8. TEORIA DA ARMAÇÃO DA MÍDIA E DA POLÍCIA
Nessa segunda teoria, a sustentação é criada por apoiadores do PT. De acordo com esses apoiadores, o material de campanha e a agenda com os números de líderes petistas foi uma armação da polícia. Pois, segundo eles, os policiais plantaram o material no cativeiro e obrigaram os sequestradores a vestirem as camisetas do PT, para que a imprensa tirasse as fotos. E, que esses atos foram praticados com o fim de prejudicar Lula, uma vez que as eleições estavam se encerrando na data em que o material foi encontrado.
Perante essa situação, os petistas e militantes acusaram a rede Globo, pela manipulação midiática, afirmando ainda, que o então adversário de Lula, Fernando Collor, era apoiado pelas organizações Globo e de seu proprietário, Roberto Marinho.
Contudo, o diretor do Departamento de Homicídio da Polícia Civil de São Paulo, Gilberto Cunha, nega todas as acusações.
Com o passar dos anos, o ex-presidente Lula foi preso, pela prática de ilicitudes, atinentes ao triplex no Guarujá, oportunidade em que a parlamentar e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, relacionou a atuação do Poder Judiciário contra o Lula, com a cobertura da mídia dada ao sequestro de Abílio Diniz, alegando que ambos fatos são armações para prejudicar o PT.
Na época, surgiu a hipótese de que os sequestradores espalharam material de propaganda petista no imóvel, pois, no caso de suas prisões, haveria benefícios com as penas mais brandas, uma vez que a lei assim concede, quando os crimes têm motivações políticas.
9. CONDENAÇÕES DOS SEQUESTRADORES
Com as condenações dos 10 sequestradores comunistas, as penas de 26 e 28 anos de prisão pelo sequestro, os políticos Eduardo Suplicy, Lula da Silva e outros líderes petistas, iniciaram uma verdadeira cruzada internacional, em prol da liberdade dos sequestradores, promovendo visitas e pressionando o governo de Fernando Henrique, para libertar os criminosos.
Nesse período de cumprimento da pena, os sequestradores entraram em greve de fome por duas vezes em seus cárceres, exigindo que o governo brasileiro extraditasse os 9 estrangeiros do grupo criminoso, para seus países de origem, afirmando que: "Nosso movimento não cessará até os companheiros canadenses terem sido transferidos para seu país; os argentinos e chilenos expulsos do Brasil devem ser indultados. [...] Se necessário, pagaremos com nossas vidas".
Destarte, graças a um acordo entre o Brasil e o Canadá, com troca de presos, aprovado pelo Congresso Nacional, os presos David Spencer e Christine Lamont foram extraditados para o Canadá, após a campanha apoiada pelo PT e, especialmente, por Lula da Silva, o outros estrangeiros comunistas foram mandados de volta para seus países, enquanto que o único brasileiro do grupo criminoso, Raimundo Rosélio da Costa Freire, foi indultado pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
10. LIBERTAÇÃO DOS SEQUESTRADORES
No que diz respeito aos dois sequestradores canadenses do empresário Abílio Diniz, possivelmente ganharão liberdades condicional, a partir do momento em que forem transferidos para o Canadá. No Brasil eles permaneceram presos por 8 anos e 3 meses.
De acordo com o governo canadense, os sequestradores, Christine Lamont e David Spencer, obterão o direito à liberdade condicional, uma vez que já cumpriram certa parte da pena imposta de 28 anos e que apresentaram bom comportamento carcerário.
O governo canadense se manifestou advertindo, para que os presos suspendam a greve de fome, uma vez que a conduta do casal poderá comprometer as difíceis negociações relativas as suas transferências do Brasil para o Canadá.
No pertinente ao acordo entre os dois países, naquela oportunidade, aguardava a assinatura do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, uma vez que a assinatura do tratado ainda não havia sido publicada no DOU.
A estratégia dos presos foi de permanecer em greve de fome, na expectativa de ser expulso no Brasil, uma vez que essa alternativa garantiria a liberdade automática, sem haver a necessidade de ingressar com o pedido de progressão da pena, para o regime semiaberto. Porém, estariam impedidos de retornar ao Brasil, mesmo com a desobrigação de cumprir o restante da sanção imposta pela sentença condenatória.
No que diz respeito a possibilidade de expulsão dos estrangeiros sequestradores de Abílio Diniz, já havia sido descartada pelo governo brasileiro, uma vez que a legislação brasileira só admite expulsar os estrangeiros que já cumpriram pena ou doentes terminais de Aids. Ademais, o governo canadense não endossa o pedido de expulsão requerido pelos sequestradores, além de discordar da alegação de que os canadenses sejam prisioneiros políticos.
Com relação ao acordo de transferência entre Brasil e o Canadá, já havia sido negociado desde julho de 1992 e aprovado pelo Congresso Nacional em agosto de 1993. Ressalte-se que a partir da gestão do presidente Itamar Franco, o acordo dependia exclusivamente da assinatura do presidente.
Porquanto, a transferência para Christine Lamont e David Spencer, significará a substituição da pena de 19 anos e 9 meses de prisão, que ainda teriam que cumprir no Brasil, pela liberdade condicional, uma vez que, no Brasil a condição de estrangeiro não permite a liberdade condicional, tampouco o cumprimento da pena em regime aberto ou semiaberto. Contudo, no Canadá ambos criminosos poderão obter esses benefícios.
De acordo com uma nota expedida pela Embaixada do Canadá em Brasília, basta o casal requerer a liberdade condicional a um conselho subordinado ao Ministério da Justiça do Canadá, para a concessão. Assim sendo, o acordo do Brasil com o Canadá poder beneficiar outros 10 canadenses que cumprem pena no Brasil, segundo o Ministério da Justiça.
Com relação ao governo do chile, este defende a expulsão dos 5 chilenos presos pelo sequestro de Abílio Diniz. Contudo, os demais 7 sequestradores chilenos e argentino deverão aguardar a negociação de acordos semelhantes de transferências para seus países.
Vale ressaltar que, em uma carta aberta distribuída, naquela oportunidade, o deputado federal, Jair Bolsonaro (PPB-RJ), fez crítica ao secretário nacional dos Direitos Humanos, José Gregori, pelo cumprimento do tratado.
11. PRISÃO EM FLAGRANTE DE SEQUESTRADOR
Na data de 22/09/2004, Agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Superintendência da Polícia Federal do Ceará, prendeu em flagrante delito o professor de História, Raimundo Rosélio Costa Freire, juntamente com o professor, José Helton Cunha, em um sítio na praia de Barro Preto, no município de Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza (CE). No ato das prisões, foram encontrados em poder dos acusados em torno de 10 quilos de cocaína.
Diante da prisão em flagrante, Raimundo Rosélio foi condenado a 17 anos de prisão, mas estava em liberdade condicional. Ressalte-se que o nominado é o cearense que participou do sequestro do empresário Abílio Diniz, fato ocorrido em dezembro de 1989.
No pertinente ao sequestro de Abílio Diniz, como já mencionado alhures, ocorreu no dia 11/12/1989, oportunidade em que os familiares do empresário passaram a conviver com momentos de aflição, quando o ex-ministro Carlos Bresser Pereira, amigo pessoal do empresário, encarregou-se das negociações com os sequestradores, quando passaram a exigir o resgate no valor de US$ 30 milhões de dólares. Contudo, o sequestro chegou ao fim no dia 17/12/1989, quando a polícia civil de São Paulo localizou o cativeiro de Abílio Diniz, em um sobrado no bairro do Jabaquara.
Quanto aos envolvimentos dos sequestradores do empresário, segundo levantamentos, são militantes de duas organizações guerrilheiras, as Forças Populares de Libertação de El Salvador (FPLS), uma das 5 organizações integrantes da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FFMNL), e o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) do Chile.
Como já mencionado acima, o grupo sequestrador era formado por 5 chilenos, dois canadenses, dois argentinos e um brasileiro, exatamente o cearense Raimundo Rosélio Costa Freire. No julgamento da primeira instância, o grupo foi condenado as penas previstas de 8 e 15 anos de prisão. Contudo, a Promotoria de Justiça recorreu da sentença e o Tribunal de Justiça agravou a pena. Ressalte-se, porém, que o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), somente assumiu a responsabilidade pelo sequestro em 1966.
No ano de 1998, os sequestradores quando cumpriam a pena, deram início a uma greve de fome, que perduraria por 46 dias.
Na data de 16/01/1999, o cearense Raimundo Rosélio foi transferido para o Estado do Ceará, para dar cumprimento ao restante da pena, mas em abril de 1999 foi beneficiado com a liberdade condicional.
12. ENTREVISTA DE ABÍLIO DINIZ SOBRE O SEQUESTRO
N a data de 24/09/2021, o empresário Abílio Diniz concedeu uma entrevista ao Podcast Flow , detalhando o seu sequestro em dezembro de 1989, afirmando que tinha a certeza de que iria morrer, quando foi conduzido ao cativeiro e lá permanecendo por 6 dias em São Paulo.
Em seguida, passou a descrever o local do cativeiro, onde permaneceu a maior parte do tempo, em um ambiente sufocante, passando a avaliar que não iria conseguir sobreviver por muito tempo, conforme descrição seguinte: "Me colocaram nessa casa do Jabaquara [bairro de São Paulo] e tinha um buraco nesta casa, tipo um porão, e uma escadinha. E dentro deste porão eles construíram uma caixa, um caixote grande, e levaram para baixo, e me puseram dentro do caixote, um caixote grande, contou. Segundo ele, o artefato era bem feito e tinha uma fechadura por fora. Fizeram um buraco em cima, puseram um cano e um ventilador do lado Abílio Diniz ainda contou que não conseguia ficar totalmente de pé e se esforçava para pegar mais ar. Tinha certeza que iria morrer, já sentia de cara. Para poder respirar melhor eu tinha que me levantar não dava para ficar em pé -, encostar o nariz lá no cano e puxar o ar".
E, prosseguiu a narrativa, afirmando que o ambiente era inóspito, e ainda tinha um dispositivo de luz e de som, que aumentavam a sensação de desconforto, dizendo que, Puseram um controle de luz, às vezes deixavam tudo escuro, às vezes mais claro, às vezes tudo claro. E música alta, era para me deixar meio enlouquecido".
O empresário esclareceu que, a sua agonia aumentava, diante de uma história recente de amigo seu, que também havia sido sequestrado e permanecido por 63 dias em cativeiro, menos sufocante, em uma barraca ao ar livre. Afirmou, ainda, que não enxergava possibilidade de fuga, em face dos cuidados mantidos pelos sequestradores. E, assim pensava que não iria aguentar ficar 63 dias, como seu amigo ficou e que não sabia o que deveria acontecer naquela altura, aí pensava: Vou morrer, mas não sei como. Se iria atacar o cara que entra aqui para falar comigo ou se iria morrer de inanição. Não sabia o que iria acontecer. O empresário também via sua chance reduzida, com relação ao pagamento do resgate, diminuindo assim a sua esperança. Então, os sequestradores pediram US$ 30 milhões de dólares para libertá-lo.
Dando continuidade ao seu relato, o empresário afirmou que, "Tinham seis comigo na casa e quatro no apartamento, inclusive o líder. Convenceram o líder a levá-los [os policiais] até a casa do cativeiro, mas quando chegou nela ele disse que se entrasse sozinho, iriam me matar, porque eles tinham ordem de matar se acontecesse qualquer coisa", disse. "E deixaram o cara entrar. Ele entrou e correu para dentro da casa, se trancou, chamou a turma, me tirou do buraco e me fez de escudo".
E, continuou:
que sentiu um alívio momentâneo, quando me levaram para cima, o máximo que podia acontecer era levar um tiro. Sei que vou morrer, sei como vai ser.
Finalmente, o empresário Diniz foi libertado na tarde de domingo, afirmando que, Eu saí [do cativeiro] e de início estava bem tranquilo. Depois de 20 dias começou a bater um negócio meio complicado, comecei a escutar uns barulhos estranhos. E procurei uma terapeuta para cuidar um pouco da cabeça. E foi bom, hoje falo disso com maior tranquilidade, sem maiores problemas", disse. "Foi traumático. A gente na vida cresce mais no sofrimento e na tristeza do que na alegria. Quando você passa por isso, você cresce ou perece, ou afunda ou cresce. Eu acho que saí maior. Esse alívio que vocês veem hoje, não foi sempre assim, teve épocas que nem eu gostava de mim".
13. LULA INTERCEDEU NA LIBERDADE DE TERRORISTAS
Na data de 17/06/2022, o ex-presidente e pré-candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que à época dos acontecimentos, haver procurado o senador licenciado, Renan Calheiros (MDB) e o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), para libertar os sequestradores do empresário Abílio Diniz da prisão.
Em plena campanha na capital Maceió (AL), o pré-candidato Lula da Silva, afirmou que, Esses jovens, que tinham argentinos, tinha gente da América Latina, ficaram presos 10 anos. Teve um momento que eu fui conversar com Fernando Henrique Cardoso, porque eles estavam em greve de fome e iam entrar em greve seca, (ficar sem comer e beber). A morte seria certa. Aí então eu fui procurar o ministro da Justiça chamado Renan Calheiros, quando foi orientado para conversar com o FHC e disse ter toda a disposição de mandar soltar o pessoal.
Segundo relato do ex-presidente Lula da Silva, disse haver argumentado com o FHC que, soltando os presos, ele teria a chance de passar para a História como um democrata. Por outro lado, havia a possibilidade de ser lembrado como um presidente que permitiu que 10 jovens que cometeram um erro, morram na cadeia, algo que não vai apagar nunca.
De acordo com Lula da Silva, o então presidente da República, Fernando Henrique, respondeu que iria libertar os presos, caso Lula convencesse os presos a acabar com a greve de fome. Em ato contínuo, Lula afirmou que, E eu fui na cadeia no dia 31 de dezembro conversar com os meninos e falar que, Olha, vocês vão ter de dar a palavra para mim, vocês vão ter de garantir para mim, que vão acabar com a greve de fome agora e vocês serão soltos, disse Lula.
E, continuou:
Eles respeitaram a proposta, pararam a greve de fome e foram soltos. Eu não sei aonde que eles estão agora.
Assim sendo, no início do ano de 1999, todos os estrangeiros envolvidos no sequestro de Abílio Diniz, que permaneciam presos, foram extraditados e o brasileiro indultado.