A Copa do Mundo – FIFA é um dos eventos esportivos mais importantes do planeta. Não apenas porque movimenta bilhões de dólares, embora seja esta sua principal razão de existência, mas porque permite às pessoas mais simples e inclusive a classe média, já tão desgastadas e judiadas pelo poder econômico privado, divertir-se durante os jogos.
O que não se pode esquecer é que nem sempre a Copa do Mundo – FIFA teve este caráter lúdico e de divertimento. Lembro do Chile, 1973, classificado para a “repescagem”, após vencer o Peru, teria que jogar contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Isso ocorreu poucos dias após o 11 de setembro. Muitos dos atletas chilenos votaram e lutaram por Salvador Allende, anos antes na esperança de um pais mais igual. Para muitos deles o líder socialista era mais que um herói, era um libertador. Tiveram que jogar em Moscou. Empataram em zero a zero.
Marcado o jogo de volta os Soviéticos negaram-se a jogar. Disseram que o Estádio Nacional, palco maior do futebol chileno, agora, servia a outros espetáculos. Espetáculos terríveis de inquisições e torturas sumárias. Denunciaram o Chile na FIFA. A FIFA, junto da federação chilena de futebol, fez uma vistoria de não mais de dez minutos no Estádio Nacional e nada encontrou. A entidade maior do futebol mandou os soviéticos jogarem. Sob protesto em razão da violação dos direitos humanos eles não vieram à América do Sul, tendo perdido por um a zero, após a seleção chilena entrar em campo e marcar um “gol”, jogando contra o “nada”.
Para muitos jogadores daquela seleção apertar, dias após, a mão de Pinochet em razão da classificação à Copa do Mundo – FIFA 1974 foi doloroso. Nem todos o fizeram. Na Copa do Mundo – FIFA da Alemanha em 1974 o Chile perdeu todos os três jogos, tendo marcado um gol apenas. Alguns jogadores, honrados de defende seu país, sentiam-se constrangidos em representar um “outro” país que cometia tamanhos atos de torturas e atrocidades.
Se a FIFA foi conivente com o golpe gestado nos Estados Unidos e executado no Chile isso não se tem absoluta certeza. O que já se sabia na época e hoje é até corrente, é que o Estádio Nacional foi usado como local de tortura. Milhares de pessoas passaram por lá de forma involuntária, presos políticos, torturados e até mesmo mortos. O futebol não conta muito esta história. O futebol deveria recontar a sua história e, quem sabe, pedir desculpas, a final, uma vez em havendo partidas em palcos de torturas, o futebol perde sua razão de ser. Seria por demais coerente, quarenta anos depois destes fatos que a FIFA os explicasse de forma clara e desacortinada. Ela deve isso à sociedade chilena. Ela deve isso a nós, sulamericanos.
Por fim, não vou estender-me mais. Não foi só no Chile que atos como este correram. Há relatos de torturados argentinos que ouviam os gritos dos torcedores durante os jogos da sua Seleção no Estádio Monumental de Nuñes. E aqui no Brasil, que podemos contar? Abramos os olhos e os arquivos. Futebol é sim história e vida. Cabe às entidades máximas de cada país e à FIFA pagarem a conta junto à sociedade e, quem sabe, almejarem um pequeno espaço.... no purgatório.