Paradoxo do antídoto: a resposta fortalece o golpismo

5. Reconstruindo os Anticorpos da Democracia

A análise do quadro clínico da democracia brasileira em setembro de 2025 revela que não há uma cura milagrosa. A superação da crise e a construção de uma resiliência duradoura exigem um plano de tratamento coordenado e de longo prazo, no qual cada Poder da República desempenhe um papel estratégico e consciente. O objetivo não é apenas suprimir os sintomas, mas fortalecer os "anticorpos" institucionais e sociais do país.

5.1. Executivo - A Governança como Vacina Duradoura

O Poder Executivo detém a ferramenta mais potente contra o radicalismo: a capacidade de melhorar a vida concreta das pessoas. A estratégia da "vacina socioeconômica" deve ser aprofundada e tornada mais explícita. O foco obsessivo deve permanecer em uma governança que entregue resultados tangíveis: emprego, controle da inflação, serviços públicos de qualidade e infraestrutura 18. Contudo, é crucial que o governo conecte esses resultados à estabilidade democrática. A mensagem à população deve ser clara e constante: "Sua vida está melhorando porque as instituições estão funcionando e a democracia está sendo preservada". Criar esse "dividendo da prosperidade democrática" é a melhor forma de tornar o autoritarismo uma alternativa indesejável.

5.2. Legislativo (Não-Radical) - A Arte de Isolar e Construir

Para os setores pragmáticos do Congresso, da centro-direita à centro-esquerda, o desafio é resistir à atração gravitacional da guerra cultural. A estratégia mais eficaz não é o confronto direto com a ala radical, mas o seu isolamento. Isso se faz construindo coalizões amplas em torno de pautas concretas e de interesse nacional, como reformas econômicas, marcos regulatórios e projetos de desenvolvimento. Ao focar na construção e na entrega de resultados, esses parlamentares forçam o grupo radical a uma posição de obstrucionismo puro, o que, a longo prazo, drena seu capital político e o expõe como uma força puramente destrutiva, incapaz de contribuir para o avanço do país.

5.3. Judiciário - De Bombeiro a Arquiteto Constitucional

O Poder Judiciário, especialmente o STF, precisa realizar uma transição estratégica de seu papel. Após atuar como o "corpo de bombeiros" durante o incêndio da crise institucional, sua função agora deve ser a de um "arquiteto", focado em reconstruir a confiança e a estabilidade. Isso não significa ser "light" com crimes contra a democracia, mas sim exercer o poder com sabedoria para restaurar a legitimidade. A chave é a autocontenção (self-restraint). Isso implica despersonalizar as decisões, favorecendo julgamentos no plenário em detrimento de liminares monocráticas; evitar a intervenção em questões de natureza puramente política, devolvendo-as ao Legislativo; e, crucialmente, investir em uma comunicação institucional clara e acessível, que explique à sociedade o porquê de suas decisões, com base na Constituição.

6. O Paciente, o Tratamento e a Saúde a Longo Prazo

Retornando à nossa analogia inicial, o paciente — a democracia brasileira — superou a fase mais crítica da doença. A febre alta cedeu, e os sinais vitais estão estáveis. No entanto, a saúde a longo prazo não está garantida. Ela dependerá da adesão a um regime de tratamento contínuo e coordenado. Um regime onde o Executivo administra a "vacina" da boa governança, o Legislativo conduz a "fisioterapia" da formulação de políticas construtivas, e o Judiciário adota uma abordagem "menos invasiva" para permitir que o corpo político se cure e se fortaleça. O objetivo final não é apenas eliminar a infecção atual, mas desenvolver os anticorpos institucionais e a resiliência social necessários para resistir a futuras patologias políticas e assegurar uma democracia robusta e saudável para as próximas gerações.