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Novo governo com a velha política das cleptocracias brasileiras. Dilma pode ocupar cargos públicos (decidiu o Senado).

Agenda 31/08/2016 às 17:44

Temer assume definitivamente o governo e novamente não está se comprometendo com o efetivo combate à corrupção sistêmica no país. Nem tampouco, até aqui, externou qualquer tipo de apoio à Lava Jato. Continuamos sem encontrar um governante sério que...

Temer assume definitivamente o governo e novamente não está se comprometendo com o efetivo combate à corrupção sistêmica no país. Nem tampouco, até aqui, externou qualquer tipo de apoio à Lava Jato. Continuamos sem encontrar um governante sério que dê vida para as palavras de Ulysses Guimarães, que dizia:

“A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos, que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública”.

O PMDB está envolvido até o último fio de cabelo no caso Petrobras e tantos outros de corrupção. A indignação popular contra a bandalheira pública conduziu à necessária troca do governo, mas com o PMDB-PSDB no governo não se muda o DNA cleptocrata da política brasileira, que foi agravada com o lulopetismo.

Temer pode nos surpreender, mas é certo que não está na programação histórica desses clássicos partidos (PT, PMDB, PSDB etc.) qualquer tipo de iniciativa séria que mude nossa tradição de desrespeito à coisa pública (tradição de mais de 500 anos).

Nas cleptocracias (cleptocracia = sistema de governo em que as instituições favorecem o enriquecimento ilícito com o dinheiro público, a improbidade administrativa assim como o enriquecimento politicamente privilegiado dos donos do poder, em detrimento da maioria da população), mesmo quando sobrepostas às democracias formais, a troca dos donos do poder, sem o comprometimento sério de que vai respeitar a coisa pública, transmite sempre a sensação de que o velho já morreu e o novo não nasceu.

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Os governos, mesmo os democráticos, não nos oferecem garantias de mudanças profundas no velho estilo de se fazer política (ou seja, de se apropriar da coisa pública, seja o apropriante um agente público ou um agente privado com influência no governo).

Essa velha tradição (de só mudar as abelhas, não a colmeia) já não condiz com o Brasil moderno (que foi para as ruas pedir o impeachment por causa da corrupção). A forma de liderar nosso país, em regra, é o que existe de mais arcaico no cenário nacional. Os anos passam e isso teima em não desaparecer.

Nas sociedades comunistas (sob naufrágio total) as classes dominantes são formadas pelas burocracias subordinadas a um ditador. Nas sociedades capitalistas (ainda que se trate de um capitalismo peculiar, como é nosso caso) o Estado é a única instituição que catalisa os interesses dos donos do poder (oligarquias governantes mais grupos, setores ou famílias influentes), apresentando-os (magicamente) como interesses de todos (da coletividade).

Ter o poder, se apoderar do Estado (por qualquer que seja o meio constitucionalmente previsto), é o sonho diário de todos os que aspiram a exercer o poder político, porque isso permite que os projetos particulares se imponham sobre o resto da nação.

Temer não pode ser investigado, doravante, pelos crimes cometidos fora da sua função. Essa é uma interpretação equivocada da Constituição, que diz que o presidente não pode ser “processado” por crimes alheios à sua função. Investigado deveria ser (como Dilma também quando exercia a presidência).

O Senado “fatiou” o julgamento de Dilma: condenou-a à perda do cargo, mas não a inabilitou para o exercício de função pública. Nisso há um paradoxo. Se os senadores reconheceram que ela praticou crimes de responsabilidade contra a República, não poderiam permitir a ocupação de novas funções. Mas esse tipo de paradoxo é comum nas cleptocracias. Mais: tudo isso sinaliza com o grande “acordão” da lei de anistia que estão rascunhando.

Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

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