Apocalipse financeiro: empresas fechando e bancos lucrando

18/02/2015 às 17:32
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“Uma economia com bancos muito fortes é sinal de um país que vai mal” - Olafur Grimsson, presidente da Islândia

Bradesco tem lucro de 15 bilhões em 2014 – essa foi uma das matérias publicadas na no Jornal Folha de São Paulo em 30 de Janeiro passado. Publicou ainda no dia 09 de fevereiro “Dívida no cartão de crédito cresce e calote bate recorde, ao mesmo tempo que em outro jornais saíram matérias falando sobre empresas fechando, desemprego, inflação, aumentos dos juros, dentre outros.
Ocorre que os bancos brasileiros cobram as taxas de juros mais elevadas do planeta. Só no cartão de créditos os juros abusivos passam de 600% ao ano, e no cheque especial ficam acima 300%. A desculpa da Febraban  - Federação Brasileira de bancos  e a ABECS - Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços – “os juros são muito altos, porque a inadimplência também é grande”.  Mas afinal a inadimplência no Brasil realmente é tão elevada assim?

Uma amostragem da inadimplência do Banco Mundial dos países desenvolvidos e em desenvolvimento mostra que o nível de inadimplência aqui é de apenas 3,1%, ao passo que na Itália é de 7,8%. Logo não somos inadimplentes e sim roubados.
Segundo Olafur Grimsson (Presidente da Islândia): “Uma economia com bancos muito fortes é sinal de um país que vai mal”. Não só pelo fato de uma nação atrativa para investimento especulativo, no qual aplicar dinheiro em cassinos travestidos é o melhor negócio, nunca conseguirá financiar o desenvolvimento da criatividade empreendedora de seu povo. Mas principalmente porque uma economia com bancos fortes destrói tudo à sua volta.

É exatamente isso que vem ocorrendo no país a décadas. O governo foi entregando ao sistema bancário a administração e o poder do país, e hoje cinco grandes bancos ditam as regras políticas e econômicas no país.

Já o renomado The New York Times publicou que manchete dizendo que "Os juros praticados no Brasil fariam um agiota americano sentir vergonha.".  O jornal americano aborda os ganhos das lojas de penhores no Brasil, citando as taxas do cartão de crédito em mais de 240% ao ano e 100% cobrados por empréstimos bancários. Conforme o NYT, "o crescente sucesso das lojas de penhores é o mais recente sinal de que a orgia de endividamento dos consumidores do país pode estar chegando ao seu limite”.

Realmente chegamos ao nosso limite, não tem mais como tirar leite de pedra. Deu-se início ao efeito cascata. Os consumidores perderam seu poder de compra, já que seus salários foram engolidos pelos juros elevados, mega valorização dos imóveis(aluguéis, prestações, condomínios, iptu) e também pela inflação. Consequentemente o comercio e a indústria estão estagnados, pararam de vender e de produzir, e tanto consumidores como empresas estão simplesmente nas mãos dos bancos, com seus bens e salários comprometidos.   

Ocorre que a maior parte das informações publicadas na mídia são manipuladas e tendenciosas.  Todo ano é a mesma coisa. No período de Janeiro à Setembro, a alegação é de que o calote está muito elevado e por esse motivo é impossível reduzir as taxas de juros, e sendo assim os bancos exploram a população com juros de mais de 1.000% ao ano no cartão de crédito e cerca de 350% ao ano no cheque especial, elevando as dívidas a valores impagáveis. No Brasil o sistema bancário não tem regras, cobram os juros que querem e da forma que querem. Já fomos explorados por Portugal na colonização, sofremos com a ditadura militar e agora estamos sendo explorados pela ditadura financeira, pelo sistema bancário com o consentimento do Governo Federal. Estamos assistindo a uma verdadeira transferência de valores da sociedade para o sistema bancário.

 Informações não chegam aos consumidores - Na última semana fui entrevistado por um jornalista de um dos jornais mais importantes do país, ele queria saber o que o consumidor deveria fazer para renegociar suas dívidas. Quando comecei a explicar-lhe os mecanismos e armas que o consumidor tem eu seu favor para reduzir as dívidas, ele simplesmente me disse “ então o Sr. Quer dizer que se o banco não aceitar a proposta de acordo feita pelo devedor, o devedor poderá recorrer ao judiciário? – mas a maioria dos especialistas, dizem que basta o consumidor procurar o banco e conversar com o gerente, trocando uma dívida cara por uma mais barata” – Minha Resposta para ele  - “Sugiro que procure por outro especialista meu caro, que lhe responda da forma que você deseja, ou melhor da forma que a matéria foi encomendada ao seu jornal”

Bancos na ofensiva – o ano de 2015 começou a todo vapor. Os bancos estão com mais fome do que nunca, penhorando salários, e entrando com ações de execução para cobrar as dívidas superiores a 15.000,00. O consumidor precisa se antecipar ao fatos e demonstrar o seu interesse e boa fé em pagar suas dívidas, porém sem esses juros escorchantes que minam toda a sua capacidade de pagamento.

Reza ainda em nossa Constituição Federal em seu artigo 173: § 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. E ainda: "Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade.....". existe ainda o mecanismo fantástico de usar as informações do Banco Central contra o próprio banco dadas as informações divergentes de valor da dívida lançadas pelos bancos.
Nossa Constituição está recheada de artigos que nos garantem muitos direitos, a questão é, saber quais e quando invoca-los contra os abusos cometidos pelos sistema.

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Sobre o autor
Marcelo Segredo

Diretor-Presidente da Associação Brasileira do Consumidor, é administrador de empresas e jornalista especializado em Defesa do Consumidor. Ganhou destaque no cenário nacional e internacional pela precisão de seus pareces técnicos sobre contratos bancários e análises futuras de mercado, os quais servem de embasamento para acórdãos do Tribunal de Justiça de São Paulo.<br>Especialista em análise de contratos bancários. Idealizador do I, II, III e IV Simpósio de Direito Bancário, participou como palestrante no I Congresso de Direito Bancário da OAB/SC, bem como em dezenas de eventos nacionais e internacionais.<br>Coordena também uma das melhores equipe se peritos financeiros do país.

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