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Justiça, o lado moral na internet — Parte IV. Gerações mimimi e nutella versus geração reprimida

Justiça, o lado moral na internet — Parte IV. Gerações mimimi e nutella versus geração reprimida

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Geração reprimida, geração que não se libertou das amarras doutrinárias sobre 'comportamento correto'. Sem discernimento próprio, o que é ter uma "boa vida", conforme os ditames utilitários?

INTROITO

A internet, principalmente as redes sociais, é um campo de pesquisa para os estudiosos sobre antropologia, sociologia, operadores de Direito, jornalistas. Neste Mundo Virtual, as pessoas (internautas) se sentem 'livres' para comentarem o que pensam sobre vários assuntos, principalmente assuntos modificadores dos valores morais e éticos, como casamento entre LGBTs, aborto, feminismo etc. Essa 'liberdade' — não há liberdade absoluta, pois, por exemplo, cabe danos morais em caso de crimes contra a honra — permite uma 'catarse' contra o 'politicamente correto', este considerado como coação a liberdade de expressão; conquanto a própria liberdade de expressão não é absoluta.

Diferentemente do Mundo Virtual, o mundo físico, pela própria compreensão do agente ativo, impossibilita uma liberdade de expressão absoluta, por receios de ataques físicos, por exemplo..

Resolvi criar Justiça, o lado moral da internet, para trazer, de forma concisa, como os internautas pensam sobre determinados assuntos. Justiça, o lado moral da internet está, como não poderia ser diferente, para não ficar 'enjoado' para os internautas — a maioria quer assuntos resumidos, sem perda de qualidade e do foco principal —, está dividido em partes. Cada parte, um assunto diferente.


Gerações, entre 'certo' ou 'errado'

Nas redes sociais, as gerações de corajosos cidadãos, determinados ao futuro, com vontade de vencer na vida — até hoje quero saber o que é "vencer na vida" — fazem pilhérias com os cidadãos mais jovens, entre 23 e 30, ou seja, nascidos, respectivamente, entre 1995 e 1988.

Serão mimimi e nutella demasiadamente exigentes, "chorões", "desleixados" e "sonhadores"?

"Chorões", por reclamarem de tudo, das condições de trabalho, muito trabalho e pouco dinheiro, ou dinheiro na conta e pouco lazer, ou nenhum lazer — para que serve o dinheiro? —, do meio ambiente e as poluições e contaminações. "Desleixados", por não arrumarem a cama, quando acordam, ficarem até tarde, ou na madrugada, usando Smartphone para saber das últimas notícias e comentários nas redes sociais. No dia seguinte, preguiça, chegar atrasado ao compromisso, como escola, estágio etc., dormir na aula etc. Mimimi e nutella têm sido consideradas como politicamente corretas, isto é, reclamam e agem como o "machismo", "sexismo", sociedade "patriarcal", "homofobia" "transfobia", "racismo", "preconceito", "abuso de autoridade", "corrupção", "direitos sociais", "liberdade sexual" e "direitos reprodutivos da mulher".

Os profissionais da área de DH (Recursos Humanos), não sendo das gerações mimimi e nutella, queixam-se dos despreparos emocionais dessas gerações, não estão preparados para os desafios no Mercado de Trabalho. Interessante observar, quando algum mimimi ou nutella ingressam no Mercado, assumem uma responsabilidade e se sentem na hercúlea missão de conscientizarem os ainda perdidos e sonhadores, mimimi e nutella, diante da realidade da vida. E pergunto, qual realidade da vida? Qual vida?

No Brasil, endeusamento dos trabalhadores japoneses, trabalham muito, não reclamam, tiraram o país dos escombros, após duas ogivas nucleares lançadas pelos EUA. Nos EUA, trabalhadores não reclamam, não têm a mesma proteção, exagerada, carcomida pelo tempo, conforme os trabalhadores brasileiros, pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Todos felizes.

No Japão, a taxa de suicídio é assustadora, principalmente entre os trabalhadores. A exaustão é comprovada quando os trabalhadores tiram pequenos cochilos, nas escadas, de alguma estação de trem, na rua, pendurado, nalgum gradil, tapume.

Num seriado de TV, norte-americano, apresentado por Jack Palance, o título já despertava curiosidades: Acredite se Quiser. Lembro-me de um dos episódios sobre permanência no emprego, no Japão. Um funcionário não atingiu sua meta. À frente dele, cinco pessoas, os sócios da empresa. Para permanecer no emprego, o funcionário tinha que provar sua vontade, extrema, de permanecer na empresa. As cenas são comoventes. O funcionário se ajoelha diante de seus patrões, começa a chorar, passar suas mãos em seus cabelos, para deixá-los desarrumados; em outros momentos, o funcionário batia em seu peito. Sem piscarem, sem demonstrarem qualquer sentimento de piedade e constrangimento diante do funcionário, os sócios assistiam ao espetáculo. Cansado, respiração ofegante, o funcionário termina sua encenação. A encenação comoveu os sócios. Sentiram que o funcionário realmente merecia uma segunda chance.

Nos EUA não tem CLT; cada estado norte-americano possui sua lei. Isso soa como imensa possibilidade de realizações pessoais para os trabalhadores, sem o "paternalismo" brasileiro. Nas redes sociais, e alguns candidatos, o coro de que é melhor trabalhar e ter CTPS assinada do que ficar sem emprego, ou seja, nada de referências ao "trabalho escravo", como as péssimas condições à saúde do trabalhador, por exemplo, a licença-maternidade "absurda" etc. Há também o dizer que os impostos são os culpados, o Estado tem que os reduzis.

Nos EUA existem leis protegendo os trabalhadores contra arbitrariedades de seus empregadores, como violações aos direitos humanos. Sim, nos EUA tem direitos humanos. Salário mínimo, isto mesmo, justo, proteção ao assédio sexual, condições laborais seguras, salubridade e segurança, licença-maternidade etc. Não existem nos EUA, imposto sindical, décimo terceiro, FGTS, férias remuneradas, multa de 40%, em caso de rescisão contratual, aviso prévio.

Para saber mais, visite:

United States DEPARTMENT OF LABOR;

Labor Laws and Issues.

Por quê?

Por que os brasileiros querem morar em Portugal, mas não querem o Estado social no Brasil? Trabalharem na Espanha e ganharem o 13º salário, porém não querem que o Brasil tenha o 13º? Outros brasileiros querem que o horário de almoço seja de 30 min (trinta minutos), no Brasil, mas se sentem felizes, na Espanha, quando o horário de almoço é de 2 horas, com a facilidade de almoçar no próprio lar.

Brasil. O problema não está na carga tributária, mas nos desvios de finalidades, os bolsos, as cuecas e as calcinhas, além das malas, dos agentes e empresários, ímprobos. Outros fatores, obras se iniciam, e não terminam, por falhas nos projetos básicos, má administração — por isso, curso básico sobre licitação, administração dos bens públicos e responsabilidades dos gestores públicos, itens obrigatórios para os candidatos aos cargos eletivos —, pela panaceia do gestor público de mostrar, aos seus eleitores, que está "trabalhando para o povo". Por exemplo, comprar modernas lousas para as salas, enquanto os banheiros estão entupidos, inoperantes; pintar fachada da escola, enquanto a merenda é biscoito com refresco, nas melhores situações.

Até os anos de 1970 e 1980, antes do chamado neoliberalismo, as economias não eram tão flutuantes, como agora, os empregos eram quase que "eternos", até que o trabalhador morra. Estresse e patologias, como Síndrome de Burnout, conhecida como "doença do esgotamento profissional", acometem os trabalhadores. Os prejuízos são incomensuráveis, tanto econômico quanto nas relações interpessoais. O medo de perder emprego faz com que os trabalhadores fiquem em alerta máximo, um dia de trabalho é um dia de sobrevivência, o amanhã é incerto. Nas exigências dos ISOs — melhoria nas prestações de serviços —, empresas se esforçam, cobram mais de seus funcionários pela "excelência no atendimento", novos cargos, com nomenclaturas bem criativas; os cargos para trabalhadores qualificados são poucos, quem ocupa, sabe que terá muitas responsabilidades, salário mais alto. O funcionário subalterno, ao funcionário ultraespecializado, sabe que seu chefe, não líder, quer manter seu emprego e, para isso, exigirá mais e mais desempenho de seus subalternos. Algo parecido com Tempos Modernos, de Charles Chaplin.

Aqui pondero. Há os Direitos dos Consumidores, a excelência na prestação de serviços, no trato com os consumidores; há exigência, constitucional, caput, do art. 37, na eficiência na prestação de serviços públicos. Conquanto pareçam ótimos, à realidade, acaba criando diferenciações entre os usuários. A lógica no Mercado, criado por ele mesmo, é servir bem, conforme o bolso do cliente. Quando, por exemplo, o serviço público é prestado em áreas urbanas consideradas nobres, por serem áreas turísticas, ou pelo maior IPTU, os serviços funcionam, razoavelmente bem. Higiene, segurança, ar condicionado, coleta de lixo, conserto de vazamento de água potável, pelo rompimento de tubulação, tudo funcionando. Já nas áreas distantes das áreas turísticas, ou com IPTUs altos, os serviços públicos são diferentes. As concessionárias demoram para providenciarem os consertos — não seria “concerto”, com direito a ouvir sinfonia para ter calma e esperar pela boa vontade das concessionárias? —, em tais localidades esquecidas.

O próprio Mercado aumenta o narcisismo dos seres humanos — o Homo Sapiens Sapiens Conflictus contribuindo para aumentar o narcisismo de outro Homo Sapiens Sapiens Conflictus —, de forma que a valorização do ser humano é conforme a quantidade de bens, patrimónios e poder de compra. Vai de encontro ao art. 3º, da CRFB de 1988. Dizer que a Máquina Antropofágica é invenção recente, falácia. Ela se iniciou com a primeira Revolução Industrial; mais anteriormente, desde o momento que criou castas, pela crença de que "Deus assim fez", Estados (Primeiro, Segundo e Terceiro), "Deus criou", o homem, e este, mais ainda, consagrou. De certa forma, o sistema, da Máquina Antropofágica, muda no tempo, pajés, sacerdotes, faraós, reis etc. No final, se não é o nome "nobre", de sangue azul, como se discute diante do casamento de Harry e Meghan Markle, é o poder de compra. Se antes o sangue azul era o tônus da Máquina Antropofágica, da Estrutura da Discriminação, o poder do dinheiro, de tê-lo. Houve apenas um deslocamento quanto ao se sentir "poderoso" ou "poderosa".

Claro que, mesmo em algum patamar elevado, apesar da Estrutura da Discriminação, algumas pessoas sentiam, em si mesmas, que "poder" é criança do próprio Homo Sapiens Sapiens Conflictus. Efêmero, como o próprio "criador", o Homo, lutar para se manter no topo, uma luta até morrer.

Quando me refiro a "geração reprimida", é notório, pelo contrato social, ou como Sigmund Freud dizia, o pacto social que cada pessoa reprime em si cada pulsão, o ID, de forma que possa se adequar , através do EGO, as convenções sociais, ou convenções criadas por algumas comunidades detentoras dos poderes do Estado. Pelas convenções, as adaptações do EGO. Quem se adequa, sentimento de fazer parte do grupo. Como resultado, aspirar, profundamente, o próprio orgulho. Esses "vencedores", por se adaptarem as convenções, sentem-se "melhores"; sendo "melhores", contudo, sabedores de suas próprias fraquezas, de seus próprios limites em controlar suas pulsões, condenam — projeção — quem não é "igual", no sentido de não possuir comportamento utilitário. Quando não é possível externa a energia emocional de raiva, por uma advertência em público, de alguma pessoa hierarquicamente superior, seja no emprego, no lar, nas relações humanas em geral, a vítima tem que ter menos poderes utilitários. Eis o deslocamento. Pensar que o deslocamento somente acontece entre os elitizados, é outro sofisma. O Homo Sapiens Sapiens Conflictus assim é, independentemente de seu status social. A sensação de poder, para o Homo Sapiens Sapiens Conflictus, é necessidade de se proteger, de si, dos demais Homo. Quanto mais desconfiados são, quanto mais diferenciações por questões de status sociais, alguns com menos dignidade do que outros, o poder da Máquina Antropofágica, criada pelo próprio Homo Sapiens Sapiens Conflictus.

Pode-se presenciar isso entre os adolescentes cujas comunidades são tomadas pelos traficantes de drogas. Uma arma na mão é sentimento de poder, de prestígio, de proteção. Para o adolescente, salvo exceções, não morador de comunidade, ter um "carrão", "possante", "maquinário", ou outras denominações, é condição de poder, prestígio. Ou seja, o possuir de algum objeto, para se sentir com "poder" — poder é controle sobre si, sobre os demais, sobre os próprios medos — depende dos valores num grupo social, conforme suas condições econômicas, de acesso.

Matar com um automóvel, pela sociedade brasileira, não é crime, é 'fatalidade do destino'. Matar com arma de fogo é crime, pela intenção do agente ativo. Intenção. Quem dirige automóvel não tem intenção de matar, como quem carrega uma arma para assaltar e matar. Não obstante, o condutor, sabendo das más condições de seu automotor, das más condições da pista, das intempéries na localidade, mesmo não possuindo intenção de matar alguém, ainda assim age como o assaltante, não em questão de matar, porém imprudência e descaso com a vida alheia. Ambos querem algo, o condutor e o ladrão, não importando com as suas consequências. O que importa é a pulsão de cada um. Nisso, não há diferença, o descaso ao outro ser humano. Outra diferença pode ser, o ladrão mata para ter um bem alheio e revendê-lo para compra droga licita ou ilícita; o condutor mata sem intenção, age pela sua necessidade de extravasar sua pulsão, alegria ou raiva.

É notório que as gerações anteriores ao mimimi e nutella não tinham vozes, acatavam o utilitarismo de suas épocas, sejam as convenções nas relações laborais ou nas relações interpessoais, como familiar, amizade, casamento, namoro etc. Quando se falava em meio ambiente, maus-tratos com os animais, não humanos, aristocracia e oligarquia, exploração trabalhista, periculosidade e insalubridade, direitos das mulheres etc. o "cidadão ovelha negra", pelo utilitarismo, era rechaçado, qualquer vibração de suas cordas vocais, pela liberdade de expressão, era "cessada". O mundo é assim mesmo, diziam as gerações anteriores a mimimi e a nutella.

Mimimi e Nutella, gerações pós-apocalípticas, dos terrores das duas Guerras Mundiais, Primeira e Segunda, foram influenciadas pelas gerações violentadas em seus mais básicos direitos humanos. Os Direitos Humanos — direitos civil, político, social, cultural e econômico —, ganharam status supraconstitucionais, os utilitarismos perderam força de determinar vidas, cada qual é dono de si, cada qual deve procurar o melhor para si, nenhum Estado pode estar acima de qualquer ser humano, nenhum Homo também não pode estar acima, no sentido de coação, de outro Homo, muito menos o próprio Homo pode se sentir como deus perante as demais vidas biológicas.

Posso assegurar que houve, sim, excessos das gerações mimimi e nutella. Querer Paraíso na Terra é retroceder aos ideais gregos (a.C.). Notaram o ciclo do próprio Homo Sapiens Sapiens Conflictus? No fim do século XIX e no começo do XX, as pessoas acreditavam na "salvação" das tecnologias, elas fariam tudo pelos seres humanos. Entretanto, a "salvação" não alcançou todos os seres humanos. Ainda continuava o pensamento grego (a.C.) de que a melhor flauta deveria ser para o melhor flautista, filósofos não trabalhariam, como o pedagogo, o escravo, algumas pessoas teriam mais direitos do que outras, tudo para materializar um mundo de prazeres, realizações, harmonia.

Alguém terá que pegar no "pesado", sujar as mãos, obedecer ordens; outros ganharão mais, não pelos privilégios, sangue azul ou estar na nobreza junto com o Rei, ou nascer numa família de faraós, mas pelos próprios esforços. As pessoas são jamais serão iguais, pensarão iguais, por mais que tenham gostos afins, nenhum é cópia do outro. Pode ser numa comunidade LGBT, de heterossexuais, de praticantes de skate, de natação etc. Em algum momento haverá divergência de opinião. Isso não quer dizer que mimimi e nutella não continuem com seus esforços, imbuídos com as esperanças dos pós-apocalipses das Guerras, para garantir que todos sejam respeitados, as relações trabalhistas não sejam de exploradores e explorados, os animais não humanos sejam apenas alimentos, diversões dos animais humanos, o poder efêmero do dinheiro, ou de qualquer possuir, não iluda o próprio iludido Homo Sapiens Sapiens Conflictus.

As gerações mimimi e nutella são consideradas, pela geração reprimida, superficiais, exigentes, indecisas, orgulhosas de suas intelectualidades (questionam os grandes filósofos da humanidade), sem identidade pessoal (efeito manada), sentimental demais (não aceitam pena de morte), assassinas de fetos (aborto), esquizofrênicas contra a sociedade patriarcal (machismo), viciadas (fumadores de maconha), libertinas (liberdade sexual), politicamente corretas (cerceamento da liberdade de expressão), sensíveis pelas condições das minorias, irresponsáveis, preguiçosos, mal educadas etc.

Falando em filósofos, muitos achavam — estarei sendo indecente — que a masturbação masculina, o que dirá a feminina, era animalesca. O próprio Immanuel Kant assim pensou. Logo, estudando, profundamente, os filósofos devem ser contestados. O que não se pode ter é o contestamento arraigado aos grilhões que aprisionavam o livre pensamento. E a geração reprimida soube aplicar técnicas (científicas e religiosas) para evitar que as pessoas pensassem por si mesmas. Pode evitar que uma pessoa pense por si mesma? Sim, quando o medo é tão fincado na alma do sujeito, que questionar, mentalmente, os valores que aprendeu, é caso de vida ou morte.

Por exemplo, Baruch Spinoza pensou, discerniu. Quem pensa, sem medo, querendo ou não, começa a ter comportamentos, reações 'estranhas'. A linguagem corporal denunciará. Não é necessário falar, escrever. Se age diferente do habitual, os familiares desconfiarão, os amigos também. Assistiu ao filme 1984, de George Orwell?

Como era a vida na geração reprimida? Antes, é necessário dizer que a geração em questão é anterior aos nascidos nas décadas de 1980 e 1990. Como se vestiam, o que comiam, como se relacionavam, o que conversavam, como se comportavam diante de uma máquina de fotografia, o que faziam diante do mercado de trabalho, como os fornecedores tratavam os consumidores, como os eleitores enxergavam os políticos, como os políticos tratavam os eleitores, como os civis eram tratados pelo Estado, qual o comportamento do aluno na sala de aula, como eram tratadas as diferenças sociais, qual era a função da mulher na sociedade, como os adultos tratavam as crianças, como a sociedade considerava os 'diferentes'; enfim, a vida da geração reprimida, como era?


A GERAÇÃO REPRIMIDA

Esta geração não tinha liberdade de expressão. Atualmente se fala que há uma 'mordaça', isto é, não se pode falar mais nada que é crime. O Código Penal existe de 1940, crimes contra a honra (arts. 138, 139 e 140) existem muito antes das gerações nutrella e mimimi. Na geração reprimida, aos poucos o leitor saberá como ela é, já que são pessoas nascidas antes das década de 1980 e 1990, e há muitas ainda vivas, havia duas liberdade de expressão: uma para quem detinha poder econômico, tinha algum familiar na polícia ou nalguma Forças Armadas, tinha algum conhecido ou familiar ocupando cargo eletivo (político); outra para quem não detinha poder econômico, não tinha algum familiar na polícia ou nalguma Forças Armadas, não tinha algum conhecido ou familiar ocupando cargo eletivo (político).

Como a Justiça brasileira, antes de 1988, era acessível para quem tinha dinheiro, quais cidadãos iriam provocá-la? Num país racista e preconceituoso, chamar algum de 'macaco' não era vergonhoso, mas direito à liberdade de expressão. O cidadão 'macaco', sem dinheiro para exigir defesa de sua dignidade — além disto, o 'macaco' era considerado (etiquetado) como criminoso nato, já que possivelmente tinha ocupação e moradia condizentes com o perfil criminoso — ficava calado. Era escutar e se sujeitar ao vexame. E a mulher que fosse atacada por algum homem? Na geração reprimida, a mulher era a reprimida. Aí da mulher que fosse querer exigir sua autonomia da vontade, a sua liberdade sexual, todo peso da Justiça (machista) recairia sobre ela — somente com a Lei Maria da Penha a situação mudou, um pouco.

Falar errado e escrever errado. A geração mimimi e nutella são consideradas analfabetas funcionais ou somente analfabetas. Para a geração reprimida, ‘Essas gerações não sabem escrever certo’. Ao que parece, a geração reprimida sabia escrever, corretamente. Num país de analfabetos, muito antes de 1988 já existiam analfabetos — e ainda existem, porém são analfabetos funcionais; algum progresso nas gerações mimimi e nutella. Parece que toda a geração reprimida tinha um lugar na Academia Brasileira de Letras. Sabiam escrever corretamente sòmente (antes do Decreto-Lei N. º 32/73, de 6 de Fevereiro), vôo, arqüição. A ortografia brasileira tem História sobre mudanças:


História da Ortografia do Português

  • Séc XVI até séc. XX - Em Portugal e no Brasil a escrita praticada era de cariz etimológico (a raiz latina ou grega determinava a forma de escrita das palavras com maior preponderância).

  • 1885 – Até esta altura a grafia é essencialmente etimológica. Nesta data pública-se as Bases da Ortografia Portuguesa, de Gonçalves Viana.

  • 1907 – A Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas publicações.

  • 1910 – Implantação da República em Portugal – é nomeada uma Comissão para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme a ser usada nas publicações oficiais e no ensino.

  • 1911 – Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita, mas que não foi extensiva ao Brasil.

  • 1915 – A Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a sua ortografia com a portuguesa.

  • 1919 – A Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915.1924 – A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começam a procurar uma grafia comum.

  • 1929 – A Academia Brasileira de Letras altera as regras de escrita.

  • 1931 – É aprovado o primeiro Acordo Ortografico entre o Brasil e Portugal, que visa suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa. Contudo, este acordo não é posto em prática.

  • 1938 – São sanadas algumas dúvidas quanto à acentuação de palavras.

  • 1943 – É redigido o Formulário Ortográfico de 1943, na primeira Convenção Ortográfica entre Brasil e Portugal.

  • 1945 – Um novo Acordo Ortografico torna-se lei em Portugal, mas não no Brasil, por não ter sido ratificado pelo Governo; os brasileiros continuam a regular-se pela ortografia do Vocabulário de 1943.

  • 1971 – São promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal.

  • 1973 – São promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as divergências ortográficas com o Brasil.

  • 1975 – A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboram novo projeto de acordo, que não é aprovado oficialmente.

  • 1986 – O presidente do Brasil, José Sarney promove um encontro dos então sete países de língua oficial portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe -, no Rio de Janeiro. É apresentado o Memorando Sobre o Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. O Acordo Ortografico de 1986, que resulta deste encontro, é amplamente discutido e contestado pela comunidade linguística, nunca chegando a ser aprovado.

  • 1990 – A Academia das Ciências de Lisboa convoca novo encontro, juntando uma Nota Explicativa do Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. As duas Academias elaboram a base do Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. O documento entraria em vigor, de acordo com o seu artigo 3º, no dia "1 de Janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português".

  • 1995 – O Acordo Ortografico de 1990 é apenas ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde, embora o texto previsse a sua implementação em toda a Lusofonia no início de 1994.

  • 1996 – O Acordo Ortografico é apenas ratificado por Portugal, Brasil, e Cabo Verde.

  • 1998 – Na cidade da Praia é assinado o Protocolo Modificativo do Acordo Ortografico da Língua Portuguesa, retirando-se do texto a data de implementação. Mantém-se a condição de que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) devem ratificar as normas propostas no Acordo Ortografico de 1990 para que este seja implementado.

  • 2002 – Timor-Leste torna-se independente e passa a fazer parte da CPLP.

  • 2004 – Os ministros da Educação dos vários países da CPLP reúnem-se em Fortaleza, no Brasil, para a aprovação do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. Fica assim determinado que basta a ratificação de três membros para que o Acordo Ortografico possa entrar em vigor e Timor-Leste passa a integrar a CPLP.

  • 2006 – Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificam o documento, possibilitando a entrada em vigor do Acordo Ortografico de 1990.

  • 2008 – O Acordo Ortografico de 1990 é aprovado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal, sendo esperada a sua implementação no início de 2010.

  • 2009 – Entrada em vigor do Acordo Ortografico de 1990 no Brasil e em Portugal. Além de Portugal e do Brasil, também São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissau já ratificaram o Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortografico de 1990, embora estes últimos não o tenham ainda aplicado. Fica apenas a faltar a ratificação de Angola e Moçambique. (Fonte: Instituto de Linguística teórica e Computacional)

Notem, o que é 'escrever corretamente'? É escrever conforme os acordos ortográficos. Porém, voo ou vôo, auto-escola ou autoescola, celuloide ou celulóide, muda o reconhecimento (significado) pelo leitor? Não. Contudo, a geração reprimida — não só a geração, mas a mentalidade desta geração — necessita, como supercompensação ao Complexo de Inferioridade, de ser infalível. Uma das características preponderante da geração reprimida e não errar, ou seja, ser infalível. Errou, acusações, deboches, vexames, o bullying ou o cyberbullying. Agora imagine, você, mimimi ou nutella debochando de alguma pessoa da geração reprimida. Quando os primeiros computadores de mesa chegaram no Brasil, somente pouquíssimas pessoas podiam comprar. Depois veio a internet discada. A geração reprimida sentiu imensa dificuldade com a nova forma de se comunicar:

  • Estou :), e vc?

  • ;)

  • Quando vc vir aqui

  • Nao sei acho que log

  • Viu qdo mario caiu

  • kkkkk

Ou seja, uma nova maneira de se comunicar (linguística) surgiu. E, para o desespero dos reprimidos, um esforço colossal para não serem excluídos do mundo virtual. Quero dizer que mudanças estruturais na forma de viver sempre aconteceram, desde os primeiros passos da espécie humana.

O que é um acordo ortográfico? É uma forma de uniformizar, facilitar a comunicação entre as pessoas. É, por exemplo, o que aconteceu com o Acordo Ortografico de 2009. Claro, concordâncias, uso de vírgula etc., são importantes. Porém, você que é mimimi ou nutella, não se incomode, assim como você não estão, mas poderão, sentados num assento da Academia Brasileira de Letras, muitos intelectuais da geração reprimida também não estão, não tiveram.

Você me diz que seus pais não te entendem/Mas você não entende seus pais/Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo/São crianças como você/O que você vai ser/Quando você crescer (Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo)A letra já diz tudo, nenhuma geração entende a outra. Cada qual, mimimi, nutella ou reprimida, reclamam. Choques de valores entre gerações, sempre existiram, sempre existirão. No Mundo das Ideias, tudo é ordenado, perfeito.

Preguiçosos, desanimados, vagabundos, encostados nas costas dos pais e dos avós. Assim são nomeados, pelos reprimidos, os mimimis e nutellas. A vida nunca foi fácil, fato, mas há considerações relevantes. Antes da Revolução Industrial (1760) não existiam tantas misérias, tantas diferenciações entre classe sociais — pergunte algum advogado trabalhista. Mesmo com o feudalismo, as mazelas da Revolução Industrial superaram o feudalismo. Com a Revolução, o êxodo rural foi altíssimo, artesões tiveram que vender suas terras para, junto com suas famílias, morarem nas cidades — os centros do novo capitalismo. O artesão trabalhava, assim como sua mulher e criança. Mas eles já não trabalhavam em suas terras? Sim, porém, o artesão e sua família eram donos de suas produções, de seus tempos. Nas fábricas, as condições de trabalho eram péssimas, horas exaustivas, condições insalubres e perigosas — parecido com o trabalho escravo contemporâneo.

Pós Segunda Guerra Mundial. Escombros, corpos, tristezas. Pelo instinto de sobrevivência, mãos à obra. Alguns se suicidaram, como ocorreu em 1929 nos EUA. Pelos acontecimentos ocorridos nas duas guerras mundiais, tanto os governantes quanto os governados decidiram unir forças — até então governantes mandavam e desmandavam nas vidas dos governados; um dos motivos da Primeira Guerra Mundial foi a exploração das famílias, que formam os Impérios da época, junto com os nobres, controlavam e ditavam como os não nobres deveriam viver — para que todos (Estado Social) tivessem condições de viverem dignamente.

As gerações posteriores à Segunda Guerra Mundial, até as décadas de 1970 e 1980, tiveram — não todos, pois existiam ainda diferenciações entre pessoas, pelo darwinismo social e, principalmente, pela eugenia — melhorias em suas vidas. Importante. O desmantelamento do Estado Social começou na década de 1970, na Inglaterra, e na década de1980, nos EUA. Antes dessas duas décadas, os pais tinham certeza de que seus filhos iriam estudar e, quando formados, teriam empregos. As exigências do mercado de trabalho antes das duas décadas mencionadas não se comparam às exigências contemporâneas. O formado, em geral, não tinha que fazer doutorado, mestrado; somente o curso superior. Após — explicável pelos avanços tecnológicos — ambas as décadas, não basta somente ter o diploma universitário.

Contudo, serão as novas exigências aos formados contemporâneos, realmente, necessárias? Há discussões sobre os excessos de disciplinas e, consequentemente, sobrecarga aos alunos. Ilógico? Não! tanto é verdade que existem os cursos superiores de tecnólogo. Aliás, em outro artigo — Democracia consolidada. Bacharelado em Direito: por que não pós-graduação em vez de graduação? — propus curso de curta duração para formação de bacharéis em Direito. Se o estudante já sabe o que quer para sua vida, e deseja somente atuar como advogado criminalista, por que ter aula de Direito Civil, Penal, Consumidor? Aprenderia: Direito Constitucional, fundamental; português; interpretação de texto, fundamental; e Direito Penal e Direito Processual Penal. Penso que seria muito melhor: curso rápido, formação profissional muito mais qualificada do que profissional que teve dotas as disciplinas exigidas atualmente, sendo necessário pós-graduação específica (Direito Civil, Direito Penal etc.), caso queira ser proficiente em alguma área do saber.

A geração reprimida tinha imensa vantagem, pouquíssimos estudavam. Logo, o mercado de trabalho não era concorrido, como agora. Nível universitário? O céu na Terra! As metrópoles não eram tão sobrecarregadas de pessoas, não existiam os congestionamentos infernais como há atualmente. Tempo existia, dinheiro, para pouquíssimos.

Diante de tudo isso, pode-se dizer que as gerações mimimi e nutella reclamam muito? Não. Essas gerações enfrentam mercado exigente — muitas exigências aquém da realidade brasileira; quantos caminhoneiros, por exemplos, estão desempregados por não terem conhecimentos sobre as novas tecnologias nos caminhões? Alguns empresários, humanísticos, treinam os caminhoneiros, numa demonstração de Capitalismo Humanitário. Parabéns aos empresários que assim agem — imobilidade urbana, automotores particulares além das capacidades das vias públicas, o que ocasiona maior tempo entre o deslocamento e, claro violência urbana.


TEMPOS E CIRCUNSTÂNCIAS

"No meu tempo eu comia banha de porco, pão de padaria, e nunca fiquei doente!”

A frase acima é correta, até certo momento. Após, mais ou menos, 1950, a alimentação humana fora artificializada, de tal forma, que as doenças aumentaram, outras surgiram, como o diabetes mellitos, com o refinamento da cana de açúcar; aliado, também, ao excesso de açúcar nos alimentos industrializados. Hipertensão arterial, sempre existiu. Contudo, a alimentação industrial possui altíssima adição de cloreto de potássio, o sal de cozinha. Os comerciais nos anos de 1950, nos EUA, prometiam: menos tempo na cozinha; mais tempo com a família; alimentação saudável. As mulheres, já que deveriam preparar os alimentos do marido e dos filhos — a maioria era educada, ajustamento social, para cuidar do lar, enquanto ao homem cabia o sustento — tiveram ‘liberdade’ e ‘mais tempo’ para cuidar de si, além de preparar os ‘semiprontos nutritivos’.

Antes dessas mudanças, as mulheres sabiam cozinhar, costurar. Eram tarefas exigidas pelos costumes da época; a ‘boa mulher’ tinha a obrigação de se adaptar, socialmente. As mulheres atuais, início deste século XXI, não sabem cozinhar. O que dirá uma pessoa da geração reprimida? Tudo de negativo que possa dizer em relação às mulheres mimimi e nutella. Culpa delas? Não, pois essas gerações foram obrigadas a se adaptarem aos novos tempos, e ao mesmo tempo queriam trabalhar fora dos lares. Tempo escasso, os produtos semiprontos garantiriam menos tempo na cozinha. Dessa forma, o ato de preparar os próprios alimentos caiu em desuso.

A Indústria Alimentícia, por fatores mesológicos, como tempo escasso, maior tempo de deslocamento entre lar e trabalho, preencheu o lugar vazio: não são mais as mulheres, ou mulheres mães, que prepararão os alimentos, pensaram no que comer, tanto para si quanto para sua família. E os homens? Bom, a geração reprimida masculina não fora educada a cozinhar. Com suas mulheres trabalhando fora dos próprios lares, ainda mais a Indústria Alimentícia preencheu o lugar vazio da cozinheira mulher dona de casa. Depreende-se, na área de alimentação humana, que as gerações mimimi e nutella não são ‘burras’, ‘preguiçosas’, ‘acomodadas’, mas são produtos de novos tempos, de novos hábitos.


EMPRESAS E RECURSOS HUMANOS

"A geração mimimi está prejudicando as empresas!"

Exigentes demais, essa geração quer que os empresários atendam reivindicações dessa geração. Analisando. A geração reprimida trabalhava sob o supervisionamento do chefe. Como é o chefe?

  • Acha-se como o único conhecedor, dos mistérios esotéricos até os complicados termos científicos;

  • Não escuta seus subordinados — já sabem do porquê!

  • Por ter alto posto, acha-se no direito de ser ignorante, para ‘motivar’ seus subordinados;

  • Assedia;

  • Não motiva, somente cobrava os resultados;

  • · Não se importa com as condições do trabalho, como periculosidade e insalubridade, mas somente com "Quer conforto? Fique em casa!”;

  • Aceitava o status quo;

  • Administra as atividades;

  • Carrancudo;

  • Trata cada integrante da equipe, desde o subordinado com doutorado, MBA (Master of Business Administration), e toda sigla que venha a ser criada, até quem não tem sigla, com dignidade, conforme o tipo de sigla, diploma, certificado, posição na empresa. Isto é, o chefe permite, querendo ou não, o narcisismo extremo dentro de sua equipe. Todo ser humano é narcisista, alguns mais, outros menos. Contudo, o chefe não agirá para evitar distinção entre os próprios funcionários. Se ele se sente melhor do que todos, como impedirá os ‘degraus do narcisismo’ entre seus próprios subordinados?

Com os avanços na psicologia comportamental, principalmente na administração de empresas, o chefe não é mais o modelo correto. Gêneses: o líder. E quem é o líder? Vejamos:

  • Tem conhecimento, mas ouve, pondera, e até aceita, os conhecimentos de seus subordinados;

  • Cobra, mas motiva os seus subordinados;

  • Não assedia;

  • Não aceita o status quo;

  • Carismático;

  • Preocupasse com as condições dos trabalhadores (periculosidade e insalubridade);

  • Promove reuniões para confraternização entre os subordinados — o intuito é cultivar sociabilidade entre todos;

  • Trata cada integrante da equipe, desde o subordinado com doutorado, MBA (Master of Business Administration), e toda sigla que venha a ser criada, até quem não tem sigla, com dignidade. Isto é, o líder evita que haja narcisismo extremo dentro de sua equipe. Todo ser humano é narcisista, alguns mais, outros menos. Contudo, o líder, que não se reconhece como superior, agirá para evitar os ‘degraus do narcisismo’ entre seus próprios subordinados.

A geração reprimida, então, acha que as gerações mimimi e nutella devem seguir os ‘bons passos’ para ser um ‘ótimo profissional’. Logicamente, quanto mais se exigir dignidade humana, mais chefes perderão seus empregos, mais as empresas, através de seus Recursos Humanos (RHs) terão que criar mecanismos organizacionais e administrativos que estejam de acordo com as Constituições Humanística, como a CRFB de 1988. Se as empresas não humanísticas se adequarem à dignidade humana, não se manterão, por muito tempo, no mercado.

Custo e benefício. As empresas não humanísticas pensarão em seus lucros e as condições de trabalho: por que se importar com a saúde dos empregados, melhores condições de trabalho, se os gastos, com a saúde dos empregados, oneraram os cofres da empresa?


CONSCIÊNCIA DO CONSUMIDOR

Na geração reprimida, os trabalhadores não tinham como se defender dos empresários não humanísticos, a maioria era assim, pelo simples motivo: nenhum consumidor queria saber do trabalhador. Este servia como uma oportunidade de satisfazer o consumidor. Por exemplo, a entrega de pizza em domicílio. A pizza deve chegar quentinha, caso contrário, pelo Código de Defesa do Consumidor, o consumidor, mesmo que a pizza já esteja na porta de sua residência, poderá recusar. A responsabilidade, risco do negócio, é do fornecedor para que o consumidor não como pizza fria. O consumidor quer pizza quentinha, o fornecedor exigirá de seu empregado, o motofrentista, que a pizza chegue quente. Que o motofrentista dirija como um louco nas vias, e que chegue a pizza quente na residência do consumidor.

A geração mimimi e nutella — estou falando da geração que nascera após as décadas de 1980 e 1990, e que incorporam o silogismo da CRFB de 1988: princípio da dignidade humana e os objetivos — não aceitará que o motofrentista se exponha ao perigo dirigindo com imprudência ou negligência. Se a pizza tem que chegar quentinha, que empregador compre baú que garanta maior tempo para que a pizza chegue quentinha ao consumidor.

Essa consciência do consumidor, através da geração mimimi e nutella, garante inovações tecnológicas. Se o empresário geração reprimida não se adequar aos novos tempos, perderá mercado para os empresários mimimi e nutella. Em síntese, quanto mais exigentes os consumidores, mais inovações serão exigidas aos fornecedores, sem que estes violem a própria CRFB de 1988: desenvolvimento sustentável.


BONS TEMPOS 'SEM VIOLÊNCIA'

Depende, se o" cidadão "não tivesse em seu semblante o etiquetamento de criminoso nato, a polícia não se atreveria em bater. Se o policial soubesse que o abordado era um juiz, delegado ou de alguma Força, pianinho ficava. E se o policial quisesse exercer sua função, de forma como mandava a lei, as autoridades superiores — juiz, delegado ou de alguma Força Armada — mandavam prender o atrevido policial. A geração mimimi e nutella nasceram numa época que se gasta mais com produções bélicas do que com melhorias na educação, nos transportes, na saúde. O tráfico sempre existiu, contudo, entranhou, de tal forma, que direitos humanos podem ser usados para justificarem venda de armas aos desprotegidos. Fora as negociações paralelas entre interesses, estratégicos, entre Estado. Os direitos humanos, então, viabiliza a" guerra justa ". Não são os direitos humanos péssimos, mas a maneira como estão sendo usados.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A geração reprimida não tinha:

  • Liberdade de expressão — a não ser que tivesse poder, como já fora mencionado alhures;

  • Autonomia sexual;

  • Enquanto trabalhador, poder de barganha com o empregador,

  • Enquanto consumidor, poder de exigir reparações pela má prestação do serviço, pela venda de produto defeituoso, como o vício oculto;

  • Enquanto empreendedor, proteção, eficaz, contra cartéis;

  • Enquanto empreendedor, suportar a demasiada burocracia estatal;

  • Enquanto eleitor, aceitar, irresistivelmente, as leis produzidas pelos parlamentares.

Dizer que na geração reprimida havia educação, depende do contexto. A criança era reconhecida como sujeito de deveres, como ser humano sem capacidades de expressão. "Faço o que mando, não olhe o que faço!", frase muito pelos pais. Ou seja, o Poder Familiar estava acima da dignidade da criança. Os pais poderiam fumar na presença de seus filhos, enquanto os filhos não poderiam fumar. O interessante disso que o ato de fumar lança gases tóxicos no ar, como ficava a saúde dos filhos? Poderia o filho (a) recriminar um dos tabagistas? Jamais. É fumar, passivamente. Recomendo ler Poder Familiar versus autonomia da vontade das crianças e dos adolescentes: a proibição de fumar em veículos públicos ou privados.

Se algum membro da geração reprimida tivesse problemas mentais, ficasse drogado (dependente químico), perdesse o hímen antes de se casar, não soubesse falar outro idioma, sem ser português, vestisse alguma roupa não considera (padronização) adequada — pararei, a lista ficará cansativa ao leitor —, boom sujeito não era. Tudo padronizado (moral), etiquetado (criminosos natos e não criminosos natos).

Então, as gerações mimimi e nutella são bem melhores do que a geração reprimida (1891 até 1979)? Não, não existem melhor ou pior. É cair na sandice da conceituação do chefe. Seja um líder. Assim como existem os mimimis e nutellas chefes, também existiam membro da geração reprimida como líderes. Ou seja, sempre haverá uma geração condenando a outra. Hábitos mudam, e vocês, mimimi e nutella, também reclamarão dos bons tempos. O ser humano é assim, saudosista: procura se fixar no passado, em sua zona de conforto. Mudanças sociais e tecnológicas causam desconfortos, estremecem os pilares da zona de conforto. O que deve ter em comum entre reprimida, mimimi e nutella é o respeito. Respeitar a autonomia da vontade, desde de que não viole a autonomia da vontade de outra pessoa. Como? Democracia. Comportamento sexual (monogamia ou poliafeto), uso de indumentária, corte de cabelo, falar ou não errado — recomendo ler Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno —, escrever ou não errado — vale emoticon ou não? —, enfim, quando cada qual cuidar de sua vida, sem deixar de ser solidário, o Complexo de Inferioridade decairá, substancialmente. O medo, eterno medo existencial do Homo Sapiens Sapiens Conflictus, dará lugar ao convívio salutar.

Assistiu ao filme 1984, de George Orwell? Muito cuidado. Os reprimidos podem dizer que há uma ditadura, a liberdade de expressão está amordaçada. Depende? Chamar pessoa de 'macaca' é correto? Ou chamar um LGBT de doente é correto? Ou chamar um umbandista de 'demônio' é correto? Chamar um advogado criminalista de" Defensor de bandido! "— não estou me referindo aos danos morais — é correto, plausível e lógico? Se assim for, também é correto chamar advogado criminalista defensor de escravo de" Defensor de bandido! ", quando o próprio escravo matou o seu senhor em legítima defesa.

Tirando muitas" fotos "? Somente alguns 'reprimidos' tinham máquinas de fotografia, já que eram caríssimas para a maioria dos brasileiros. Além disso, não existia internet e Facebook. Mimimi e nutella vivem sorrindo para as fotos, os reprimidos tinham receio de se expressarem, pois, o correto, era aparentar pessoa" centrada ", isto é, pessoas sérias e responsáveis deveriam rir à toa. Quanto à ostentação, sempre existiu. O que importa, repito, é saber viver com as diferenças. Reclamar sempre foi parte da vida da espécie humana. Elas são saudáveis, quando coadunadas com visão inovadora. Sabe qual lugar há perfeição e em qual geração houve perfeição? Talvez em Marte!

Termino. Geração reprimida nada tem a ver com a idade biológica, com o tipo de período humano, tem mais a ver com o tipo de pensamento, com as correntes que impedem a pessoa de discernir por si mesma.


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