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A leitura e a linguagem e seu uso contemporâneo como instrumentalização para o poder

A leitura e a linguagem e seu uso contemporâneo como instrumentalização para o poder

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A linguagem surge na capacidade cognitiva do homem para atender suas necessidades básicas de comunicação e para desenvolvimento de atividades que possibilitassem sua subsistência na terra. Uma delas passou a ser sua sobreposição aos demais.

O homem é um ser complexo, no sentido de multifacetado, e adquiriu durante toda a vida características diversas dos demais animais existentes na terra. Dentre tantas distinções poder-se-ia dizer que o homem adquiriu o poder da linguagem. Ou seria a linguagem ter adquirido o poder? Atentaremos para isso um pouco mais adiante.

O ser humano construiu, e continua construindo, vários tipos de linguagem que lhe permitem pensar as inúmeras facetas da realidade e, também, se expressar e se comunicar com seus semelhantes. Temos a linguagem matemática, as de computador, as línguas diversas, as linguagens artísticas (arquitetônica, musical, pictórica, escultórica, teatral, cinematográfica) e as gestuais, da moda, espaciais e outras. Modernamente, poderíamos dizer que os avanços da tecnologia nos abrigam a adotar as linguagens já existentes e a criar outras, mais adequadas às necessidades da contemporaneidade.

Assim, para compreender qualquer tipo de linguagem temos, implicitamente, a necessidade de fazermos uma leitura. A leitura surge em nosso dia-a-dia como uma ação básica do homem no universo. De tudo que vislumbramos, que olhamos naturalmente e, às vezes, involuntariamente, fazemos uma leitura. Quando abrimos um jornal, quando vimos uma briga de rua, quando olhamos um desenho, uma obra de arte, ao ouvirmos uma música, de todos esses exemplos, cada ser humano, além de uma leitura metódica e didática, fazemos uma leitura – interpretação – crítica. Essa leitura é que nos caracteriza como ser pensante. Modificante e crítico da sociedade vigente.

No campo dessa leitura subjetiva – que cada ser humano emprega suas convicções, experiências e, em geral, visões de mundo é que se cria uma indiscutível e estreita relação entre linguagem e poder.

O poder aparece como uma ânsia do homem. O poder é justamente uma força exercida sobre os demais homens.

O que precisamos colocar aqui é a importância da leitura como instrumento primeiro para qualquer promoção intelectual e social. Para conseguirmos uma linguagem e com ela o poder, temos prementemente a ação da leitura.

A leitura, destarte, oferece ao homem a possibilidade de conhecer o que ficou registrado há milênios de anos, por exemplo, dá ao homem a possibilidade de olhar um desenho rupestre e, a partir dele, conhecer hábitos de seres que viviam em condições absolutamente diferentes das quais nos encontramos hoje.

O homem, no ambiente moderno em que se encontra, tem a urgente necessidade da leitura, esta surge, teleologicamente falando, como o objeto base para qualquer formação intelectual, profissional e até mesmo social.

O ser humano, sem que perceba, está rodeado pelo mundo da leitura. A criança, desde cedo, faz a leitura do mundo que a rodeia, sem ao menos conhecer palavras, frases ou expressões, pois é próprio do ser humano desejar o conhecer, decifrar a curiosidade, de modo a refletir novos conhecimentos. Assim, o processo de leitura e escrita inicia-se antes da escolarização. A criança o adquire no âmbito familiar e em seu convívio no meio social o interesse pelo ato de ler e de escrever.

A educação é um meio eficaz no desenvolvimento da cidadania, desperta o indivíduo para as reflexões sobre o seu meio, criando um sujeito ativo e participante dentre todas as relações por ele vivenciadas. A leitura, por sua vez, é o eixo central no desenvolvimento desse indivíduo, pois com sua prática adquirem-se novos conhecimentos e percebe-se o mundo ao seu redor.


O QUE É LEITURA?

Saber ler, lá nos tempos gregos e romanos, já era considerado como possuir as bases de uma adequação ao convívio social, as bases de uma educação, uma educação para a vida. Era tida não apenas como uma preparação intelectual, mas como desenvolvimento físico, permitindo ao cidadão integrar-se na sociedade, no caso dos homens livres. Vale uma ressalva fazermos uma relação de liberdade e leitura. É comum nas famílias em que o saber dos pais é ou foi restrito, ouvirmos a seguinte afirmação para com os filhos, que de “é preciso estudar para ser alguém na vida”, “O homem é o que sabe”, “conhecimento é a única coisa que levamos para o túmulo”, dentre outros clichês frasais costumeiros.

Nessas perspectivas simplória, temos o respaldo da eminente professora Maria Helena Martins, que faz suas considerações, ainda que breves no nosso trabalho, eis o excerto:

Se o conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da escrita, sua aprendizagem, no entanto, liga-se por tradição ao processo de formação global do indivíduo, à sua capacitação para o convívio e atuações social, política, econômica e cultural.[...] (2007, p. 22)

Em termos etimológicos, leitura significa a ação de ler algo. É o hábito de ler. A palavra deriva do Latim "lectura", originalmente com o significado de "eleição, escolha, leitura". Também se designa por leitura a obra ou o texto que se lê.A leitura é a forma como se interpreta um conjunto de informações (presentes em um livro, uma notícia de jornal, etc.) ou um determinado acontecimento. É uma interpretação pessoal.

Maria Helena Martins coloca, que das inúmeras concepções vigentes sobre leitura, grosso modo, podem ser sintetizadas, ainda segundo a autora, em duas características:

  1. Como decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva bahaviorista-skinneriana);
  2. Como processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicas, neurológicas, tanto quanto culturais, econômicos e políticos (perpectiva cognitivo-sociológica). (2007, p. 31)

Diante de tantos conceitos, pareceres, propostas das mais diversas, sucintas e exploratórias que existam sobre “o que é leitura?”, todos nós chegaremos a uma resposta diferente e, nessa resposta, já estão nossas interpretações, nossa pessoalidade de leitura e nossa subjetividade sobre o tema. Isso porque estamos tratando de uma experiência individual, cujos limites não estão demarcados por qualquer barreira que seja, seja ela temporal, cultural, racial ou até mesmo intelectual.


COMUNICAÇÃO SOCIAL E A LEITURA

A leitura assume, no âmbito da comunicação social, uma dimensão bem mais ampla que a decifração da escrita. Não obstante, esta constitua uma das suas modalidades fundamentais, determinando, inclusive, o comportamento linguístico do público receptor dos veículos eletrônicos em sociedades letradas altamente desenvolvidas, a verdade é que a riqueza dos processos de comunicação humana pressupõe o uso de um simbolismo vasto e diferenciado que ultrapassa o universo alfabético do texto escrito.

Toda experiência comunicacional, por mais elementar que seja, estriba-se no binômio emissão-recepção da mensagem. O cerne desse processo está na configuração daquele “campo de experiência comum” que torna factível a interação social possibilitando o diálogo entre pessoas ou viabilizando a aquisição de informações por grupos ou coletividades.

Logo, a preocupação com a leitura, principalmente nos processos de comunicação de massa, origina-se na emissão. Só poderá ser lido o que for legível. Ou melhor, somente se completará a experiência comunicativa se a mensagem a ser emitida contiver ingredientes simbólicos e culturais capazes de suscitar a atenção do receptor potencial e conduzi-lo à sua leitura ( apresentação e compreensão). Nesse sentido, a elaboração da mensagem não pode prescindir do conhecimento antecipado dos elementos que determinam ou potencializam a leitura. Do contrário, a atividade codificadora corre o risco de não encontrar a correspondência pretendida e esperada junto ao receptor.

É indiscutível a importância de programas para capacitar leitores críticos da comunicação, sobretudo em sociedades como a nossa, onde o exercício da cidadania é incipiente e onde a formação escolar não privilegia o pluralismo das ideias, forjando indivíduos que nem sempre demonstraram apetência e competência para protagonizar a vida democrática. Contudo, algumas iniciativas correm o risco de se tornar inócuas ou contraproducentes, quando não se estribam em postulados pedagógicos centrados na questão da leitura e se alicerçam em preconceitos sobre a indústria cultural, agravados por matrizes políticos-idealistas, que acabam por transformar em ficcionismo a ação educativa que se propunha criticizante.

Nesse sentido, a leitura crítica da comunicação adquire a dimensão da inovatividade, da criatividade, servindo de ancoragem para uma ação político-cultural de vanguarda por parte do público leitor.


A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM

Sabemos que a linguagem é um produto bastante sofisticado que só a razão humana pode criar. Por isso, sua aquisição é um marco referencial da humanidade. A linguagem é simbólica, estruturada, adequada à cultura dentro do qual se desenvolve, apropriada ao tipo de pensamento que vai comunicar ou expressar. Ela permite que o ser humano vá além do mundo vivido, do presente, para o mundo das ideias, da reflexão: permite que ele ultrapasse sua realidade de vida e entre no mundo das possibilidades. Que exerça, enfim, a atividade produtiva de criar sentidos para o mundo e para sua vida.

E para que servem as linguagens?

O linguista contemporâneo Ramon Jakobson propôs uma abordagem das fenações comunicativas da língua verbal bastante ampla que também pode ser usada para as demais linguagens. Na década de 1950, após ter conhecido os trabalhos de Charles Pierce, percebeu a necessidade de uma semiótica que firmasse a linguagem como elemento de comunicação humana por excelência.

Como o ser humano é o único capaz de criar signos arbitrários, podemos dizer que a palavra é a senha de entrada no mundo humano. Por isso, examinaremos a linguagem verbal com maior afinco.

A linguagem é um sistema simbólico. O ser humano cria símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto que representam, e que são convencionais: para serem usados precisam ser aceitos por todos os membros da sociedade. Tomemos a palavra “casa”. Não há nada no som nem na forma escrita dessa palavra que nos remeta ao objeto por ela representado (cada casa que, concretamente, existe em nossas ruas). Designar esse objeto pela palavra “casa”, então, é um ato arbitrário. Como não há relação alguma entre o signo “casa” e o objeto por ele representado, necessitamos de uma convenção, aceita pela sociedade, de que aquele signo representa aquele objeto. Só a partir dessa aceitação podemos nos comunicar, sabendo que, ao usarmos a palavra “casa”, nosso interlocutor entenderá o que queremos dizer. A linguagem, portanto, é um sistema de representações aceito por um grupo social que possibilita a comunicação entre os integrantes do grupo.

A linguagem é um dos principais instrumentos na formação do mundo cultural porque nos permite transcender nossa experiência. No momento em que damos nome a qualquer objeto da natureza, nós o individuamos, o diferenciamos do resto que o cerca; ele passa a existir para a nossa consciência. Com esse simples ato de nomear, distanciamo-nos da inteligência concreta animal, limitada ao aqui e agora, e entramos no mundo do simbólico. O nome é símbolo dos objetos que existem no mundo natural e das entidades abstratas, que só têm existência no nosso pensamento (por exemplo, ações, estados ou qualidades, como tristeza, beleza, liberdade).

O nome tem a capacidade de tornar presente para nossa consciência o objeto que está longe de nós.

O nome, ou a palavra, retém na nossa memória, enquanto ideia, aquilo que já não está ao alcance dos nossos sentidos: o cheiro do mar, o perfume do jasmim numa noite de verão, o toque da mão da pessoa amada, o som da voz do pai, o rosto de um amigo querido. O simples pronunciar de uma palavra representa, isto é, torna presente à nossa consciência o objeto a que ela se refere. Não precisamos mais da existência física das coisas: criamos, por meio da linguagem, um mundo estável de ideias que nos permite lembrar o que já foi e projetar o que será. Dessa forma, é instaurada a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o ser humano deixa de reagir somente ao presente, ao imediato; passa a poder pensar o passado e o futuro e, com isso, a construir o seu projeto de vida.

Por transcender ou ir além da situação concreta, o fluir continuo da vida, o mundo criado pela linguagem se apresenta mais estável e sofre mudanças mais lentas do que o mundo natural. Pelas palavras, podemos transmitir o conhecimento acumulado por uma pessoa ou sociedade, podemos passar adiante esse construção da razão que se chama cultura.


PODER PARA QUÊ?

Inicialmente, talvez recheados de muita, poderíamos nos perguntar para que a criação do elemento poder? Para que exercê-lo? Para onde se situar? Pois bem, estas questões não são pensadas por muitos: na extrema – ainda que dura e infeliz – verdade nossa sociedade, em pleno gozo do século XXI, não conhece, não tem afinidade intelectual com o verdadeiro sentido de poder.

O poder implicitamente é superioridade, é opulência, é intelectualidade, enfim, é uma autoridade – para usar palavras simplórias – que um determinado sujeito tem sobre alguns demais.

Não foi à toa que se criou, na nossa sociedade, a máxima de “quer conhecer um homem? dê-lhe poder e dinheiro”. O poder é o estágio de maior risco que um homem pode chegar. Não afirmamos isto, para dizer ser um risco para o possuído do poder, pelo contrário, esta espada de dais gumes – como diz o “livro sagrado” dos cristãos – oferece perigo para oexecutador do poder, como para os que estão sob a autoridade do poder.

Entretanto, nessa ânsia assoberbada pelo poder nos deparamos com outra questão, que foi objeto de estudo de Michel Foucault, no seu compêndio de artigos, conferencias, debates etc., lançado na década de70. O questionamento é o que seria de fato o poder e quem o detém? Os caminhos percorridos e seu organismo absolutamente complexo e exógeno.

Questionou-se Foucault:

Esta dificuldade – nosso embaraço em encontrar as formas de luta adequadas - não virá de que ainda ignoramos o que é o poder? Afinal de contas, foi preciso esperar o século XIX para saber o que era a exploração; mas talvez ainda não se saiba o que é o poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, presente e oculta, investida em toda parte, que se chama poder. A teoria do Estado, a análise tradicional dos aparelhos de Estado sem dúvida não esgotam o campo de exercício e de funcionamento do poder. Existe atualmente um grande desconhecido: quem exerce o poder? Onde o exerce? Atualmente se sabe, mais ou menos, quem explora, para onde vai o lucro, por que mãos ele passa e onde ele se reinveste, mas o poder... Sabe-se muito bem que não são os governantes que o detêm. Mas a noção de “classe dirigente” nem é muito clara nem muito elaborada. “Dominar”, “dirigir”, “governar”, “grupo no poder”, ‘aparelho de Estado”, etc...é todo um conjunto de noções que exige o poder, através de que revezamentos e até que instâncias, frequentemente ínfimas, de controle, de vigilância, de proibições, de coerções. Onde há poder, ele se exerce. Ninguém é, propriamente falando, seu titular; e, no entanto, ele sempre se exerce em determinada direção, com uns de um lado e outros  do outro; não se sabe ao certo quem o detém; mas se sabe quem não o possui. [...] (1972. P. 75)

 Mas, estas considerações deste eminente estudioso francês terminaram com um grande pensamento: é fácil reconhecer quem não detém o poder. Mas, o que podemos, com efeito, analisar é que o poder surge apenas e majoritariamente como instrumento de dominação.

E instrumentos de dominação, como já o dissemos, são sempre perigosos, o possa que nega um principio natural do ser humano que é a liberdade. Liberdade física, material e até intelectual.

O homem, inenarravelmente, desprovido de conhecimentos sobre o seu eu discutindo aqui uma vereda filosófica – entende o poder como uma prerrogativa natural. Na maioria das vezes o poder e o dinheiro são a mesma coisa. É o uso do poder para “mandar”, para “ter”, para “crescer” sobre os outros.


LINGUAGEM E IDEOLOGIA (PODER)

Se repararmos na letra da canção “teologia”, de Cazuza e Roberto Frejat, veremos o retrato de uma vida sem sentido, um jovem assiste a “tudo em cima do muro” e sequer conhece bem a se mesmo. Lamenta ter perdido o sonho de mudar o mundo e por isso, no refrão brada por uma ideologia: “Eu quero uma pro vives”. O que transparece nesse apelo é o desejo de valorizar sua vida com significados outros que não dependam de modismos e concepções alheias. Para tanto, ele precisa pensar por si mesmo e adquirir autonomia de ação.

Esse exemplo nos dá o sentido mais geral e positivo do conceito de ideologia, como conjunto de ideias, crenças ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. Falamos então da ideologia de um pensador, do corpo sistemático de suas ideias, do seu posicionamento interpretativo diante de certos fatos. É assim que distinguimos ideologia liberal de ideologia socialista, as duas principais visões politicas, sociais e econômicas do nosso tempo.

Esse sentido de ideologia também serve para designar a teoria pedagógica que orienta a prática de uma escola ou a ideologia de uma religião que determina as regras de condutar dos fieis. Quando lemos um livro podemos perceber aspectos da ideologia nele subjacente e que denota a visão de mundo de seu autor. E assim por diante.

Como já expressamos nas entrelinhas, a leitura é bastante usada como ferramenta para propagação de ideologias.

Os quadrinhos são um fenômeno característico da cultura de massa. Como expressão da produção cultural contemporânea, além da função de entretenimento e lazer, exercem a função mítica e fabuladora típica das obras de ficção, além de preencher funções estéticas, representantes que são de uma nova linguagem artística.

Como toda produção cultural, os quadrinhos encerram ambiguidade: ao mesmo tempo em que servem à consciência, podem servir à alienação; tanto levam os conhecimentos como à escamoteação da realidade; tanto podem ser criativos como alienantes.

Já vimos no decorrer da história, o uso dessa ferramenta nessa função, quando a cultura norte-americana queria propagar o ideal de homem branco, tido como superior às outras roças. O tão conhecido Tarzan é exemplo disto.

Ideologia tem, em sua essência, o sentido pejorativo, como respondo histórico, vejamos:

O termo ideologia foi criado no século XIX por Destutt de Tracy, filosofo e politico francês, para designo uma “ciência das ideias”. Com ela o autor pretendia compreender a formação das ideias numa sociedade por meio de um método semelhante ao das ciências da natureza. Seus seguidores foram chamados ideólogos por Napoleão Bonaparte, dando ao termo uma conotação pejorativa, já que rejeitava as posições politicas daquele grupo. (ARANHA E MARTINS, 2009. P. 120).

Assim sendo, é necessário um posicionamento, diante de tudo que é lido ao redor, critico que possibilite maiores entendimentos, e partir daí, cumpra o papel, a postura de cidadão.


LEITURA COMO DISPOSITIVO BASE

Surge a leitura, então, como a única ferramenta que possibilita o acesso à informação, ou seja, de tantos e largos caminhos que existem para se chegar à informação, a leitura é definitivamente o objeto que maior e melhor possibilita o crescimento intelectual e cognitivo de qualquer sujeito.

De todos os mecanismos que existem para disseminar a informação – sim, a informação, pois teorias modernas, que não é nossa maior preocupação nesse trabalho, apontam que o conhecimento é processo de construção endógeno no homem – a leitura ainda é apontada como o caminho que melhor fixa as informações na mente do leitor, ou receptor, para usar um termo de maior amplitude.

A construção do sentido da língua escrita é um processo que se inicia com o trabalho de percorrer com os olhos cada linha do texto para percepção do material lingüístico. Porém, essa percepção é relativa, pois boa parte do material que lemos é adivinhado ou inferido, e não diretamente percebido. Esse processo cognitivo passa por três estágios: decodificação, compreensão e interpretação. Decodificação é a capacidade de reconhecer as palavras.

Quanto mais conhecimento lingüístico o leitor possui, maior capacidade terá para decodificar as palavras e reconhecer o tipo de texto pela forma como elas se organizam. Compreender é saber apreender o conteúdo do texto, percebendo suas nuances, detalhes. Quanto mais conhecimento sobre o mundo o leitor tem, sobre questões sociais, políticas, econômicas, culturais, ambientais, maior capacidade terá para compreender o texto e interpretá-lo pela facilidade de poder prever sobre o assunto e inferir sobre o sentido do texto. A interpretação consiste em saber comunicar o que foi lido, ela depende da construção do sentido.

O ato de ler é imprescindível ao indivíduo, pois proporciona a inserção do mesmo no meio social e o caracteriza como cidadão participante. A criança aprende a ler antes mesmo de entrar na escola, nas situações familiares. Nos primeiros anos de escolarização, o discente precisa ser incentivado e instigado a ler, de modo que se torne um leitor autônomo e criativo.

É lendo que nos tornamos leitores e não aprendendo primeiro para poder ler depois: não é legítima instaurar uma defasagem nem no tempo, nem na natureza da atividade entre “aprender a ler” e “ler”... não se ensina a ler com a nossa ajuda... a ajuda lhe vem do confronto com as proporções dos colegas com quem está trabalhando, porém é ela quem desempenha a parte inicial de seu aprendizado (Jolibert, 1994, p.14).

É lendo que nos tornamos leitores, e não aprendendo primeiro, para poder ler depois: não é legítima instaurar uma defasagem nem no tempo, nem na natureza da atividade entre “aprender a ler” e “ler”... não se ensina a ler com a nossa ajuda... a ajuda lhe vem do confronto com as proporções dos colegas com quem está trabalhando, porém é ela quem desempenha a parte inicial de seu aprendizado (Jolibert,1994, p.14).

A leitura é um instrumento de poder, porque dá ao sujeito a capacidade de ampliar seus conhecimentos e as suas possibilidades comunicativas, propiciando-lhe acesso à cultura, enriquecendo-o e permitindo que exerça o papel de sujeito de sua própria história, ao buscar se transformar para transformar a realidade em que está inserido.


PARA NÃO CONCLUIR

De tudo que estudamos e vimos até aqui, podemos entender as facetas da linguagem e como esta pode acarretar, tendo em vista ser um excelente instrumento, na posse de poder. O Poder surge como instrumento de dominação em que é preciso, além das manobras de conquistá-lo, de muita perspicácia para também mantê-lo ao domínio do sujeito que o exerce.

A linguagem surge na capacidade cognitiva do homem para necessidades básicas como comunicação, para desenvolvimento de atividades que possibilitassem sua subsistência na terra. No entanto, no passar dos tempos o homem começou usar essa mesma para se sobrepor em relação aos demais.

O poder, no seu auge de ambição e de predominância, numa sociedade tão globalizada e capitalista – o uso do capitalismo aqui é pelo fato exclusivo do poder e do dinheiro estarem em estreita ligação – tem permitido passarmos por uma inversão de valores profunda que chega a colocar-nos em permanente  ideia de que “nesse mundo vale quem tem”. Uma forma preconceituosa e ignorante – no sentido de sem conhecimentos -  de demonstrar o quão grande é o valor do dinheiro/poder.

A leitura nesse campo, enfim, surge como o instrumento, o objeto básico para aquisição de qualquer informação, e desta, a endógena construção do conhecimento. A leitura é a responsável pelo ser que somos, pelas condutas estabelecidas, pelos pareceres críticos da sociedade civil, pelo apoio ao determinado partido político, pelo fato de uma mesma ideia filosófica e/ou ideológica. Não poderíamos, de forma alguma, extirparmos de nossas vidas o hábito da leitura – apesar de ser, ainda, uma prática efetuada por muitos poucos.

É imprescindível, para gerações futuras, a garantia de grandes, boas e muitas leituras, principalmente para esta geração que nos deparamos hoje: uma geração “informatizada”.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia. – 4. Ed. – São Paulo: Moderna, 2009.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Organização e tradução de Roberto Machado. – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

FREIRE, P. A importância do Ato de ler: em três artigos que se completam.São Paulo: Cortez, 1982. 96 p

JOLIBERT, J. Formando Crianças Leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas,1994. 219 p.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. – São Paulo: Brasiliense, 2007


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