Justiça, o lado moral da internet — Parte VII. A 'Contracontracultura'

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Movimentos sociais em defesas de seus respectivos direitos, mudanças sociais desagradando o utilitarismo. "Subversivo", "terrorista", justificam o Estado de Segurança contra a contracontracultura. Toda mudança causa pavor.

INTROITO

A internet, principalmente, as redes sociais, é um campo vasto de pesquisa para os estudiosos sobre antropologia, sociologia, operadores de Direito, jornalistas. Neste Mundo Virtual, as pessoas (internautas) se sentem 'livres' para comentarem o que pensam sobre vários assuntos, principalmente assuntos modificadores dos valores morais e éticos, como casamento entre LGBTs, aborto, feminismo etc. Essa 'liberdade' — não há liberdade absoluta, pois, por exemplo, cabe danos morais em caso de crimes contra a honra — permite uma 'catarse' contra o 'politicamente correto', este considerado como coação à liberdade de expressão; conquanto a própria liberdade de expressão não é absoluta.

Diferentemente do Mundo Virtual, o mundo físico, pela própria compreensão do agente ativo, impossibilita uma liberdade de expressão absoluta, por receios de ataques físicos, por exemplo..

Resolvi criar Justiça, o lado moral da internet, para trazer, de forma concisa, como os internautas pensam sobre determinados assuntos. Justiça, o lado moral da internet está, como não poderia de ser diferente, para não ficar 'enjoado' para os internautas — a maioria quer assuntos resumidos, sem perda de qualidade e do foco principal —, está dividido em partes. Cada parte, um assunto diferente.

O que é cultura?

[Do lat. cultura.]

Antrop. O conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais, etc. [Como conceito das ciências humanas, esp. da antropologia, cultura pode ser tomada abstratamente, como manifestação de um atributo geral da humanidade (cf. acepç. 5), ou, mais concretamente, como patrimônio próprio e distintivo de um grupo ou sociedade específica (cf. acepç. 6).]

Filos. Categoria dialética de análise do processo pelo qual o homem, por meio de sua atividade concreta (espiritual e material), ao mesmo tempo que modifica a natureza, cria a si mesmo como sujeito social da história. (Dicionário Aurélio Século XXI)

O que é utilitarismo?

[De utilitário + -ismo.]

S. m.

1. Sistema ou modo de agir do indivíduo utilitário.

2. Filos. Doutrina moral cujos principais representantes são os ingleses Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873), e que põe como fundamento das ações humanas a busca egoística do prazer individual, do que deverá resultar maior felicidade para maior número de pessoas, pois se admite a possibilidade dum equilíbrio racional entre os interesses individuais. (Dicionário Aurélio Século XXI)

A "Boa Vida" Perdida. Saudes de uma utilitarista

Escravos havia em quantidade. O conjunto de servos de um sobrado tipicamente patriarcal compunha-se, no Brasil dos meados do século XIX, de cozinheiros, copeiros, amas de leite, carregadores d´água, moleques de recado, mucamas. Estas dormiam nos quartos de suas amas, ajudando-as nas pequenas coisas da toalete, como catar piolhos, por exemplo. Às vezes, havia escravos em exagero. [...] (FREYRE, 1977, p. 67-68).

Longa conversa com a velha Rundle (née Maxwell) sobre o Brasil do meado do século XI. A velhinha deve ter nascido por volta de 1840. Terá agora seus oitenta e tal anos. Está lúcida. É um encanto de velhinha. Inteligente e fidalga.

Mostra-me fotografia antiga do palacete dos Maxwell no Rio: vasto palacete. Belo arvoredo. Aspecto de grandeza. Fala-me com saudade do Rio do tempo de Pedro II ainda moço. Ela frequentava os melhores salões da corte brasileira, filha que era de Maxwell, o então rei do café. Quem lê os livros e jornais da época encontra referências numerosas ao nome desse famoso escocês abrasileirado. Era na verdade um nababo: imensamente rico. Escocês encantado pela natureza do Brasil e pelas maneiras, pelos costumes e me diz a velha Rundle que muito particularmente pelos doces e bolos brasileiros. E ao contrário dos escoceses típicos, um perdulário. Sua era uma das melhores carruagens do Rio no meado do século XIX. Seus pajens e escravos primavam pelos belos trajos. Suas mucamas, também. A velha Rundle cresceu como uma autêntica sinhazinha: ninada, mimada, servida por mucamas, negrinhas, negras velhas que lhe faziam todas as vontades. “Como não ter saudades de um Brasil onde fui tão feliz?”, pergunta-me ela servindo-me vinho do Porto. “E por que não voltou ao Brasil?”, pergunto-lhe eu. Mas não insisti na pergunta: a velhinha chorava. Chorava seu Paraíso Perdido, e esse Paraíso Perdido foi o Rio de 1850 – com todos os seus horrores; mas a que entretanto não faltavam grandes encantos. São assim as épocas: todas têm seus encantos e não apenas horrores de epidemias, imundície, crueldade. (FREYRE, 2012, p. 129).

O que é contracultura?

"A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria, se a sua causa não residir na carência de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo, sem a guia de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento!

A preguiça e a covardia são as causas de os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito libertado do controlo alheio (naturaliter maiorennes), continuarem, todavia, de bom grado menores durante toda a vida; e também de a outros se tornar tão fácil assumir-se como seus tutores. É tão cômodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um diretor espiritual que em vez de mim tem consciência moral, um médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida.

(...)

Semear preconceitos é muito danoso, porque acabam por se vingar dos que pessoalmente, ou os seus predecessores, foram os seus autores. Por conseguinte, um público só muito lentamente consegue chegar à ilustração. Por meio de uma revolução talvez se possa levar a cabo a queda do despotismo pessoal e da opressão gananciosa ou dominadora, mas nunca uma verdadeira reforma do modo de pensar. Novos preconceitos, justamente como os antigos, servirão de rédeas à grande massa destituída de pensamento.

(...)

Diz o oficial: não raciocines, mas faz exercícios! Diz o funcionário de Finanças: não raciocines, paga! E o clérigo: não raciocines, acredita! (Apenas um único senhor no mundo diz: raciocinai tanto quanto quiserdes e sobre o que quiserdes, mas obedecei!) Por toda a parte se depara com a restrição da liberdade." (Immanuel Kant, O que é o Iluminismo?)

"Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o." (Sidarta Gautama — Buda)

A contracultura — não avaliando outras contraculturas anteriores — surgiu nos anos de 1960, nos EUA. Mobilizações e contestações de certas comunidades — feministas, afrodescendentes e gays — exigindo seus direitos humanos, os direitos civis e políticos. A cultura, isto é, tradições, moral, tabu, religião, norte-americana não aceitava qualquer tentativa de mudar os valores considerados "superiores". Sendo "superiores", não podem ser modificados; algo como "a melhor flauta, para o melhor flautista". Tudo ordenado e concisão, o Mundo das Ideias estava, enfim, materializado na Terra. Divergir, pela liberdade de expressão, esta uma fração do Direito Natural, era ter convicção de que seria caçado, coagido, lesionado ou morto. Até o século XX, a cultura, racista, linchou afrodescendentes, como uma "defesa cultural". (1)

A Guerra Fria, entre EUA e ex-URSS, serviu como campo de batalhas ideológicas, sendo que as duas potências, nucleares, determinadoras de toda vida na Terra, ditavam comportamentos. Os demais países ficavam subjugados pelas coações bélicas das duas potências. A ex-URSS tinha mísseis nucleares intercontinentais apontados para o Brasil e, claro, os EUA. Os EUA tinham mísseis nucleares intercontinentais apontados para a URSS e todos os principais países do bloco comunista. Quando os movimentos sociais (feministas, afrodescendentes e gays) reivindicaram seus direitos humanos, estes movimentos foram intitulados, pelas mídias pró-cultura, de contracultura. O comunismo serviu como justificativa para o Estado norte-americano contra-acatar. Contudo, o Estado teve adesão e colaboração social, a cultura. Prender e Punir, justificados por "segurança nacional". A contracultura era ameaça aos valores culturais. No Reino Unido, por exemplo, os gays foram perseguidos até o século XX. (2)

Questões de liberdades, como autonomia da vontade e autopossessão, são complexas na História do Homo Sapiens Sapiens Conflictus. A variabilidade sexual, antes do século XXI, não era tão "liberal" como se pensa. Mesmo entre os povos indígenas há regras comportamentais para a Boa Vidacomunitária. Por exemplo, os índios Xavantes do Mato Grosso mantinham-se castos, até a consumação do casamento; no Império Inca, a homossexualidade era punida com a morte. O que é normal na sexualidade humana?

Na questão de natalidade, esta tem influências dos conceitos ideológicos do Homo Sapiens Sapiens Conflictus. Algumas culturas escolhiam quem deveria morrer ou viver, como os espartanos na aplicação de sua eugenia artificial. Pode a taxa de natalidade diminuir conforme a escassez ou não de alimentos, guerras etc. O controle de natalidade, através do infanticídio, ocorria quando havia excesso de fertilidade versus condições de vida da comunidade, geralmente em relação à escassez de alimentos, dentre outros. A natalidade pode aumentar para se ter contingente humano para guerras, como aconteceu, por exemplo, na Alemanha Nazista.

É possível depreender que a cultura de certo povo se modifica conforme as condições não somente pessoais dos próprios Conflictus — seus medos internos, suas concepções de Boa Vida —, mas de fatores externos. As adaptações ocorrem ora por necessidades, como os efeitos climáticos agindo sobre o modo de vida dos Conflictus, ora por uma necessidade psíquica diante dos próprios questionamentos:

Como viver bem, coexistir comigo e com as demais pessoas?

Regras de convívio (contrato social, defendidos pelos filósofos políticos como Hobbes, Locke e Rousseau) são necessárias, contudo, o "mal-estar na civilização", causado pelo pacto social, segundo Sigmund Freud, geram neuroses. Dessas neuroses, os mecanismos de defesa do ego. Será, realmente, necessário algum contrato social, como a CRFB de 1988, para reger a vida de cada cidadão? Se cada cidadão fosse, em si mesmo, um governador, de seus próprios conflitos e medos, pelo uso da razão que possui, a possibilidade de desenvolvimento interior — sair da menoridade (Immanuel Kant, O que é o Iluminismo?) —, sem necessidade de documentos de convívios, as regras sociais, muito menos, por consequência, documentos punitivos, como o Código Penal. Uma possibilidade, para os anarquistas. O Estado é cada ser humano. Conquanto tentador, a História do Homo Sapiens Sapiens, principalmente pelas atrocidades, em certos aspectos, impossibilita a utopia de autogoverno, autoestado. Pelo menos, por enquanto — dizer impossível, é confirmar imutabilidade; e a vida não é imutável. O futuro é uma jornada.

O medo é inerente à existência do Homo Sapiens Sapiens Conflictus. O medo ao desconhecido produze defesas, muitas automáticas, como a passiva — retirada, desistência, recusa, ceticismo, ironia, comportamentos obsessivos — e a agressiva — preparação, enfrentamento, comportamentos obsessivos, ataques, críticas. Conflictus é, por sua natureza, um ser vivo ansioso.

Na Era Vitoriana, demonstrar alguma "fraqueza humana" era sinal de, simplesmente, "fraco". Chorar, principalmente para os homens heterossexuais, era considerado como "pessoa com pouca fibra". Os impropérios, defesas aos egos, ao mesmo tempo "reforçava" a "coragem" do Conflictus. Se há pessoas "fortes de espírito", os comportamentos devem ser condizentes. Se as tribos tinham seus rituais de "maioridade" — passagem da fase infantil para a fase adulta, de responsabilidade —, como caçar, colocar a mão em vespeiro, o "ritual civilizado" era ter o poder dos bens materiais criados pelo próprio "civilizado". Claro que tanto numa tribo quanto numa civilização, as preocupações quanto aos costumes e tradições eram a base das responsabilidades análogas. Mudou o desejo de poder. Se antes o poder de mando sobre demais pessoas se fazia pela força física ou pela força da arma em punho, com a civilização, e seu desenvolvimento, o poder é a luta pelo dinheiro, pelo acúmulo de bens, pela etiqueta da indumentária etc.

O poder não está na satisfação em si mesmo, mas na segurança em que o poder pode satisfazer. Em outro artigo trouxe aos leitores uma experiência pessoal. Peguei minha bicicleta para pedalar, não peguei carteira, muito menos dinheiro. Pedalei por alguns quilômetros; vi uma praça pública e fui sentar num assento. Era verão. Calor e sede. Pensei em comprar uma água mineral. Para minha surpresa, cadê o dinheiro? Sentei novamente, pensei sobre necessidade e possibilidade. Insight! Eis que surge em minha mente O que o dinheiro não compra. Os limites morais do mercado - Michael Sandel.

Não é preciso ler "Os Limites" para saber que o poder do civilizado não é ter uma arma ou força física. O poder supremo, as regras sociais insculpidas nas leis, antropogênicas. O Estado age em defesa do contrato. O problema do contrato social está na seguinte pergunta: Qual comunidade idealizou o contrato?

O contrato será concorde com a ideologia dominante. E o contrato de uma cultura pode ditar regras para outras culturas, como as culturas (a.C.) romana, grega, os imperialismos norte-americano e europeu etc. É o que eu intitulo de Arquitetura da Discriminação. Dessa Arquitetura, a Máquina Antropofágica. E os resultados são os piores possíveis, como dominações, autoritarismos, abusos de poder. Desejo de poder (aceitação), faz com que cada pessoa procure evidenciar suas próprias "qualidades" valorizadas pelo grupo, enquanto deve mascarar seus "defeitos". Um "bom cidadão" corresponde aos anseios do grupo, como "cidadão romano" gritando "morte aos cristãos", "cidadão da democracia" esbravejando "morte aos defensores dos direitos dos manos". Não é de se desconsiderar que "bons cidadãos" farão de tudo para encobrirem seus desejos condenados pela moral do grupo, eis a hipocrisia. Se o "bom cidadão" for de encontro aos valores culturais, lixamentos morais e físicos serão prováveis. O equilíbrio afetivo com o grupo deve estar nos comportamentos convencionados; fora dos olhos da sociedade, tudo é possível, desde o momento no qual não seja descoberto por "patrulhas" puritanas (vizinhos ou desconhecidos), ou pelo aparelhamento ideológico do Estado, as polícias.

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Sempre existirão cultura, contracultura e "contracontracultura". O que é "contracontracultura"? Será esta é um mal contra autonomia da vontade e autopossessão? Será possível, peremptoriamente, afirmar na existência de "ditadura da minoria" — feministas, LGBTs, pessoas com necessidades específicas, religião não judaico-cristã e afrodescendentes — no Brasil?

"Contracontracultura" é a ideologia contrária aos "novos" tipos de comportamentos humanos incompatíveis com a normatização do contrato social ideológico. As reações das feministas, dos LGBTs, das pessoas com necessidades específicas, das religiões contrárias a Cultura Judaico-Cristã e dos afrodescendentes são contracultura, isto é, são reações "perigosas" — assunto de "segurança nacional" — para a sobrevivência da cultura, com seus valores de 1891 até 1988.

Para compreensão dos leitores sobre o assunto de cultura e contracultura:

A contracultura é desconexa com os fundamentos ideológicos da escravidão negra. O que a cultura fará para que a contracultura perca sua força de ação na sociedade? Criar uma "contracontracultura" para modificar o conceito social de apoio à contracultura. Desejo de aprovação é desejo de poder. Poder é ter a valorização da sociedade. Como é possível, numa sociedade muito heterogênica, jamais vista antes de 1988, a "contracontracultura" reivindicar seus conceitos morais e, assim, persuadir à sociedade?

Chamar algum afrodescendente (preto ou pardo) de "macaco" configura injúria racial (art. 140, § 3º, do CP), impedir afrodescendente de ingressar em estabelecimento comercial é racismo e "constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei" (art. 5º, XLII, da CRFB de 1988). Ora, se o ordenamento jurídico pátrio, por uma nova mentalidade antropogênica (Direitos Humanos), considera tais atitude violadoras da dignidade de tais cidadãos, logicamente a cultura pró-escravidão — não necessariamente "pró" no sentido de correntes nos pés dos afrodescendentes, mas mecanismos sociais capazes de coisificá-los, de garantir a parcela da sociedade "pró" não seja condenada — terá que criar outro mecanismo de segregação, preconceito e diminuição da dignidade dos afrodescendentes.

Por exemplo, em outro artigo fiz menção à pesquisa feita pela BBC Brasil quanto aos fatores genéticos e reconhecimentos de pessoas. Neguinho da Beija-Flor possui mais gene (67, 1%) europeu do que africano (31,5%). (3) Se eu fosse um defensor da cultura pró-escravidão, melhor dizendo pró sangue azul, como eu agiria (contracontracultura) para persuadir os indecisos sobre as cotas raciais? Não convenceria, quem quer convencer impõe, mas persuadiria, quem quer persuadir apela para as emoções, não quer convencer (impor).

Se as cotas raciais se baseiam pela cor da pele, mais pigmentação, incoerência há diante da miscigenação do povo brasileiro. É criar preconceitos descabíveis, criar guerras ideológicas, fomentar desavenças e raivas entre os cidadãos brasileiros. Não há características determinantes capazes de conceituar cor ou raça (branca, preta, parda, amarela e indígena). Todos os brasileiros são iguais. São necessárias políticas públicas capazes de garantir formação escolar igual para todos os brasileiros. De outra forma, preto odiará branco, e vice-versa, branco odiará indígena, e vice-versa.

Uma poderosa persuasão para criar movimentos pró-igualdade. Contudo, desde 1891 até 1988, por que o Brasil possui diferenças significativas entre brancos e negros? A maioria dos presidiários são negros, estou me baseando na pigmentação (pigmento melânico), outros pobres. Dificilmente se veem negros nos altos comandos das Forças Armadas, de empresas privadas. As publicidades, principalmente de planos de saúde, contêm famílias brancas, com olhos azuis e cabelos lisos e louros. Nos serviços públicos, pessoas do povo, sem cabelos lisos, louros, cútis branca e olhos azuis. As publicidades estão mudando, afirmo, e é notório, mas as publicidades mudaram por si mesmas ou por força normativa da CRFB de 1988?

Duas mulheres. Quem é branca e quem é negra? Nas redes sociais circula essa imagem. À direita, Meghan Markle; à esquerda, Fabiana Cozza. A atriz Fabiana iria interpretar a falecida Dona Ivone Lara. Após inúmeras críticas — "não ser tão negra" — nas redes sociais, a atriz desistiu. A atriz se manifestou:

"Aos irmãos: O racismo se agiganta quando transferimos a guerra para dentro do nosso terreiro. Renuncio hoje ao papel de Dona Ivone Lara no musical Dona Ivone Lara - um Sorriso Negro após ouvir muitos gritos de alerta - não os ladridos raivosos. Aprendo diariamente no exercício da arte - e mais recentemente no da academia, sempre com os meus mestres - que escuta é lugar de reconhecimento da existência do Outro, é o espelho de nós.

Renuncio porque falar de racismo no Brasil virou papo de gente 'politicamente correta'. E eu sou o avesso. Minha humanidade dói fundo porque muitas me atravessam. Muitos são os que gravam o meu corpo. Todas são as minhas memórias. Renuncio por ter dormido negra numa terça-feira e numa quarta, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar branca aos olhos de tantos irmãos. Renuncio ao sentir no corpo e no coração uma dor jamais vivida antes: a de perder a e o meu lugar de existência. Ficar oca por dentro. E virar pensamento por horas. 

Renuncio porque vi a 'guerra' sendo transferida mais uma vez para dentro do nosso ilê (casa) e senti que a gente poderia ilustrar mais uma vez a página dos jornais quando 'eles' transferem a responsabilidade pro lombo dos que tanto chibataram. E seguem o castigo. E racismo vira coisa de nós, pretos. E eles comemoram nossos farrapos na Casa Grande. E bebem, bebem e trepam conosco. As mulatas. Renuncio em memória a todas negras estupradas durante e após a escravidão pelos donos e colonizadores brancos." 

Quais pessoas condenaram Fabiana Cozza por "não ser tão negra"? Pode ser brancos, negros, tanto faz. Pode algum negro condená-la por "não ser tão negra"? Pode. Há negros contra as cotas, por elas causarem inferioridades nos negros, como se os próprios negros não tivessem capacidade intelectuais (massa cerebral cinzenta) para "vencerem na vida" (meritocracia).

A ideia de meritocracia é cativante. Surge na tela mental das pessoas que cada qual pode vencer na vida pelos próprios esforços, basta coragem, determinação, foco. As gerações reprimidas projetam e deslocam suas frustrações e impotências pessoas para as gerações, assim considerados pelas reprimidas, nutella mimimi. Um dos recursos usados para atacar, com requintes de sadismo, é o uso da gramática. Coma c o advento da internet, uma nova linguagem de comunicação surgiu. O uso de teclado, um dos periféricos do desktop, conjuntamento com a comunicação instantânea, como ICQ e Messenger, fez surgir supressões de sinais gráficos, pontuações etc.

Vc pode pegar livro? Obg, bjs!
Hj fui na csa de Roberto vamos no fds?

Essa nova forma de comunicação causou revolta aos defensores da "boa escrita". O problema dessa "boa escrita" não tem nenhuma "verdade" quanto à inteligência; na ralidade é preconceito linguístico. Outro dia, assistindo filme, na TV Cultura, o caipira Mazzaropi foi chamado de "mentecapto". As pessoas próximas do caipira alertaram-no sobre o "bom cidadão" culto. O caipira, pela pouca, ou nenhuma, escolaridade, desconhecia o significado de "mentecapto". Ou seja, o conhecimento de semântica , de terminada língua dominante, poderia ser usada para menosprezar outra pessoa, desde o momento que esta não soubesse do significado da palavra.

Pensemos. Quantas pessoas, antes do periférico teclado, para desktop, tinham habilidades em datilografar? Pouquíssimas, geralmente eram pessoas que trabalhavam em área administrativa para gerar relatórios etc. Assim, com a internet e a compra de desktop, quais cidadãos tinham habilidades para digitar em tempo real de comunicação? Importante lembrar, a "democratização" da internet aconteceu após os anos de 2000. Os primeiros acessos eram por empresas, depois uso residencial, por pouquíssimos brasileiros capazes de comprar desktop e pagar pela conexão discada. O acesso à internet ainda não é universal no Brasil.

Fiz desafios sobre Machado de Assis, clonado e digitando "pharmacia". Seu nível intelectual (escolaridade) seria baixo? Seria Machado um "burro"? A "boa gramática" é uma acepção preconceituosa e discriminatória. Êle, Machado de Assis, "sómente" ele, poderia nos iluminar com sua sapiência sobre gramática e "lingüística". Pergunto, o tal do "sic" é um erro condenável até que momento?

E quanto ao "não ser tão negra"? Pelo que eu tenho exposto até aqui, é possível considerar que há uma contracontracultura com intuito de enfraquecer todo e qualquer meio capaz de retirar das correntes, invisíveis, ideológicas de "lugar de negro é na senzala". "Retirar", os ciclos se repetem para manter pessoas em "seus devidos lugares" — uma "máquina de moer gente", como diria Darcy Ribeiro.

contracontracultura é formada somente por brancos? Não. Bom exemplo, a doutrinação de alguns povos indígenas pelos jesuítas. Uma cultura pode mudar outra cultura seja pelo convencimento ou persuasão. Qual deus é mais potente? O convencimento de um deus forte, quando há panteão, acontece quando um se destaca dos demais deuses, principalmente quando um dentre muitos dá vitórias nas guerras. Ou um deus que traz amor, respeito, independentemente de de crença, etnia, sexualidade, como no caso do catolicismo, com as Boas Novas de Jesus. Outro fator de doutrinação, o melhor deus dá as melhores condições de vida materiais. Se pensarmos nos escravos brasileiros, apesar da imensa influência religiosa dos portugueses, os escravos continuaram adorando os seus deuses, por quê? Diante de tanto sofrimento, que tipo de deus é o deus dos escravocratas que causa morte, dor aos escravos? Por isso, uma das causas de não inexistência das tradições religiosas dos escravos. Houve sincretismo, para os escravos continuarem cultivando os seus deuses.

É possível, sim, como aconteceu com os escravos etruscos, doutrinar pessoas, culturas diferentes. Quando os valores de uma cultura são hegemônicos, pela força das armas, convencimento ou persuasão, a intelectualização, um dos mecanismos de defesa do ego, faz com que a pessoa, de valor cultural desigual, aceite uma condição mais confortável para si. Entre perdas e ganhos, a maximização do prazer; e ganhar é sempre prazeroso. Não é uma regra, pois há pessoas que desafiam os valores culturais hegemônicos; o ato de ingerir cicuta, pelo filósofo Sócrates, é exemplo, dentre muitos, de contracultura.

Pelo uso do poder das armas, do "maior grupo": primeiro bate, depois socorre, ama, iguala e protege. Uma Síndrome de Estocolmo se desenvolve na pessoa "bárbara". Sua cultura, seus valores culturais não possuem fundamentos; o "bárbaro" tornou-se "civilizado", incorporou em si mesmo a Boa Vida, a maximização de prazer da "melhor cultura". Um "efeito manada" foi criado, artificial, mas, ainda, "manada".

Um dos documentários preferidos por mim, O Século do Ego. A psicanálise servindo aos interesses de poucos sobre muitos, a maximização do prazer, ou efeito manada artificial. A contracontracultura tem usado, desde a promulgação da CRFB de 1988, todos os meios e mecanismos possíveis para reaver sua Boa Vida. A internet, desde os primeiros acessos, por pouquíssimos brasileiros, criou um Mundo de Ideias para a sobrevivência da Boa Vida da cultura — valores anteriores a CRFB de 1988. A contracultura (pós CRFB de 1988), com seu valores incompatíveis com a cultura, incomodou, muitíssimo. Autopossessão e autonomia da vontade, não é possível existir Boa Vida quando há individualidade.

Será a contracontracultura, em sua totalidade, maléfica? Serão os seus valores morais escravizantes, reducentes das liberdades pessoais? A contracontracultura tem reclamado das consequências de tantas liberdades pessoais; o "deixa a vida me levar" é um mal em si, a pessoa que vive para maximizar os próprias prazeres, sem se importar com as demais pessoas, torna-se narcisista extremo. A autonomia da vontade e a autopossessão devem ter uma obrigação com a coletividade — recomendo ler Autonomia da vontade versus coletividade. Obrigações na Democracia (humanística). Se existe um contrato social, este deve ser preservado, incentivado, praticado para a vida em sociedade. Até aqui, considero que a contracontracultura possui um quê de verdade. Há necessidade de responsabilidade aos próprios atos seja para o próprio sujeito e deste para os demais sujeitos que compõem a sociedade. No entanto, a contracontracultura quer "liberal na economia e conservadora nos costumes". Conservadora, no sentido de proibição de casamento gay e beijos gays nas ruas, mulher obedecendo ao homem; os mais radicais preferem uma liberdade de expressão "maximização da potência de falar", mesmo que se cometam ofensas.

Essa "ala radical" considera o bullying como "coisa de gente fresca", imigrantes ilegais ou refugiados como "criminosos", "desordeiros", feministas e gays como doenças, da alma e da mente, religiões não judaico-cristãs como "demoníacas", "repressoras".

Pode ter gay condenando os próprios gays, feministas condenando feministas? Sim. Assisti programas televisivos: discussões entre gays por "comportamento inadequado", como "desmunhecar muito"; feministas contra feministas, algumas feministas acusavam os homens de "potenciais estupradores". Num perfil encontrei várias defesas contra as "ditaduras" atuais. Uma das "ditaduras", a "desconstrução da heteronormatividade", ou seja, não reconhece "o papel central da heteronormatividade na cultura humana". Pior fica quando um usuário de droga, lícita, acusa outro usuário, de droga ilícita, de "viciado", "fraco", "criminoso". Se lançarmos olhares para os acidentes de trânsito, a maioria acontece por consumo de bebida alcoólica. E numa sociedade que usa a bebida alcoólica para cometer estupro, a vítima encontra-se sem reação, soa estranho as acusações contra os "maus cidadãos", os "maconheiros", por exemplo.

Também tenho verificado que os "bons cidadãos" da contracontracultura, condenam comportamentos anticívicos, como, por exemplo, estacionar automotor na calçada. O patriotismo virou moda no Brasil; "cidadão de bem" é patriota. Todavia, o "patriotismo" em questão muda quando os direitos humanos, como direitos civil e político, são exigidos pelos movimentos sociais dos LGBTs, das feministas, das pessoas com necessidades específicas, os indígenas. Pior fica quando se exigem outros direitos humanos — social, cultural e econômico. Muito pior fica quando os órgãos públicos asseguram os princípios da CRFB de 1988.

contracontracultura, dos "bons cidadãos", alegam que as gerações mimimi nutella são preguiçosas, pior quando se fala na geração nem nem. A mentalidade de meritocracia soa, como sempre, um esforço pessoal, uma capacidade de "superior". Pode a geração atual incorporar a mentalidade da contracontracultura? Sim. Antes dos anos de 1980 e 1990 os empregos eram estáveis, haviam empregos bons — salários capazes de garantir qualidade de vida —, a concorrência era muito menor do que a atual, acesso e conclusão de nível superior era para poucos brasileiros. O mercado favorecia aos favorecidos pelas condições ideológicas (sistema de castas). Após os anos de 1990, o Estado social agiu, de tal forma, que os párias puderam, pela primeira fez na História do Brasil, melhorar de vida; pouco, mas necessário. As cotas, racial e social, garantiram aos párias acesso universitário. Não o mero acesso, a oportunidade de conclusão de curso universitário. E como tudo isso, as mudanças na cultura, foi possível? A CRFB de 1988, para a cultura, uma "maldição" — menos Constituição, mais Bíblia —, uma "Carta para vagabundos" etc. A contracultura, então, é ameaça, a contracontracultura deve agir, age e tem agido.

O Ministério Público Federal tem uma página no Facebook. Uma de suas postagens foi sobre bullying nas instituições de ensino e menção sobre a Lei 13.663/2018. Comentário que destaco:

Geração fresca, fraca chata! No meu tempo, tirar sarro, zoar, apelidar era mera diversão, todo mundo ria e continuava brincando, continuava a amizade, mas ninguém era selvagem p ir além de palavras, ninguém usava violência, aprendíamos limites e respeito com a família e a escola.

Parece que "naqueles tempos" tudo era bom, ordenado; não havia violência doméstica, não havia estupro marital, não se perseguiam gays, ninguém chamava negro de "macaco", as polícias não tinham trabalho, todos sentados em seus assentos, ou em suas residências, esperando alguma ocorrência.

Há um discurso, quase como Mantras, de que há vitimismos. Em alguns perfis encontrei "vitimismos de mulheres". Esse "vitimismo" fazia menção à mulher vítima de violência doméstica. Em outros perfis, ou comunidades, encontrei ironias quanto aos vagões especiais para mulheres; vitimismo feminino.

Considerações finais

A contracontracultura tenta criar uma desordem, de forma que os valores ditos "corretos" retornem. A igualdade que pedem, nas profundezas de suas almas, não é garantir equidade; é garantir que os comportamentos anteriores a 1988 retornem. Liberal na economia, como menos Estado, tem como escopo o enfraquecimento do Estado social no Brasil. Quantos séculos os párias ficaram em "seus devidos lugares"? E quanto tempo terão para recuperarem os séculos de divisões de castas? Libertinagem, casamento gays, relações poliafetivas são consideradas assim. Não há autonomia da vontade e autopossessão. Liberal na economia, contudo é necessário dizer que mesmo nos EUA há proteções contra explorações e assédios no trabalho, dentre outras proteções pelo ordenamento jurídico norte-americano.

Recente decisão nos EUA, o direito de confeiteiro não fazer bolo para um casal gay. (4) O casal estava pronto para casar, precisava de um belo bolo de casamento. Phillips, o proprietário da confeitaria, negou-se, pelo seu direito de liberdade de crença. Verifiquei na página do O Globo, no Facebook, vários comentários a favor da decisão da Suprema Corte norte-americana. Um dos argumentos, Phillips é proprietário e faz o que bem quiser com suas propriedades. Outros comentários, o casal poderia exercer sua liberdade de locomoção e ir para outro estabelecimento. Soa como filosofia libertária. Aliás, a filosofia libertária no Brasil sopra como vento sudoeste.

Se aplicarmos, coerentemente, a filosofia libertária no Brasil, não há o porquê de o Estado impedir casamento gay, movimentos sociais de feministas e de afrodescendentes. Cada estabelecimento poderá ter suas próprias regras, isto é, "só contratamos negros", "só contratamentos heterossexuais", "só contratamos LGBts" etc. As leis morais não poderão impedir que casais LGBTs se beijem nas vias públicas, mulheres transitem sem sutiãs e com camisetas transparentes, por mais que seus mamilos sejam arrebitados. Quanto às indumentárias, desde burca até “kilt”. E se algum proprietário quiser contratar homens ou mulheres para trabalharem pelados? Pela filosofia libertária, não há nenhum empecilho.

Em alguns artigos publicados, mencionei canibalismo consensual. Alguns responderam que é viável. Se a base de qualquer contrato é o consentimento, como propuseram, balinhas sortidas, meu desafio, é um contrato viável. No caso, adulto negociando balinhas em troca de sexo. Não há moral na relação contratual; existe somente a negociação, livre de coação, entre as partes. Autopossessão e autonomia da vontade. Essa discussão nos leva ao Poder Familiar e autopossessão da criança.

Uma discussão em torno de o Estado proibir fumar dentro do mesmo carro em que viajam criança ou gestante. Autonomia da vontade do fumante, no caso, pelo Poder Familiar, pode suprimir a autonomia da vontade de uma criança em não permanecer dentro do automóvel com o fumante? Nos comentários, "quem manda nos meus filhos sou eu, o Estado não pode ditar regras". Soa como uma poderosa filosofia libertária. Contudo, o Estado, desde 1891, doutrinou, limitou, puniu. Lembrando que Estado é um ser imaterial criado pelo ser humano. A personificação do Estado, na vida dos seres humanos, depende dos próprios seres humanos; a comunidade dominante, controlando e ditando como o Estado deve agir, "rouba" o direito natural de cada ser humano, no caso, das comunidades não afins com a Boa Vida da comunidade dominante. Além disso, o Poder Familiar pode ser usado para, no caso de pais fumarem nas presenças de seus filhos, ferir o direito natural de os filhos terem saúde? Várias questões éticas podem surgir.

Considero que a contracontracultura tem razão contra a exploração sexual infantil. Qual é a justificativa? Aproveitar-se de uma condição, o não conhecimento real, da criança, e do adolescente, sobre autonomia da vontade versus decisão consciente, dos prós e contras. "Contras", não em relação aos tabus e dogmas, porém, a condição emocional após o ato, a valorização de si mesmo em vez de ceder para valorizar algo externo, como aquisição de indumentária da moda, como aconteceu no Japão — adolescentes, da classe média, se prostituiam para terem "roupa da moda".

A criança deve aprender que sua autopossessão e sua autonomia da vontade não podem ser coisificadas, sendo o maior valor a própria dignidade. Não a dignidade moral religiosa. Uma ética moral capaz de fazer com que a criança compreenda que a ninguém é dado o direito de usar valores externos para saciar seus próprios desejos. E se, por exemplo, uma criança moradora de rua, desprovida de alimentos, de agasalho, quiser fazer um programa sexual em troca de comida e breve conforto de algum teto sobre seu corpo? Ceder por conforto e saciedade, não é usar sua razão. É ceder ao instinto de sobrevivência, às necessidades imediatas de seu corpo, de suas emoções. O valor ético moral está justamente na resistência, não pender para o que necessita de imediato. O adulto, ou mesmo uma criança com mais idade, que se aproveita de uma condição alheia (necessidade), não age com nenhuma ética moral, age pela sua filosofia de alcova, o outro é mero objeto de satisfação. O mero ensinar à criança de que ela possui autopossessão e autonomia da vontade — ela dona de si mesma — pode levar aos atos momentâneos, sem medir consequências futuras. Por exemplo, nos anos de 1998 as indústrias tabagistas queriam aumentar seus lucros. Os publicitários, que estudam comportamento humano, criaram várias publicidades, conforme o nicho. Para pessoas esportistas, uma marca de cigarro; para pessoas que querem "levar vantagem em tudo", outra marca. Explorar os desejos mais íntimos das pessoas, para liberar todas as suas pulsões reprimidas pelas convenções, a chave de ouro das publicidades — recomendo assistir O Século do Ego; poderia citar livros, mas acho que o documentário satisfaz.

Automóvel e liberdade. Ter um é ter liberdade. Algum comercial mostra os congestionamentos urbanos? Se mostrar, o automóvel deve ser um prazer, em si mesmo, capaz de fazer com que os problemas externos sejam esquecidos. Naquele breve momento, dentro do automóvel, o mundo externo para. Tem wi-fi dentro do automóvel? Negócios podem ser resolvidos, vexados; saber dos filhos, acionar, remotamente, geladeira, hidromassagem, tudo ao alcance das mãos, sem sair de dentro do automotor. E quanto as relações interpessoais? Bom, algum algorítimo pode ajudar na solução de problema familiar, por exemplo. Desejo libidinoso e parceiro (a) não quer nada? Profissional do sexo? Melhor uma "boneca sexual" com inteligência artificial: não reclama, atende, minuciosamente, as vontades do dono. Esses exemplos serve muito bem para justificar o "retrógrado" valor moral dos contracontracultura. Esse valor moral, de não ser um objeto para os desejos alheios, muito menos para ser escravo dos próprios desejos, é um valor que em si mesmo garante que cada pessoa tenha sua autonomia da vontade e autopossessão ela razão, não pelas sensações e necessidades imediatas.

Não quer dizer que o Estado deve servir como um juiz, um educador doutrinador. Eis o perigo. O Estado pode, sim, através das instituições democráticas, divulgar ensinamentos sobre ética moral. Cada qual é livre, mas cada qual também é responsável pelo que faz consigo, com as demais pessoas. Ação e reação. Quando cada qual, em si mesmo, "sair da menoridade", compreender que em si mesmo, pela razão, possa se autogovernar, o estado poderá desaparecer. Uma nova consciência, individual, mas ao mesmo tempo universal; cada qual com seus direitos naturais, sem violar, sem coisificar os direitos naturais de outras pessoas.

Notas:

(1) — BBC BRASIL. A história brutal e quase esquecida da era de linchamentos de negros nos EUA. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43915363

(2) — G1. Reino Unido vai pedir perdão a gays condenados por serem gays. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/10/reino-unido-vai-pedir-perdaoagays-condenados-por-serem-g...

(3) — BBC Brasil. Neguinho da Beija-Flor tem mais gene europeu. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070424_dna_neguinho_cg.shtml

(4) — O Globo. Supremo dos EUA dá vitória a confeiteiro que negou fazer bolo para casamento gay. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/supremo-dos-eua-da-vitoria-confeiteiro-que-negou-bolo-casal-gay-2...

Referências:

BBC BRASIL. 'Impotentes e frustrados' são os mais agressivos na internet, diz psicóloga. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150831_salasocial_agressividade_internet_rs

FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa / Freud, Anna ; tradução Francisco Settíneri. — Porto Alegre : Artmed, 2006.

HYPENESS. Imagens de quando a segregação racial era legal nos EUA lembram a importância de combater o racismo. Disponível em: http://www.hypeness.com.br/2017/02/imagens-de-quandoasegregacao-racial-era-legal-nos-eua-nos-lembr...

SPINK, MJ., FIGUEIREDO, P., and BRASILINO, J., orgs. Psicologia social e pessoalidade [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas sociais; ABRAPSO, 2011. ISBN: 978-85-7982-057-1. Available from SciELO Books < http://books.scielo.org.

WERNNER, Dennis. Uma introdução às culturas humanas. Comida, sexo e magia. Ed. Vozes. 1987.

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Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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