Maquiavel e a Copa do Mundo

10/06/2014 às 14:55
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Se enganam aqueles que pensam que a propaganda contra a Copa do Mundo é capaz de destruir a devoção do povo brasileiro ao futebol.

A julgar pelo clima de caos e crise intensamente divulgado pela imprensa, a Copa do Mundo do Brasil tinha tudo para começar num clima de terrorismo e terror, como aquele que cerca a seleção dos EUA superprotegida por policiais e militares em São Paulo. Mas aí a seleção da Alemanha confraternizou com índios na Bahia e Cristiano Ronaldo sambou em Campinas e meu otimismo retornou.

Não há quem possa estragar a festa do povo brasileiro. Nem as notícias sobre soldados norte-americanos mortos por fogo amigo e de atiradores no Canadá e nos EUA serão capazes de desfazer o brilho dos novos Estádios, que parecem naves espaciais descendo no país do futebol para a Copa do Mundo.

Um jornalista norte-americano desmentiu o caos aéreo. A imprensa preferiu escondê-lo. A imprensa tenta mostrar o sol com a mesma peneira que usa para tapá-lo. O clima de Copa do Mundo já chegou na televisão, gostem ou não os tucanos que parecem ter mais influência no campo midiático do que no campo político.

A Copa do Mundo realizada pelo PT cresce e Aécio Neves murcha. Bem pouco se fala dele nos últimos dias.

Alckmin segue sendo notícia, mas não por suas virtudes. O truculento governador de São Paulo mandou a PM/SP agredir metroviários em greve e, pelo Twitter, lamentou a morte de um cidadão por causa do monotrilho que ruiu antes de ser inaugurado. O filósofo Sócrates criticou os tiranos de Atenas por reduzirem seu rebanho.. A mesma crítica pode ser feita a Alckmin, que comanda uma das mais letais PMs do Brasil. Tenho até dó da delegação dos EUA. Vai que um dedo-mole fardado de Alckmin confunde alguém da comissão técnica norte-americana com um terrorista e começa a atirar...

Esta Copa do Mundo produz distorções interessantes. As empresas de comunicação terão lucros fabulosos com o evento, mas vários jornalistas gostariam que tudo desse errado para prejudicar eleitoralmente Dilma Rousseff. Se tudo der certo o mérito do Brasil terá que ser varrido para debaixo do tapete? Como os urubus de plantão conseguirão encontrar um tapete conceitual tão grande?

Na internet o nome de Neymar Jr "bomba" (atenção senhores agentes da PF e do Exércitgo que monitoram a internet, o vocábulo "bomba" foi usado aqui com fins literários e não terroristas). O craque brasileiro tem mais de 16 milhões de referências no Google. Messi tem mais de 21 milhões de referência. Cristiano Ronaldo é citado mais de 39 milhões de vezes. Mas no Googlistão o nome de atacante mais mencionado é o de Honda, com 254 milhões de verbetes. Pedala Honda...

Até o movimento não vai ter Copa implodiu nos últimos dias. Durante uma manifestação contra a Copa alguns manifestantes foram colhidos comemorando o gol de Fred no último jogo treino. A divisão ideológica dentro do movimento é evidente. Em breve veremos as manifestações serem contidas pelos próprios manifestantes. Em dia de jogo do Brasil a calma reinará nas ruas. E até os policiais poderão ver os jogos em paz dentro de seus quartéis.

Em seu livro "Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio", Maquiavel faz a seguinte afirmação:

“Os homens nascidos no mesmo país conservam quase sempre o mesmo caráter.”

Ainda neste Capítulo 43º, Maquiavel assegura-nos que:

“É fácil conhecer o futuro pelo passado quando uma nação vive juá muito tempo sob o império dos mesmos costumes, mostrando-se perenemente avara, continuamente pérfida, ou devotada de igual modo a um ou outro vício ou virtude.”

Gostemos ou não, o Brasil é um país devotado ao futebol desde a década de 1950. Nada indica que os brasileiros tenham perdido ou que perderão agora sua preferência pela nobre arte praticada com os pés por 22 jogadores entre quatro linhas.

Em seu famoso livro "O Príncipe", Maquiavel dá o seguinte conselho àquele que pretende conquistar ou preservar o poder:

“Nada torna um príncipe tão estimado quanto realizar grandes empreendimentos...”

O PT não errou em realizar a Copa do Mundo. Erra quem acredita que pode dobrar a força de um costume apenas com propaganda. Não só vai ter Copa, como vai ter resultado político derivado não da vitória brasileira na mesma e sim da simples realização da disputa em nosso território. Aécio Neves definiu seu destino ao ligar-se aos jornalistas que atacam a Copa do Mundo. E com eles afundará inevitavelmente por razões que até mesmo o velho e sorridente Maquiavel seria capaz de identificar.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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