CONCLUSÕES
Este singelo trabalho atuou no sentido de expor os riscos sociais decorrentes de uma população civil armada, que consumida pelo medo e pela violência reinantes na sociedade brasileira, falsamente é levada a se armar para se defender contra roubos e assaltos. O suposto benefício representado pela posse da arma está muito abaixo dos incontáveis malefícios que ela produz. Logo, o desarmamento é medida valiosa para a salvação de muitas vidas preciosas.
O desarmamento é uma medida positiva em muitos aspectos. Primeiro porque funciona como uma política de segurança pública, na medida em que estabelece um controle rigoroso sobre armas de fogo e munições, proibindo a venda indiscriminada para civis e, assim, reduz substancialmente o número de armas em circulação no meio social, contribuindo diretamente para afastar armas compradas legalmente das mãos do crime organizado e dos bandidos, de uma forma geral, que delas se apoderam através de roubos e furtos. Além disso, o desarmamento pode ser encarado como uma medida de saúde pública. Atualmente, R$ 140 milhões em média são gastos todo ano, pelo Ministério da Saúde, com internações por ferimento de arma de fogo, nas redes pública e particular, muitas das quais ocasionadas por motivos fúteis.
O Brasil é o terceiro país do mundo onde mais jovens entre 15 e 24 anos de idade são alvejados por tiros de armas de fogo, ficando atrás apenas da Venezuela e de Porto Rico. É preciso avançar no sentido de se construir uma sociedade mais segura e cidadã, onde a cultura da paz vença a da violência e do sangue. De nada adianta um cidadão armado diante de um mundo recheado de injustiças sociais que são, em parte, a grande geradora da violência e do crime.
A violência fica cada dia mais banalizada, fruto da crescente indiferença entre as pessoas que habitam um mesmo ambiente social. O incentivo ao individualismo e a cultura da violência e do mais forte são capazes de transformar o homem num ser irracional. A arma pode de uma hora para outra converter uma pessoa de bem num criminoso. Boa parte dos crimes cometidos com armas se dá por motivos fúteis ou banais; vinganças ou rixa pessoal entre vizinhos, motoristas no trânsito, enfim, pessoas que nunca tiveram vínculo com o tráfico de drogas ou outras atividades criminosas. Crimes que não ocorreriam se as pessoas andassem desarmadas.
Também se buscou ao longo do trabalho desmistificar a história de que um cidadão armado estaria mais protegido que um desarmado durante assaltos ou roubos. Ocorre justamente o inverso. A arma aumenta o risco, pois a pessoa, ao se sentir encorajada com a sua posse, resolve muitas vezes reagir ao bandido, que nada tem a perder. E o risco dele ser alvejado por este é cerca de 180 vezes maior que no caso dele estar desarmado, conforme dados divulgados pelo FBI.
De outro lado deve-se ter o cuidado de não criar a ilusão de que o desarmamento irá solucionar de uma só vez o problema da violência no Brasil. Longe disso. Trata-se apenas de um primeiro passo que, indiretamente, estará contribuindo para combater o crime organizado e difundir a cultura da paz tão ausente nos dias atuais. Quem tem a obrigação legal e reúne condições plenas para reprimir o tráfico de drogas e a violência urbana é o Estado, através dos seus órgãos oficiais de repressão policial.
Para tanto, faz-se mister reestruturar a Segurança Pública no país (melhores salários e treinamentos, preparação técnica e psicológica, aperfeiçoamento dos serviços de inteligência das polícias, ampliação da polícia comunitária, etc.) e, principalmente, aumentar os investimentos públicos na área social: educação, lazer, cultura, geração de mais empregos. Ou seja, é necessária a adoção políticas públicas sérias e comprometidas com a redução da desigualdade social, que é sem dúvida alguma a maior violência desse país. Se não houver esse empenho, o desarmamento estará fadado a ser mais uma política isolada e ineficaz, insuficiente para reduzir os altos índices de violência e criminalidade existentes.
ANEXO
ESTATÍSTICAS OFICIAIS SOBRE ARMAS DE FOGO – MINISTÉRIO DA SAÚDE (Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS)
Brasília – Agosto de 2005
Gráfico 1- Tendência do número de óbitos por arma de fogo no Brasil.
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – MS.
Tabela 1 - Foram 3.234 mortes a menos em 2004 (interpretando o gráfico).
Ano |
Óbitos arma de fogo Brasil |
Variação em No absoluto |
Variação % do nº óbitos |
Taxa /100mil |
2002 |
37.978 |
- |
- |
22,0 |
2003 |
39.325 |
+1.347 |
+3,5% |
22,4 |
2004 |
36.091 |
-3.234 |
-8,2% |
20,3 |
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – MS.
Tabela 2 - Tendência do número de óbitos por arma de fogo cuja causa foi acidental – Brasil.
Ano |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
Morte acidental arma fogo |
336 |
318 |
283 |
201 |
Variação percentual |
- |
-5% |
-11% |
-29% |
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – MS.
Tabela 3 - Principais causas de mortalidade entre jovens de 10 a 29 anos, Brasil – 2003.
Mortalidade |
Faixa Etária |
|||
10 a 14 |
15 a 19 |
20 a 24 |
25 a 29 |
|
n |
n |
n |
n |
|
Armas de fogo |
475 |
6637 |
9710 |
6884 |
Outras causas externas |
1218 |
4.440 |
6.117 |
5.391 |
Acidentes de transporte |
986 |
2888 |
4613 |
3896 |
Doenças do Aparelho Circulatório |
315 |
657 |
1.035 |
1.546 |
Doenças Infecciosas |
299 |
509 |
1063 |
2106 |
Doenças do Aparelho Respiratório |
374 |
611 |
791 |
946 |
Doenças do Sistema Nervoso |
409 |
530 |
444 |
410 |
Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas |
109 |
159 |
222 |
383 |
Neoplasias |
630 |
900 |
1100 |
1293 |
Doenças do Aparelho Digestivo |
121 |
236 |
452 |
778 |
Outras |
1.010 |
1.950 |
2.574 |
2.444 |
Total de Óbitos |
5946 |
19517 |
28121 |
26695 |
Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde – MS.
FONTES DE PESQUISA:
JESUS, Damásio E. de. A questão do desarmamento. Jus Navigandi, Teresina, a.8, n. 319, 22 maio 2004. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/5209. Acesso em: 27 set. 2005.
WLASSAK, Thomas. Contribuições críticas à Lei n° 10.826/2003. Jus Navigandi, Teresina, a.8, n. 262, 26 mar. 2004. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/5004. Acesso em: 27 set. 2005.
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Impacto da campanha do desarmamento no índice nacional de mortalidade por arma de fogo. Brasília, ago. 2005.
WEISSHEIMER, Marco Aurélio. "Tudo o que o lobby das armas não quer que você saiba" (frase atribuída a Marcos Rolim). Agência Carta Maior (www.catarmaior.com.br) publicado em 03 out. 2005.
Publicação especial da Equipe de Comunicação da Liderança do PT na Câmara dos Deputados. Desarmamento: diga SIM à vida / Vote 2 – vamos acabar com o comércio de armas. Brasília, out. 2005.
Documento retirado da homepage do Dep. Federal Beto Albuquerque (PSB-RS). Enquete: Saiba mais sobre o desarmamento – Referendo Sobre Venda de Armas -23 de outubro. Maiores informações consultar: www.betoalbuquerque.com.br. Acesso em: 26 set. 2005.
Jornal A TARDE. ESPECIAL REFERENDO. Publicação do dia 09 out. 2005. Título da matéria: Como a proibição do comércio afetará a indústria? p. 03. Salvador, BA.
Jornal do Brasil – JB Online: Pesquisa revela origem das armas usadas em crimes no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 03 out. 2005.
Legislação consultada:
Lei n° 9.437/97 (REVOGADA).
Lei n° 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento.
Decreto n° 5.123/2004, que regulamenta a Lei n° 10.826/2003.