"Charlie n´est pas mort": Charlie não está Morto

13/01/2015 às 11:22
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O texto objetiva compartilhar informações diante dos brutais e condenáveis atos de terrorismo que atingiu a França neste início de 2015, e refletir sobre as possibilidades de alcance da paz e da justiça internacionais.

Na madrugada de domingo, 11 de janeiro, antecedendo as manifestações de rua que sacudiram a Europa em favor das vítimas dos atos terroristas praticados na França, o tradicional diário alemão "Hamburger Morgenpost", editado na cidade de Hamburgo, foi alvo de um ataque incendiário contra seus arquivos, dois dias após ter republicado desenhos do "Charlie Hebdo", em solidariedade a este semanário humorístico francês.

Nos dias 8 e 9 deste mês, em Paris, o francês Amedy Coulibaly, adepto do grupo jihadista Estado Islâmico, promoveu ataques extremados em Montrouge (uma policial foi morta) e no mercado judaico de Porte de Vincennes, onde acabou sendo morto juntamente com quatro reféns. Seus gestos, ao que parece, estavam sincronizados com a ação dos irmãos Kouachi.

No dia 7 de janeiro, uma 4ª feira negra para Paris, os irmãos Chérif e Said Kouachi, com a colaboração do motorista Hamyd Mourad (cunhado de Chérif), invadiram a redação do semanário de humor "Charlie Hebdo", mataram 12 pessoas e deixaram outras 11 feridas. Dentre os mortos, os cartunistas Georges Wolinski, Jean Cabut (Cabu), Bernard Verlhac (Tignou) e Stéphane Charbonnier (Charb), também editor do jornal, além de dois policiais, que faziam a segurança do jornal.
 
Fundamentalistas islâmicos, vinculados à célula terrorista “Aqap”, sediada no Iêmen, os irmãos Kouachi foram arregimentados para vingar a honra do profeta Maomé, que era alvo de frequentes charges satíricas nas edições do Charlie Hebdo. No dia 9, após perseguição e cerco policial, eles acabaram mortos em uma gráfica da cidade de Dammartin-en-Goële, ao norte de Paris, onde tinham se refugiaram e fizeram reféns.

Em um tempo de solidariedade aos familiares das vítimas e de reafirmação do princípio da liberdade de expressão, devemos atentar para o fato de que tais atos condenáveis aumentarão a islamofobia na Europa, e ajudarão os partidos de extrema-direita a consolidar uma dura politica anti-imigratória na França e outros países europeus. Inclusive, poderão servir de munição aos “euro-pessimistas”, sempre atentos a qualquer tema que implique em obstaculizar a integração comunitária europeia. De outra parte, tem-se como certo que, com a morte ou prisão dos envolvidos, os ataques fundamentalistas terão continuidade, a gerar um enorme círculo de violência por toda a Europa.

Mais do que dizer que “somos Charlie”, a hora é de se mostrar que a humanidade está carente e pede por "Paz e Justiça" efetivas para todas e cada pessoa deste mundo e neste tempo. Que 2015 não represente a reiteração desses lamentáveis e brutais episódios! 

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Sobre o autor
Wagner Rocha D'Angelis

Advogado, historiógrafo e professor universitário. Mestre e Doutor em Direito. Especialista em Direito Internacional, Mercosul e Direitos Humanos. Ex-Coordenador do Grupo Especial de Defesa dos Direitos Humanos do Estado do Paraná e ex-Presidente da Comissão Estadual de Direitos Humanos da OAB-PR. Presidente da Associação de Juristas pela Integração da América Latina (AJIAL) e presidente do Centro Heleno Fragoso pelos Direitos Humanos (CHF). Membro Titular do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR), do Instituto dos Advogados do Paraná (IAP) e da Comissão de Estudos sobre Violência de Gênero da OAB – Seccional do Paraná (CEVIGE). Jurista com várias obras publicadas, dentre as quais: Direitos Humanos - A luta pela Justiça (Rio de Janeiro: CVBJP / Educam), Direito da Integração & Direitos Humanos no Século XXI (Curitiba: Juruá) e Direito Internacional do Século XXI - Integração, Justiça e Paz (Curitiba: Juruá).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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