Capa da publicação Me dá uma anistia aí…
Capa: Rodrigo Bitar / Câmara dos Deputados
Artigo Destaque dos editores

Me dá, me dá, me dá uma anistia aí…

02/03/2024 às 09:00

Resumo:

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  • Bolsonaro, outrora proclamando-se invencível com frases como "Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora", acabou fugindo para os EUA antes da Intentona Bolsonarista, revelando sua verdadeira natureza de fanfarrão medroso.

  • Os atos de 08 de janeiro de 2023, associados a Bolsonaro e seus seguidores, devem ser julgados e responsabilizados, sem anistia ou perdão, para garantir a pacificação e justiça na sociedade brasileira.

  • Apesar das ameaças anteriores de reagir violentamente, é incerto se Bolsonaro manterá sua postura agressiva frente a uma possível prisão, dada a sua histórica falta de coragem em momentos críticos.


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Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

Enfraquecido, derrotado eleitoralmente e amedrontado por causa das consequências inevitáveis da intentona bolsonarista, o capitão implora por anistia.

Em novembro de 2020, acreditando ser invencível, Bolsonaro proclamou que “Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora.” Menos de um ano depois, as evidências já indicavam que o militarismo Fake daria uma fraquejada. A fuga do capitão golpista para os EUA antes da Intentona Bolsonarista de 08 de janeiro de 2023 restaurou o princípio da realidade. Bolsonaro reconheceu enfim que não passava de um fanfarrão medroso cercado de generais paranoicos impotentes.

Oscilando entre as ameaças, a realidade e os desejos infantis, nos últimos dias o ex-presidente brasileiro começou a entoar uma marchinha de carnaval “Me dá, me dá, me dá, me dá uma Anistia aí…”. Nem perdão, nem indulto, nem anistia. Todos os responsáveis diretos e indiretos pelos crimes cometidos em 08 de janeiro de 2023 devem ser responsabilizados. A pacificação da sociedade brasileira ocorrerá mediante o cumprimento das penas eventualmente impostas.

Refletindo sobre o espaço vital gótico (ou germânico), Oswald Spengler afirma que “A cultura faustiana é uma cultura da vontade.” (A decadência do ocidente, Oswald Spengler, editora Forense Universitária, 4ª edição, Rio de Janeiro, 2014, p. 163). Não somos nem góticos, nem faustianos. O que anima o espaço vital brasileiro é a indigência intelectual e a indolência moral. Portanto, podemos dizer que somos “macunaímicos”.

Bolsonaro é um herói sem caráter que simboliza a alma nacional. Quando se sentia poderoso e invencível ele arrotava coragem e ameaçava entrar “...pelo povo distribuindo rasteiras e cabeçadas.” (Macunaíma, o herói sem caráter, Mário de Andrade – edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez, editora LTC, Rio de Janeiro, 1978, p. 93). Enfraquecido pela CPI da Covid, derrotado eleitoralmente e amedrontado por causa das consequências inevitáveis da Intentora Bolsonarista, ele implora por anistia e dá a entender que vai sentar “… na praça Antônio Prado [para] meditar sobre a injustiça dos homens” (Macunaíma, o herói sem caráter, Mário de Andrade – edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez, editora LTC, Rio de Janeiro, 1978, p. 104).

A histeria política da extrema direita provocou um erro histórico imperdoável. Em diversas oportunidades, o mito e os generais supostamente valentes que ele comandava deram a entender que estavam se preparando para reeditar o golpe de 1964. A única coisa que eles conseguiram foi reencenar a revoada das galinhas verdes de outubro de 1934.

Os fatos comprovaram afinal que a avaliação feita por mim em julho de 2021 não estava tão errada:

Bolsonaro é um gênio mais terrível que Karl Marx, Lenin, Gramsci e Scooby-Doo. Além de perder o “timing” para dar o bote, ele criou uma situação que impedirá as Forças Armadas de voltar a interferir politicamente nos destinos do país por um bom tempo. Ele era o homem errado no lugar errado no momento errado. Uma escolha obviamente errada dos generais que desprezaram outro fato importante da história militar: Bolsonaro havia sido expulso do Exército e seu desejo de vingança da corporação ficou soterrado profundamente em sua personalidade.”

Injustamente condenado por Sérgio Moro e obrigado inconstitucionalmente a cumprir a pena antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, 7 de abril de 2018 Lula se entregou à PF e impediu seus seguidores de reagir de maneira violenta. Bolsonaro disse certa feita que se alguém tentar prendê-lo ele receberá a polícia à bala atirando para matar. O cerco está se fechando, mas é impossível saber se o ex-presidente fanfarrão cumprirá a promessa.

Pessoalmente não acredito que Jair Bolsonaro reagirá de maneira violenta se o STF condená-lo e mandar prendê-lo. Ao longo de sua atabalhoada carreira política, ele nunca demonstrou ser um personagem dramático. E se levarmos em conta a história do mito, o mais provável é que ele proteste contra a prisão empunhando um rojão e não uma pistola contra a PF.

Durante 1 ano e 7 meses, os militantes de esquerda fizeram vigília na frente do presídio em que Lula cumpriu a pena indevida lhe imposta por um juiz suspeito e incompetente para condená-lo. Os seguidores mais fiéis de Bolsonaro não poderão fazer isso: aqueles que não foram presos estão seguindo para a prisão. O Estado de Direito brasileiro não é mais Fake e esse é, sem dúvida alguma, o maior feito da história recente do Brasil.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

RIBEIRO, Fábio Oliveira. Me dá, me dá, me dá uma anistia aí…. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 29, n. 7549, 2 mar. 2024. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/108565. Acesso em: 22 dez. 2024.

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