Professor dos Programas de Mestrado em Direito Ambiental e de Segurança Pública da UEA - Universidade do Estado do Amazonas e Membro e avaliador do CONPEDI - Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, do Conselho Científico e do banco de especialistas da ABRADE - Associação Brasileira de Direito Educacional e Associado da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Parecerista da Revista de Estudos Jurídicos da Universidade Estadual Paulista - UNESP, do Brazilian Journal of Law, da Revista de Informação Legislativa do Senado Federal e da Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional. É editor da Revista de Direito Ambiental da Amazônia "Hiléia".

Carla Torquato

Professora e advogada,pesquisadora do CNPQ no grupo do pesquisa GEDA -Grupo de Estudos em Direito de Águas, da Universidade do Estado do Amazonas e associada ao CONPEDI - Conselho Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Direito e a Waterlat-Gobacit - Rede internacional de pesquisas sobre águas.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

CAVALCANTI, Erivaldo ; TORQUATO, Carla. Utopias e distopias da educação: a dificuldade do avaliar. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 23, n. 5353, 26 fev. 2018. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/63340. Acesso em: 19 abr. 2024.

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