Capa da publicação Game of Thrones e geopolítica: alianças, conflitos e estratégias globais
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Game of Thrones e geopolítica contemporânea: reflexões sobre alianças, conflitos e estratégias globais no cenário de guerra

09/10/2024 às 11:50
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As disputas hegemônicas entre os Estados Unidos e a China, as tensões nas alianças da OTAN e da União Europeia, as estratégias indiretas de manipulação política da Rússia e o papel moderador da ONU são comparados com as relações de poder em Westeros.

Resumo: O artigo explora a geopolítica contemporânea com base nas alianças, conflitos e dinâmicas de poder da série Game of Thrones, demonstrando como o comportamento das grandes potências globais – como Estados Unidos, China, Rússia e União Europeia – pode ser interpretado à luz dos eventos e personagens da narrativa ficcional de George R.R. Martin. As disputas hegemônicas entre os Estados Unidos e a China, as tensões nas alianças da OTAN e da União Europeia, as estratégias indiretas de manipulação política da Rússia e o papel moderador da ONU são aqui correlacionados com as complexas relações de poder em Westeros. Com essa análise comparativa, busca-se compreender de maneira inovadora os desafios e as oportunidades da política internacional contemporânea.

Palavras-chave: Game of Thrones. Geopolítica. Alianças. OTAN. Rússia. China. Estados Unidos. União Europeia. ONU.


1. A Luta pelo Poder Global: A "Corrida pelo Trono de Ferro" Entre Estados Unidos e China

A ascensão da China e o declínio relativo dos Estados Unidos estão entre os principais fenômenos da política internacional contemporânea. Os Estados Unidos, como potência hegemônica desde o final da Segunda Guerra Mundial, desempenharam o papel de principal defensor da ordem liberal global. Com instituições como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC), os EUA moldaram a estrutura econômica e política mundial a seu favor, consolidando sua hegemonia. No entanto, o rápido crescimento econômico da China e sua busca por liderança global desafiam esse domínio.

Essa disputa pode ser comparada à luta pelo Trono de Ferro entre Daenerys Targaryen e Cersei Lannister em Game of Thrones. Daenerys, com sua missão de quebrar a roda da opressão e construir uma nova ordem, representa a China, que procura estabelecer uma nova configuração de poder global através de iniciativas como o Belt and Road. Por outro lado, Cersei Lannister, que já está no poder e emprega táticas de manutenção de sua hegemonia, representa os Estados Unidos, que usam sua força militar, econômica e diplomática para manter sua posição.

A analogia estende-se ainda à competição tecnológica e militar entre as duas potências, especialmente no que diz respeito à corrida por inovações em áreas como inteligência artificial e redes 5G. A China, como Daenerys, está disposta a tomar medidas drásticas para alcançar seus objetivos, inclusive expandindo sua influência no Mar do Sul da China e fortalecendo suas alianças regionais. Os Estados Unidos, como Cersei, tentam equilibrar seus próprios desafios internos com a necessidade de enfrentar um adversário crescente.


2. OTAN e União Europeia: Alianças Instáveis Como as Casas do Norte

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a União Europeia enfrentam desafios significativos na manutenção de sua coesão e relevância em um mundo cada vez mais multipolar. Assim como as casas do Norte de Westeros – Stark, Bolton e Frey – formam alianças instáveis para enfrentar ameaças externas, a OTAN e a União Europeia precisam lidar com divergências internas e externas. O Brexit, por exemplo, representou um momento de ruptura no bloco europeu, enquanto as tensões com membros como a Turquia evidenciam a fragilidade de certas alianças.

A OTAN foi originalmente formada para conter a expansão da União Soviética e proteger a Europa Ocidental, muito similar às alianças formadas em Westeros para resistir a um inimigo em comum, os Caminhantes Brancos. Com o fim da Guerra Fria, a organização tem buscado redefinir seu papel, enfrentando novas ameaças, como o terrorismo e o expansionismo russo, mas as divisões internas muitas vezes complicam essa missão.

Em Game of Thrones, alianças que outrora eram sólidas se desintegram quando os interesses individuais começam a sobrepor-se aos objetivos comuns. Da mesma forma, a OTAN e a União Europeia enfrentam problemas quando a segurança e a política externa de seus membros divergem, e o interesse nacional prevalece sobre a solidariedade coletiva. A crise dos refugiados e as divergências sobre gastos militares, por exemplo, ilustram a fragilidade dessas alianças, assim como as traições de Roose Bolton enfraqueceram os Starks.


3. A Rússia e os Caminhos de Lord Varys: Estratégias de Subversão e Manipulação Política

Vladimir Putin e a Rússia têm adotado uma política de poder indireto, ou soft power, através da manipulação da opinião pública, campanhas de desinformação, guerra cibernética e apoio a movimentos nacionalistas ao redor do mundo. Essas táticas são semelhantes às de Lord Varys, o Mestre dos Sussurros, que operava nos bastidores em Westeros, utilizando a informação como uma arma poderosa.

A anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, assim como sua intervenção militar na Síria e Ucrânia, mostra uma estratégia que visa aumentar sua influência sem depender de confrontos diretos. Em Game of Thrones, Varys empregava agentes e espiões para manipular eventos e influenciar líderes, sem nunca participar diretamente dos conflitos, mas garantindo que os resultados favorecessem seus interesses.

A Rússia, assim como Varys, busca minar a estabilidade de seus adversários através de ações indiretas, como interferência nas eleições ocidentais e apoio a líderes populistas na Europa e nos Estados Unidos. Enquanto outros jogadores estão focados no poder militar e econômico, a Rússia usa a desinformação e o apoio clandestino a movimentos políticos como armas, desestabilizando o cenário geopolítico sem recorrer a uma guerra aberta.


4. A ONU e a Muralha: O Guardião da Paz

A Organização das Nações Unidas (ONU) desempenha o papel de guardiã da paz global, mas frequentemente enfrenta limitações semelhantes às da Patrulha da Noite em Westeros. A ONU foi criada para evitar outra guerra mundial, assim como a Muralha foi erguida para proteger os reinos dos perigos além do Norte. No entanto, tanto a ONU quanto a Patrulha da Noite são negligenciadas e carecem de recursos suficientes para desempenhar plenamente suas funções.

A ONU é muitas vezes ignorada pelas grandes potências quando seus interesses nacionais estão em jogo, assim como as casas de Westeros ignoraram os avisos sobre os Caminhantes Brancos até que fosse tarde demais. Conflitos regionais, crises humanitárias e desafios como as mudanças climáticas são frequentemente subestimados por nações poderosas, que preferem focar em questões de curto prazo, assim como as grandes casas de Westeros subestimaram a ameaça do inverno.

A ONU enfrenta dificuldades para implementar ações efetivas devido ao poder de veto de seus membros permanentes no Conselho de Segurança, uma dinâmica que também pode ser vista em Westeros, onde a divisão de poder entre as casas impedem uma ação unificada. Tanto a Patrulha da Noite quanto a ONU tentam proteger o mundo de ameaças existenciais, mas suas limitações estruturais e falta de apoio dificultam sua missão.

5. Rússia, OTAN e o Jogo de Influências: Geopolítica na Europa e Eurásia

A relação entre a Rússia e a OTAN é marcada por um jogo contínuo de influências e disputas territoriais, especialmente na Europa Oriental e na Eurásia. Após o colapso da União Soviética, a Rússia busca restabelecer sua influência nas antigas repúblicas soviéticas, enquanto a OTAN expande sua presença no Leste Europeu. Este conflito se assemelha às disputas territoriais em Westeros, onde cada casa busca expandir suas terras e proteger suas fronteiras contra rivais.

A expansão da OTAN, que inclui a adesão de países como Polônia, Lituânia e Estônia, reflete as tentativas das casas do Norte de consolidar suas forças contra invasões. A reação russa, como a anexação da Crimeia, pode ser vista como uma tentativa de recuperar territórios e influências perdidas, uma estratégia parecida com a de Stannis Baratheon em sua tentativa de retomar o Trono de Ferro.

Essas dinâmicas evidenciam que, mesmo em um mundo globalizado e interconectado, as disputas territoriais e as estratégias de influência continuam a ser uma característica fundamental da política internacional, assim como são uma parte central das intrigas e batalhas em Westeros.


6. O Mundo Multipolar: A Ascensão de Novos Atores Globais

O sistema internacional está em transição para uma configuração multipolar, onde potências regionais, como Índia, Brasil e Turquia, assumem papéis cada vez mais proeminentes em suas regiões. Essa realidade é similar ao final de Game of Thrones, onde o poder é fragmentado entre várias casas e líderes regionais, refletindo uma descentralização do poder global.

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A ascensão da Índia, por exemplo, como uma potência tecnológica e militar, reflete a posição de Bran Stark como o novo governante de Westeros. Ele possui habilidades únicas, como o Corvo de Três Olhos, e desempenha um papel essencial no novo equilíbrio de poder. Da mesma forma, novas potências emergentes desempenham um papel central nas decisões globais, buscando contrabalancear a hegemonia tradicional das potências ocidentais.

Assim como Westeros testemunha o surgimento de novas figuras de poder, o sistema internacional é moldado pelo crescimento de países que estão desafiando as estruturas tradicionais de poder e influenciando o curso dos eventos globais.


7. A Geopolítica Global e Game of Thrones: Uma Nova Comparação

Neste novo tópico, propõe-se uma reflexão mais aprofundada sobre como Game of Thrones oferece insights nas dinâmicas da política internacional. A série mostra um mundo de alianças voláteis, traições constantes e poder descentralizado, muito semelhante ao cenário contemporâneo. No mundo real, as alianças como OTAN e União Europeia enfrentam desafios para manter sua coesão, assim como as casas de Westeros. Os Estados Unidos, como a casa Lannister, buscam manter sua posição hegemônica, enquanto a China, como Daenerys, busca revolucionar a ordem estabelecida. A Rússia, com suas táticas subversivas, espelha os métodos de Lord Varys e Petyr Baelish, que usam a informação e a manipulação para influenciar o resultado dos eventos.

No final de Game of Thrones, o poder é fragmentado entre várias casas e regiões, cada uma buscando manter sua autonomia e liderança. O mesmo acontece no cenário internacional atual, onde a hegemonia unipolar dos Estados Unidos é contestada por potências emergentes. Além disso, a imprevisibilidade das alianças e das traições, que molda os conflitos em Westeros, é um lembrete das constantes mudanças no cenário geopolítico global, onde antigas alianças podem ser quebradas e novos acordos podem surgir a qualquer momento.


Conclusão

Ao comparar o mundo de Game of Thrones com o cenário geopolítico contemporâneo, podemos observar como as dinâmicas de poder, alianças e traições são atemporais. A luta pelo Trono de Ferro espelha a disputa por hegemonia global entre os Estados Unidos e a China, enquanto as alianças frágeis da OTAN e da União Europeia lembram as complexas relações entre as casas de Westeros. A Rússia, como Lord Varys, utiliza táticas de subversão para influenciar eventos globais, e a ONU, como a Patrulha da Noite, luta para proteger o mundo com recursos limitados e apoio inconsistente.

O mundo atual, assim como Westeros, está em constante mudança, e as potências globais precisam estar sempre atentas às novas ameaças e oportunidades. As lições de Game of Thrones servem como um lembrete de que, na geopolítica, o poder é volátil e as alianças são muitas vezes temporárias. Assim como o Trono de Ferro é um símbolo de poder absoluto, a liderança global é um prêmio pelo qual muitas nações competem, mas poucos conseguem mantê-lo sem enfrentar desafios e sacrifícios.


Referências Bibliográficas

Nye, Joseph S. The Future of Power. PublicAffairs, 2011.

Waltz, Kenneth. Theory of International Politics. Waveland Press, 1979.

Kaplan, Robert D. The Revenge of Geography: What the Map Tells Us About Coming Conflicts and the Battle Against Fate. Random House, 2012.

Martin, George R. R. A Song of Ice and Fire Series. Bantam Books, 1996-2011.

Allison, Graham. Destined for War: Can America and China Escape Thucydides's Trap? Houghton Mifflin Harcourt, 2017.

Mearsheimer, John. The Tragedy of Great Power Politics. W. W. Norton & Company, 2001.

Morgenthau, Hans. Politics Among Nations: The Struggle for Power and Peace. McGraw-Hill Education, 2005.


Abstract: This article explores contemporary geopolitics through the lens of the alliances, conflicts, and power dynamics from the series Game of Thrones, demonstrating how the behavior of global powers—such as the United States, China, Russia, and the European Union—can be interpreted in light of the events and characters from George R.R. Martin’s fictional narrative. The hegemonic disputes between the U.S. and China, tensions within NATO and the European Union, Russia’s indirect strategies of political manipulation, and the moderating role of the UN are all compared with the intricate power relations in Westeros. Through this comparative analysis, the paper aims to provide innovative insights into the challenges and opportunities of contemporary international politics.

Key words : Game of Thrones. Geopolitics. Aliances. NATO. Russia. China. United States. European Union. UN.

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Sobre o autor
Silvio Moreira Alves Júnior

Advogado; Especialista em Direito Digital pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal pela Faculminas; Especialista em Compliance pela Faculminas; Especialista em Direito Civil pela Faculminas; Especialista em Direito Público pela Faculminas. Doutorando em Direito pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

ALVES JÚNIOR, Silvio Moreira. Game of Thrones e geopolítica contemporânea: reflexões sobre alianças, conflitos e estratégias globais no cenário de guerra. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 29, n. 7770, 9 out. 2024. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/111193. Acesso em: 21 nov. 2024.

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