Resumo: O presente estudo tem o objetivo de demonstrar que a história da filosofia envolve também a participação da mulher filósofa, a qual permaneceu invisível, sem lugar e sem fala na antiguidade grega, bem como em séculos posteriores, e, ainda hoje, em algumas situações, continua sem visibilidade em face do preconceito social ou da hegemonia de correntes filosóficas ou de manifestações misóginas vinculadas ao patriarcalismo radical que via a mulher como ser humano destinado apenas às funções domésticas e à procriação, circunstância que se enquadra no que denominamos, atualmente, de violência de gênero contra a mulher.
Palavras-chave: Filosofia – História - Mulher - Filósofas – Antiga Grécia – Mulheres filósofas – Mestra - Provérbio – Amiga da sabedoria – Violência de gênero contra a mulher.
Sumário: 1. Histórico. 2. Introdução. 3. As primeiras filósofas de nossas vidas. –4. O lugar da mulher na história da filosofia universal. 5. A filosofia como história da felicidade humana. 6. Conclusão.
1. Histórico
Na história das civilizações, a religião sempre prevaleceu como base e principal elemento constitutivo da sociedade, impondo seus princípios e outorgando poderes a um Deus, cuja supremacia, dentro do próprio núcleo familiar, era representada pela autoridade do homem que, por sua vez, além dos poderes de pai, era responsável pela tutela de todos os membros da família, inclusive da mulher, vítima frequente de violência de gênero.
Quando o governo da cidade elaborou suas leis já existia um direito proeminente originado na religião e na família. Portanto, pode-se dizer que o antigo direito não é obra do legislador; o direito, ao contrário, impôs-se ao legislador.1
Durante o desenvolvimento da história da humanidade, o pensar sempre foi destacado como um privilégio dos homens, não obstante a mitologia grega enumere várias mulheres que se destacaram na mitopoese, como deusas, dentre outras: Afrodite, Artemis, Atena, Deméter, Hera, Irene, Perséfone, Pandora, Gaia e Héstia. No entanto, todas elas têm uma ligação com Zeus, um deus grego que representa a hegemonia da figura masculina.
Algumas dessas deusas gregas femininas possuem a sua correspondente romana. Dentre elas, pode-se destacar Minerva (versão latina da deusa Atena). É importante lembrar que Minerva não nasceu do corpo de sua mãe, mas da cabeça de seu pai, o deus romano Júpiter, equivalente na antiga Grécia a Zeus, considerado o deus supremo dos gregos. Isto demonstra, desde o princípio, a desvalorização da mulher mediante discriminação equivalente a violência de gênero psicológica.
Não é, por outra razão, que Simone de Beauvoir enfatiza que “toda a história das mulheres foi feita por homens 2 ”. É unânime a opinião de historiadores e de filósofos da atualidade nesse sentido, conforme se observa, por todos, do lecionamento abaixo transcrito:
“Os próprios filósofos da Antiguidade grega definiam as mulheres com características e atribuições negativas, como a figura que detém o mal, com atitudes capciosas, um ser incompleto. 3 ”
A mulher era assim condicionada a ser o Outro: sem nome, sem identidade, sem lugar, sem fala, sem visibilidade, sem oportunidades. Esse Outro, como categoria inferior e não essencial para a sociedade de épocas remotas, como a greco-romana, por exemplo, foi colocado nesse lugar invisível pelo homem de antanho, embora ele soubesse, desde os primórdios das civilizações antigas, que a mulher é um ser pensante e que teve importante participação na história da construção do conhecimento humano.
Na Idade Média, também conhecida como a “Idade das Trevas”, tida como período obscuro dominado pela Igreja Católica, a mulher era retratada com termos pejorativos para esconder sua importância social. O rótulo ou etiqueta a ela dirigido nesse período de irracionalidade humana se encontra registrado no magistério de Alessandra de Andrade Rinaldi4, in verbis:
“No período da Idade Média, especialmente a partir do século XI, a centralidade do pensamento religioso e o fortalecimento do poder da Igreja provocaram um verdadeiro incremento da repressão à sexualidade, reforçando também a distinção de gênero. A figura da mulher adquire absoluta identificação com o mal, com o perverso: a caça às bruxas é um reflexo desse pensamento e uma clara tentativa de controle da sexualidade.”
No dizer da médica psiquiátrica Nawal el Saadawi5 “a mulher foi considerada uma ameaça ao homem e à sociedade e a única maneira para evitar o mal que ela podia fazer era confiná-la em casa onde não podia ter contato nem com homens, nem com a sociedade.”
Acredito que essas mulheres virtuosas, fatigadas pela indiferença masculina e indignadas pela submissão cotidiana, passaram a desenvolver, por iniciativa própria, estratégias e vivências diárias para livrarem-se das amarras dos preconceitos sociais estabelecidos por maridos tirânicos, autoritários ou varões prepotentes que, sem qualquer afago ou gracejo efêmero, lhes devotavam apenas a ociosidade e a indolência dos dias refestelados no sossego recôndito do tálamo conjugal, onde permaneciam, invisíveis e isoladas, no gineceu pelo fato da perda da identidade e da autonomia pessoal.
O homem patriarcal e filósofo das sociedades antigas e dos séculos passados somente não imaginou que um dia o futuro da filosofia teria também como destaque a mulher filósofa, abordando temas que, outrora examinados apenas com a ótica da percepção masculina, ganham novas perspectivas sob o olhar feminino de mulheres que, independentemente de sua ancestralidade, dos lugares sociais, da nacionalidade, da raça, da cor, da origem, da etnia, da religião, tornaram-se protagonista da história da filosofia, cujo tempo e registro guardam seus escritos pretéritos e de hoje para conhecimento das gerações passantes e futuras.
Essas preceptoras, que tanto lembraremos neste estudo, atualmente elevam-se ao mesmo patamar dos homens que em épocas remotas as preteriram e obliteraram. Essas mulheres simbolizam as águias, rainhas dos céus e das aves, cuja visão altaneira representava – e ainda representa - força, coragem, destemor e o símbolo do poder.
Às mulheres filósofas está garantida, em nossos dias, a mesma posição na galeria dos notáveis homens de outrora e da atualidade, onde recebem o triunfo que as nobilitam e as glorificam com o merecido galardão de mestras, numa ubiquidade universal, mediante a imperecível aclamação das academias de cultura em que se alcandoram a fecunda uberdade dos imortais e a eloquência dos sábios.
Algumas dessas mulheres foram estetas de si mesmas, pois, sem qualquer formação escolar ou sem saírem de suas casas, possuíam o dom de compartilhar o conhecimento sem caligrafia, considerando que sua força de expressão estava na oralidade.
As mulheres a que me refiro nesta insuspeita dissertação são as que, num exemplo de coragem heroica, conquistaram a liberdade sponte sua como ser pensante, inteligente e feliz. Uma mulher é livre quando encontra, ela mesma, as razões que determinam sua independência ou quando sua liberdade/vontade, embora cerceada por outrem, não encontra resistência ou obstáculo em suas convicções racionais para fazer aquilo que a escolha pretendida a inspira ou a motiva.
2. Introdução
Para incitar o raciocínio do leitor, começo o presente estudo fazendo a seguinte pergunta: você já teve uma mulher filósofa em sua casa? Ou lembra de alguma canção de ninar, quando foi embalado por sua mãe ou pela sua avó para o primeiro sono infantil? Ou, finalmente, se recorda de algum aforismo que era pronunciado frequentemente no ambiente familiar? Se responder que nunca teve ou não lembra, eu discordo.
Após a leitura completa deste trabalho, você certamente lembrará de inúmeras filósofas que conheceu ao longo de sua vida, algumas dentro de sua própria casa; outras durante sua convivência social, mas todas muito próximas, como se fossem professoras a ensinar gratuitamente os aforismos ou provérbios que contém normas éticas, condutas morais e conceitos sociais eternos.
Numa copiosa e variada exemplificação, avós, mães, madrastas, sogras, tias, irmãs, cunhadas, comadres, madrinhas, babás, amas-secas, servas, parteiras, tecelãs, rezadeiras, lavadeiras, cozinheiras, costureiras, engomadeiras, rendeiras, benzedeiras, cada uma ao seu modo, estilo e tempo, proferiam seus adágios com o intuito de ensinar os mais jovens e catequizar toda a família sobre os temas prosaicos do cotidiano, aplicáveis a todas as situações.
Convencido disso, Jules Michelet6, num momento de rara beleza, afirma que “toda mulher é uma escola, e é dela que as gerações recebem verdadeiramente suas crenças”. O lar doméstico deve ser como uma escola uterinizada, destacado do conchego placentário, onde desde a concepção dá-se o primeiro encontro entre o feto e a maternidade, cujo cordão umbilical permite ao nascituro comunicar-se intimamente com sua mãe no espaço intrauterino.
Nesse aspecto, a suposta autoridade patriarcal, outrora reclamada de forma machista, cede espaço à potência da mulher enquanto mãe, porque é ela quem amamenta, gesta e educa seus filhos e filhas, futuros cidadãos e cidadãs de uma República, afastando tudo aquilo que, de acordo com a tradição cristã, a pecante maldição de Eva nos infligiu – Virgines, futuras virorum matres, republica docet.
O patriarcalismo remonta ao mito de Adão e Eva; algo ligado à sedução e ao sexo. Volta-se a um tempo em que se estabeleceu a história do medo que o homem sente da mulher. Essa projeção sombria, vinculada, dentre outras causas, ao ciúme é resultante do fato de que “o macho da espécie humana jamais perdeu seu medo de que um dia a mulher se tornasse vitoriosa e reconquistasse os direitos que perdeu. 7 ”
Embora cerceadas em seus lares, tais mentoras mantinham-se com a visão do palinuro que não deixa a embarcação naufragar entre ferozes banzeiros dos grandes mares. O monopólio masculino e os compromissos familiares não lhes coibiam a inata vocação para ensinarem filosofia pura sem nunca terem comparecido um dia sequer a uma escola para adquirirem algum conhecimento, porque a experiência de vida foi a melhor professora de todas elas.
Essas heroínas dos lares domésticos, outrora exploradas e devotadas à maternidade e ao diário labor domiciliar, eram mulheres sábias que, no esplendor de suas sapiências, cantarolavam em seu trabalho diuturno, contavam histórias, causos e fábulas aos circunstantes, as quais vinham temperadas de preceitos éticos, religiosos e morais constantemente evocados para justificar exemplos de correção e de prudência, quando não de cunho hilariante ou anedótico.
Nesse cenário familiar essas matriarcas e matronas, mestras de todos nós, embora algumas não fossem alfabetizadas8, deixaram seus legados filosóficos que foram sendo difundidos verbalmente até nossos dias e seguirão na mesma diretriz para conhecimento das gerações passantes e futuras.
Axiomas como “quem não pode com o pote, não pega na rodilha” ou “quem tem telhado de vidro não joga pedra em telhado alheio” refletem bem as lições sobre responsabilidade e ética social em preceitos que, apesar de inocentes, incutem no ouvinte o aprendizado de como deve ser o sentido da vida.
Essas mulheres filósofas pensavam por si e pelos homens. Por isso, sendo rainhas ou princesas, burguesas ou plebeias, casadas ou solteiras, sabiam de todas as coisas, apesar de não terem direito a fala e a um lugar na sociedade dominada pelos homens. Pouquíssimas deixaram suas ideias retratadas em livros ou escritos esparsos. A maioria transferiu para os homens conhecimentos precursores, propiciando-lhes a usurpação de seus dotes magistrais.
Mesmo sendo mães, esposas, viúvas e mestras de muitos homens ilustres, uma imensidão de mulheres teve seus valores espoliados e os nomes apagados da história, restando apenas um pequeno registro histórico de algumas que, usando nome masculino ou utilizando outros artifícios, como, por exemplo, trajar-se com roupa apropriada para homens e assumir trejeitos másculos, conseguiram difundir suas ideias em formato de publicações por pesquisadores, embora sem romperem o paradigma machista vigente durante o período em que viveram.
E foi assim que a filosofia feminina foi difundida, principalmente, na antiga Grécia, onde floresceu nos apotegmas de filósofos pré-socráticos como Tales9 de Mileto, Pitágoras10 e os pitagóricos11 (que aceitavam mulheres em suas confrarias) e, mais precisamente, nos ensinamentos do próprio Sócrates12, do seu discípulo Platão13 e de Aristóteles14.
Embora prevalecesse uma hegemonia masculina, pelo fato de as vozes femininas não terem lugar, nem expressão na sociedade humana daqueles tempos, totalmente dominada, predominantemente, pelos homens, existiram, nesse período, várias mulheres filósofas cujas ideias propiciaram o desenvolvimento do pensamento filosófico universal, não obstante, repita-se, algumas delas não tenham publicado livros ou documentos manuscritos.
A propósito disso, conforme aduz a historiadora Marize Campos15, deve ser dito que o registro mais antigo de denúncia da opressão feminina, datado de 624 a.C., é o da poeta grega Safo16, na expressão de um epigrama de autoria de Platão, no qual esse filósofo faz menção a essa mulher17, nominando-a de a “décima musa”.
Na ficção, o grande dramaturgo grego Sófocles, na peça conhecida como “A Trilogia Tebana”, dá voz a Antígona, uma mulher que, na tragédia idealizada pelo referido escritor, descumpre a lei do Estado invocando os deveres religiosos. Rompe, assim, com o lugar feminino que deveria ocupar na sociedade machista para assumir papel tipicamente masculino, enfrentando o rei Creonte, tio dela, em defesa do direito ao sepulcro e honras fúnebres para seu irmão Polinice, morto na disputa pelo trono de Tebas.
A expressão de Antígona, como mulher, constitui “o primeiro grito de protesto contra a onipotência dos governantes e a prepotência dos adultos... e a heroína simboliza o dever de dar ouvidos à própria consciência. 18 ”
O debate travado entre o rei Creonte e Antígona, retratado na célebre tragédia de autoria de Sófocles, representa, de acordo com Mário da Gama Kury19, sem a mínima dúvida:
“O único exemplo em que o tema central de um drama grego é um problema prático de conduta, envolvendo aspectos morais e políticos, que poderiam ser discutidos, com fundamentos e interesses idênticos, em qualquer época ou país.”
Filósofos, juristas e historiadores, desde Aristóteles em sua clássica obra “Retórica”, têm citado o modelo dessa mulher chamada Antígona como alguém que abdica do próprio direito de viver em defesa da obediência das leis naturais contra o edito estatal.
Existe um rol extenso de mulheres filósofas dentro e fora de nossas casas. Contudo, destacaremos aquelas que eternizaram seus ensinamentos por meio de suas obras perante as antigas civilizações, sem descurar de registrar, aqui e acolá, as máximas de experiência e de sabedoria popular que legaram aos nossos parentes e amigos próximos que, por sua vez, nos transmitiram.
Entretanto, pesquisas recentes apontam que antes da Grécia, civilizações antigas, como a egípcia20, apenas para exemplificar, foram berço do pensamento filosófico, cujo nascimento se verificou no lugar “Kemet”, assim denominado por seus próprios habitantes. Nesse local teve início o pensamento filosófico no Egito, com a chamada filosofia kemética, “a mais de dois milênios antes da filosofia grega 21 .”
Daí porque alguns historiadores e filósofos defendem ser controverso afirmar que a filosofia tem como “certidão de nascimento” as antigas colônias gregas da Ásia Menor e que o fazer filosófico era coisa somente para homens.
É que agora sabemos que o pensamento humano tinha também como protagonista a mulher que, embora não tivesse “um lugar de fala” e aceitasse passivamente a brutalidade ofensiva de ilustres varões, se pronunciava através dos filósofos que aprenderam com elas, deixando claro que a filosofia não é algo universal, mas pluriversal; que é processo mental de cunho crítico, reflexivo e racional, que vai além do gênero humano homem/mulher como amigos da sabedoria.
Por essa razão não é demasiado acrescentar que os filósofos mais conhecidos da antiga Grécia: Sócrates22, Platão23 e Aristóteles24, conviveram com mulheres que influenciaram muito suas vidas ascendentes e enriqueceram seus estudos filosóficos. Portanto, além de suas esposas, com as quais muito aprenderam, outras mulheres também foram suas mestras como, por exemplo, Aspásia de Mileto, a hetera que ensinou Péricles, o grande político Ateniense, a discursar. Foi ela, na unânime informação dos biógrafos, que também ensinou a Sócrates, o grande mestre da filosofia da Grécia antiga, a arte da eloquência e da retórica.
Na pesquisa que realizamos encontramos também a figura de Hipárquia de Maroneia. Essa mulher fez parte da escola cínica, que consistia numa corrente helenística fundada por Antístenes e tornou-se famosa pela distinção do filósofo Diógenes de Sinope. Nas suas manifestações, Hipárquia reivindicava um lugar de destaque para as mulheres perante a sociedade ateniense nos eventos que participava e “que costumavam ser apenas para homens e se destacava em disputas verbais com outros pensadores. 25 ”
Várias mulheres, conhecidas como neopitagóricas e platônicas, frequentaram a Academia de Platão. Embora não fosse casado, este filósofo teve como suas colaboradoras e alunas de destaque duas mulheres, uma delas chamada Axioteia de Filos e a outra Lastênia de Mantineia, as quais muito contribuíram em suas pesquisas filosóficas. Axioteia frequentava a Academia platônica com vestes e aparência masculinas. Isto ocorria porque ela era estrangeira e para evitar escândalos nas reuniões entre os círculos masculinos, ambiente em que queria ser admitida.
Agora sabemos que a legião de filósofos que opulentavam seus nomes com os títulos honoríficos dos próceres das arcadas, que exibem a nobreza nobiliárquica do conhecimento, não podem, sozinhos, hastear o pendão do autocrata excelso, porque à parceria deles estavam egrégias mulheres, mantidas em submisso anonimato, a ministrar-lhes ensinamentos que os consagrariam como beneméritos varonis conhecedores da sabedoria.
As dignificações terrestres auferidas por esses filósofos ofuscavam a capacidade de dividirem o mérito de suas conquistas com as mulheres que lhes ministravam gratuitamente conhecimentos incomparáveis. Eles as mantinham rebuçadas, sem visibilidade; deixavam-nas ocultas como sacerdotisas reclusas num casulo, para nunca serem notadas e visíveis durante o dia ou à noite, ainda que vestissem sempre roupas ou manifestassem ideias que possuíssem a luminosidade do sol.
Era como se a presença da mulher filósofa colocasse o homem daqueles tempos gregos num beco sem saída. Aliás, a escritora Nawal el Saadawi26 afirma que, dentre os autores, do passado ou do presente, que teve a oportunidade de ler, todos de alguma forma enxergam a mulher como um ser perigoso. Porém verificou que “o pânico que Freud experimentava ao se defrontar com uma mulher” representa o medo masculino da marca que a mulher tem deixado no pensamento científico.
Se prestarmos bem atenção aos fatos, descobriremos que é comum ao ser humano ocultar a origem de sua sabedoria. Veja-se o exemplo do mágico que não se deixa desvendar e cujas mãos ligeiras são capazes de iludir o espectador mais atento. O filósofo é um prestidigitador do pensamento racional; usa a sabedoria para disseminar conhecimento em favor do desenvolvimento humano, a partir de argumentação com rigor metodológico para forçar o leitor ou o ouvinte irresoluto a elaborar novos questionamentos.
Com exceção de Sócrates, foi o orgulho e a vaidade machista que impediram os demais filósofos da antiguidade grega de confessarem sua imodéstia e que receberam muitas lições de mulheres filósofas, as quais permaneceram por longos anos invisíveis e anônimas, ou seja, silenciadas e apagadas da história do pensamento filosófico da humanidade.