Capa da publicação A dificuldade de avaliar os alunos na sala de aula
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Utopias e distopias da educação: a dificuldade do avaliar

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Considerações Finais

Como observado, procuramos, a partir da narrativa das nossas experiências pessoais, descrever um marco para amplos debates acerca do ensino tradicional, principalmente no que concerne à questão das avaliações e das possibilidades para transformarmos o ensino em uma atividade volitiva positiva para os alunos.

Outro ponto que precisamos, em um outro momento, melhor discutir, mas já posto a lume, é que as técnicas de ensino devem ser utilizadas para fortalecer o processo de ensino-aprendizagem, tendo como esteio o binômio habilidades e competências, e não a ênfase ao que Paulo Freire tanto criticou e denominou de educação bancária.

Quando se fala em crise do ensino, além de nos associarmos a pensadores como Freire, Perrenoud e Morin, é necessário nos credenciarmos para a discussão com a nossa prática pedagógica a fim de não só propor mas principalmente construir novos modelos avaliativos.

A educação tem seus princípios e institutos próprios, como a sua universalização, o acesso à escola, qualidade de ensino, liberdade acadêmica, direitos e deveres, progressividade, integração curricular e, não podemos esquecer, avaliação.

Precisamos superar a ideia a qual a educação tem uma tribo com um pajé perpétuo (que é o professor). Este mito é oriundo de uma matriz autoritária e está no mesmo nível das lendas como o Saci-pererê, a Mula-sem-cabeça ou a Cuca. Precisamos entender que não existe docência sem discência e que a escola é o único tipo de educação que obriga a inscrição, ela é formal, enquanto as demais formas de saber não, necessariamente, o são.

Somos crentes da religião da educação, somos o seu fiel sacerdote e fiscais impiedosos no que concerne aos nossos próprios desempenhos.

O aprendiz e seu mestre são oriundos do mundo grego, passam pela Idade Média e até hoje se consubstanciam. É tradição que os mestres recebam os jovens para ensinar-lhes uma profissão.

Pensando nisso, criamos a "teoria do professor e do catador de lixo”. Lixão é a imagem do inferno, ninguém o quer ver ou frequentá-lo, todos o repudiam, tanto ele como quem nele trabalha, esquecendo o relevante serviço que o catador de lixo presta a sociedade. Fazendo uma analogia, lembramos que o docente não pode repudiar o seu discente, deve levá-lo a deixar o "mundo do lixo" (falta de conhecimento) e caminhar para o mundo do saber (da educação). Ele – o Professor – é um Demiurgo platônico.

Portanto, nesta relação professor-aluno, muitas vezes, o primeiro trata o segundo como um ser invisível, afinal, só conseguimos enxergar o que vemos, e, para isso, precisamos de diversas variáveis, entre estas, a sensibilidade.


REFERÊNCIAS

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_____. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Petrópolis, 1987.

HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Rio de Janeiro: Globo, 2014.

KAHN, Charles. Pitágoras e os pitagóricos: uma breve história. São Paulo: Loyola, 2002.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas. São Paulo: Alfa-ômega, 2007, 3 v.

MORIN, Edgar. cabeça bem-feita. São Paulo: Bertrand Brasil, 2010.

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MORUS, Thomas. A Utopia. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

NÓVOA, Antônio. Vida dos Professores. Porto: Porto Editora, 2011.

PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. 25 ed., Rio de Janeiro: Forense, 2012.

PERRENOUD, Philippe. A avaliação formativa num ensino diferenciado. Porto Alegre: Artmed, 2009.

PLATÃO. A República. São Paulo: Saraiva, 2010.

VOLTAIRE, François. Cândido ou o otimismo. São Paulo: Martins Fontes, 2008.


Nota

[1] Deixamos propositalmente de explicar os procedimentos de cada um destes testes citados para que o nosso leitor procure investiga-los.

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Sobre os autores
Erivaldo Cavalcanti

Avaliador ad hoc do Ministério da Educação/INEP, Doutor em Desenvolvimento Sustentável (Ciência socioambiental) pela Universidade Federal do Pará, possui Mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco e Pós-graduação lato sensu em Ensino de História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Atualmente é pesquisador líder do Diretório de Grupos de Pesquisas do CNPq em Direito de águas, Professor dos Programas de Mestrado em Direito Ambiental e de Segurança Pública da UEA - Universidade do Estado do Amazonas e Membro e avaliador do CONPEDI - Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, do Conselho Científico e do banco de especialistas da ABRADE - Associação Brasileira de Direito Educacional e Associado da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Parecerista da Revista de Estudos Jurídicos da Universidade Estadual Paulista - UNESP, do Brazilian Journal of Law, da Revista de Informação Legislativa do Senado Federal e da Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional. É editor da Revista de Direito Ambiental da Amazônia "Hiléia".

Carla Torquato

Professora e advogada,pesquisadora do CNPQ no grupo do pesquisa GEDA -Grupo de Estudos em Direito de Águas, da Universidade do Estado do Amazonas e associada ao CONPEDI - Conselho Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Direito e a Waterlat-Gobacit - Rede internacional de pesquisas sobre águas.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

CAVALCANTI, Erivaldo ; TORQUATO, Carla. Utopias e distopias da educação: a dificuldade do avaliar. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 23, n. 5353, 26 fev. 2018. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/63340. Acesso em: 19 abr. 2024.

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