Hoje, 19 de abril de 2020 é meu aniversário. Em tempos de pandemia de coronavírus deflagrado pelo microrganismo cognominado de covid-19 tenho, de acordo com as “autoridades” sanitárias, que ficar em quarentena, em isolamento social para não contrair ou transmitir referida patologia.
Durante algum tempo procurei culpados pelo estado atual de coisas. É claro que eles existem. E, dentre meus singelos e ainda insípidos pensamentos filosóficos cheguei a algumas conclusões óbvias, mas que precisam ser ditas.
Em primeiro lugar, constatei que nossos políticos estão mais preocupados com seus próprios interesses e os de seus partidos do que com a população que os elegeu.
No Brasil, medidas sempre são tomadas em prol e em nome de minorias que acreditam piamente que mandam em nosso país. E nós, infelizmente, deixamos que as coisas “corram soltas”.
Ontem, 18 de abril de 2020, assisti um filme magnífico envolvendo a atuação de um advogado como há muito não assistia. O filme em questão é “A Ponte dos Espiões, interpretado pelo aclamado Tom Hanks, que faz o papel do advogado James Donovan. O filme é baseado em fatos reais.
O filme se passa na época da Guerra Fria travada entre os Estados Unidos da América do Norte (EUA) e a antiga União Soviética (URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) pela hegemonia do mundo. Era o período em que ainda estava de pé o Muro de Berlim, dividindo a Alemanha em Oriental (Comunista) e Ocidental (Capitalista)
O advogado James Donovan (Tom Hanks), que sempre atuou na área do direito securitário é indicado por sua empresa de advocacia para defender Rudolf Abel, um espião russo capturado. A indicação para a defesa, em realidade, decorreu de uma obrigação imposta pela CIA – Agência Central de Inteligência norte-americana.
James Donovan não quer saber se seu cliente é ou não espião, ou seja, não importa se seu cliente é culpado ou não. Isso, em momento algum, lhe interessa. O que interessa a James Donovan é fazer, da melhor forma possível, seu trabalho: defender aquele que, naquele momento, necessitava de defesa.
O objetivo de James Donovan era garantir que seu cliente, acusado de ser um espião russo, tivesse, nos Estados Unidos e mesmo diante da repulsa do próprio juiz do caso, do promotor responsável pela acusação e da população que exigia a condenação do espião russo à pena de morte, tivesse um julgamento justo e imparcial.
James Donovan não conseguiu inocentar o espião russo, mas convenceu o juiz a não lhe aplicar a pena de morte, pois, talvez, em algum momento, o espião russo pudesse ser uma importante moeda de troca, uma vez que também haviam espiões norte-americanos infiltramos em território russo. Diante dos argumentos apresentados pessoalmente ao juiz antes da sentença, o espião russo não foi condenado à pena capital, sendo-lhe imposta a pena de prisão por trinta anos.
Dito e feito. Um soldado e um estudante norte-americanos foram presos pelos russos. E, nesse momento, surgiu a oportunidade da troca do espião pelos cidadãos norte-americanos.
James Donovan é escolhido para negociar a troca. Apesar de todos os contratempos e de ser uma persona non grata em território russo, James Donovan exigiu que a troca apenas seria feita, se os dois prisioneiros estadunidenses fossem soltos. Os russos queriam a troca de um por um, mas, James Donovan, diante de sua tenacidade, exigiu dois por um, ou nada feito.
A tenacidade e coragem de James Donovan garantiram o êxito da troca.
Antes disso, em uma das conversas privadas que James Donovan teve com seu cliente, Rudolf Abel, este lhe contou uma história. O pai de Rudolf tinha um amigo e, todas as vezes que esse amigo ia à sua casa, o pai de Rudolf lhe dizia: “Observe esse homem”. E Rudolf observava sempre que ele aparecida. Mas, nenhuma vez o tal homem havia feito algo de extraordinário.
Rudolf disse que, certa vez, sua casa, quando ainda pequeno, fora invadida pela Polícia de Fronteira Partidária. Dezenas de policiais. O pai de Rudolf foi espancado, sua mãe foi espancada e o amigo do seu pai foi espancado. E Rudolf observou aquele homem, amigo do seu pai, durante o espancamento. Todas as vezes que batiam nele, ele ser reerguia. Então batiam mais forte e, ainda assim, ele se levantava. Rudolf acreditava que, por conta disso, pararam de bater nele e o deixaram viver. “Stoic Mujic, me lembro dele dizendo isso”, relata Rudolf. Cada vez que o amigo do meu pai se levantava depois das agressões, ele dizia: “Stoic Mujic”, que, “mais ou menos quer dizer: Homem Persistente”, explicou Rudolf.
Acredito que a vida apenas valha a pena quando nos tornamos “pessoas persistentes”.
Isso me leva a pensar: o que estou fazendo contra todos os desmandos político-partidários que, todos os dias, se espalham como enxurrada nos noticiários.
Atos supostamente legais, eivados, em verdade, de ilegalidades, contrariedades, interesses escusos. Nada além disso.
Um outro ponto alto do filme em questão é quando o agente Hoffman, da CIA, questiona James Donovan, acerca da a razão pela qual ele luta tanto para defender seu cliente, declaradamente um inimigo dos Estados Unidos. Diz, o agente, que o James Donovan não precisa fingir, querendo dar uma de certinho, afinal, “não existe um livro de regras”.
E James Donovan responde:
Donovan: “É o agente Hoffman, não é?”
Hoffman: “Sou”.
Donovan: “Ascendência alemã”.
Hoffman: “Sim, e daí?”
Donovan: “Meu sobrenome é Donovan, irlandês. Dos dois lados. De parte de pai e de mãe. Sou irlandês. Você é alemão. Mas, o que nos torna americanos? Só uma coisa. Uma, uma, uma. O livro de regras. O chamam de Constituição. E concordamos com as regras. E é isso que nos torna americanos. Não me diga que não existe um livro de regras e não aja assim comigo seu filho da mãe”.
Hoffman: “Temos que nos preocupar com o Senhor?”
Donovan: “Não se me deixarem em paz para fazer o meu serviço!”
Bem caros leitores e caras leitoras, é isso.
Nós brasileiros somos o povo mais miscigenado do mundo. Temos inúmeras ascendências. Viemos da Europa, Ásia, América Latina, América Central, países do Oriente, enfim, de todos os lugares do mundo. Talvez de brasileiros natos, só os indígenas!
A questão é que, atualmente, apenas uma coisa nos torna verdadeiramente brasileiros: a Constituição Federal de 1988.
Essa é a única e verdadeira garantia de nossa nacionalidade. E todos os dias, todo santo dia, ela é desrespeitada, rasgada, vilipendia e esquecida.
E nós não fazemos absolutamente nada para protege-la, muito embora sempre a invoquemos quando nos sentimos acuados, desrespeitados e massacrados em nossos direitos.
Sinceramente, espero, agora, aos 41 anos de idade, começar a fazer alguma coisa.
Caso contrário, talvez não haja um Brasil a ser deixado para as futuras gerações.
Que todos nós, advogados ou não, possamos deixar florescer em nós, de agora em diante, o espírito de Stoic Mujic – Homens Persistentes.