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Dois discursos de Jean-Jacques Rousseau

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30/04/2006 às 00:00
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6. Conteúdo e função do estado de natureza. Interfaces da desigualdade

O estado de natureza pode estar representado em Jean-Jacques Rousseau como estágio histórico no desenvolvimento humano; como revelação de um estado primitivo da vida do homem, em que não lhe afligia qualquer mal. Pode-se afirmar, de outra parte, que o estado de natureza seja uma história imaginária, que tem igualmente função ética, na medida em que é usada para demonstrar a degradação da humanidade a partir do momento em que deixou de viver aquele estado para formar a sociedade civil. E, ainda, que os dois Discursos são constituídos de abstração situada no plano do pensamento, pensamento, ou seja, dotados de tradição racional, que revelam o estado de natureza e o progresso cultural como fatos históricos e como uma idéia reguladora ao mesmo tempo, com propósito de afirmação ética. Fatos prováveis, mas impregnados de finalidade ética.

Mas não há como omitir a marca de conteúdo anarquista dos Discursos, verdadeiros libelos contra o artificialismo da civilização, a sociedade civil e a desigualdade social.

Assim como está claro que Rousseau deixa emergir, com a procura do estado de natureza, a busca do paraíso perdido, distante no tempo e na possibilidade de realização, bem ao gosto dos desiludidos.


Referências bibliográficas

BOBBIO, Norberto e BOVERO, Michelangelo. Sociedade e Estado na filosofia política moderna, tradução de Carlos Nelson Coutinho, São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

CASSIRER, Ernst. A questão Jean-Jacques Rousseau, tradução de Erlon José Paschoal , Jézio Gutierre, São Paulo: Editora UNESP, 1999.

DUMONT, Louis. O Individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, tradução de Álvaro Cabral., Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

MORETTO, Fúlvia Maria Luiza. Nota a Os devaneios do caminhante solitário. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986.

RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Moderna, tradução de Brenno Silveria, São Paulo: Companhia Editora Nacional, vol. IV, 1969.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato social, in O Contrato Social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. As confissões, tradução de Wilson Lousada, Editora Tecnoprint S. A (Ediouro), s/d.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d.


Notas

  1. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato social, in O Contrato Social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d, p. 38.

  2. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Op. e loc. cit.

  3. RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental, tradução de Brenno Silveria, São Paulo: Companhia Editora Nacional, vol. IV, 1969, p. 230.

  4. DUMONT, Louis. O Individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, tradução de Álvaro Cabral., Rio de Janeiro: Rocco, 1995, p. 102.

  5. DUMONT, Louis. O Individualismo... cit., p. 102-103.

  6. RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental cit., p. 219.

  7. CASSIRER, Ernst. A questão Jean-Jacques Rousseau, tradução de Erlon José Paschoal , Jézio Gutierre, São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 76.

  8. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os devaneios do caminhante solitário, tradução de Fúlvia Maria Luiza Moretto Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986, p. 56-57. No texto original: "La vérite générale et abstraite est le plus précieux de tous les biens. Sans elle l’homme est aveugle; elle est l’oeil de raison, C’est par elle que l’homme apprend à as conduire, à être ce qu’il doi être, à faire ce qu’il doit faire, à tendre à sa véritable fin".

  9. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social cit., p. 38.

  10. CASSIRER, Ernst. A questão Jean-Jacques Rousseau cit., p. 54.

  11. CASSIRER, Ernst. Op. e loc. cit.

  12. CASSIRER, Ernst. A questão... cit., p. 64.

  13. LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural Dois, Jean Jacques Rousseau Fundador das Ciências do Homem, tradução de Tânia Jatobá, Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1993, p. 41. Trata-se de um discurso proferido pelo autor em Genebra nas comemorações do 250º aniversário de nascimento de Jean Jacques Rousseau, em 1962.

  14. BOBBIO, Norberto e BOVERO, Michelangelo. Sociedade e Estado na filosofia política moderna, tradução de Carlos Nelson Coutinho, São Paulo: Editora Brasiliense, 1986, p. 55.

  15. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social cit., p. 29-30.

  16. ROUSSEAU, Jean-Jacques. As confissões, tradução de Wilson Lousada, Editora Tecnoprint S. A (Ediouro), s/d., p. 232. A sugestão, na realidade, não parece ter vindo de Diderot. Salvo incompreensível equívoco de Rousseau, a idéia surgiu quando ele deu com a notícia do prêmio a caminho da prisão de Vincennes

  17. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d, p. 210/211.

  18. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências... cit., p. 212.

  19. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d, p.143.

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  20. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p.146.

  21. BOBBIO, Norberto. Sociedade e Estado... cit., p.56.

  22. RUSSEL, Bertrand. História... cit., p. 234-235.

  23. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 175.

  24. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 175.

  25. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 179.

  26. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 179.

  27. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 183.

  28. BOBBIO, Norberto, MATREUCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política, tradução Carmem C. Varriale [et al.]; corrdenação da tradução João Ferreira, revisão geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cascais, 7ª ed., Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1955, vol. I, p. 23 (verbete de Gian Mario Bravo).

  29. BOBBIO, Norberto, MATREUCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Op. e loc. cit.

  30. GROTHUYSEN, Bernard. J.-J. Rousseau, Paris: Éditions Gallimard, 1949, p.157 (grifo acrescido).

  31. GROTHUYSEN, Bernard, ob. cit., p. 164 (grifos acrescidos).

  32. GUMCIO, Rafael. Utopostas, anarquistas y rebeldes . Acesso em 28.11.2005.

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Sobre o autor
Márcio Flávio Salem Vidigal

juiz do Trabalho de Belo Horizonte (MG)

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

VIDIGAL, Márcio Flávio Salem. Dois discursos de Jean-Jacques Rousseau. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 11, n. 1033, 30 abr. 2006. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/8321. Acesso em: 24 nov. 2024.

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