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Abismo entre brancos e negros ainda é muito grande no país

05/12/2012 às 08:57
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Os negros ainda constituem um gládio de massacrados e violentados no país, de forma que o discurso polido, inclusivo, cordial e respeitoso, na prática, não tem trazido resultado estrutural e modificador de nossa cultura segregadora e discriminatória.

José Bonifácio de Andrada e Silva, no seu Projeto para o Brasil, organização de Mirian Dolhnikoff, São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 47, num escrito de 1823 (para a Assembleia Constituinte) indagava: “Por que os brasileiros somente continuarão a ser surdos aos gritos da razão e, direi mais, da honra e brio nacional?”. Conclamava o intelectual citado a que todos ouvissem sua fraca voz a favor da causa da justiça, e ainda da sã política, causa a mais nobre e santa, que pode animar corações generosos e humanos. Suas lúcidas ponderações continuam mais vivas que nunca, bastando atualizar a escravidão pela miséria, que é mais discriminatória frente ao jovem negro. Mais que diante do jovem branco.

De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2012 – Uma análise das condições de vida da população brasileira, elaborada pelo IBGE e divulgada nesta quarta-feira, dia 28 de novembro, nos últimos dez anos (2001-2010), o percentual de negros (pretos ou pardos) que ingressaram no ensino superior aumentou de 10,2% para 35,8%.

Porém, mesmo após uma década e apesar desse crescimento, o abismo entre brancos e negros ainda é muito grande no país. Isso porque, já em 2001, 39,6% dos brancos ingressavam no ensino superior, um percentual maior do que aquele conquistado pelos negros dez anos depois (Folha.com).

Da mesma forma, o percentual de negros (pretos e pardos) que se encontravam na série certa para sua idade (ensino médio) em 2011, que foi de 45,3%, ainda é inferior ao que os brancos atingiram em 2001, 49,5%.

Assim, por mais que se diga que o racismo e o preconceito vem sendo superados no Brasil, a estratificação social que foi gerada em nossa sociedade ainda está sendo gradativamente superada. Os negros ainda constituem a parcela da sociedade mortável, torturável e prisionável.

Os dados do DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional) apontaram que 75.920 presos brasileiros são pretos e 166.610 são pardos, o que dá um montante de 242.530 presos negros do país, representando 47% de todo o sistema prisional brasileiro (que totaliza 514.582 presos).

Já conforme os dados do Datasus (Ministério da Saúde), do total de 52.260 vítimas de homicídio no país em 2010, 4.071 eram pretos e 30.912 eram pardos, o que dá um montante de 34.983 negros mortos violentamente, representando 67% do total de assassinados no país.

Nesse diapasão, evidenciamos uma maior vulnerabilidade dos negros em relação à violência, à morte e à prisão. Ou seja, além obterem um acesso à educação muito inferior aos brancos, bem como um menor número de oportunidades (em parte por essa razão), os negros ainda constituem um gládio de massacrados e violentados no país, de forma que o discurso polido, inclusivo, cordial e respeitoso, na prática, não tem trazido resultado estrutural e modificador de nossa cultura segregadora e discriminatória. 

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Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

GOMES, Luiz Flávio. Abismo entre brancos e negros ainda é muito grande no país. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3444, 5 dez. 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/23171. Acesso em: 24 dez. 2024.

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