Para uma Sociologia "na" Sala de Aula.
O que é educação e o que é sociedade? Parecem perguntas triviais, porém, são de difícil complexidade. Nada é limitado na sociedade moderna (a não ser os recursos naturais e éticos); tudo é menos complexo do que a educação na Modernidade Tardia.
Há uma ligação óbvia entre educação e sociedade, mas “como”, “com quem”, “onde”, “quando” e “para que” se estende essa ligação, não são conexões simples de se apontar. Por exemplo: O que é Educação Libertária (até mesmo descolarizada), na sociedade de classes?
Neste caso, não teve mais efeito, historicamente, a Educação Funcionalista aplicada à reprodução da sociedade de classes? E, se queremos modificar as bases sociais da sociedade brasileira, não seria necessário – no tom de obrigatório, pela lógica – entender no que implica o funcionalismo/positivismo na Educação Popular? Aqui, inclusive, já surge outra componente: o que é Educação Popular? Toda Educação Pública é popular – e vice-versa?
O fato de termos muitas perguntas, inicialmente, também não é ocasional: é o objetivo e a metodologia. O objetivo é ganhar distância do senso comum. Aliás, diga-se, perguntas sem respostas prontas, fáceis, implicam em leitura, investigação teórica e prática, vivência, entendimento, análise, reflexão, avaliação, aprendizagem.
Todas essas fases são críticas e devem ser vistas de modo radical. São críticas em dois sentidos: i) A educação no Brasil vive em situação crítica (caótica); por isso, ii) exige de nós uma reflexão crítica, por oposição a uma educação passiva e acomodada, contemplativa do descalabro social. Portanto, sendo crítica, será uma Educação Radical, ou seja, observaremos algumas raízes de um dos maiores problemas nacionais: a educação que não alfabetiza e, muito menos, transforma a realidade.
De todo modo, não é visível (a olho nu) que cresce rapidamente a clivagem social em nosso país? (Esta clivagem, separação e segregação social, é resultado da luta de classes). A clivagem social não é um atentado à Humanidade, se confrontada aos níveis mínimos e necessários à interação social? Além da indignidade que sobre, da pessoa (milhões) exposta à indigência humana, a luta de classes, no nível em que está, não afeta diretamente a possibilidade de socialização?
Sem socialização, na indigência só se socializa a miséria, como imaginar a sociabilidade? Sem socialização primária (na casa, na família, nos grupos sociais), a Educação Formal – escolar, mas nem sempre Educação Bancária –, e desprezadas as exceções, terá sentido real? Essas dúvidas não conclamam por uma Educação Republicana? Contudo, como falar em Educação para a Democracia se não distribuirmos as condições objetivas da democracia social?
Dados recentes da realidade nacional – do Judiciário e do Executivo – apontam para sérios danos à laicização do ensino. Mas, o que é a Educação Laica? Ao menos neste sentido – em comunhão à ideia de tolerância –, a Educação Liberal não deveria ser relida? Como propor uma Educação para a Modernidade, quando enfrentamos graves contradições do passado reticente? No entanto, se são problemas/enfrentamentos históricos, a Educação para a Liberdade – como uma fase da Educação Histórica e Crítica –, não condiz com a Educação Socialista? (Agora, socializando a riqueza).
A Educação para o Futuro será possível num país em que tradições, privilégios, contradições e divisões de classe – tão fortes que se assemelham a estamentos (ou castas sociais) –, afirmam que a tecnologia é coisa demoníaca e que a política pertence aos corruptos? Por fim, não são provas da urgência de uma Educação Política?
Todas essas varáveis apontadas em negrito (como adjetivações) são, em suma, tipos (ou “escolas”), subdivisões, de uma Educação em Direitos Humanos – que a realidade exige, veementemente, mas que a cultura, o direito, as bases materiais, a economia, teimam em negar e assim excluir a imensa maioria do povo. Como nada vem de presente, trata-se da intermitente Luta Pelo Direito (à educação), como parte da secular luta política que deriva da feroz luta de classes.
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