Justiça, o lado moral na internet — Parte IV. Gerações mimimi e nutella versus geração reprimida

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TEMPOS E CIRCUNSTÂNCIAS

"No meu tempo eu comia banha de porco, pão de padaria, e nunca fiquei doente!”

A frase acima é correta, até certo momento. Após, mais ou menos, 1950, a alimentação humana fora artificializada, de tal forma, que as doenças aumentaram, outras surgiram, como o diabetes mellitos, com o refinamento da cana de açúcar; aliado, também, ao excesso de açúcar nos alimentos industrializados. Hipertensão arterial, sempre existiu. Contudo, a alimentação industrial possui altíssima adição de cloreto de potássio, o sal de cozinha. Os comerciais nos anos de 1950, nos EUA, prometiam: menos tempo na cozinha; mais tempo com a família; alimentação saudável. As mulheres, já que deveriam preparar os alimentos do marido e dos filhos — a maioria era educada, ajustamento social, para cuidar do lar, enquanto ao homem cabia o sustento — tiveram ‘liberdade’ e ‘mais tempo’ para cuidar de si, além de preparar os ‘semiprontos nutritivos’.

Antes dessas mudanças, as mulheres sabiam cozinhar, costurar. Eram tarefas exigidas pelos costumes da época; a ‘boa mulher’ tinha a obrigação de se adaptar, socialmente. As mulheres atuais, início deste século XXI, não sabem cozinhar. O que dirá uma pessoa da geração reprimida? Tudo de negativo que possa dizer em relação às mulheres mimimi e nutella. Culpa delas? Não, pois essas gerações foram obrigadas a se adaptarem aos novos tempos, e ao mesmo tempo queriam trabalhar fora dos lares. Tempo escasso, os produtos semiprontos garantiriam menos tempo na cozinha. Dessa forma, o ato de preparar os próprios alimentos caiu em desuso.

A Indústria Alimentícia, por fatores mesológicos, como tempo escasso, maior tempo de deslocamento entre lar e trabalho, preencheu o lugar vazio: não são mais as mulheres, ou mulheres mães, que prepararão os alimentos, pensaram no que comer, tanto para si quanto para sua família. E os homens? Bom, a geração reprimida masculina não fora educada a cozinhar. Com suas mulheres trabalhando fora dos próprios lares, ainda mais a Indústria Alimentícia preencheu o lugar vazio da cozinheira mulher dona de casa. Depreende-se, na área de alimentação humana, que as gerações mimimi e nutella não são ‘burras’, ‘preguiçosas’, ‘acomodadas’, mas são produtos de novos tempos, de novos hábitos.


EMPRESAS E RECURSOS HUMANOS

"A geração mimimi está prejudicando as empresas!"

Exigentes demais, essa geração quer que os empresários atendam reivindicações dessa geração. Analisando. A geração reprimida trabalhava sob o supervisionamento do chefe. Como é o chefe?

  • Acha-se como o único conhecedor, dos mistérios esotéricos até os complicados termos científicos;

  • Não escuta seus subordinados — já sabem do porquê!

  • Por ter alto posto, acha-se no direito de ser ignorante, para ‘motivar’ seus subordinados;

  • Assedia;

  • Não motiva, somente cobrava os resultados;

  • · Não se importa com as condições do trabalho, como periculosidade e insalubridade, mas somente com "Quer conforto? Fique em casa!”;

  • Aceitava o status quo;

  • Administra as atividades;

  • Carrancudo;

  • Trata cada integrante da equipe, desde o subordinado com doutorado, MBA (Master of Business Administration), e toda sigla que venha a ser criada, até quem não tem sigla, com dignidade, conforme o tipo de sigla, diploma, certificado, posição na empresa. Isto é, o chefe permite, querendo ou não, o narcisismo extremo dentro de sua equipe. Todo ser humano é narcisista, alguns mais, outros menos. Contudo, o chefe não agirá para evitar distinção entre os próprios funcionários. Se ele se sente melhor do que todos, como impedirá os ‘degraus do narcisismo’ entre seus próprios subordinados?

Com os avanços na psicologia comportamental, principalmente na administração de empresas, o chefe não é mais o modelo correto. Gêneses: o líder. E quem é o líder? Vejamos:

  • Tem conhecimento, mas ouve, pondera, e até aceita, os conhecimentos de seus subordinados;

  • Cobra, mas motiva os seus subordinados;

  • Não assedia;

  • Não aceita o status quo;

  • Carismático;

  • Preocupasse com as condições dos trabalhadores (periculosidade e insalubridade);

  • Promove reuniões para confraternização entre os subordinados — o intuito é cultivar sociabilidade entre todos;

  • Trata cada integrante da equipe, desde o subordinado com doutorado, MBA (Master of Business Administration), e toda sigla que venha a ser criada, até quem não tem sigla, com dignidade. Isto é, o líder evita que haja narcisismo extremo dentro de sua equipe. Todo ser humano é narcisista, alguns mais, outros menos. Contudo, o líder, que não se reconhece como superior, agirá para evitar os ‘degraus do narcisismo’ entre seus próprios subordinados.

A geração reprimida, então, acha que as gerações mimimi e nutella devem seguir os ‘bons passos’ para ser um ‘ótimo profissional’. Logicamente, quanto mais se exigir dignidade humana, mais chefes perderão seus empregos, mais as empresas, através de seus Recursos Humanos (RHs) terão que criar mecanismos organizacionais e administrativos que estejam de acordo com as Constituições Humanística, como a CRFB de 1988. Se as empresas não humanísticas se adequarem à dignidade humana, não se manterão, por muito tempo, no mercado.

Custo e benefício. As empresas não humanísticas pensarão em seus lucros e as condições de trabalho: por que se importar com a saúde dos empregados, melhores condições de trabalho, se os gastos, com a saúde dos empregados, oneraram os cofres da empresa?


CONSCIÊNCIA DO CONSUMIDOR

Na geração reprimida, os trabalhadores não tinham como se defender dos empresários não humanísticos, a maioria era assim, pelo simples motivo: nenhum consumidor queria saber do trabalhador. Este servia como uma oportunidade de satisfazer o consumidor. Por exemplo, a entrega de pizza em domicílio. A pizza deve chegar quentinha, caso contrário, pelo Código de Defesa do Consumidor, o consumidor, mesmo que a pizza já esteja na porta de sua residência, poderá recusar. A responsabilidade, risco do negócio, é do fornecedor para que o consumidor não como pizza fria. O consumidor quer pizza quentinha, o fornecedor exigirá de seu empregado, o motofrentista, que a pizza chegue quente. Que o motofrentista dirija como um louco nas vias, e que chegue a pizza quente na residência do consumidor.

A geração mimimi e nutella — estou falando da geração que nascera após as décadas de 1980 e 1990, e que incorporam o silogismo da CRFB de 1988: princípio da dignidade humana e os objetivos — não aceitará que o motofrentista se exponha ao perigo dirigindo com imprudência ou negligência. Se a pizza tem que chegar quentinha, que empregador compre baú que garanta maior tempo para que a pizza chegue quentinha ao consumidor.

Essa consciência do consumidor, através da geração mimimi e nutella, garante inovações tecnológicas. Se o empresário geração reprimida não se adequar aos novos tempos, perderá mercado para os empresários mimimi e nutella. Em síntese, quanto mais exigentes os consumidores, mais inovações serão exigidas aos fornecedores, sem que estes violem a própria CRFB de 1988: desenvolvimento sustentável.


BONS TEMPOS 'SEM VIOLÊNCIA'

Depende, se o" cidadão "não tivesse em seu semblante o etiquetamento de criminoso nato, a polícia não se atreveria em bater. Se o policial soubesse que o abordado era um juiz, delegado ou de alguma Força, pianinho ficava. E se o policial quisesse exercer sua função, de forma como mandava a lei, as autoridades superiores — juiz, delegado ou de alguma Força Armada — mandavam prender o atrevido policial. A geração mimimi e nutella nasceram numa época que se gasta mais com produções bélicas do que com melhorias na educação, nos transportes, na saúde. O tráfico sempre existiu, contudo, entranhou, de tal forma, que direitos humanos podem ser usados para justificarem venda de armas aos desprotegidos. Fora as negociações paralelas entre interesses, estratégicos, entre Estado. Os direitos humanos, então, viabiliza a" guerra justa ". Não são os direitos humanos péssimos, mas a maneira como estão sendo usados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A geração reprimida não tinha:

  • Liberdade de expressão — a não ser que tivesse poder, como já fora mencionado alhures;

  • Autonomia sexual;

  • Enquanto trabalhador, poder de barganha com o empregador,

  • Enquanto consumidor, poder de exigir reparações pela má prestação do serviço, pela venda de produto defeituoso, como o vício oculto;

  • Enquanto empreendedor, proteção, eficaz, contra cartéis;

  • Enquanto empreendedor, suportar a demasiada burocracia estatal;

  • Enquanto eleitor, aceitar, irresistivelmente, as leis produzidas pelos parlamentares.

Dizer que na geração reprimida havia educação, depende do contexto. A criança era reconhecida como sujeito de deveres, como ser humano sem capacidades de expressão. "Faço o que mando, não olhe o que faço!", frase muito pelos pais. Ou seja, o Poder Familiar estava acima da dignidade da criança. Os pais poderiam fumar na presença de seus filhos, enquanto os filhos não poderiam fumar. O interessante disso que o ato de fumar lança gases tóxicos no ar, como ficava a saúde dos filhos? Poderia o filho (a) recriminar um dos tabagistas? Jamais. É fumar, passivamente. Recomendo ler Poder Familiar versus autonomia da vontade das crianças e dos adolescentes: a proibição de fumar em veículos públicos ou privados.

Se algum membro da geração reprimida tivesse problemas mentais, ficasse drogado (dependente químico), perdesse o hímen antes de se casar, não soubesse falar outro idioma, sem ser português, vestisse alguma roupa não considera (padronização) adequada — pararei, a lista ficará cansativa ao leitor —, boom sujeito não era. Tudo padronizado (moral), etiquetado (criminosos natos e não criminosos natos).

Então, as gerações mimimi e nutella são bem melhores do que a geração reprimida (1891 até 1979)? Não, não existem melhor ou pior. É cair na sandice da conceituação do chefe. Seja um líder. Assim como existem os mimimis e nutellas chefes, também existiam membro da geração reprimida como líderes. Ou seja, sempre haverá uma geração condenando a outra. Hábitos mudam, e vocês, mimimi e nutella, também reclamarão dos bons tempos. O ser humano é assim, saudosista: procura se fixar no passado, em sua zona de conforto. Mudanças sociais e tecnológicas causam desconfortos, estremecem os pilares da zona de conforto. O que deve ter em comum entre reprimida, mimimi e nutella é o respeito. Respeitar a autonomia da vontade, desde de que não viole a autonomia da vontade de outra pessoa. Como? Democracia. Comportamento sexual (monogamia ou poliafeto), uso de indumentária, corte de cabelo, falar ou não errado — recomendo ler Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno —, escrever ou não errado — vale emoticon ou não? —, enfim, quando cada qual cuidar de sua vida, sem deixar de ser solidário, o Complexo de Inferioridade decairá, substancialmente. O medo, eterno medo existencial do Homo Sapiens Sapiens Conflictus, dará lugar ao convívio salutar.

Assistiu ao filme 1984, de George Orwell? Muito cuidado. Os reprimidos podem dizer que há uma ditadura, a liberdade de expressão está amordaçada. Depende? Chamar pessoa de 'macaca' é correto? Ou chamar um LGBT de doente é correto? Ou chamar um umbandista de 'demônio' é correto? Chamar um advogado criminalista de" Defensor de bandido! "— não estou me referindo aos danos morais — é correto, plausível e lógico? Se assim for, também é correto chamar advogado criminalista defensor de escravo de" Defensor de bandido! ", quando o próprio escravo matou o seu senhor em legítima defesa.

Tirando muitas" fotos "? Somente alguns 'reprimidos' tinham máquinas de fotografia, já que eram caríssimas para a maioria dos brasileiros. Além disso, não existia internet e Facebook. Mimimi e nutella vivem sorrindo para as fotos, os reprimidos tinham receio de se expressarem, pois, o correto, era aparentar pessoa" centrada ", isto é, pessoas sérias e responsáveis deveriam rir à toa. Quanto à ostentação, sempre existiu. O que importa, repito, é saber viver com as diferenças. Reclamar sempre foi parte da vida da espécie humana. Elas são saudáveis, quando coadunadas com visão inovadora. Sabe qual lugar há perfeição e em qual geração houve perfeição? Talvez em Marte!

Termino. Geração reprimida nada tem a ver com a idade biológica, com o tipo de período humano, tem mais a ver com o tipo de pensamento, com as correntes que impedem a pessoa de discernir por si mesma.

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Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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