No volume 408, número 8.855, de 28.09.2013, a prestigiosa revista The Economist trouxe como matéria de capa a indagação feita no título dessa breve reflexão. Além de encabeçar as principais notícias logo no início daquela edição, a revista também dedicou um relatório especial e crítico de quatorze páginas sobre a atual situação do Brasil.
Inicialmente, o tom crítico que seria enfocado pela notícia ficou evidente com a lembrança de matéria que há quatro anos foi objeto de capa da revista. Naquela oportunidade a chamada indicou que o Brasil decolava.
Em destaque, já adiantava que uma economia estagnada, um Estado inchado e os protestos das multidões significam que a Presidenta deve mudar o rumo.
Enquanto Lula deixou o governo com um crescimento de 7,5% em 2010 em plena crise financeira internacional, um breve futuro promissor aguardava o País: a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Ao que tudo indicava na época, o Brasil se livraria do voo de galinha que sempre foi fadado a dar e alçaria voos maiores, rumo ao desenvolvimento e ao crescimento econômico. Todavia, desde o início do Governo Dilma, a realidade mostrou-se chocante com essa situação e a alta expectativa logo foi frustrada. Em 2012, a economia cresceu apenas 0,9%. E o resultado já se mostra evidente: a insatisfação é generalizada nas classes médias, os investidores estrangeiros perderam o enorme interesse no Brasil (que se mostrou demasiadamente burocrático e custoso para operar) e as reformas necessárias ao País não são levadas a cabo por falta de vontade política (como a simplificação das obrigações tributárias).
Alguns problemas são estruturais no Brasil, como o sistema tributário burocrático, a elevada tributação sobre as folhas de salários e os excessivos gastos com a previdência (apesar de ser um país de jovens). Carecem investimentos públicos e privados na infraestrutura e os gastos governamentais não param de crescer. Esses problemas não são novos. Mas, desde o Governo Lula, quando ainda se estava cruzando o chamado “céu de brigadeiro” nada foi feito para reverter esse cenário adverso.
E mais. Durante o Governo Dilma, alguns problemas se agravaram e outros foram criados. Muitos investidores estrangeiros foram afugentados pela péssima reputação adquirida pelo País quando a Presidenta se intrometeu na política de corte dos juros pelo Presidente do Banco Central. Ainda, passou a lançar mão da chamada “contabilidade criativa” onde altera critérios para alcançar números aparentemente mais favoráveis. Como resultado, o mercado não confia na Presidenta. Todos esses fatos se deram enquanto os principais países centrais se recuperavam do duro golpe da crise, de modo que voltaram a ser atrativos para o investimento.
A leitura da extensa e cuidadosa matéria da revista traz dados interessantes sobre fatos conhecidos por todos. A dificuldade do Governo Dilma em dialogar com o empresariado tem sido alvo de muitas críticas no âmbito nacional, bem como a exagerada centralização com que administra o seu governo, inclusive pelos integrantes de sua base aliada no Congresso Nacional. Por conseguinte, a estrutura está pouco fluida e muito emperrada.
Embora o cenário seja desolador, especialmente se compararmos com a enorme expectativa sentida há quatro anos, cabe observar que nem tudo está perdido. De fato, a revista vaticina que o Brasil deve recuperar a sua vitalidade e o seu apetite por reformas. Assim, deve focar nos serviços públicos essenciais (como a saúde pública, as escolas e o transporte) ao mesmo tempo em que deve redimensionar os gastos públicos. O produto brasileiro deve ser mais competitivo no mercado global e devidamente encorajado pelo governo a investir, tanto no próprio país como também no exterior. O Brasil também precisa promover importante reforma política, com a redução dos partidos políticos e dos ministérios do governo federal.
Aliado a isso, cabe destacar as grandes forças nacionais positivas, como o agronegócio (é o terceiro maior exportador de comida do mundo), a perspectiva de que em 2020 o Brasil seja um grande exportador de petróleo (com a descoberta e a exploração do pré-sal), o crescente mercado de joias, a base de pesquisa em biotecnologia reconhecida mundialmente e a ciência genética. A despeito dos protestos que tomaram as ruas das grandes cidades desde junho, não há rachas sociais ou étnicos no Brasil que preocupe a unidade de propósitos na destinação do bem comum.
Por fim, a revista lembra que o próximo ano será de corrida eleitoral. Dá esperanças ao leitor quando afirma que a Presidenta ainda dispõe de tempo suficiente para dar início às reformas urgentes e necessárias, com o corte radical e crescente da burocracia, a redução dos ministérios e a necessária contenção dos gastos públicos. Aí quem sabe tenha uma chance de voltar a decolar novamente.
Embora os caminhos principais sejam por todos conhecidos (e agora em escala mundial com a publicação da revista), cabe indagar se a Presidenta terá prestígio político para levar a cabo as reformas necessárias e urgentes para o Brasil. E mais, se terá ao menos vontade política para fazê-lo, já que implica desgaste e custo político que ela não parece admitir ou suportar nesse momento (pré-eleitoral).
Em suma, em resposta à indagação sobre se o Brasil estragou tudo, cabe refletir em torno do que vem sendo feito para corrigir o rumo, com a seguinte conclusão: sim, vem estragando tudo.