5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a análise desenvolvida neste artigo, as seguintes conclusões podem ser enumeradas:
1. Muito embora o direito tenha evoluído no sentido de resguardar a privacidade, os próprios tutelados têm buscado mecanismos de exibição de sua privacidade. É o chamado paradoxo da privacidade, isto é, quando a violação da privacidade se dá pela vontade da própria “vítima”.
2. As mídias sociais revolucionaram o paradigma de comunicação, promovendo a democratização dos espaços públicos, e a consequente publicização da vida privada, e possibilitando a todos e a qualquer um se tornarem produtores e não meramente consumidores de informação.
3. A celeridade do mundo pós-moderno tem provocado uma frieza, um distanciamento entre as pessoas e, em decorrência disso, vive-se uma carência de relacionamentos e uma necessidade de “aparecer”, de “ser visto”.
4. O querer mostrar-se, o querer exibir seu eu para o outro, atitudes aparentemente paradoxais em face do direito à privacidade, não são atos desprovidos de sentido. Não se exibe a privacidade pelo simples desejo de exposição.
5. A doação de sentido se opera com a utilização do lúdico para a criação de “personagens”, “personalidades” capazes de despertar a atenção alheia e assim atribuir visibilidade ao eu.
6. Em relação aos aspectos metodológicos, conclui-se que essas novas ferramentas de comunicação são um produto estético da sociedade contemporânea exteriorizado pela linguagem. Nesse passo, verifica-se que a temática abordada se aproxima das obras de: Paul Feyerabend (a atividade lúdica como pré-requisito essencial para o ato de compreensão); Jacques Derrida (desconstrução); Boaventura de Sousa Santos (conhecimento científico pós-moderno); Habermas (conhecimento dirigido por interesses); e Heidegger e Gadamer (a linguagem como um mecanismo para a compreensão do ser no mundo).
O presente artigo versou sobre o sentido do paradoxo da personalidade, decorrente da exibição da privacidade em mídias. Ao analisar o tema, este artigo buscou, por meio de conceitos extraídos da obra Lógica do Sentido de Gilles Deleuze, estudar a aparente paradoxalidade para atribuir sentido a este fenômeno.
REFERÊNCIAS
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Notas
[1] BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Direitos de personalidade e autonomia privada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 164.
[2] “Entre os anônimos, a violação da privacidade não raro é realizada pela própria vítima. É o que se poderia chamar de “paradoxo da privacidade”: todos os dias, as mesmas pessoas que se afligem por estar vulneráveis à espionagem digital desvelam sua intimidade on-line, ao permitir que desconhecidos tenham acesso a seu computador, em redes de troca de arquivos, mas, sobretudo, ao aderir a sites como Orkut, Facebook, YouTube e Twitter, nos quais revelam uma larga fatia de sua vida em fotos, vídeos e depoimentos. Compreender os impulsos que levam alguém – e principalmente os jovens – a se expor na internet tem ocupado psicólogos, sociólogos, antropólogos, juristas. Parte da explicação está na simples disponibilidade da tecnologia. ‘As pessoas fazem o que fazem porque as ferramentas estão ao seu alcance. Pela primeira vez na história, praticamente qualquer um pode divulgar informações para o mundo todo. Alguns aproveitam essa possibilidade de maneira sensata, outros não’, diz a antropóloga Anne Kirah, ex-chefe de pesquisas da Microsoft.” (GRAIEB, Carlos. Vida digital: Quando não há mais segredos. Veja. São Paulo, edição 2125, ano 42, nº 32, p. 78-84, 12 ago. 2009, p. 80-81).
[3] GROSSMAN, Lev. Time’s person of the year: you. In: Time, vol. 168, n. 26. 25 dez. 2006. Disponível em: <http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,1569514,00.html>. Acesso em: 26 nov. 2010.
[4] Cf. RECUERO, Raquel. O que é mídia social? Social Media, 02 out. 2008. Disponível em: <http://www.pontomidia.com.br/raquel/arquivos/o_que_e_midia_social.html#>. Acesso em: 08 nov. 2011; TERRA, Carolina. Universo corporativo. In: BRAMBILLA, Ana (org.). Para entender as mídias sociais. Licença cretive commons, 2011. Disponível em: <http://paraentenderasmidiassociais. blogspot.com/2011/04/download-do-ebook-para-entender-as.html>. Acesso em: 20 nov. 2011, p. 86.
[5] SIBILIA, Paula. O show do eu: A intimidade como espetáculo. 1. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p. 26.
[6] NIETZSCHE, Friedrich. Ecce homo: como alguém se torna o que é. Traduzido por Artur Morão. Covilhã: Lusosofia, 2008, p. 7. Disponível em: <http://www.lusosofia.net/textos/nietzsche_friedrich _ecce_homo.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2010.
[7] SOARES, Ediane. A questão do eu em filosofia e literatura: a invenção do eu, como produto da linguagem e a literatura de Fernando Pessoa. Filopoesia. 09 dez. 2008. Disponível em: <http://afilopoesia.blogspot.com/2008/12/blog-post.html>. Acesso em: 08 dez. 2010.
[8] SIBILIA, op. cit., p. 31.
[9] DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 23.
[10] Ibid., p. 79.
[11] Ibid., p. 36.
[12] PRYSTHON, Angela; FONTANELLA, Fernando Israel; FONSECA FILHO, Zadoque Alves da Fonseca. O maravilhoso país do orkut: sobre jogos, racionalidade, nonsense e frivolidades. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grade do Sul – UFRGS, v. 2, n. 17, p. 1-13, jul/dez 2007, p. 9. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/intexto/article/viewFile/6871/4139>. Acesso em: 12 nov. 2010.
[13] BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004, p. 84.
[14] PRYSTHON, Angela; FONTANELLA, Fernando Israel; FONSECA FILHO, Zadoque Alves da Fonseca, op. cit., p. 9-10.
[15] DESCARTES, René. Discurso do método Versão eletrônica. S/d: Acropolis, s/d, p. 4. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/discurso.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2010.
[16] DEBORD, Guy. La sociedad del espetáculo. Buenos Aires: La Marca, 1995, passim.
[17] SIBILIA, op. cit., p. 112.
[18] Ibid., p. 31.
[19] SIBILIA, op. cit., p. 32.
[20] FEYERABEND, Paul K. Contra o método. Traduzido por Cezar Augusto Mortari. São Paulo: Editora UNESP, 2007, p. 40, 43.
[21] DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. Trad. Maria Beatriz Marques. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1995, passim.
[22] SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. Estudos avançados. v. 2, n. 2, 1988, p. 63-64.
[23] GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Traduzido por Flávio Paul Meurer. 3.ed. Petrópolis:Vozes, 1999, passim.