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A importância do senso comum, da religião, da ciência e da filosofia.

Uma brevíssima discussão sobre a teoria do conhecimento

A importância do senso comum, da religião, da ciência e da filosofia. Uma brevíssima discussão sobre a teoria do conhecimento

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Uma breve divagação sobre as fases do conhecimento humano.

A epistemologia, mais popularizada como teoria do conhecimento, dedica grande parte de sua preocupação acadêmica com as categorias do conhecimento humano, que pode ser dividido em quatro itens: senso comum ou conhecimento vulgar, o teológico, o científico e o filosófico.

O conhecimento pautado no senso comum, por mais prosaico e paradoxal que ele seja, é, deveras, relevante para o desenvolvimento cultural, científico e social, embora seja oriundo, muitas vezes, de boatos, superstições, tradições, costumes e preconceitos arraigados, dado que têm o mérito de fazer surgir a dúvida, o questionamento, o espanto, o incômodo e a inquietação, que, via de regra, dão o "start" para desencadear todo o processo cognitivo. O senso comum é tributário e fruto da intuição e do imaginário coletivo, ou seja, trata-se de conhecimento realizado pela observação, não raro, despropositada e desinteressada dos fenômenos que nos circundam. A Mitologia Grega, grosso modo, é pródiga nesse sentido, sendo exemplo plausível da manifestação do senso comum, pois tentava explicar a realidade, a natureza, a vida e a morte mediante a narrativa de personagens míticos criados pela tradição popular.

O conhecimento teológico, a seu turno, tem por objeto a fé, a crença e o dogmatismo, principalmente no fato de que a criação do mundo, dos seres animados e inanimados que o habitam e do homem é obra de um ser divino, espiritual, sobrenatural, transcendente, metafísico e soberano que habita um plano superior da nossa existência, para o qual o conhecimento científico e filosófico não encontraria explicação mediante a demonstração racional e metódica comprovando a existência e o poder desse ser inefável. Fé e razão, crença e conhecimento, atuariam em planos completamente definidos pelo objeto a que suas atividades se sujeitam.

Já o conhecimento científico, além de possuir princípios, métodos e objetos próprios, específicos e determinados, utilizando-se da razão para fundamentar suas teses e conceitos, tem caráter eminentemente instrumental, provisório e transitório no manejo das ideias e das teorias. Aqui, como na Filosofia, a dialética e o contraponto são elementos importantíssimos para o desenvolvimento científico. Em ciência, o dogmatismo e a aceitação de verdades absolutas adulteram-lhe a essência, contaminando o processo cognitivo, de modo que torna, às vezes, uma determinada teoria em doutrina religiosa, descaracterizando-o como ciência. Voltando à noção de instrumentalidade, o conhecimento científico não importa um fim em si mesmo, mas serve de meio para se atingir certos objetivos: seja para melhorar a saúde das pessoas, para aumentar a produtividade no campo e na cidade, para otimizar os modais de transporte e os meios de comunicação, para organizar a sociedade de forma mais justa, ou para preservar o meio ambiente.

Por fim, temos o conhecimento filosófico que, apesar de recorrer sistematicamente à razão como acontece com o conhecimento científico, dele se distingue por não ser um conhecimento instrumental. Na verdade, o conhecimento filosófico consiste no fato de ser um conhecimento em si e ter por objeto temas dos mais variados matizes. Nesse contexto, a ética, a moral, a justiça, o belo, o bom, a lógica, o próprio conhecimento (epistemologia) etc. podem ser submetidos ao crivo filosófico. Ortega e Gasset, filósofo espanhol do século XIX e XX, jocosamente, discutindo a utilidade da Filosofia, dizia que ela era uma coisa com a qual e sem a qual o mundo continua tal e qual. No fundo, queria ele instigar o debate, por conta de, aparentemente, a Filosofia ter um certo distanciamento da realidade, do mundo e da concretude da vida. Mas o fato é que, em última análise, ela se preocupa com tudo que diga respeito à natureza humana, pelo que busca aperfeiçoar a convivência do homem consigo mesmo, com seu semelhante, com a sociedade e com o mundo.

Portanto, o conhecimento filosófico, dentro da gradação proposta, encerra uma discussão mais apurada e requintada sobre os assuntos que afligem o homem sob o ponto de vista racional, tendo em vista a abrangência com que aborda e expõe as grandes questões da humanidade.


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