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A política do pão e circo que não deu certo: o carnaval 2017 do Recife

A cidade de Recife, inserida num Brasil que passa pela pior crise econômica da sua história, teve um Carnaval de 2017 que custou R$ 27 milhões de reais, sendo que R$ 20 milhões foram pagos com o dinheiro público.

O Brasil passa pela pior crise econômica da sua história e o Recife sofre as consequências de tal cenário. Mesmo estando inserida em tal conjuntura, o Carnaval 2017 da capital pernambucana custou 27 milhões de reais, sendo apenas R$ 7 milhões de patrocínio privado e R$ 20 milhões pagos com o dinheiro público. Enquanto isso, escolas e creches municipais do Recife carecem de investimentos e são violadoras de direitos humanos. Estando 54% das escolas sem saneamento básico, 95.8% das creches carecendo de banheiros infantis adaptados para cadeirantes, além de, 76.7% não possuírem salas climatizadas.

Chama a atenção que o Centro Municipal de Educação Infantil Sítio dos Pintos, por exemplo, encontra-se em obras desde julho de 2012. A conclusão do CMEI, orçada em 1,4 milhões, estava prevista para janeiro de 2013, entretanto, quatro anos depois, a mesma ainda não foi concluída, afetando a vida dos moradores do bairro, principalmente dos pais que precisam trabalhar e não contam com unidades de ensino para deixar os filhos.

Vale ressaltar ainda que, a Creche-Escola Recife Governador Eduardo Campos, situada na UR-5, bairro da Cohab, custou R$ 1,6 milhão. Ou seja, com o orçamento de 20 milhões destinados aos festejos do Carnaval de 2017 muito se poderia ter feito na área de educação, com a construção e reforma de escolas e creches, deixando um legado para as crianças e os jovens recifenses. Por exemplo, com o valor retirado dos cofres públicos, seria possível construir 12,5 creches idênticas a Creches-Escola Governador Eduardo Campos, ou seja, centenas de crianças e famílias seriam impactadas positivamente.

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No quesito saúde, segundo números parciais divulgados pela Secretaria de Saúde do Recife com base em exames realizados até a última segunda-feira (27), a quantidade de pessoas diagnosticadas com o vírus HIV foi o triplo da média nacional, pressionando aos órgãos competentes que desenvolvam ações de saúde pública na prevenção e no tratamento do vírus.

No quesito despesas de Carnaval, a Prefeitura gastou mais de R$ 1 milhão apenas com isolamento de prédios e áreas públicas durante a festa, cerca de 15%, em relação à edição anterior (2016), e quase 40% se comparada a 2014 afim de conter ações de vândalos.

Infelizmente os recifenses não obtiveram acesso aos dados sobre violência durante o Carnaval 2017, pois a Secretaria de Defesa Social (SDS) ainda não divulgou o balanço e tampouco informou a data que pretende tornar público tais dados. Mas o fato é que os números levantados pela grande imprensa são alarmantes, estimando 480 homicídios desde Janeiro e ao menos 12 assaltos à ônibus durante os festejos de Carnaval. Segundo pesquisa do Instituto Maurício de Nassau, 44,4% dos recifenses desistiram de sair no carnaval devido ao medo dos intensos casos de violência.

Segundo o secretário Ângelo Gioia, a Região Metropolitana, incluindo os dois principais focos da folia, Olinda e Recife, não registrou nenhum assassinato entre 0h de sábado (25/02) e as 23h59 da terça-feira (28/02), o que vai de encontro às notícias, uma vez que desde janeiro deste ano houve 70 homicídios no Recife, mais de dois por dia. Já conforme a Ronda JC, entre a sexta-feira (24) e terça-feira (28), foram registrados 28 homicídios na Região Metropolitana do Recife, informação mais condizente com a infeliz realidade de violência crescente na capital pernambucana: entre 2013 e 2016 houve um aumento de 42,21% na taxa de homicídios. Atualmente, há 40,9 homicídios a cada 100 mil habitantes no Recife, número bem acima da média brasileira de 32,4. Já os crimes contra o patrimônio mais que dobraram nos últimos quatro anos (em 2013 foram 20.516 crimes contra 41.438 do ano passado).

A partir dos dados analisados e da condução da gestão pública é possível observar a relação próxima que a gestão tem empregado no que se refere a alocação de recursos públicos, recorrendo aos tempos da velha política romana e adotado o popular pão e circo, onde no caso em questão, o carnaval foi o ópio oferecido ao povo recifense.

Por fim, é inegável que a Prefeitura Municipal do Recife priorizou o carnaval ao invés de investir em educação ou demandas prioritárias da população, como segurança, educação, saneamento básico e mobilidade urbana.

Sobre os autores
Renato Hayashi

Advogado. Professor e Coordenador em cursos de Pós-graduação. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Mestre em Políticas Públicas (UFPE). Assessor Jurídico na Câmara Municipal do Recife.

Aline Santa Cruz

Graduanda em Ciência Política pela UFPE

Carolina Martinelli

Cientista Política. Mestranda em Ciência Política pela UFPE

Myllena Pereira Santos

Graduanda em Ciência Política pela UFPE.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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