A decisão tomada pela Suprema Corte dos EUA em relação ao casamento gay está sendo intensamente comemorada pela esquerda brasileira. Não tenho receio de dizer que sou indiferente à questão.
Os “moralismos politizados”, que no GGN chamei de “fashionismos”, não representam necessariamente uma evolução da esquerda. Muito pelo contrário, talvez estejam sendo a causa da sua destruição. Isto explica porque são incentivados pela extrema direita, cuja união é baseada em nascimento, dinheiro e posição social.
Mesmo assim, sou capaz de bater palmas para a Suprema Corte dos EUA. A cúpula do judiciário norte-americano é extremamente hábil. Conseguiu agradar a esquerda “fashionista” e se tornar uma referência humanitária mesmo se recusando a conferir direitos humanos aos prisioneiros de Guantanamo. O "respeitável público gay" pode agora deixar de exigir o impensável: que os “outros” seres humanos, aqueles que são torturados pelos EUA ou que serão despedaçados nas novas guerras norte-americanos sejam considerados titulares das garantias inscritas na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Julian Assange (prisioneiro sem condenação por causa dos segredos diplomáticos e militares dos EUA que despejou na internet e escancarou nos jornais), Edward Snowden (exilado em virtude de ter comprovado e comprometido o programa de vigilância massiva norte-americano) e Bradley Manning (condenado a 35 anos de prisão por causa de um CD contendo algo mais perigoso do que músicas da Lady Gaga) já podem comemorar o casamento gay. Será que eles não tem coisas mais importantes com que se preocupar?
A decisão da Suprema Corte dos EUA merece ser aplaudida. É fácil fazer política com a toga. Difícil mesmo é reverter o desumano militarismo norte-americano quando este é desejado, ignorado ou escamoteado pela cúpula judiciária dos EUA.