Considerações finais
No presente texto não foi possível esgotar toda a descrição do relativismo moral, bem como as discussões que os diversos tipos de relativismo moral ensejam. A descrição operada aqui se contenta com uma visão um tanto superficial do relativismo moral, mas que exponha seus argumentos principais, dentre os quais a possibilidade de um desacordo moral entre sujeitos de conjunturas diversas, no qual nenhum dos sujeitos esteja equivocado.
Como assinala Fisher, o relativismo parece um termo pejorativo e muitos autores ou o utilizam para denominar seus rivais de relativistas e assim ganhar a discussão, ou tentam fugir do rótulo de relativistas. Apesar de a hermenêutica filosófica de Gadamer não ser, como demonstramos, compatível com o relativismo moral em seus argumentos centrais e em suas implicações, Gadamer exerce bastante esforço no decorrer de sua obra para evitar o relativismo em geral, e interpretações arbitrárias. A hermenêutica filosófica é um projeto que se volta diametralmente contra a arbitrariedade e o solipsismo no processo de compreensão. Ao mesmo tempo, por ser uma teoria da compreensão humana, a hermenêutica filosófica não pode olvidar de enfatizar a importância do contexto.
Em uma primeira aproximação essas considerações parecem obrigar Gadamer a oscilar entre algum tipo de relativismo e algum tipo de realismo. O modo como se dão as noções de relação, contexto e pertencimento à tradição na obra de Gadamer devem, portanto, ser cuidadosamente perscrutados e diferenciados para que se possa obter um horizonte privilegiado de compreensão da hermenêutica filosófica e de sua relação com o relativismo em geral ou mesmo moral.
Referências
Artigos de autores estrangeiros obtidos através do portal de periódicos da Capes
HENRÍQUEZ, Fernando Vergara. Gadamer y la hermenéutica de la comprensión dialógica: historia y lenguaje. Revista de Filosofía, v. 69, n. 3, 2011.
TOLHURST, William. The Argument from Moral Disagreement. Ethics, v. 97, n. 3, p. 610-621, 1987.
Livros
GADAMER, Hans-Georg. O problema da consciência histórica. Tradução de Paulo Cézar Duque Estrada; Organização de Pierre Fruchon. 2. ed. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método I. Tradução de Flávio Paulo Meurer; revisão da tradução de Enio Paulo Giachini. 12. ed Petrópolis, RJ: Vozes. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2012.
FISHER, Andrew. Metaethics: An Introduction. 2011.
SMITH, P. Christopher. Hermeneutics and human finitude: Toward a theory of ethical understanding. Fordham Univ Press, 1991
Artigos de autores estrangeiros obtidos em pesquisa ampla na internet
DA SILVA, Rui Sampaio. O problema do relativismo em Heidegger e Gadamer. , n. 6, p. 283-298, 2008.
HARMAN, Gilbert. What is moral relativism?. 1978.
HINMAN, Lawrence M. Quid fact or Quid juris? The fundamental ambiguity of Gadamer’s understanding of hermeneutics. Philosophy and phenomenological research, vol.40, Nº 4 (Jun, 1980), pp. 512-513. International Phenomenological society. http://www.jstor.org/stable/2106846.
Notas
[1] Trecho no original: “According to meta-ethical relativism, there can be conflicting moral judgments concerning a particular case that are both fully correct. The idea is that two people with different moralities might reach conflicting moral judgments concerning a particular case – for example; one saying the agent was morally right, the other the agent was wrong – where both opinions are correct.”
[2] Trecho no original: “The version of the argument from disagreement wich i will consider does not aim to show that there are no objective moral truths only that these truths, if any there be, are epistemically inacessible. Neither does i take the facto or extent o factual disagreement to be decisive. Instead it uses the claim that a certain sorto f moral disagreement is ubiquitously possible as a reason for denying that objective moral beliefs are ever justified.”
[3] Trecho no original: “So the speaker relativist has to respond to this challenge either by denying the link between meaning and truth-conditions or by giving upo ne of the main attaractions of speaker relativism: namely the ability to explain how we can have faultless moral disagreement.”
[4] Trecho no original: “Al reconocer Gadamer la equivalencia de que toda compresion exige situarse em la tradicion de la misma manera que “compreender significa entenderse en la cosa”, se refere a que este acontecimiento reflexivo que se efectua en el momento de la compresion, se debe a que se es parte y debedores de uma tradicion (...)”
[5] Por isto mesmo há uma polêmica a respeito da pretensão de Gadamer, pois ele mesmo postula reiteradamente que sua pretensão é somente de descrever a compreensão como ela realmente ocorre, quando há várias passagens em sua obra que denotam uma espécie de compreensão ideal, ou seja, a compreensão como ela deve ocorrer. A este respeito, HINMAN, Lawrence M. Quid fact or Quid juris? The fundamental ambiguity of Gadamer’s understanding of hermeneutics. Philosophy and phenomenological research, vol.40, Nº 4 (Jun, 1980), p. 512-513.