É Copa?

20/05/2014 às 01:30
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Reflexão sobre a Copa no Brasil, diante de tantos desafios sociais existentes. A não prioridade das múltiplas carências do povo, em prol da realização daquela.

Copa do Mundo de Futebol! Alegria próxima... Será?

Como regra, num país como o Brasil, terra do futebol, a proximidade do evento seria festiva. Mas disso não se vê. Festa? Há festa? Onde? Aqui?

O clima é outro! Ao que parece, o povo está cansado – em especial, de promessas não cumpridas. Nesse contexto, a empolgação bate em retirada diante da indiferença e frieza de corações que querem muito mais que a vitória da seleção brasileira no certame.

Fossem noutros tempos, em que as cruzes do dia-a-dia repercutiam menos na vida das pessoas, e a velha política do “pão e circo” seria a saída ideal para esconder os muitos problemas criados por um governo que, de promessa em promessa, de forma “competente”, se encarregou de abrir o grande buraco da desesperança nacional.

Entre a forte propaganda oficial e a alma do povo, hoje, existe enorme distância. As ruas pintadas, até aqui inexistentes, estão quase a dar lugar às caras pintadas do passado, na inconformação duma população cansada de apanhar e exausta de sofrer.

Olhando à nossa volta, do que se vê? Um país dos sonhos ou uma realidade de pesadelos? Serviços de péssima qualidade. Insegurança geral, vizinha do terror. Transporte público ineficiente, de quinta categoria. Saúde gravemente enferma. Educação praticamente inexistente. Isso e mais, a desarvorar o espírito dum povo dócil acostumado a tudo acatar.
E, no meio desse alvoroço, a voz entrecortada duma imprensa que, apesar do PT, teima em gritar, em alardear a insatisfação popular, a ganhar força nas redes sociais e a entremostrar, também ao mundo, a verdadeira face do Brasil triste dos dias atuais.

Um País de desmandos, de políticos sacanas e oportunistas (salvo honrosas exceções), entronizados no seio da sociedade por uma corrupção institucionalizada. Uma nação espoliada por abusiva arrecadação de impostos, das maiores do planeta, sem a devida contraprestação. Enfim, um gigante adormecido, esquecido de si e de seu povo pela letargia moral dum sistema montado para ganhar mais e mais dinheiro!

E o governo brasileiro, de bolsos cheios do suado vintém do povo (que o diga o “impostômetro”), num caos social como este, prioriza a Copa do Mundo de Futebol – logo mais, as Olimpíadas. Pessoas morrendo aos montes, à míngua, em corredores de hospitais, desassistidas da sorte e assediadas por gritante falta de infraestrutura, necessitadas do mínimo do muito que se lhes tira por meio dos vultosos impostos, enquanto se erguem estádios superfaturados, verdadeiros elefantes brancos, a serem (grande parte deles) oportunamente abandonados, também utilizados para desviar o foco dos profundos e graves problemas da nação brasileira.

Penitenciárias transformadas em escolas e universidades do crime, estabelecimentos de ensino sem o sustento da educação voltada ao ser humano. E nesse meio tempo, recursos e mais recursos destinados a países estrangeiros, sabe-se lá de que forma, como se a vida do brasileiro fosse menos importante que a dos “amigos de Cuba” – por exemplo.

São bilhões e bilhões, de reais, dólares ou euros, gastos em tudo o de que o povo não necessita, sem se falar nos conhecidos desvios de verbas, sob o argumento enganoso de que a Copa, no Brasil, reverteria em benefício da população. Ora, só esta sabe onde se lhe aperta o calo, só o homem do povo pode, com autoridade, dizer daquilo que realmente lhe faz falta. E, decerto, lhe farão falta os recursos milionários investidos nos estádios donde haverão de desfilar os grandes craques da bola e os comensais do poder.

A bola... Enquanto corre, nos maravilhosos estádios a que se destina, sob o aplauso dos despreocupados da sorte do povo, último na cartela de prioridades do governo, aqui, a vida dura continua a cobrar o alto tributo de se viver num país que desrespeita sua população, maltratando-a e usando-a qual massa de manobra.

Para tudo existe limite, até para o atual governo brasileiro. Povo que dorme pode acordar, pois que a vida é um contínuo passo à frente. E o brasileiro começa a se aperceber da Copa que de fato quer vencer, fugindo das tribulações do seu dia-a-dia sofrido, sob a aclamação e os aplausos da consciência de seus direitos, rumo ao gol de placa da própria vida.

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Sobre o autor
Edison Vicentini Barroso

Desembargador em São Paulo. Mestre em Direito Processual Civil pela PUC/SP. Magistrado

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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Conscientizar sobre a importância da resolução dos problemas brasileiros, muito além da realização duma Copa do Mundo de futebol.

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