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Othello, o mouro de Veneza

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08/12/2021 às 18:40
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Referências

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[1]  Violência doméstica ou familiar: quando o crime resulta da violência doméstica ou é praticado junto a ela, ou seja, quando o homicida é um familiar da vítima ou já manteve algum tipo de laço afetivo com ela. Esse tipo de feminicídio é o mais comum no Brasil, ao contrário de outros países da América Latina, em que a violência contra a mulher é praticada, comumente, por desconhecidos, geralmente com a presença de violência sexual.

[2] A tragédia traz temas muito atuais tais como racismo, amor, ciúme, traição e xenofobia. Traz Yago, como um vilão persuasivo e inteligente que enganou a todos, passando-se como íntegro, obediente e conselheiro. Já Desdêmona é a esposa fiel, casta e passiva que abandona seu pai Brabâncio para casar-se com Othello, secretamente.

[3] O Dicionário de Nomes, Termos e Conceitos Históricos, de Azevedo (1990) informa que mouros é nome pelo qual, de maneira geral, eram designados, na Península Ibérica, durante a Idade Média, os muçulmanos ali instalados: árabes, berberes e outros. O termo foi especialmente empregado com relação aos que viviam em território cristão por força da capitulação de cidades ou do cativeiro de guerra.

[4] O nome Yago, advém do latim Iacobus, que por sua vez é latinização de um nome hebreu Yaakov ou Jacó, que significa literalmente calcanhar. De fato, sabe-se que Jacó teria nascido segurando o calcanhar de seu irmão gêmeo, Esaú. Além destas versões, este nome também tem as variantes como Diogo e Jaime. É também um nome bíblico mencionado no Antigo Testamento, como sendo o filho de Isaac e Rebeca, que se tornou o pai dos doze fundadores das doze tribos de Israel.

[5] Rodrigo é outro personagem que através de suas ações, revela má índole, é amigo e confidente de Yago. Mas, o General Othello faz jus ao casamento com Desdêmona devido as suas boas qualidades que afirma ter. Nessa cena, o bardo protege o protagonista ao evitar imagens negativas, enquanto apresenta Yago como tão persuasivo quanto diabólico.

[6] Othello e o Chipre: o período histórico de que trata a peça data da invasão Turca ao Chipre, que está sob governo de Veneza (1489) e a utilizaram como centro comercial.

[7] O significado de Desdêmona é a que possui má sorte. Do grego, significa de má estrela, a que teme a Deus. Desdêmona é assassinada em seu quarto, em sua cama, sendo possível a leitura simbólica da própria violência contra a mulher.

[8] Emília, esposa de Rodrigo e aia de Desdêmona faz discurso feminista para sua senhora. E, afirma que as mulheres também têm sentimentos e sentem prazer da mesma forma que o sexo masculino. Assim, Emília a incentiva a deixar de ser submissa e não acatar todas as ordens de seu marido.

[9] Melville inicia a tradução de Othello, o Mouro de Veneza com o diálogo entre Rodrigo e Yago, oficiais da guarda de Veneza. O último se sente desprezado pelo general Othello que, ao escolher Miguel Cássio para o posto de tenente, provocou um profundo espírito diabólico na personagem. Dessa forma, Yago inicia o seu plano vingativo: eliminar o mouro e seu Miguel Cássio. Por sua vez, Othello se apaixona por Desdêmona e se casam secretamente sem o consentimento de Brabâncio, o pai da moça. Na noite da fuga, Iago começa o seu plano, acorda Brabâncio e avisa-lhe do roubo da filha.

[10] O significado do nome Othello é rico, poderoso e afortunado. Algumas fontes informam que o nome significado próspero, mas não há como comprovar. A origem do nome Othello é teutônica, sendo variação de Otílio, Oto. E, ainda há a maneira italiana de descrever Otto.

[11] A esposa de Othello, Desdêmona, tem relativamente poucas falas famosas. Sua frase mais famosa é a do ato I, cena III: "Meu nobre pai, percebo um dividido dever". É o início de um discurso que ela faz a seu pai, no qual ela diz que sua lealdade está dividida entre ele e seu marido. Ela está explicando que, mesmo que ela seja uma filha e obediente, ela não pode fazer o que seu pai quer, porque ela deve ainda mais obediência a Othello.

[12] É verdade que, na época de Shakespeare, qualquer pessoa mais morena era chamada de negra. Aparentemente, Othello nasceu na Mauritânia, sendo assim um "mouro", isto é, alguém de pele olivácea, sangue africano, melancólico e turvo. Só que a peça só funciona se Othello for negro de verdade. O filme em cartaz mostra um ator -Laurence Fishburne- que é negro mesmo, "beiçudo" como recomenda o texto de Shakespeare.

[13] Pouco importa se as "provas" que Iago apresenta do adultério de Desdêmona são fraquíssimas, quando o que vemos é o nascimento, a maturação e o rebentar da suspeita e do ciúme na alma de Othello. O espetáculo psicológico, o poder da dúvida, a corrosão de um caráter como o de Othello de certo modo independem dos motivos, dos fatos, das calúnias de Iago. Tudo se torna plausível, porque parece vir de dentro de Othello, não do bom senso do espectador.

[14] A Inglaterra do bardo ainda estava na transição entre a Idade Média e o Renascimento, e temos neste drama, uma vez mais, um campo de batalha entre as duas concepções do mundo. Iago é humanista ao extremo Vós, razão, sois minha deusa. pois para ele a humanidade é o que há de mais elevado na existência, e como tal a humanidade está limitada a razão e a natureza.

No humanismo renascentista o racionalismo no pensamento e o naturalismo nas artes caminham juntos a negação racionalista de tudo que é sobre-humano e sobrenatural. É isso que a personagem medieval Hamlet chama de filosofia Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que pode sonhar tua filosofia., e que o também medieval Vicêncio de Medida por Medida resume como a maldade de Bernardino, Homem! Dizem que tens uma lama teimosa que nada aprende além deste mundo.. Iago, o humanismo, é inimigo do homem.

[15] Othello é negro e mouro, ou seja, muçulmano, mas que adotou o cristianismo. Desdêmona, branca. Muitas vezes vai ser discutido se é verdadeiro o amor da branca pelo negro. Muitas vezes esse relacionamento vai ser chamado de monstruoso. O monstro é um dos elementos capitais da peça. O ciúme é um monstro, Othello é um monstro.  O demônio, da mesma forma, é frequentemente invocado.

[16] A construção retórica se dá com discurso de Yago chamando a atenção de todos para o contraste físico dos personagens, e através da imaginação, insinuar em suas ações que ele é capaz de perpetrar atos pecaminosos ou que contrariam o contexto europeu. Logo no início da peça teatral, Yago compara Othello aos animais.

[17] O amor é a única loucura de um sábio e a única sabedoria de um tolo. Mas, o amor é cego, por isso, enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, fantasia e amor. E só assim, sobreviverá alguma esperança.

[18] Na análise feita por Bloom considera quase toda a fortuna crítica a respeito da obra, da qual se utiliza para fundamentar suas análises; ora elogiando a peça, ora criticando-a de forma firme, mas sempre usando um estilo fluido e agradável. A ideia central foi resgatar a dignidade e a glória do Mouro, ou seja, repetindo os próprios termos do bardo.

[19] Primeiramente, deve-se alertar que não se confunde lealdade com fidelidade, quando se cogita de amor são pré-requisitos para todas as atividades sociais sem o custo de causar a falta de paz. É, ainda, notório que sem atributos e valores não há o que nos leve ao amor. O discurso de Yago é cuidadosamente elaborado e, refletir a arte do convencimento, pois sabe usar bem a linguagem e escolhe os momentos propícios para enganar a todos, e plantar a semente da desconfiança em Othello.

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A retórica foi, ao longo dos séculos, se transformando em sinônimo de recursos embelezadores dos diálogos, ganhando, por vezes, até certo tom pejorativo. Aristóteles trouxe à lume a obra "Arte retórica" que pode ser considerada uma espécie de síntese das visões que se acumulavam em torno dos estudos retóricos, assim como m guia dos modos de se fazer o texto persuasivo. Assim, a obra apresenta um corpo de normas e regras que visam explicar o que é como se faz e qual significado dos procedimentos persuasivos. Para Aristóteles, a retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão.

[20] Ao final, Othello fere Yago, mas não consegue matá-lo, e enterra um punhal em seu próprio peito. Cássio, como governador, ordena a tortura e execução de Yago.

[21] Othello é drama sobre autos morais, sobre reputação e sedução masculina e, de forma sutil sobre uma companhia teatral. A partir de todos esses fios, sua história de amor, em que Iago derrota o herói e a heroína é tensamente urdida. Os defeitos que existem na urdidura não são perceptíveis para plateia e a peça, escrita com imensa segurança e habilidade. Desdêmona é intimamente relacionada às mulheres de sua época.

Foi afetuosamente humanizada através de suas pequenas e desastrosas indiscrições, sua rebeldia para com Brabâncio e seu zeloso carinho pelo mouro, que nunca deixou de ser uma personagem meio opaca.

[22] Em Othello fazem-se emergir os riscos ligados a um amor que agita os seus limites étnicos e se aventura no contato com um mundo diferente do seu. O Mouro de Veneza foi uma história inspirada na já conhecida novela de Giraldi Cinthio (1504-1573), novelista e poeta italiano e levada a cena pela primeira vez em 1 de novembro de 1604.

[23] George Gordon Byron (1788- 1924), conhecido como Lord Byron foi poeta inglês e uma das mais relevantes e influentes figuras do romantismo. Há seus extensos poemas narrativos como Don Juan, A peregrinação de Childe Harold e She Walks in Beauty. Foi tanto festejado como criticado em vida por seus excessos aristocráticos, e até por conta de boatos de sua escandalosa relação amorosa com sua meia-irmã.

[24]  Salienta Sartori que mesmo a mulher obtendo maior liberdade, ainda era motivo de preocupação à sociedade patriarcal. E, pouco antes dessa época, ocorreu a Reforma Protestante, que trouxe grandes mudanças para a sociedade inglesa.

O bardo considerado como escritor atemporal soube bem representar os problemas da alma humana, e sua obra é contemporânea. A importância da figura feminina nas peças de Shakespeare é enorme, e se sustentou por uma postura relativista, que define o sujeito como sendo fruto não apenas de fatores biológicos e psicológicos, mas igualmente, de determinações culturais e históricas.

[25] A palavra feminicídio ganhou destaque no Brasil a partir de 2015, quando foi aprovada a Lei Federal 13.104/15, popularmente conhecida como a Lei do Feminicídio. Isso porque ela criminaliza o feminicídio, que é o assassinato de mulheres cometido em razão do gênero, ou seja, a vítima é morta por ser mulher. O feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatores que também podem envolver violência sexual) ou em decorrência de violência doméstica. A lei 13.104/15, mais conhecida como Lei do Feminicídio, alterou o Código Penal brasileiro, incluindo como qualificador do crime de homicídio o feminicídio.

[26] Othello e Desdêmona, metaforicamente, representam a alma e o espírito. E, Yago era o diabo que tudo fará para arruinar o amor e o matrimônio, contrapondo-se à união do céu e da terra que é a única forma possível de se obter a realização humana. E, Yago interpõe a razão, e é capaz de convencer a terra de que o céu não existe, portanto, não existe essa subordinação.  Yago traduz um mundo conforme Marcuse, Freud, Marx e Foucault o definiram.

[27] O ciúme patológico e delirante também conhecido como Síndrome de Othello onde há ideias prevalentes ou sobrevaloradas e são prevalentes sobre outros pensamentos e de grande relevância afetiva para o indivíduo que as produz. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos Mentais é DSM-IV-TR,2002, o Transtorno Delirante Paranoico do tipo ciumento.

[28] A loucura interessa para o Direito, na - medida em que ela é elemento determinante para a capacidade. Capacidade para praticar atos da vida civil. Atos que fazem fatos, que fazem contratos, que fazem negócios... que expressam VONTADE. Vontade dentro dos limites de uma razão. Razão razoável e com razoabilidade. E qual o limite desta razão? Os atos jurídicos são determinados essencialmente pela vontade e esta por sua vez por fatores de ordem psíquica.

É neste sentido a afirmação de Del Vecchio: "É ainda preciso conhecer a natureza dos processos psíquicos, da atividade do espírito, para compreender a origem do Direito... O Direito desenvolve-se inteiramente na ordem dos fatos psíquicos.". (In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Todo gênero de louco uma questão de capacidade. Disponível em: https://www.direitodefamilia.adv.br/2020/wp-content/uploads/2020/07/rodrigo-da-cunha-pereira-todo-genero-de-louco.pdf Acesso em 20.11.2021).

[29] A medida de segurança compreende as internações, seja em hospital e tratamento psiquiátrico, bem como tratamento ambulatorial, conforme artigo 96 do Código Penal: As medidas de segurança são: I) internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II) sujeição a tratamento ambulatorial.

[30] QUEM SÃO OS INIMPUTÁVEIS? Os doentes mentais ou os que possuem o desenvolvimento mental incompleto ou retardado, e que no momento do delito, se encontravam em estado incapaz de compreender a ilicitude do ato; Os menores de 18 anos; Os que cometeram crime em estado de embriaguez completa, desde que seja proveniente de caso fortuito ou força maior; Os maiores de setenta anos, que possuem benefícios para cumprir a pena tendo em vista a idade avançada.

[31] Transtornos mentais são alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, social, pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter prazer na vida em geral. Isto significa que os transtornos mentais não deixam nenhum aspecto da condição humana intocado.

[32]  Não podemos todos ser mestre, nem todos os mestres podem ser lealmente seguidos.

[33] Othello representa um dilema sociopolítico, um mouro heroico no comando das forças armadas de Veneza, tão sofisticada em sua decadência. Há um combinado mercenarismo e romance Em Othello há uma simplicidade heroica é também, uma cegueira heroica. Tal característica faz parte do herói ideal da metáfora de Shakespeare.  Se Desdêmona se apaixona pelo guerreiro em Othello, e este pelo sentimento que ela alimenta por ele, o casamento não altera a natureza de Othello, embora altere seu relacionamento com Veneza, tornando-o, mais do que nunca, um intruso.

[34] Na história ocidental, o heliocentrismo é uma importante doutrina que impactou a forma de pensar sobre o lugar da humanidade no universo.  Assim, ela fez oposição com as ideias também da Igreja Católica no século XVI.  Os principais conceitos de Copérnico apontavam a Terra girando em torno de si própria como um dos seis planetas conhecidos orbitando o Sol. A ordem dos planetas era a seguinte: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno (somente mais tarde foram descobertos Urano, Netuno e Plutão).

O estudioso ainda determinou as distâncias dos planetas ao Sol. Copérnico também deduziu que a velocidade orbital dos planetas é proporcional à distância do Sul. Os estudos de Copérnico foram considerados uma subversão e refutados pela Igreja Católica, que colocaram sua obra - Revolutionibus Orbium Coelestium Das Revolução dos Corpos Celestes na lista dos livros proibidos pela Santa Inquisição.

[35] A peça Othello, o Mouro de Veneza ao enfatizar as controvérsias geradas pelo confronto entre culturas, raças, ideologias, gêneros, entre o público e o privado, entre colonizadores e colonizados, veio evidenciar de forma contundente a experiência diaspórica da humanidade, o que veio a ser tornar a condição arquetípica da modernidade. Promove a boa análise da relação entre discurso e o poder.

[36] É significativa a maneira como na sua última fala Othello faz questão de demonstrar como encara seus atos na trama e que se preocupa que relatem a sua história tal como a interpreta; claramente ele se incomoda pelo modo como seus atos serão vistos pela posteridade: Suplico aos senhores que, em suas cartas, quando relatarem esses atos infelizes, falem de mim como sou. Que nada fique atenuado, mas que se esclareça também que em nada houve dolo. Depois os senhores devem mencionar este que amou demais, com sabedoria de menos; este que não se deixava levar por sentimentos de ciúme, mas, deixando-se levar por artimanhas alheias, chegou aos extremos de uma mente desordenada. (SHAKESPEARE, 2003, p. 396).

[37] A imagem de Othello mostra um grande guerreiro, líder e soberbo, porém, perde seu autocontrole. Ao saber de suposta traição de sua esposa. O ciúme aflora doentio. Othello sente tanto ciúme que se revela como monstro à espreita de sua presa. Enquanto Desdêmona transborda de amor por aquilo que destruirá sua vida.

[38] Entre Yago e Othello. A peça Othello nos conduz a um modo de interpretação que será ampliado pela criação de novos personagens de grande densidade psicológica nas obras shakespearianas apresentadas aqui, onde, por vezes, a alternância de papéis, leva-nos a uma surpresa, que, por sua vez, conduz-nos a um entendimento mais imaginativo.

[39] A ópera Otello de Giuseppe Verdi é considerada trabalho agradável com base na obra de Shakespeare. Para muitos tenores, o papel de Otello é a suprema coroação de sua carreira.

[40] Em nenhuma outra tragédia Shakespeare foi tão cuidadoso, como em Othello, ao caracterizar o protagonista como uma pessoa nobre e respeitada. A desonestidade e a capacidade de intriga de Iago, como também o propósito do alferes em retratar Othello da forma mais desfavorável possível, têm o poder de ressaltar, ainda mais, a alta categoria de Othello (SHAKESPEARE,1999). Torna-se claro na peça que Othello é considerado indispensável pelo governo veneziano por sua destreza e habilidade na guerra.

E, também, torna-se claro que é por esse motivo, que os venezianos o toleram, que toleram o seu casamento com Desdêmona. Tal como já foi mencionado anteriormente, há um descompasso entre o reconhecimento de Othello como o grande general e de seu reconhecimento como um cidadão, ou seja, existe um conflito evidente na peça entre os interesses do estado e os interesses do indivíduo.

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Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

LEITE, Gisele. Othello, o mouro de Veneza. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 26, n. 6734, 8 dez. 2021. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/95038. Acesso em: 10 mai. 2024.

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