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Desafios e soluções no combate ao crime organizado no Brasil.

Uma análise das facções criminosas e propostas de políticas públicas

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22/01/2025 às 15:31

Resumo:

Reformas no sistema prisional são urgentes para reduzir a influência das facções, incluindo a construção de novas penitenciárias e a separação de presos envolvidos com o crime organizado.


Investimentos em educação, esporte e cultura são essenciais para prevenir o recrutamento de jovens pelas facções, promovendo a inclusão

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

4. A RELAÇÃO ENTRE O CRIME ORGANIZADO E O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

O sistema prisional brasileiro é um dos principais pontos de origem e fortalecimento do crime organizado no país. Em consequência disso, prisões superlotadas e mal administradas se tornaram o terreno ideal para a consolidação de facções como o PCC e o CV. Dessa forma, as unidades prisionais não apenas isolam criminosos, mas também funcionam como centros de planejamento de atividades ilícitas, controladas pelas facções.

Com efeito, o ambiente prisional, marcado pela precariedade, permite que as facções dominem e organizem suas operações de dentro das celas. Segundo Costa Viana (2017), o PCC e o CV utilizam as prisões como bases para a coordenação de ações criminosas fora dos muros penitenciários. Além disso, a corrupção dentro do sistema facilita a entrada de celulares e armas, fundamentais para a comunicação das lideranças com o mundo externo.

O objetivo deste capítulo é analisar como o sistema prisional brasileiro contribui para o fortalecimento do crime organizado. Por conseguinte, discutiremos os principais fatores que favorecem a atuação das facções dentro das prisões, como a superlotação, a falta de controle e a corrupção. Ademais, serão apresentadas possíveis reformas que poderiam reduzir o poder das facções dentro do sistema penitenciário.

4.1. Superlotação Prisional e Controle das Facções

A superlotação prisional é um dos maiores problemas enfrentados pelo sistema penitenciário brasileiro. Por esse motivo, as facções encontram um ambiente fértil para recrutar novos membros e estabelecer redes de poder. De acordo com Ramos (2020), a superlotação resulta em condições desumanas, onde os presos são obrigados a se unir a facções para sobreviver e obter proteção. Com isso, as lideranças das facções aumentam sua influência e conseguem controlar vastos grupos dentro das unidades prisionais.

Além disso, a falta de infraestrutura nas prisões impossibilita qualquer tipo de segregação adequada entre presos de alta periculosidade e aqueles que cometeram crimes menos graves. Dessa maneira, criminosos de menor periculosidade acabam sendo cooptados pelas facções. Como destaca Santa Terra Júnior (2017), muitos desses presos ingressam no mundo do crime organizado em busca de proteção ou melhores condições dentro da prisão, aumentando o número de membros das facções.

A superlotação também dificulta o controle do Estado sobre o que acontece dentro das prisões. Por essa razão, os líderes das facções têm liberdade para organizar e planejar suas ações criminosas, já que o Estado não consegue garantir a segurança e o controle dentro das unidades. Consequentemente, as facções utilizam as prisões como um espaço para coordenar suas operações externas, especialmente o tráfico de drogas e armas (RAMOS, 2020).

4.2. O Papel da Corrupção no Fortalecimento das Facções

A corrupção é um dos principais fatores que facilita a operação das facções dentro do sistema prisional. De acordo com Costa Viana (2017), a entrada de celulares, drogas e outros itens proibidos nas prisões só é possível devido à cooptação de agentes penitenciários e outros funcionários do sistema. Por isso, as facções mantêm controle absoluto sobre a comunicação e a logística de suas atividades.

Ademais, a corrupção também afeta a aplicação da lei dentro das prisões. Como resultado, líderes de facções conseguem vantagens, como acesso a áreas menos vigiadas ou privilégios que facilitam a coordenação de suas atividades. Segundo Ramos (2020), essa situação agrava ainda mais a insegurança dentro das prisões, permitindo que as facções dominem o espaço e garantam sua hegemonia sobre os demais presos.

Além disso, a corrupção nas prisões alimenta a ideia de impunidade. De tal modo, os líderes das facções continuam a comandar suas operações de dentro das celas, sem grandes temores de repressão estatal. Assim sendo, as prisões se tornam centros de poder para o crime organizado, onde as facções mantêm um ciclo contínuo de atividades ilícitas e recrutamento (SANTA TERRA JÚNIOR, 2017).

4.3. Comunicação e Planejamento de Crimes Dentro das Prisões

A comunicação entre os líderes das facções e seus membros externos é fundamental para a organização e coordenação de crimes. Conforme Ramos (2020), o uso de celulares dentro das prisões facilita a articulação de operações como o tráfico de drogas e a execução de assassinatos encomendados. Dessa maneira, mesmo presos, os líderes continuam a exercer controle total sobre suas operações.

Além disso, a infiltração de agentes corruptos permite que informações privilegiadas cheguem às facções, possibilitando que eles antecipem as ações das autoridades. Segundo Costa Viana (2017), esse nível de comunicação interna e externa coloca o Estado em uma posição de fragilidade, incapaz de impedir a continuidade das atividades criminosas. Por outro lado, o investimento em tecnologia de bloqueio de sinal de celulares e em equipamentos de detecção ainda é insuficiente, o que amplia o problema.

Como resultado, a organização criminosa dentro das prisões segue intocável, com os líderes operando de forma eficaz e articulada. Por conseguinte, a falta de ações efetivas para interromper essas comunicações facilita a perpetuação do controle das facções, que se expandem tanto dentro das prisões quanto fora delas (SANTA TERRA JÚNIOR, 2017).

4.4. Reformas Necessárias para Enfraquecer o Crime Organizado nas Prisões

Para reduzir o poder das facções dentro do sistema prisional, reformas estruturais e administrativas são fundamentais. Em primeiro lugar, é necessário investir em infraestrutura para diminuir a superlotação e segregar presos de alta periculosidade dos demais. De acordo com Borges (2016), a construção de unidades específicas para líderes de facções pode ajudar a isolar aqueles que coordenam as atividades criminosas.

Além disso, o combate à corrupção nas prisões é uma prioridade. Como argumenta Ramos (2020), a criação de mecanismos de controle mais rígidos, como a rotatividade de agentes penitenciários e a fiscalização externa, é essencial para reduzir a infiltração de facções nas instituições. Ademais, programas de treinamento para os agentes podem aumentar a eficiência no combate à corrupção e no controle interno.

Por outro lado, é imprescindível que o Estado invista em tecnologia para impedir a comunicação entre os líderes das facções e seus subordinados fora das prisões. Conforme Borges (2016), o uso de bloqueadores de sinal de celular e scanners de alta precisão pode reduzir significativamente a capacidade de articulação das facções. Desse modo, essas reformas não apenas enfraqueceriam o controle das facções dentro das prisões, mas também dificultariam suas operações externas.

A relação entre o sistema prisional brasileiro e o fortalecimento do crime organizado é evidente. A superlotação, a corrupção e a falta de infraestrutura adequadas são fatores que permitem que facções como o PCC e o CV dominem as prisões e coordenem suas atividades criminosas. De acordo com Ramos (2020), sem reformas estruturais, as prisões continuarão sendo centros de poder para essas organizações.

Além disso, a comunicação facilitada dentro das prisões permite que os líderes mantenham contato com o mundo exterior, garantindo o fluxo de informações e a continuidade das atividades ilícitas. Por isso, o investimento em tecnologia e a criação de mecanismos de controle mais rígidos são passos essenciais para enfraquecer o crime organizado nas penitenciárias (BORGES, 2016).

Em síntese, o Estado deve adotar uma abordagem mais ampla para combater o crime nas prisões, que inclua medidas de infraestrutura, combate à corrupção e modernização tecnológica. Dessa forma, será possível reduzir o poder das facções dentro das prisões e, por conseguinte, enfraquecer suas operações externas. Conforme Costa Viana (2017), sem essas ações, o crime organizado continuará a se fortalecer, mantendo seu controle sobre vastos territórios no Brasil.


5. O CRIME ORGANIZADO E O NARCOTRÁFICO INTERNACIONAL

O narcotráfico é uma das principais atividades das facções criminosas no Brasil, como o PCC e o CV. Em razão disso, essas organizações se tornaram atores importantes no cenário do crime internacional, estabelecendo redes de cooperação com cartéis de drogas de outros países. Com o passar do tempo, a atuação transnacional dessas facções fortaleceu seu controle sobre as rotas de drogas e armas na América Latina.

Além de expandir suas operações domésticas, o PCC e o CV ampliaram suas parcerias com grupos criminosos internacionais, especialmente na Bolívia, Paraguai e Colômbia. Conforme destaca Ramos (2020), essas conexões internacionais permitiram que as facções brasileiras monopolizassem o tráfico de cocaína e armas no Brasil, aumentando seu poder econômico e sua influência sobre o crime organizado. Em consequência disso, o narcotráfico tornou-se a principal fonte de financiamento dessas facções.

O objetivo deste capítulo é analisar a relação entre o crime organizado brasileiro e o narcotráfico internacional, explorando as rotas utilizadas pelas facções e o impacto dessa atividade sobre a segurança pública. Por esse motivo, discutiremos também as estratégias de combate ao tráfico de drogas, avaliando se as políticas implementadas no Brasil são suficientes para conter essa ameaça crescente.

5.1. As Conexões Internacionais das Facções Criminosas

As facções criminosas brasileiras, especialmente o PCC e o CV, estabeleceram uma vasta rede de cooperação com cartéis de drogas na América Latina. De acordo com Costa Viana (2017), essas alianças foram cruciais para que as facções assumissem o controle de rotas estratégicas de tráfico de cocaína, ligando o Brasil aos principais produtores da droga, como a Bolívia e a Colômbia. Com essas parcerias, as facções passaram a atuar não apenas como distribuidores, mas também como fornecedores, o que elevou sua posição no mercado global de drogas.

Além do mais, o controle das rotas de tráfico de drogas permitiu que as facções se expandissem para outros mercados. Ramos (2020) aponta que o Brasil, antes visto apenas como um corredor de passagem para o tráfico internacional, tornou-se um importante centro de consumo de drogas, o que ampliou o poder das facções. Com o tempo, o PCC e o CV passaram a dominar o comércio de drogas em várias regiões do país, estabelecendo controle territorial sobre as áreas de distribuição.

Outro aspecto relevante é o uso das fronteiras do Brasil como ponto estratégico para o tráfico. Argumenta Santa Terra Júnior (2017), o Brasil compartilha extensas fronteiras com países produtores de cocaína, como o Paraguai e a Bolívia, o que facilita o fluxo de drogas. Diante disso, o PCC utiliza rotas terrestres e fluviais para garantir o transporte seguro da droga até os centros urbanos brasileiros e para o exterior, onde as drogas são enviadas para países da Europa e África.

5.2. O Tráfico de Armas e a Violência Transnacional

Além do narcotráfico, o tráfico de armas é outra atividade fundamental para as facções criminosas brasileiras. As conexões internacionais permitem que o PCC e o CV tenham acesso a armamentos pesados, que são utilizados em conflitos internos e para garantir o controle territorial em áreas urbanas. Como destaca Ramos (2020), o tráfico de armas é diretamente ligado ao narcotráfico, já que muitas das armas que entram no Brasil são trocadas por drogas em países vizinhos, como o Paraguai.

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Nesse contexto, as facções brasileiras utilizam sua rede de contatos internacionais para garantir um fluxo constante de armas, o que lhes permite enfrentar a repressão estatal com maior eficiência. De acordo com Costa Viana (2017), o uso de armamentos avançados por parte das facções tem contribuído para o aumento da violência urbana no Brasil, especialmente nas grandes cidades. Em outras palavras, a importação de armas fortalece o poder bélico das facções, dificultando ainda mais a ação das forças de segurança.

Por conseguinte, a violência resultante do tráfico de armas e drogas não se limita ao Brasil. Ramos (2020) aponta que as facções brasileiras, especialmente o PCC, têm ampliado sua presença em outros países da América do Sul, onde participam de disputas territoriais com cartéis locais. Assim, o crime organizado brasileiro se internacionaliza, gerando um impacto direto na segurança regional e aumentando os desafios para as autoridades.

5.3. As Rotas do Tráfico e a Estratégia de Expansão das Facções

O PCC e o CV utilizam rotas bem estabelecidas para o transporte de drogas e armas, tanto no Brasil quanto em países vizinhos. Segundo Costa Viana (2017), uma das principais rotas do tráfico passa pela região da Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina), onde a fiscalização é precária e as facções têm liberdade para operar. Desse modo, as drogas chegam aos centros urbanos brasileiros, onde são distribuídas para consumidores locais e enviadas para o exterior.

Conforme destaca Ramos (2020), as facções também utilizam rotas fluviais e marítimas para transportar grandes quantidades de cocaína para a Europa e a África. O controle sobre essas rotas internacionais garante às facções um fluxo constante de recursos financeiros, o que fortalece sua capacidade de expansão. Além disso, as alianças com grupos criminosos internacionais facilitam o acesso a novos mercados e parceiros, ampliando o alcance das operações brasileiras.

No entanto, a internacionalização das facções brasileiras também cria novos desafios para as forças de segurança. De acordo com Santa Terra Júnior (2017), o Brasil precisa de uma política mais eficaz de controle de fronteiras e de cooperação internacional para combater o tráfico de drogas e armas. Em consequência disso, a falta de uma estratégia coordenada entre os países sul-americanos tem permitido que as facções continuem expandindo suas operações sem grandes dificuldades.

5.4. O Combate ao Narcotráfico Internacional: Desafios e Limitações

O combate ao narcotráfico internacional no Brasil enfrenta uma série de desafios, especialmente no que diz respeito à cooperação entre diferentes esferas governamentais e países. Ramos (2020) aponta que as políticas de combate ao tráfico de drogas muitas vezes se concentram em ações repressivas, sem abordar as causas estruturais do problema. Por isso, as operações policiais acabam sendo insuficientes para conter o avanço das facções, que continuam controlando o narcotráfico no Brasil.

Ademais, a corrupção dentro das instituições de segurança e o baixo investimento em inteligência dificultam o combate eficaz ao tráfico. Conforme Costa Viana (2017), sem um sistema integrado de informações e uma maior articulação com outros países, o Brasil continuará sendo um ponto estratégico para o tráfico internacional. Desse modo, o controle das rotas de drogas e armas pelas facções persistirá, reforçando o poder dessas organizações no cenário do crime transnacional.

Como solução, é fundamental que o Brasil invista em estratégias de segurança mais abrangentes, que incluam a cooperação internacional, o fortalecimento das instituições de segurança e o combate à corrupção. Com efeito, Santa Terra Júnior (2017), a única maneira de enfraquecer as facções e suas conexões internacionais é por meio de ações coordenadas entre os países sul-americanos, focando tanto na repressão quanto na prevenção.

O narcotráfico internacional fortaleceu consideravelmente as facções criminosas brasileiras, especialmente o PCC e o CV. Por consequência, essas organizações ampliaram sua atuação para além das fronteiras nacionais, estabelecendo conexões estratégicas com cartéis de drogas e grupos armados em países vizinhos. Assim sendo, o tráfico de drogas e armas passou a ser a principal fonte de financiamento dessas facções, aumentando sua capacidade de controlar territórios e enfrentar a repressão estatal.

Ainda mais, a falta de uma política eficaz de controle de fronteiras e a ausência de cooperação internacional facilitam a operação das facções. Diante disso, é imprescindível que o Brasil adote medidas mais rígidas de combate ao narcotráfico e invista em inteligência e tecnologia para enfrentar as redes transnacionais. Nesse rumo, o combate ao narcotráfico não deve se restringir a ações policiais, mas também precisa incluir políticas que tratem das causas estruturais do problema, como a pobreza e a desigualdade.

Em resumo, a luta contra o narcotráfico internacional no Brasil demanda uma abordagem mais ampla, que vá além da repressão imediata e abranja questões econômicas e sociais. Logo, será possível reduzir a influência das facções e enfraquecer sua capacidade de operar no cenário global do crime organizado.

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Sobre o autor
Fillipe Matos

Advogado, Bacharel em Direito, Esp. em Direito Penal e Processo Penal pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) . Com vasta experiência em casos envolvendo tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e Tribunal do Júri. Atuando no estado de São Luís, MA, oferece atendimentos personalizados nas cidades de Laguna, Criciúma e Tubarão, Santa Catarina. Comprometido com a justiça, a missão é garantir que cada defesa seja conduzida com excelência técnica e estratégica. "A busca pela verdade e pela justiça começa com uma defesa sólida e fundamentada."

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MATOS, Fillipe. Desafios e soluções no combate ao crime organizado no Brasil.: Uma análise das facções criminosas e propostas de políticas públicas. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 30, n. 7875, 22 jan. 2025. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/111201. Acesso em: 5 dez. 2025.

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